Páginas

sábado, 30 de abril de 2011

Juízes, afinal humanos...

Treze Juízes expulsos


Um comentava, de forma excêntrica, os seus processos 
em artigos de jornal, outro esquecia-se de escrever as sentenças e os casos prescreviam. Eram juízes e, tal como aconteceu a outros 11, foram banidos da profissão. Ao contrário do que é voz corrente em muitos sectores, o Conselho Superior da Magistratura consegue detectar casos de produtividade insatisfatória, age disciplinarmente sobre essas pessoas e aplica-lhes penas expulsivas em quantidade considerável.

NESTE momento, são três os juízes em risco de serem afastados dos tribunais. Somam-se aos 13 que, nos últimos dez anos, o Conselho Superior de Magistratura (CSM) expulsou da profissão para sempre. O motivo foi, em todos os casos, o mesmo: trabalhavam muito pouco.

Em Maio do ano passado, o CSM aplicou a pena de aposentação compulsiva a um magistrado - sanção que ainda não transitou em julgado - e está neste momento a avaliar a aptidão de outros dois juízes para decidir se se mantêm ou não em funções. Os três (dois homens e uma mulher) foram classificados com ‘medíocre’, na avaliação feita ao seu trabalho - a nota mais baixa que os juízes podem ter.

Nos últimos dez anos, o Conselho decretou outras 13 penas de aposentação compulsiva - a mais gravosa a seguir à demissão -, todas motivadas por fraca produtividade. Dos 13 expulsos, só um era mulher.

«Ao contrário do que é voz corrente em muitos sectores, o Conselho consegue detectar casos de produtividade insatisfatória, age disciplinarmente sobre essas pessoas e aplica-lhes penas expulsivas em quantidade considerável» - sublinha Manuel Ramos Soares, secretáriogeral da Associação Sindical dos Juízes Portugueses. «Que outras profissões do sector público, com este grau de exigência - idêntico ao de médicos e professores universitários, por exemplo -, têm números comparáveis a estes? - questiona aquele magistrado. E lembra que Portugal é o único país da União Europeia onde os juízes são alvo de inspecções periódicas, de quatro em quatro anos: «O sistema toma a iniciativa, não fica à espera de queixas».

E a aposentação compulsiva não é a única sanção para os que trabalham pouco: «Estes 13 casos de expulsão representam apenas uma parcela dos juízes medíocres. Há muitos outros que foram suspensos, ficaram sem vencimento e sem poderem trabalhar entre seis meses a um ano. Isto é pouco?

Sempre que um juiz ‘chumba’ no exame, ficando-se pelo ‘medíocre’ (numa escala que prossegue com ’suficiente’, ‘bom’, ‘bom com distinção’ e ‘muito bom’), soa o alarme: o magistrado é suspenso preventivamente e é aberto um inquérito que acaba, regra geral, convertido em processo disciplinar.

Que critérios podem, afinal, condenar um magistrado? As regras são claras no Estatuto dos Magistrados Judiciais: se não revelar aptidão para o cargo, isto é, capacidade humana, preparação técnica e adaptação ao serviço (leia-se, produtividade e volume de serviço), arrisca a expulsão. E a qualidade das decisões? «O Conselho não pode decidir se um juiz julgou bem ou mal, mas sim se o fez com qualidade, isto é, se a sentença está fundamentada, com critério, ou se o fez por capricho», responde Ramos Soares.

«Os inspectores são juízes-desembargadores com muita experiência, conhecem bem as comarcas e as dificuldades inerentes. Têm noção do que um juiz normal consegue fazer, até porque inspeccionam juízes da mesma zona e têm parâmetros de comparação. Se há um que consegue fazer 200 sentenças por ano, por que razão o colega só consegue fazer 20?» - explica Duro Mateus, juiz desembargador e chefe de gabinete do vice-presidente do CSM, acrescentando que, normalmente, ao juiz mal classificado é dada uma segunda oportunidade: «Inicialmente, é suspenso ou transferido para outro tribunal».

Ramos Soares recorda o caso de uma juíza vítima de cancro da mama, que venceu duas batalhas: «Nunca meteu baixa, e, por isso, andou dois anos a trabalhar em sofrimento. Não podia ter mais que ‘medíocre’. Mas o CSM não a mandou embora. Venceu a doença, recuperou a produtividade e continua a trabalhar».

Mas o contrário também existe: «Lembro-me de um juiz de Vila Nova de Gaia com problemas de produtividade detectados há 15 anos. O Conselho deu-lhe várias oportunidades, mas ele nunca melhorou e foi expulso com quase 60 anos. No gabinete, quando os inspectores desviaram o armário, caíram pilhas de processos que já estavam prescritos, tal era o descontrolo». Nos arquivos do CSM, não faltam histórias de negligência, preguiça, distracção e até indisciplina.

O indeciso
Quando visitaram, em 2000, o gabinete de um juiz com 17 anos de serviço, os inspectores encontraram 1.775 processos a aguardar despacho, muitos com conclusão aberta desde Setembro de 1996 e mesmo antes. Nesse juízo, havia então 2.844 processos parados, muito mais do dobro dos que existiam quando o magistrado ali entrara.
Isento, cordial, idóneo, sem cadastro, os inspectores não compreendiam como é que um magistrado que trabalhava diariamente muito para além das horas normais de expediente, e ainda aos sábados, domingos, feriados e até nas férias judiciais, não produzia mais. Descobriram depois: faltava-lhe método e capacidade de decisão.
Houve casos em que chegou a realizar os julgamentos, mas não proferia as sentenças, deixando essa tarefa para os colegas. E quando as elaborava, proferia-as fora do prazo, com vários meses de atraso. Em três anos, fez 41 julgamentos e deu apenas 15 sentenças. Num deles, fez apenas um julgamento.
O juiz não se emendou e, na inspecção seguinte, em 2004, voltou a ser alvo de um processo disciplinar à custa de um novo ‘medíocre’. Não voltou a ter perdão.

