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sábado, 18 de abril de 2015

The universal moral...











The  universal  moral...










The
universal
moral...








Muito antes de o homem estar maduro para ser confrontado com uma atitude moral universal, o medo dos perigos da vida levaram-no a atribuir a vários seres imaginários, não palpáveis fisicamente, o poder de libertar as forças naturais que temia ou talvez desejasse. 
E ele acreditava que esses seres, que dominavam toda a sua imaginação, eram feitos fisicamente à sua imagem, mas eram dotados de poderes sobre-humanos. 
Estes foram os precursores primitivos da ideia de Deus. Nascidos inicialmente dos medos que enchiam a vida diária dos homens, a crença na existência de tais seres, e nos seus poderes extraordinários, teve uma influência tão forte nos homens e na sua conduta que é difícil de imaginar por nós. 
Por isso, não surpreende que aqueles que se empenharam em estabelecer a ideia de moral, abarcando igualmente todos os homens, o tenham feito associando-a intimamente à religião. 
E o facto de estas pretensões morais serem as mesmas para todos os homens pode ter tido muito a ver com o desenvolvimento da cultura religiosa da espécie humana desde o politeísmo até ao monoteísmo.
A ideia de moral universal deve, assim, a sua potência psicológica original àquela ligação com a religião. No entanto, noutro sentido, esta associação íntima foi fatal à ideia de moral. 
A religião monoteísta adquiriu formas diferentes com várias pessoas e grupos. Apesar de essas diferenças não serem de forma alguma fundamentais, passaram rapidamente a ser sentidas mais fortemente do que a essência, que era comum. 
E, dessa forma, a religião provocou frequentemente inimizade e conflito, em vez de unir conjuntamente a espécie humana numa ideia de moral universal.
Então surgiu o crescimento das ciências naturais, com a sua grande influência no pensamento e na vida prática, enfraquecendo ainda mais, nos tempos modernos, os sentimentos religiosos das pessoas. O modo causal e objectivo de pensar - apesar de não estar necessariamente em contradição com a esfera religiosa - deixa na maioria das pessoas pouco espaço para um aprofundamento do sentido religioso. 
E, por causa da tradicional associação íntima entre religião e moral, isso trouxe consigo, nos últimos cem anos, mais ou menos, um enfraquecimento sério do sentimento e pensamento moral. Esta é, quanto a mim, a causa principal da crescente barbaridade dos meios políticos dos nossos dias. Considerada conjuntamente com a terrível eficiência dos novos meios técnicos, a barbárie representa já uma ameaça temível para o mundo civilizado.
É escusado dizer que estamos gratos pelo facto de a religião lutar arduamente pela realização do princípio moral. 
No entanto, o imperativo moral não é um assunto apenas para a igreja e a para religião, sendo sim a mais preciosa possessão tradicional de toda a espécie humana. Consideremos sob este ponto de vista a posição da imprensa ou das escolas com o seu método competitivo! 
Tudo é dominado pelo culto da eficácia e do sucesso, e não pelo valor das coisas e do homem em relação aos fins morais da sociedade humana. 
A isto deve ser acrescentada a deterioração moral resultante da dura luta económica. 
A criação deliberada do sentido moral fora da esfera religiosa deve, todavia, ajudar este propósito, levar os homens a encararem os problemas sociais como uma oportunidade para desempenharem um serviço jubiloso em prol de uma vida melhor. 
Porque analisada sob um ponto de vista humano simples, a conduta moral não significa apenas uma rígida exigência de renúncia de algumas das desejadas alegrias da vida, mas, pelo contrário, um interesse sociável pelo bem comum para todos os homens 
(...) 
A moralidade no sentido aqui rapidamente explicado não é um sistema fixo e rígido. É, sim, uma posição segundo a qual todas as questões que ocorrem na vida podem e devem ser julgadas. É uma tarefa nunca terminada, algo sempre presente para guiar o nosso julgamento e inspirar a nossa conduta. 





