Suicídio infantil
O possível suicídio de uma criança portuguesa de dez anos, que era perseguida na escola, pelos colegas, por ter as orelhas grandes, e o suicídio comprovado de um jovem tunisino de 26 anos, licenciado e desempregado, que se imolou para protestar contra a injustiça social, têm algo em comum? Haverá nestes dois gritos desesperados de revolta uma identidade?
Os conhecimentos que possuímos sobre estas duas situações são necessariamente superficiais. Resultam, apenas, das notícias publicadas nos órgãos de comunicação social – muito abundantes no caso do jovem tunisino, mas escassas no caso do menino português, que foi denunciado nas páginas deste jornal. São, porém, um bom motivo de reflexão.
O suicídio do jovem tunisino surge, hoje, como um sacrifício útil, que contribuiu para a mudança da sua sociedade e para as revoluções árabes. O eventual suicídio do menino português não teve uma repercussão pública generalizada nem apresenta um significado colectivo óbvio, mas suscita, uma vez mais, a questão do ‘bullying’ ou da violência escolar.
Podemos, no entanto, encarar estes dois casos na mesma perspectiva. Se aplicarmos ao caso do menino português a lógica tunisina, entenderemos o seu possível suicídio como um apelo à revolta contra os modelos estéticos opressivos, que uniformizam as pessoas e transformam aqueles que não têm estrutura moral sólida em carrascos dos ‘diferentes’.
O possível suicídio do menino põe em causa a futilidade, a intolerância e a mediocridade da formação do colectivo, que se projecta na cabeça das outras crianças. O seu gesto dramático pode, assim, ter contribuído para esclarecer todos os outros de que, com as suas orelhas grandes ou qualquer outro traço peculiar, merecia ser respeitado e não segregado ou excluído.
O sacrifício supremo da vida, numa situação de profundo desespero e de revolta contra a opressão, surge como um verdadeiro martírio de acordo com o étimo grego do termo. Na verdade, o martírio da criança e do jovem constitui o testemunho indelével das perseguições e das injustiças de que ambos foram alvo, que eles terão querido deixar à comunidade.
Mas, se quisermos ser realistas, temos de reconhecer que a morte do menino pode ter comovido alguns colegas e adultos mas nada resolveu e não devia ter acontecido. E também não devia ter acontecido a morte do tunisino, apesar de ele se ter convertido num símbolo da luta pela liberdade. O valor da vida de cada pessoa é a razão de ser do colectivo e não o contrário.
Fernanda Palma, Professora Catedrática de Direito Penal |
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De facto, Bullying é uma realidade em que a Dignidade Humana e o Valor Absoluto da Vida Humana não existem, e pior, a impassividade da sociedade perante estes e todos os casos, conhecidos, é de uma tremenda cegueira que torna bastante visível, o individualismo, a ignorância, a falta de escrúpulos, própria de um tempo, sem quaisquer valores nem princípios morais.
Um dever e obrigação da família, da escola, de todos os que intervenham e rodeiem os jovens ajudando assim na sua reabilitação e reintegração na sociedade, proporcionando efectiva e activamente a percepção de que a morte não é a única solução para seus problemas.
TITO COLAÇO
20.11.11
Um dever e obrigação da família, da escola, de todos os que intervenham e rodeiem os jovens ajudando assim na sua reabilitação e reintegração na sociedade, proporcionando efectiva e activamente a percepção de que a morte não é a única solução para seus problemas.
TITO COLAÇO
20.11.11