O excêntrico
Imagine-se um juiz que não aceita trabalhar se não tiver gabinete exclusivo, que adopta sistematicamente um estilo agressivo e uma linguagem ofensiva e de mau gosto - bem patente, aliás, nas crónicas que escrevia num jornal locai «Foi aí que este porcalhão violou a jovem. (…) Descobriu-se a careca deste homem nojento, que era mais asqueroso do que os porcos vendidos no talho dele» - escreveu então, sobre um processo que julgou.
O magistrado da comarca do Seixal dava nas vistas, mas não só por trabalhar pouco. Tinha pouco mais de seis anos de serviço, duas inspecções em que nunca fora além do ’suficiente’, na primeira, e do ‘medíocre’, na segunda, e ainda três processos disciplinares que lhe tinham custado uma suspensão e uma multa
O mau relacionamento com os funcionários era flagrante. Certa vez, em plena sala de audiências, referiu-se a um nestes termos: «O senhor que estava com dificuldades psicomotoras, então diga lá o que pretende».
Mesmo sabendo que atravessava um divórcio litigioso e um luto familiar recente, os inspectores não tiveram dúvidas na hora de fazer contas. É que o juiz tinha sempre mais de 500 processos por despachar no gabinete e eram recorrentes as situações em que os processos aguardavam semanas, apenas para que fossem assinados ofícios, editais ou mandados de detenção.
As actas nunca eram assinadas a tempo. O magistrado chegava a reter processos durante meses a fio no gabinete, sem assinar as actas, que costumava emendai; não por conterem erros, mas por questões de pormenor, sem qualquer interesse - só porque não gostava da redacção das minutas do programa informático Habilus, utilizadas pelos funcionários (que eram obrigados a trocar, por exemplo, ‘9:30′ por ‘9h30m’).
À custa disso, no seu juízo pendiam 4.900 processos à data da inspecção. As sentenças, limitava-se quase sempre a ditá-las por apontamento, sem as depositar em tempo porque não as escrevia. Mesmo quando as entregava, continuava a haver actas por assinar. Mas não foi só isso que ‘chocou’ os inspectores neste juiz peculiar. Em 2006, o magistrado já tinha centenas de julgamentos marcados para 2009, 2010 e até para 2011. E mesmo quando a data era marcada por si ou por colegas antecessores, frequentemente voltava a ser adiada, invocando um elevado número de diligências (que nunca explicava), outras audiências em curso ou então o adiantado da hora. E a falta de critério era notória: num mês, marcava para 2010 e, no mês seguinte, para 2008.

O distraído
O magistrado colocado em Almada desde 2000, era bem educado, cordial e trabalhador, e primava pelas sentenças bem elaboradas. Porém, distraído e inseguro, tinha um hábito fatal: lia as sentenças apenas por apontamento, sem que, de imediato ou em curto prazo, as escrevesse e depositasse na secretaria do tribunal.
Nalguns casos, decorreu mais de um ano entre a leitura e o seu depósito. À data da inspecção, em Novembro de 2004, estavam por depositar 182 sentenças deste juiz algumas,de julgamentos feitos em 2000 e 2001. Resultado: como as sentenças eram na prática inexistentes, os crimes e contra-ordenações em causa extinguiam-se e os casos prescreviam.
O seu mérito nunca foi, de resto, elogiado pelo Conselho: numa primeira inspecção teve ’suficiente’, quatro anos depois resvalou para o ‘medíocre’. Ainda reclamou uma segunda oportunidade, mas os inspectores renderam-se às evidências: no seu gabinete acumulavam-se, em Outubro de 2004, cerca de 530 processos. Outros tantos perderam-se e não foram sequer localizados no momento da inspecção, tal a desorganização do juiz, que admitiu não saber o destino de muitos processos, nem sequer se a sentença fora lida.
Nem mesmo com a ajuda de juízas auxiliares colocadas de propósito no tribunal para colmatarem as dificuldades, o magistrado deu o salto: os casos pendentes no seu juízo passaram de 1.500 em 2000 (ano em que ali foi colocado) para 3.100 em finais de 2003. Os processos paravam meses e anos por causa de gestos tão simples como apreciar um pedido de pagamento de multa em prestação ou conceder apoio judiciário.
Na sua defesa, alegou que fora prejudicado pelo facto de ter tido uma avaria no computador o que o obrigou a refazer as sentenças. As más condições do tribunal também não ajudavam, havendo só quatro salas de audiências, tendo muitas de ser realizadas no seu gabinete. O mais curioso é que ao magistrado parecia não faltar dedicação: permanecia no tribunal madrugada fora.

Sónia Graça | Sol | 29.04.2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Livraria mais antiga do mundo em Lisboa!




Está no Guiness !!!


Livraria Bertrand  do Chiado é a mais antiga do mundo!!!


Lisboa - A livraria Bertrand do Chiado, em Lisboa, entrou no Guiness por ser a livraria mais antiga do mundo.

Aberta desde 1732, a livraria Bertrand é a mais antiga do mundo e tem agora no seu interior, para quem quiser ver, o atestado, certificado pelo Guiness Book of Records.

A livraria foi fundada por Pedro Faure, e a sua primeira morada foi a Rua Direita do Loreto, na esquina com a Rua do Norte, porém o terramoto de 1755, deu um novo endereço à Bertrand e e esta mudou-se para junto da Capela de Nossa Senhora das Necessidades. Dezoito anos depois a livraria instalou-se na Rua Garrett.

Grandes nomes da escrita passaram por lá e Bertrand tornou-se um espaço de tertúlia. José Fontana foi empregado da Bertand durante 16 anos e suicidou-se no interior da livraria. Outros nomes da literatura nacional passaram por ali, Antero de Quental e Aquilino Ribeiro foram dois deles.


 PNN Portuguese News Network
2011-04-21 

Cadastro de terrenos no nosso país. FINALMENTE !!!


Levantamento dos terrenos, suas características e proprietários.


Cadastro de terras arranca no Verão em sete concelhos pioneiros.

A execução do cadastro de terras em Portugal vai finalmente avançar este Verão, mais de dois anos depois de ter sido anunciado o concurso público internacional.

Sete concelhos do país vão ficar dotados deste instrumento, considerado fundamental para a gestão da actividade florestal e agrícola e também para o ordenamento da orla costeira.


Dentro de quatro meses, após receberem as notificações do Tribunal de Contas relativas à concessão de visto para esse fim, as 13 empresas adjudicatárias poderão começar os trabalhos que vão permitir conhecer exaustivamente os limites, características principais e os donos das parcelas de terreno nos concelhos de Paredes, Penafiel, Oliveira do Hospital, Seia, Loulé, Tavira e São Brás de Alportel - escolhidos para esta fase inicial do cadastro nacional justamente por abrangerem áreas de floresta e, no caso do Algarve, também de costa.

"Este primeiro cadastro tem um carácter de demonstração" e "vai-se acumular muito conhecimento para as fases subsequentes", disse ao PÚBLICO a ministra do Ambiente, Dulce Pássaro. Quanto à demora no lançamento do concurso, que aconteceu já durante a actual legislatura, a ministra justificou-a com a complexidade dos cadernos de encargos, que têm "muita especificidade técnica".

Os trabalhos estão a cargo sobretudo de empresas portuguesas e deverão demorar entre dois anos, nos casos de Paredes e Penafiel, e dois anos e meio nos restantes concelhos, de acordo com informação do
Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional, que tutela o projecto. A estimativa inicial de custos era de 30 milhões a 35 milhões, mas, após o concurso público, a adjudicação foi feita por 16,7 milhões, dos quais 70 por cento têm comparticipação comunitária.