Albert Einstein
“Discurso (1938)”
























Conhecer-se a si mesmo é estudar-se a si mesmo na acção, que é relação.
A dificuldade é que somos muito impacientes; queremos chegar depressa, queremos atingir um fim, e assim não temos nem o tempo nem a ocasião para darmos a nós mesmos a oportunidade para estudar, para observar.
Alternadamente empenhamo-nos em várias actividades – para ganhar a vida, para criar filhos – ou aceitamos certas responsabilidades em várias organizações; empenhamo-nos tanto de diferentes maneiras que dificilmente temos algum tempo para reflectir sobre nós mesmos, para nos observarmos, para nos estudarmos. 
Deste modo, a responsabilidade da reacção depende, de facto, de nós mesmos, e de mais ninguém. 
Andar pelo mundo a procurar gurus e os seus sistemas, ler os livros mais recentes sobre este ou aquele assunto, parece-me completamente vazio, completamente fútil, porque podemos andar por toda a Terra, mas temos de voltar a nós mesmos. E, como a generalidade das pessoas está totalmente desatenta em relação a si mesma, é extremamente difícil começar a ver claramente o processo do nosso pensar, sentir e agir.





Jiddu Krishnamurti
“O sentido da liberdade”







































Wake with the Sun, wake with the morn
Wake with the coming day,
Be with the dew and the flush new born,
But, unlike them, stay!


Mists fall of from what thou art
They are what we see.
Come and enter into our heart
And let life be.


The morn belongs to the empty world
Men are later here.
Come and let life be slowly unfurled
Off thee like fear.


And in thy terrible being but thou
Sans body nor soul
Pour all thy balm on my saddened brow,
And make my hope whole!





Fernando Pessoa
“Poesia Inglesa”























































































Tito Colaço

XVIII _ IV _ MMXV





































quarta-feira, 15 de abril de 2015

Words and ideas of confusion...













Words and ideas of confusion...



















Words and ideas of confusion...














Se ocasionalmente nos ocupássemos em nos examinar, e o tempo que gastamos para controlar os outros e para saber das coisas que estão fora de nós o empregássemos em nos sondar a nós mesmos, facilmente sentiríamos o quanto todo esse nosso composto é feito de peças frágeis e falhas.
Acaso não é uma prova singular de imperfeição não conseguirmos assentar o nosso contentamento em coisa alguma, e que, mesmo por desejo e imaginação, esteja fora do nosso poder escolher o que nos é necessário?
Disso dá bom testemunho a grande discussão que sempre houve entre os filósofos para descobrir qual é o soberano bem do homem, a qual ainda perdura e perdurará eternamente, sem solução e sem acordo: Enquanto nos escapa, o objecto do nosso desejo sempre nos parece preferível a qualquer outra coisa; vindo a desfrutá-lo, um outro desejo nasce em nós, e a nossa sede é sempre a mesma. (Lucrécio).
Não importa o que venhamos a conhecer e desfrutar, sentimos que não nos satisfaz, e perseguimos cobiçosos as coisas por vir e desconhecidas, pois as presentes não nos saciam; em minha opinião, não que elas não tenham o bastante com que nos saciar, mas é que nos apoderamos delas com mão doentia e desregrada: Pois ele viu que os mortais têm à sua disposição praticamente tudo o que é necessário para a vida; viu homens cumulados de riqueza, honra e glória, orgulhosos da boa reputação de seus filhos; e entretanto não havia um único que, em seu foro íntimo, não se remoesse de angústia e cujo coração não se oprimisse com queixas dolorosas; compreendeu então que o defeito estava no próprio recipiente, e que esse defeito corrompia tudo de bom que fosse colocado de fora em seu interior  (Lucrécio).
O nosso apetite é indeciso e incerto: não sabe conservar coisa alguma, nem desfrutar nada da maneira certa.
O homem, julgando que isso seja um defeito dessas coisas, acumula e alimenta-se de outras coisas que ele não sabe e não conhece, em que aplica os seus desejos e esperanças, honrando-as e reverenciando-as; como diz César: Por um vício comum da natureza, acontece termos mais confiança e também mais temor em relação às coisas que não vimos e que estão ocultas e desconhecidas.






