Words and ideas of confusion...
Words and ideas of
confusion...
Se ocasionalmente nos
ocupássemos em nos examinar, e o tempo que gastamos para controlar os outros e
para saber das coisas que estão fora de nós o empregássemos em nos sondar a nós
mesmos, facilmente sentiríamos o quanto todo esse nosso composto é feito de
peças frágeis e falhas.
Acaso não é uma prova
singular de imperfeição não conseguirmos assentar o nosso contentamento em coisa
alguma, e que, mesmo por desejo e imaginação, esteja fora do nosso poder
escolher o que nos é necessário?
Disso dá bom testemunho
a grande discussão que sempre houve entre os filósofos para descobrir qual é o
soberano bem do homem, a qual ainda perdura e perdurará eternamente, sem
solução e sem acordo: Enquanto nos
escapa, o objecto do nosso desejo sempre nos parece preferível a qualquer outra
coisa; vindo a desfrutá-lo, um outro desejo nasce em nós, e a nossa sede é
sempre a mesma. (Lucrécio).
Não importa o que
venhamos a conhecer e desfrutar, sentimos que não nos satisfaz, e perseguimos
cobiçosos as coisas por vir e desconhecidas, pois as presentes não nos saciam;
em minha opinião, não que elas não tenham o bastante com que nos saciar, mas é
que nos apoderamos delas com mão doentia e desregrada: Pois ele viu que os mortais têm à sua disposição praticamente tudo o
que é necessário para a vida; viu homens cumulados de riqueza, honra e glória,
orgulhosos da boa reputação de seus filhos; e entretanto não havia um único
que, em seu foro íntimo, não se remoesse de angústia e cujo coração não se
oprimisse com queixas dolorosas; compreendeu então que o defeito estava no
próprio recipiente, e que esse defeito corrompia tudo de bom que fosse colocado
de fora em seu interior (Lucrécio).
O nosso apetite é indeciso
e incerto: não sabe conservar coisa alguma, nem desfrutar nada da maneira
certa.
O homem, julgando que isso
seja um defeito dessas coisas, acumula e alimenta-se de outras coisas que ele
não sabe e não conhece, em que aplica os seus desejos e esperanças, honrando-as
e reverenciando-as; como diz César: Por
um vício comum da natureza, acontece termos mais confiança e também mais temor
em relação às coisas que não vimos e que estão ocultas e desconhecidas.
Michel de Montaigne
“Ensaios”
Apercebemo-nos, penso eu, sem muita discussão, sem muita expressão verbal,
que há caos, confusão e infelicidade tanto a nível individual como colectivo.
Não existe somente na Índia, mas em todo o mundo; na China, na América, na
Inglaterra, na Alemanha – por todo o mundo há confusão e sofrimento crescentes.
Não são factos apenas nacionais, não existem particularmente aqui, existem em
todo o mundo. Há um sofrimento extremamente intenso, e não é só individual mas
colectivo. Trata-se portanto de uma catástrofe mundial, e limitá-la a uma área
geográfica, a uma secção colorida do mapa, é absurdo; porque então não
compreenderemos o completo significado deste sofrimento tanto mundial como
individual.
E estando conscientes desta confusão, qual é hoje a nossa resposta?
Como reagimos?
Há sofrimento social, político, religioso; todo o nosso ser psicológico
está confuso, e todos os líderes, políticos e religiosos nos falharam; todos os
livros perderam a sua significação. Pode-se recorrer ao Bhagavad Guita ou à
Bíblia, ou ao mais recente tratado de política ou psicologia, e descobrir-se-á
que eles perderam essa qualidade de autenticidade, de verdade, tornaram-se
meras palavras.
Vós mesmos, que sois repetidores dessas palavras, estais confusos
e incertos, e a simples repetição das palavras não transmite nada.
Portanto, as
palavras e os livros perderam o seu valor; isto é, se citais a Bíblia, ou Marx
ou o Bhagavad Gita, tal como vós, que os citais estais vós mesmos incertos, confusos,
a vossa repetição torna-se uma mentira; porque o que aí está escrito torna-se
mera propaganda, e a propaganda não é a Verdade.
Assim, quando repetis, deixais
de compreender o vosso próprio estado de ser. Estais apenas a cobrir com
palavras de autoridade a vossa própria confusão. Mas o que estamos a tentar
fazer é compreender esta confusão e não a encobri-la com citações; assim qual é
a vossa resposta a isso?
Como é que respondeis a este caos extraordinário, a esta confusão, a esta
incerteza da existência?
Tomai consciência disto, enquanto eu a investigo:
segui, não as minhas palavras, mas o pensamento que está activo em vós.
Muitos de nós estão acostumados a ser espectadores e a não tomar parte no
jogo. Lemos livros, mas nunca escrevemos livros. Tornou-se tradição nossa – o
nosso hábito nacional e universal – sermos espectadores, assistir a um desafio de
futebol, ouvir os políticos e oradores públicos. Somos meros assistentes, e perdemos
a capacidade criativa. Sendo assim, queremos absorver e participar.
Mas se ficarmos meramente a olhar, se somos meros espectadores, perderemos
inteiramente o significado deste discurso, porque isto não é uma conferência
que ficais a ouvir por força de hábito. Não vou dar-vos nenhuma informação que
podeis colher numa enciclopédia. O que vamos tentar fazer é compreender os
pensamentos uns dos outros, para entender, tanto quanto possível, tão
profundamente quanto pudermos, as sugestões, as reacções dos nossos próprios
sentimentos. Assim, averiguaremos qual é a nossa resposta a esta causa, a este
sentimento; não quais são as palavras de outra pessoa, mas como nós mesmos
respondemos.
A nossa resposta será de indiferença, se beneficiamos do
sofrimento, do caos, se tiramos proveito dele, seja ele económico, social,
político ou psicológico. Sendo assim, não nos importamos se este caos
continuar.
Jiddu
Krishnamurti
“ A primeira e última liberdade”
Idea. What is an idea?
We say there are ideas of triangle, of animal, of God.
How are these under the same denomination of ideas?
Perhaps we must say: an
idea is a thing. But then we enter the system of Protagoras, which Plato
already so well criticized.
If an idea equals a thing,
since one man has an idea of God and another man an idea of no‑God, to each of
these ideas corresponds a thing.
Now, since the ideas are
opposite, so are the things and this is impossible. (Answer to this: there is
no idea of no-God.) There is no idea of nothing. An idea of nothing is no idea.
But, then, there are, for
one man an idea of God, for another man an idea of Fate and for another an idea
of Matter.
Each of these is an idea, all of these ideas have the same degree of
clearness — they nevertheless contradict each other.
Characteristics of an idea,
e.g. the idea of circle.
Unity. Perfection. Simplicity.
Idea = possibility.
Idea of form.
Idea of triangle.
Idea of scalene triangle.
Idea of a particular
scalene triangle which I have just drawn.
Fernando Pessoa
“Idea. What is an idea?”
Tito
Colaço
XV _ IV _
MMXV
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