A execução destes trabalhos integra-se no Sinergic, o Sistema Nacional de Exploração e Gestão de Informação Cadastral, criado em 2006 com vista a
dotar o país de um cadastro completo da propriedade fundiária em 15 anos
O projecto envolve vários ministérios e organismos, sendo a execução coordenada pelo Instituto Geográfico Português, que tem a responsabilidade de aquisição, actualização e gestão dos conteúdos cadastrais.

O custo total do Sinergic foi estimado, em 2008, na ordem dos 700 milhões de euros quando o projecto foi lançado pelo secretário de Estado do Ordenamento do Território do anterior Governo de José Sócrates, João Ferrão. Mas Dulce Pássaro considera que "os pressupostos se alteraram, devido ao contexto de crise, e o custo pode afinal ser mais baixo", o que se reflectiu já num preço final desta fase inicial menor do que o previsto. Quanto ao prazo de execução total, não consegue dizer se se manterão os 15 anos inicialmente estimados ou se será maior ou menor.


Reivindicação antiga
A inexistência de um cadastro da propriedade em Portugal é uma questão que tem gerado reivindicações antigas, mas que nunca foi cabalmente resolvida. Foram lançados vários projectos, nunca concluídos. 
O que mais avançou foi o de elaboração de um cadastro geométrico da propriedade rústica, que decorreu entre 1930 e 1960, com objectivos fiscais, e abrangeu 126 concelhos, correspondentes a cerca de metade da área do país, lê-se no livro Incêndios Florestais Cinco Anos após 2003, editado pela Liga para a Protecção da Natureza.

Mas como nesses concelhos o fraccionamento da propriedade não é muito elevado (ao contrário do que se passa sobretudo no Norte e Centro do país), foram abrangidos apenas cerca de 12 por cento dos quase 10,8 milhões de terrenos rústicos do país - dos quais 9,9 milhões no Norte e Centro.

O cadastro a que se vai dar início terá a recolha de informação feita por equipas no terreno, utilizando integralmente suportes electrónicos, que é também a forma como a informação será disponibilizada.
"É um processo estruturante para o nosso país, que vai facilitar muito o planeamento e gestão territorial e vai ser disponibilizado com muita informação física, jurídica e fiscal" das parcelas, que abrangem prédios quer urbanos quer rurais, sublinhou Dulce Pássaro.


PÚBLICO
21.04.2011 -  Por Paulo Miguel Madeira




Devassa da vida privada ???


Street View acumula queixas na Europa



A Bélgica é a mais recente adição à lista de "descontentes" com o Street View. A justiça daquele país está a investigar o serviço de mapas da Google com o objectivo de apurar se houve ou não violação da vida privada durante o processo de recolha de imagens.

Em causa está novamente o suposto registo inadvertido de dados das redes Wi-Fi não protegidas, como endereços de correio electrónico e outra informação pessoal, enquanto os carros da Google fotografavam as ruas das cidades belgas.

A notícia sobre a nova investigação surge apenas um dia depois de a Agência holandesa para a Protecção de Dados ter ameaçado multar a Google em um milhão de euros, caso a gigante da Internet não apague os dados, alegadamente recolhidos de forma inadvertida, no prazo de três meses.

A Dutch Data Protection Authority assegura que a Google terá guardado os endereços Media Acces Control (MAC) de mais de 3,6 milhões de routers Wi-fi.

Os litígios com a Bélgica e com a Holanda são as mais recentes adições à já extensa lista de queixosos do Street View, onde se incluem vários "episódios" com países como a Alemanha, a França, Itália, Espanha e mesmo Portugal, entre outros.

  TEK   21.04.11

Justiça CREDÍVEL...

«O próximo Governo tem de restaurar a confiança na Justiça»


«Se o objectivo era desacreditar e desarticular o sistema de Justiça, tal objectivo foi grandemente alcançado» pela governação socialista, acusa o dirigente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP). António Martins defende «um papel mais interventivo» do Presidente da República na Justiça, pois esta «deve estar fora do jogo político-partidário» e a salvo de governantes que prometem «partir a espinha» aos magistrados, como aconteceu com este Executivo. 

Quais devem ser as prioridades do próximo Governo na Justiça?
Há três prioridades absolutas. 
Em primeiro lugar, é fundamental ter a adequada atitude de restauração da credibilidade e da confiança dos cidadãos e das empresas nos tribunais. É necessário criar sinergias e envolver todos os profissionais de justiça nas reformas necessárias. Estas não podem ser feitas contra as pessoas e nunca pondo em causa a independência dos tribunais. 
A segunda prioridade é a celeridade e a eficiência. A Justiça, a funcionar bem, pode ajudar a Economia, mas para isso é necessário introduzir mecanismos de celeridade e eficiência: uma radical simplificação de toda a legislação processual (civil, penal, laboral, administrativa e fiscal) e uma melhor orgânica judiciária, que permita uma eficaz gestão e administração dos recursos humanos e financeiros. 
A terceira prioridade é em termos de responsabilidade e racionalidade financeira: impõe-se corrigir os erros crassos na administração do património da justiça feitos nos últimos anos e proceder à fusão de instituições duplicadas.

No actual situação, em que não há dinheiro para nada, o que faria se fosse o próximo ministro?
Não consigo colocar-me nesse papel, mas, se pudesse dar um conselho, eu diria: faça tudo para concretizar as prioridades de que falei e não faça o que os dois últimos ministros fizeram. E o que pode fazer um dirigente sindical num país que tem como perspectiva ser governado pelas regras do FMI nos próximos 10 anos?
Pese embora a designação sindical da ASJP, não me revejo no conceito redutor de dirigente sindical . A Associação dos Juízes procurou, acima de tudo, contribuir para a melhoria do sistema de Justiça. E se acabou por ter uma atitude sindical mais vezes do que seria desejável foi porque a isso foi forçada pelo contínuo ataque do poder político-legislativo à independência dos tribunais. 

Como juiz, o que teme mais na actual situação do país?
Sem contar com a dívida soberana do Estado (que poderá agravar tudo), o que mais me preocupa é o risco de serem colocadas em causa as funções nucleares do Estado, como a segurança (interna e externa), a saúde, a educação e a justiça. [...] 

SOL  24.04.11

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Justiça PRIVADA ?!



Empresas criam os seus próprios Tribunais...



Litígios
. Tribunais arbitrais estão a substituir os comuns quando se trata de negócios de milhões. Justiça está a privatizar-se

As empresas estão a fugir dos tribunais. No silêncio dos escritórios dos advogados, as grandes empresas criam os seus próprios tribunais ad hoc para dirimir litígios no valor de milhões de euros, sendo as decisões reconhecidas internacionalmente. Ao mesmo tempo, estão a surgir por todo o País centros de arbitragem que dão sentenças em trinta dias, gratuitas, com valor judicial. A justiça está a privatizar-se. Para os velhos tribunais são empurrados os crimes, as dívidas, e pouco mais.