Michel de Montaigne
 “Ensaios”



































Apercebemo-nos, penso eu, sem muita discussão, sem muita expressão verbal, que há caos, confusão e infelicidade tanto a nível individual como colectivo. 
Não existe somente na Índia, mas em todo o mundo; na China, na América, na Inglaterra, na Alemanha – por todo o mundo há confusão e sofrimento crescentes. 
Não são factos apenas nacionais, não existem particularmente aqui, existem em todo o mundo. Há um sofrimento extremamente intenso, e não é só individual mas colectivo. Trata-se portanto de uma catástrofe mundial, e limitá-la a uma área geográfica, a uma secção colorida do mapa, é absurdo; porque então não compreenderemos o completo significado deste sofrimento tanto mundial como individual. 
E estando conscientes desta confusão, qual é hoje a nossa resposta?
Como reagimos?
Há sofrimento social, político, religioso; todo o nosso ser psicológico está confuso, e todos os líderes, políticos e religiosos nos falharam; todos os livros perderam a sua significação. Pode-se recorrer ao Bhagavad Guita ou à Bíblia, ou ao mais recente tratado de política ou psicologia, e descobrir-se-á que eles perderam essa qualidade de autenticidade, de verdade, tornaram-se meras palavras. 
Vós mesmos, que sois repetidores dessas palavras, estais confusos e incertos, e a simples repetição das palavras não transmite nada. 
Portanto, as palavras e os livros perderam o seu valor; isto é, se citais a Bíblia, ou Marx ou o Bhagavad Gita, tal como vós, que os citais estais vós mesmos incertos, confusos, a vossa repetição torna-se uma mentira; porque o que aí está escrito torna-se mera propaganda, e a propaganda não é a Verdade. 
Assim, quando repetis, deixais de compreender o vosso próprio estado de ser. Estais apenas a cobrir com palavras de autoridade a vossa própria confusão. Mas o que estamos a tentar fazer é compreender esta confusão e não a encobri-la com citações; assim qual é a vossa resposta a isso?
Como é que respondeis a este caos extraordinário, a esta confusão, a esta incerteza da existência? 
Tomai consciência disto, enquanto eu a investigo: segui, não as minhas palavras, mas o pensamento que está activo em vós.
Muitos de nós estão acostumados a ser espectadores e a não tomar parte no jogo. Lemos livros, mas nunca escrevemos livros. Tornou-se tradição nossa – o nosso hábito nacional e universal – sermos espectadores, assistir a um desafio de futebol, ouvir os políticos e oradores públicos. Somos meros assistentes, e perdemos a capacidade criativa. Sendo assim, queremos absorver e participar.
Mas se ficarmos meramente a olhar, se somos meros espectadores, perderemos inteiramente o significado deste discurso, porque isto não é uma conferência que ficais a ouvir por força de hábito. Não vou dar-vos nenhuma informação que podeis colher numa enciclopédia. O que vamos tentar fazer é compreender os pensamentos uns dos outros, para entender, tanto quanto possível, tão profundamente quanto pudermos, as sugestões, as reacções dos nossos próprios sentimentos. Assim, averiguaremos qual é a nossa resposta a esta causa, a este sentimento; não quais são as palavras de outra pessoa, mas como nós mesmos respondemos. 
A nossa resposta será de indiferença, se beneficiamos do sofrimento, do caos, se tiramos proveito dele, seja ele económico, social, político ou psicológico. Sendo assim, não nos importamos se este caos continuar.






Jiddu Krishnamurti
“ A primeira e última liberdade”


































Idea. What is an idea?
We say there are ideas of triangle, of animal, of God.
How are these under the same denomination of ideas?
Perhaps we must say: an idea is a thing. But then we enter the system of Protagoras, which Plato already so well criticized.
If an idea equals a thing, since one man has an idea of God and another man an idea of no‑God, to each of these ideas corresponds a thing.
Now, since the ideas are opposite, so are the things and this is impossible. (Answer to this: there is no idea of no-God.) There is no idea of nothing. An idea of nothing is no idea.
But, then, there are, for one man an idea of God, for another man an idea of Fate and for another an idea of Matter. 
Each of these is an idea, all of these ideas have the same degree of clearness — they nevertheless contradict each other.
Characteristics of an idea, e.g. the idea of circle. 
Unity. Perfection. Simplicity.
Idea = possibility.
Idea of form.
Idea of triangle.
Idea of scalene triangle.
Idea of a particular scalene triangle which I have just drawn.





Fernando Pessoa
“Idea. What is an idea?”





































Tito Colaço




XV _ IV _ MMXV