A resolução alternativa de litígios está a impor-se a todos a níveis, sobretudo entre os economicamente poderosos. As grandes empresas, com negócios de milhões, já não querem ouvir falar em tribunais comuns. Em caso de litígio, criam um tribunal arbitrai ad hoc. as partes escolhem os juízes-árbitros, estabelecem a cláusula compromissória (regras do julgamento), estipulam o prazo para resolução da contenda e submetem-se a juízo.

O local pode ser o escritório de um advogado, ou uma sala alugada para o efeito. As partes, inclusive, podem preestabelecer a recusa de recurso. A decisão é depois reconhecida em todos os Estados que tenham aderido às convenções internacionais sobre tribunais arbitrais.

É a uma forma de fazer justiça, paralela à tradicional. “Não são concorrentes. São modelos diferentes de administração da justiça”, disse ao DN o advogado João Correia. “Quando estão em causa empresas de países diferentes, com legislações distintas, e se pretende uma decisão rápida, e que decorra em sigilo, a melhor solução são os tribunais arbitrais.”

Conforme explicou, os tribunais comuns têm regras processuais rígidas. Na justiça privada, as regras são definidas pelos litigantes. “Todos os dias em Portugal se formam tribunais ad hoc”, assegurou o ex-secretário de Estado da Justiça. Este modelo está a crescer, embora não existam números oficiais. “Este ano, tive muitos mais tribunais ad hoc”, disse ao DN Júlio de Castro Caldas.

O antigo bastonário da Ordem dos Advogados assegura que nem só os muitos ricos estão a aderir a este método alternativos de resolução de litígios. “Estão a aumentar também os casos de meia intensidade económica”, disse. No escritório deste antigo ministro da Defesa, já foram decididos inúmeros litígios.

Mas nem só os poderosos recorrem aos tribunais arbitrais. Em Portugal já existem 36 centros para resolução alternativa de litígios, reconhecidos pelo Ministério da Justiça (MJ). Nessas entidades dirimem-se todo o tipo conflitos de negócios: uns mais virados para a arbitragem comercial, sem limite para o valor dos processos, outros mais vocacionados para a arbitragem de consumo, em que o valor é muito baixo.

A resolução dos casos não pode ultrapassar os seis meses, e, no caso do pequeno consumo, os custos são quase nulos para os queixosos. Nalguns desses centros existe uma lista de árbitros que as partes podem escolher. Se não houver acordo, o próprio centro indica um. A decisão tem valor judicial. O MJ apoia economicamente 11 desses organismos onde, em 2010, entraram 7785 processos. Em 2009, o apoio do MJ rondou os 550 mil euros.

Mas há outros locais onde também se faz justiça longe dos tribunais tradicionais. Trata-se dos Julgados de Paz, onde se resolvem casos de condomínio; rendas em atraso, e até de consumo, com custos reduzidos. Em 2010, aquelas entidades decidiram 8143 processos. Ali, o juiz não pode ser escolhido, mas há a possibilidade de o caso ser tratado por mediação sem, sequer, chegar a julgamento.

Em 2010, 2554 casos decidiram-se desta forma. Estima-se que em 2010, entre tribunais ad hoc, centros de arbitragem e julgados de paz, se tenham decidido cerca de 40 mil casos. Longe dos tribunais, sem burocracias, e em curto espaço de tempo. É a justiça privada.


LEIS E ENTIDADES

Tutela reconhece 36 centros de arbitragem
Até ao passado dia 6, o Ministério da Justiça mantinha a autorização para a realização de arbitragens institucionalizadas a 36 centros de arbitragem, dando apoio económico a onze.


LEGISLAÇÃO
Regras. A arbitragem voluntária está prevista na Lei n.º 31/86, de 29 de Agosto, e por várias portarias. O Estado reconhece o valor judicial das decisões dos tribunais arbitrais. A nível internacional, esse reconhecimento é assegurado por convenções (Nova Iorque, Washington, Panamá) a que muitos Estados já aderiram.



AUTORIZAÇÃO
Reconhecimento. O Ministério da Justiça autoriza a criação dos centros de arbitragem. Os requerentes são, na sua maioria, associações de empresários, de comerciantes, autarquias, associações profissionais. Uns decidem litígios de valor ilimitado, a nível nacional, outros estão limitados a um valor e a uma região.


Juízes remunerados a preço de ouro
Honorários. Nos tribunais arbitrais ‘ad hoc’, as partes em conflito definem quanto vão ganhar os juízes e os honorários atingem milhões
Um juiz-árbitro, contratado para dirimir um litígio num tribunal arbitrai ad hoc, pode ganhar o que as partes envolvidas quiserem. São estas que definem os honorários e já houve um caso em que o juiz auferiu 200 mil euros só com uma decisão. Já nos centros oficiais de arbitragem comercial existe uma tabela de referência, em que os honorários podem oscilar entre os 1200 euros e os 84 mil euros, dependendo do valor do litígio.
Os juízes-árbitros são escolhidos pelas partes em conflito de acordo com as suas competências técnicas – podem ser juristas, economistas, fiscalistas, médicos ou engenheiros. Nos tribunais ad hoc, as partes tentam chegar a acordo para a escolha de uma personalidade. Havendo desacordo, a nomeação é do presidente do Tribunal da Relação. Combinam também o montante a pagar ao juiz.
Nos 36 centros de arbitragem comercial, reconhecidos pelo Estado, existe, por seu lado, uma lista com os nomes de juízes que as partes podem escolher, e uma tabela de referência para o honorários. Não havendo acordo, a nomeação é feita pelo presidente do respectivo centro. Na lista do centro de arbitragem da associação comercial de Lisboa, por exemplo, constam nomes como Pedro Lobo Xavier, Germano Marques da Silva, Henrique Medina Carreira, José Miguel Júdice, Marcelo Rebelo de Sousa. Segundo a tabela desse centro, cada juiz pode auferir por um caso mais de 80 mil euros, se o litígio for de valor superior a 40 milhões de euros.
Na arbitragem de consumo a realidade é distinta. Aqui, os valores em disputa são baixos. Por isso, é usual haver árbitro único residente, que aufere um ordenado mensal, e a resolução do processo é sem custas.
O juiz-árbitro julga segundo o direito constituído. Mas, no caso da arbitragem ad hoc e comercial, as partes podem autorizar que as regras sejam alteradas.


Ministério contesta conceito de justiça privada
Reacção. Ministério da Justiça entende que a resolução alternativa de litígios não se enquadra no conceito de justiça privada.
O Ministério da Justiça (MJ) entende que não se pode falar em justiça privada quando se trata da resolução alternativa de litígios. “O Governo, através do MJ, tem apostado na promoção e na difusão de meios alternativos de resolução de litígios, nomeadamente com o alargamento da rede de Julgados de Paz, dos sistemas públicos de mediação laboral, familiar e penal, bem como com o reforço da participação pública em centros de arbitragem institucionalizada e especializada”, esclareceu a tutela ao DN.
Neste sentido, sublinhou: “O Estado reconheceu há já mais de uma década a resolução alternativa de conflitos como uma importante área de intervenção.” E acrescentou: “Não é possível pois, em Portugal, caracterizar o universo da resolução alternativa de litígios como um fenómeno de privatização da justiça.”
Por outro lado, “os Julgados de Paz constituem uma categoria de tribunais, partilhando com os tribunais judiciais a função de resolução de litígios. No entanto, os princípios e regras de funcionamento tomam-nos entidades distintas”, esclareceu ainda a tutela.
O Ministério da Justiça apoia, técnica e financeiramente, através do Gabinete de Resolução Alternativa de Litígios (GRAL), determinados centros de arbitragem considerados de interesse público. São onze os centros apoiados pelo GRAL. Sete na área do consumo, dois no sector automóvel, um outro que é o Centro de Arbitragem para a Propriedade Industrial, Nomes de Domínio, Firmas e Denominações – ARBITRARE e, por último, o Centro de Arbitragem Administrativa (CAAD).

Licínio Lima | Diário de Notícias | 22.04.2011

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tempos difíceis (também!) no CEJ...


Inédito: CEJ não abre novos cursos em Setembro!


Directora afirma que "nem com a intervenção do FMI nos anos 80 isso aconteceu". Falta de dinheiro e nova proposta para formação de magistrados na origem do encerramento.

Ana Luísa Geraldes, directora do Centro de Estudos Judiciários (CEJ), enfrenta uma situação única: já não vai abrir novo curso na escola de juízes e de magistrados do Ministério Público em Setembro. Não há dinheiro e está em estudo uma nova proposta para a formação de magistrados. 
Os docentes não estão tranquilos e há quem fale em alterações de fundo na formação, modificações que podem até passar por admitir juízes que não sejam magistrados e que não têm o acordo da directora do CEJ. A magistrada fala também de problemas na formação da equipa de direcção.

O gabinete do ministro da Justiça, por sua vez, remete para a resolução do Conselho de Ministros, que refere apenas que aguarda as conclusões do Observatório Permanente da Justiça sobre a reforma da formação dos magistrados, prevista para Maio, para posterior debate e apresentação de proposta de lei em Setembro. Ou seja, tudo indica que já não dará tempo para a abertura de novo curso.

"É uma situação inédita", desabafa a directora do CEJ. " É a primeira vez na história que isso irá acontecer. Em mais de 30 anos... Nem nos anos 80, quando o FMI esteve em Portugal, isto aconteceu." Mas a directora não baixa os braços: "O facto de não abrir concurso acabará por amputar em parte a nossa actividade, mas não lhe põe fim" e lembra, de entre outras actividades, o segundo ciclo, os estágios, os programas de formação contínua e parcerias com as universidades. A magistrada sabe que "a situação económica e financeira do país é única, é muito difícil para Portugal e ultrapassa qualquer dirigente", mas esta incerteza quanto ao futuro "tem reflexos no interior da instituição e gera intranquilidade e insatisfação nos próprios docentes que, na sua maioria, terão de voltar aos tribunais, pois a instituição não os poderá manter", caso não se inicie o primeiro ciclo. Certo é que vai ser mais difícil trabalhar nos tribunais com menos juízes e magistrados do Ministério Público.

A responsável pela instituição disse ao i que as situações que levaram à saída de dois membros da direcção são de natureza diferente. No que diz respeito ao ex-director Rui do Carmo, faz questão de dizer que convergiram sempre quanto ao modelo de formação, mas surgiram dificuldades em trabalhar em equipa, porque a escolha dos membros desta direcção não foi feita pela própria directora. "É necessário repensar a direcção do CEJ no que diz respeito à constituição e nomeação dos respectivos directores-adjuntos, pois o director deve poder escolher todos os membros da sua equipa" e não formar um grupo de trabalho por indicações da tutela.

Magistrados do futuro
Não é sem orgulho que a magistrada olha para a obra feita nos últimos anos. E sabe que os magistrados do futuro têm de ter formação nas mais diferentes áreas das ciências sociais e humanas e até em temas muito práticos, como é o caso de uma formação especializada, agora em curso, sobre "Armas, Munições, Explosivos. Acidentes de Viação e Segurança Privada", cuja organização cabe à Direcção Nacional da PSP.
A formação específica para julgar e investigar casos de complexa criminalidade económica também se fornece nesta escola. Para Ana Luísa Geraldes é necessário "formar magistrados que sejam capazes de responder às exigências da sociedade em que estão inseridos e que não se limitem à aplicação cega da lei, mas tenham em consideração que os litígios que são chamados a dirimir versam sobre a sociedade civil, sobre a vida quotidiana do cidadão". Juízes e procuradores "têm de saber interpretar a realidade social e económica em que vivem para poderem decidir", acrescentando que "nenhum magistrado que não compreenda a realidade do seu tempo pode decidir as questões relacionadas com os seus concidadãos".

Direito
A licenciatura em Direito é essencial para o exercício de funções, garante, embora em França já se possa aceder à magistratura com outras licenciaturas e em Inglaterra existam juízes sem licenciatura em Direito, mas limitados a julgar "pequenas causas, como a resolução de litígios na área do consumo". Em Portugal, há uma excepção: são os juízes sociais (cerca de 1500). São nomeados durante dois anos, não têm formação jurídica e é-lhes pedido que levem o olhar da sociedade à sala de audiências.

i | 15.04.2011

Fala ( Dra. Maria José Morgado) quem sabe...

Crime e lixo informático

Maria José Morgado - Há mais de trinta anos, quando entrei para o Ministério Público, impressionaram-me as montanhas de papel com que tínhamos que trabalhar. Quase nada mudou passado todo este tempo. Na verdade, o tão proclamado salto tecnológico revelou uma mudança nas nossas secretárias: um computador individual ao lado das resmas e resmas de papel.
Esta é a caixa negra do fracasso das chamadas reformas da justiça: a incapacidade política de construção de uma rede informática da justiça penal, com os custos de todo o processo em papel, da investigação ao julgamento e recurso.

O sistema informático actual é um conjunto de transferências electrónicas de actos de secretaria sem racionalidade, sem memória nem aderência às funções judiciais e do Ministério Público.
É uma manta de retalhos composta hoje por 400 bases de dados atomísticas, correspondentes ao número de tribunais existentes.
Não há base de dados nacional de gestão de inquéritos-crime.
Todas as aplicações informáticas da área crime estão isoladas entre si. O Ministério Público não tem nenhuma plataforma de ligação com as polícias ou com os tribunais e vice-versa.
Não há perfis de segurança. Tudo pode acontecer.
Nos cerca de 23 órgãos de polícia criminal, propagaram-se aplicações informáticas atomísticas, sem nenhuma perspectiva de integração com o Ministério Público ou com os tribunais.

Não é possível fazer notificações automáticas.
Não há acesso directo às bases de dados de informação do Ministério da Justiça.
Este monumental desperdício criminoso comprometeu uma justiça moderna e eficiente.
Há impossibilidade absoluta de análise e tratamento da informação criminal.
Não há mecanismos automáticos de gestão de prazos do processo, de controlo de prazos da prisão preventiva, de controlo dos mandados de detenção, de controlo dos prazos das intercecções telefónicas, etc. A mesma pessoa pode ser detida várias vezes ao abrigo do mesmo mandado de detenção, ou podem ocorrer libertações com existência de mandados de detenção.
Todo o trabalho é realizado de forma manual, arcaica, insegura e de morosidade crónica.
Gastaram-se milhões em sistemas informáticos paralelos, isolados, que obrigam à repetição do registo dos dados cada vez que o processo circula para um serviço distinto.
As aplicações bloqueiam frequentemente, geram irracionalidade na utilização dos recursos humanos, até com desaparecimento de despachos. São mais as horas sem ligação à rede do que com ligação.
Não acreditemos em qualquer reforma da justiça sem resolução deste funcionamento absurdo. Sem compreensão de que este lixo informático mata as ferramentas de trabalho modernas e capazes.
E crucial construir um sistema de informatização da vida do processo-crime que inclua as ligações com as polícias e com os tribunais e com as bases de dados de informação do Ministério da Justiça. Alicerçado nos actos processuais a praticar, feito com a participação dos utilizadores, em vez da habitual fórmula da empresa amiga.
Em maré de desgraça não valerá a pena fazer mais nada na justiça penal sem a resgatar deste lixo informático paralisador.

Maria José Morgado | Expresso | 16.04.2011
________________________________________

Governo promete substituir “manta de retalhos” do sistema informático da Justiça.

O secretário de Estado da Justiça, José Magalhães, rejeitou, as queixas feitas pela procuradora Maria José Morgado que criticou o sistema informático do sector, classificado pela magistrada como uma “manta de retalhos”.
Numa resposta na sua página online de rede social, o governante diz que o novo sistema informático vai corrigir muitos dos erros denunciados hoje pela procuradora, num texto de opinião no jornal Expresso, que se queixou de “gasto de milhões em sistemas informáticos” que não reduzem a burocracia e o trabalho dos funcionários e magistrados.
Em resposta, José Magalhães recorda que está em conclusão uma “aplicação para a gestão do inquérito-crime” que “vai ser testada no DIAP [Departamento de Investigação e Acção Penal] de Lisboa” que é dirigido pela própria Maria José Morgado.

O governante recorda que a aplicação já teve o visto do Tribunal de Contas e “pretende garantir que o sistema nasça e se expanda de forma profissional” por todo o sistema de justiça, com “interacções com as polícias”.
No seu artigo, a procuradora critica a “incapacidade politica de construção de uma rede informática da justiça penal”, com um sistema informático que “é uma manta de retalhos composta por 400 bases de dados atomísticas, correspondentes ao número de tribunais, sem base de dados de gestão de inquéritos-crime, aplicações informáticas isoladas” que “bloqueiam” e “sem possibilidade de fazer notificações automáticas”.
A 28 de Fevereiro deste ano e em resposta a críticas da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, o Ministério da Justiça (MJ) já tinha esclarecido que a Aplicação para a Gestão de Inquéritos-Crime (AGIC) está “a ser desenvolvida no sentido de colmatar uma necessidade há muito sentida e referida pelo Ministério Público (MP) de gestão informática dos processos exclusivamente da sua competência”.


Jornal de Notícias | 17.04.2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Apoio Judiciário? Até quando?

As duas faces da lei do apoio judiciário

Existe aquela ideia de que os governos e os homens devem pugnar por uma ordem social justa porque só uma ordem social justa assegura a realização integral de todos e de cada um dos indivíduos que constituem a sociedade humana.

Mas na prática ninguém sabe como fazer para atingir essa ordem social justa constatando-se ao longo da história que os homens do poder e o poder dos homens os inclina mais à prática da injustiça, pecando até, muitas vezes por excesso de justiça (sumum ius suma injuria diziam os latinos).

Os partidários da democracia, que foi inventada antes de Cristo pelos atenienses, acham que sem igualdade não há justiça e que uma sociedade será tanto mais justa quanto mais igualitária for e assim nivelam a sociedade por baixo, pelo padrão comum da mediocridade assente no plano infinito da vulgaridade já que é muito mais fácil descer do que subir e dá muito trabalho manter-se lá em cima. E assim puxando a minoria de cima para a maioria de baixo se atinge a tão almejada a igualdade social. Daqui resulta que a sociedade cresce no volume, na massa, no consumo e perde na qualidade, e na criatividade sem ganhar em justiça e em solidariedade.

Em Portugal, onde triunfou a ideia democrática, entenderam os governos, designadamente o Governo do demissionário Sócrates, que ninguém deveria ficar privado do acesso à justiça por razões económicas. Mesmo um criminoso que, por dá cá aquela palha, manda um homem desta para melhor, se for pobre, tem direito a apoio judiciário consistente na dispensa total de taxas de justiça, de custas do pagamento de honorários de advogado (na América, país que abraçou a democracia à nascença quem mata ou rouba paga à sociedade com as fazendas e com a vida.)

O exemplo que se segue ilustra a ideia anterior. Em Portugal se um indivíduo, por hipótese, que não é tão académica como isso, rouba a casa de outro cidadão e se é apanhado, caso não tenha dinheiro, O Estado, ou seja /todos os outros portugueses incluindo o indivíduo que foi roubado, paga para o ladrão ser defendido. Lembro-me de, certa vez, ter perguntado a um indivíduo acusado de crime de furto qualificado se tinha dinheiro ele respondeu-me; Senhor doutor se eu tivesse dinheiro não roubava, não precisava do senhor. De facto é pior roubar sem ter necessidade porque atenta contra a lei de Deus que nem sempre está de acordo com as leis dos homens.

Por outro lado, de acordo com a lei actuasse o cidadão a quem roubaram a casa quiser acusar o gatuno e tiver algum dinheiro ou alguma propriedade (muitas vezes fruto de muitos sacrifícios e privações) se quiser constituir-se assistente, isto é se quiser participar no processo de forma activa, tem que pagar as taxas e tem que pagar o advogado. Uma vez apareceu-me um indivíduo para eu o defender oficiosamente que andava num Mercedes e vivia numa casa oferecida pelo governo.

A lei permitia e só o que está na lei está no mundo (quod non es in legibus non es in mundo).

Mas continuando a ter presente a ideia de justiça e a luta pela ordem social justa assente na ideia de igualdade de oportunidades à partida para todos, no caso português, neste momento, não há dinheiro para nada, com o Estado Social em crise, os cidadãos vão ser cada vez mais discriminados por razões de mera ordem económica ligados à conjuntura de falência generalizada da economia e das finanças públicas e privadas.

No que se refere à Justiça isso já se está a acontecer porque há meses que o Estado não paga aos advogados que nomeia para defender os mais pobres de entre os pobres (porque pobres somos todos neste país). E já há advogados, sobretudo os mais novos, que dependem desse dinheiro como do pão para a boca, que estão a pensar deixar de prestar esse apoio.

No passado Portugal esbanjou o ouro do Brasil e no presente esbanjou os apoios comunitários e tem que pedir aos ricos da Europa que emprestam em troca da hipoteca da nossa liberdade e da dignidade que não têm preço.

Os gregos são como os portugueses (em matéria de economia e finanças estamos gregos) e foram eles que inventaram a democracia e deram ao mundo Sócrates (nós demos o Sócrates de Massada), Platão e Aristóteles e, pelos vistos, não estudaram a fundo as lições desses sábios.

Em Portugal, em vez do filósofo-rei de Platão e Aristóteles, acabámos com os reis e criamos uma república de reis sem filosofia, que fizeram leis à medida dos novos reis (os políticos light, os novos ricos a geração rasca) que puseram os portugueses, novos e velhos, todos à rasca,)

Como esta lei do apoio judiciário que foi concebida só para alguns mas da qual agora todos os cidadãos precisam numa altura em que o Estado não pode cumprir por falta de dinheiro.

Mas se é legítimo ao Estado, através dos governos, alegar que não pode pagar o que deve aos cidadãos, por falta de recursos financeiros será que também é legítimo aos cidadãos alegarem que não podem pagar impostos ao Estado porque não têm dinheiro?



Por:  
 Pedro Paulo Carvalho Silva  
 Correio dos Açores 
 10.04.2011

Incrível...



FMI lucra 520 milhões com Portugal !!!

FMI lucra 520 milhões com Portugal

A operação de resgate financeiro a Portugal dará um lucro aproximado de 520 milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e de 1060 milhões aos países europeus.


O pacote de ajuda, anunciado na semana passada, deverá rondar os 80 mil milhões de euros e será disponibilizado em várias tranches já este ano e até 2013. Deste bolo, o FMI emprestará 20 800 milhões de euros.

Como o Banco Central Europeu (BCE) decidiu iniciar a subida de juros este mês, agravando assim os custos suportados pelo FMI e pela União Europeia quando forem ao mercado buscar dinheiro para Portugal, a factura pode ser ainda mais alta.

A margem de lucro resulta da diferença entre a aplicação da taxa de juro final praticada e o custo de financiamento do FMI e da UE, que no caso de Portugal deverá rondar 3%, com tendência para subir.


DN Economia
11-04-11

E esta?!


Eleitorado da Islândia rejeita dívida de bancos falidos!

Eleitorado da Islândia rejeita dívida de bancos falidos
Cerca de 60 por cento do eleitorado islandês rejeitou o pagamento ao Reino Unido e à Holanda dos compromissos do banco Icesave. 
A primeira-ministra islandesa admitiu ter sido claramente derrotada na votação, mas emitiu o receio de que esta viesse a causar o "caos" no país. O secretário-geral do Tesouro britânico manifestou-se "decepcionado".

Dos três bancos falidos em 2008, o Icesave foi o caso mais grave, porque deixou um passivo de 3,9 mil milhões de euros. Esse era um fardo considerável para um pequeno país, cujo eleitorado não vai além das 230.000 pessoas.

Mas o Governo e o Parlamento do país não hesitaram na altura em transferir para os ombros dos contribuintes o pagamento das dívidas causadas por manipulações financeiras do Icesave. Os deputados aprovaram maioritariamente que seriam os contribuintes islandeses a pagar.

Entretanto, a oposição ao pagamento da dívida do banco encontrou eco no presidente da República, que vetou a lei do pagamento da dívida. Um primeiro referendo, realizado em Março de 2010, resultou na recusa do pagamento. Ontem, sábado, um segundo referendo confirmou aquela recusa.

A primeira-ministra Johanna Sigurdardottir, partidária do "sim" ao pagamento da dívida, admitiu uma clara derrota, mas, segundo citação do site de Al Jazeera, foi dizendo que "temos de fazer tudo o que pudermos para evitar o caos político e económico como consequência deste resultado".

Cerca de 340.000 aforradores britânicos e holandeses perderam as suas poupanças na falência doIcesave. Os Governos do Reino Unido e da Holanda reembolsaram-nos então, contando apresentar depois a factura ao Estado islandês. Este não ia fora do negócio, e comprometeu-se a pagar.

O resultado do referendo foi recebido com desagrado em Londres e Haia. O secretário-geral do Tesouro britânico, Danny Alexander, afirmou que "é obviamente decepcionante que o povo da Islândia pareça ter recusado o que era um arranjo negociado".

Acrescentou ainda que, embora "respeite" o resultado eleitoral, "teremos agora de ir falar com os parceiros internacionais com quem trabalhamos, antes de mais com o Governo holandês". E concluiu: "Parece agora que este processo terá de acabar nos tribunais".

O Governo islandês reconhece que, na nova situação, não tem margem para continuar a negociar, mas promete que grande parte dos fundos depositados no Icesave serão reembolsados, porque existe o recurso de responsabilizar por eles a sociedade Landsbanki (uma espécie de SLN do Icesave, ligada a ele e detentora dos activos, ao passo que o banco ficava com os passivos e gostosamente se deixava declarar insolvente).

Segundo o comunicado do Governo islandês citado pela Agência France Press, "o resultado do referendo não afectará o começo dos reembolsos pela sociedade Landsbanki islands aos credores prioritários - incluindo as autoridades britânicas e neerlandesas". E acrescenta: "Além disso, as mais recentes estimativas dos activos [da Landsbanki] indicam que ela estará em condições de reembolsar mais de 90% dos fundos depositados".

O comunicado não esclarece porquê, apesar de uma situação pelos vistos tão desafogada daquela sociedade, o primeiro reflexo do Governo foi o de fazer pagar o buraco pelos contribuintes. A agência de rating Moody's já tinha, em todo o caso, uma opinião formada antes do referendo e ameaçava baixar a nota da dívida islandesa se ganhasse o "não".


por António Louçã, RTP
10 abril '11

domingo, 3 de abril de 2011

Regulação Internáutica

ONU  lança princípios para a

                    INTERNET  

                       



Privacidade, igualdade, liberdade e segurança.   São alguns dos direitos e princípios da internet estabelecidos pela ONU para a internet. O documento foi divulgado na semana passada e foi definido pela Internet Rights and Principles, rede de organizações sobre direitos humanos na internet.
“A internet oferece oportunidades sem precedentes para a consciencialização dos direitos humanos, e desempenha um papel cada vez mais importante nas nossas vidas diárias. 
Por conseguinte, é essencial que todos os intervenientes, tanto públicos como privados, respeitem e protejam os direitos humanos na internet”, diz o documento.
O  Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV-Rio (Brasil)  foi uma das entidades responsáveis pela elaboração do texto.  “O documento endossa a visão da internet como espaço a ser regulado pelo respeito dos direitos humanos, evitando assim regulações que busquem censurar o acesso à rede e o livre acesso aos conteúdos  disponibilizados”, declarou o coordenador do CTS, Carlos Affonso Pereira de Souza.

Os princípios são os seguintes:

1. Universalidade e Igualdade: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, que devem ser respeitados, protegidos e cumpridos no ambiente online.
2. Direitos e Justiça Social: A Internet é um espaço para a promoção, protecção e cumprimento dos direitos humanos e também da promoção da justiça social. Cada indivíduo tem o dever de respeitar os direitos humanos de todos  no ambiente online.
3. Acessibilidade: Todos os indivíduos têm igual direito de acesso e utilização a uma Internet segura e aberta.
4. Expressão e Associação: Todos os indivíduos têm o direito de procurar, receber e difundir informação livremente na Internet sem censura ou outras interferências. Todos os indivíduos têm também o direito de se associar livremente, seja para fins sociais, políticos, culturais ou outros, na e através da Internet.
5. Privacidade e Protecção de Dados: Todos os indivíduos têm o direito à privacidade online, incluindo a liberdade de vigilância, o direito de usar criptografia e o direito ao anonimato online. Todos os indivíduos têm também o direito à protecção de dados, incluindo o controle sobre colecção, retenção, transformação, eliminação e divulgação de dados pessoais.
6. A Vida, Liberdade e Segurança: O direito à vida, à liberdade e à segurança na Internet devem ser respeitados, protegidos e cumpridos. No ambiente online estes direitos não devem ser desrespeitados, ou utilizados para violar outros direitos.
7. Diversidade: A diversidade cultural e linguística na Internet deve ser promovida; técnicas e políticas inovadoras devem ser incentivadas para facilitar a pluralidade de expressão.
8. Rede de Igualdade: Todos os indivíduos devem ter acesso universal e aberto ao conteúdo da Internet, livre de priorização discriminatória, de filtragem ou controle de tráfego por motivos comerciais, políticos ou outros.
9. Normas e Regulamentos: A arquitetura da Internet, os sistemas de comunicação e o formato de documentos e dados devem ser baseados em padrões abertos que garantem a completa inter-operabilidade, a inclusão e a igualdade de oportunidades para todos.
10. Governamento: Os direitos humanos e a justiça social devem formar as bases legais e normativas sobre as quais a Internet funciona e é governada. Isto deve acontecer de forma transparente e multilateral, baseada nos princípios de abertura, incluindo a participação e responsabilização. 
  • 2 de abril de 2011


Criminalidade  violenta e grave sobe para níveis de 2008

São crimes que criam sentimento de insegurança entre a população. Os números são semelhantes aos piores anos.


Se no Verão de 2008, Portugal sentiu um enorme aumento na criminalidade grave e violenta, em 2010 os números ainda foram mais preocupantes do que naquele ano: em 2008 registaram-se 24 317 participações, mas em 2010 o número subiu para 24 456 - em 2009 ficou nos 24 163.

Os crimes violentos são dos que mais alarme social provocam e contribuem para o sentimento de insegurança das populações. O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) faz, como de resto a legislação o define, a distinção entre furto (sem violência) e roubo (com violência). Entre as categorias apresentadas, há uma subida das ofensas à integridade física voluntárias graves, das violações, dos motins, da instigação ou apologia pública do crime, da resistência e coacção sobre funcionário, do roubo por esticão e das organizações terroristas e terrorismo nacional.

Mais uma vez Lisboa aparece a liderar o panorama nacional, seguido do Porto, Setúbal, Faro e Braga. Quase metade das participações de crimes violentos e graves são feitas em Lisboa, que subiu, como distrito, 2,1% relativamente a 2009. A maioria dos distritos registaram subidas, mas Beja foi a região que mais subiu relativamente ao ano anterior, com um acréscimo de participações deste tipo de crimes a atingir os 44,6%. Logo a seguir, os distritos com maiores subidas foram Portalegre (mais 18%) e Évora (mais 17,6%).

Também se registaram descidas, como foi o caso do Porto (menos 4,2%), Coimbra (menos 25,1%) e Castelo Branco e Vila Real (menos 25,9 e 26,3%, respectivamente).

O Sistema de Segurança Interna, responsável pelo relatório refere que a criminalidade grave e violenta continuou, em 2010, a "evidenciar um assinalável grau de planeamento e organização".

Neste tipo de crimes, o RASI refere muitos são praticados por "redes ou células itinerantes", ou seja, criminosos que roubam em Portugal e rapidamente saem do território nacional para outros países da Europa.

Sistemas O documento refere "acrescidas dificuldades na prevenção e repressão", mas noutros itens do RASI, garante que estão em curso ou implementados vários programas e sistemas de segurança que passam pelas fronteiras. A saber: o Sistema Integrado de Vigilância, Comando e Controlo da Costa Portuguesa (SIVIC) com centros de comando nacional e regional, o Modelo de Gestão Integrada das Fronteiras (IBM), Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas (FRONTEX), as Equipas de Intervenção Rápida para as Fronteiras (RABIT), Unidade de Análise de Risco (UAR), Centro de Situação das Fronteiras (Vessel Trafic System), SISone4ALL - Plataforma tecnológica de livre circulação, Processo Automático e Seguro de Saídas e Entradas (PASSE), Sistema de Reconhecimento Automático de Passageiros Identificados Documentalmente (RAPID), Sistema Móvel de Identificação Local de Estrangeiros (SMILE), Advanced Passenger Information System (APIS), Visa Information System (política comum de vistos), Sistema de Gestão Automatizada de Processos (SIGAP) e Sistema Europeu de Vigilância de Fronteiras, entre outros.

Radicais Outro problema identificado no relatório são os motins em bairros problemáticos que estão direccionados para a resistência às forças policiais e desobediência civil. Ainda no que se refere a desobediência civil, o RASI refere que no futuro, os grupos extremistas poderão ver o seu potencial de acção aumentado "pela consolidação das respectivas redes de contactos internacionais, que poderão levar à importação de tipologias mais radicais de intervenção politica". Portugal é ainda apontado nesta análise das principais ameaças à segurança interna, como plataforma geoestratégica para estruturas do crime organizado sul-americano, norte-africano e asiático.

De destacar ainda o potencial crescimento e a ameaça do uso das plataformas digitais para fraudes, burlas e branqueamento de capitais.

por Augusto Freitas de Sousa, Publicado em 02 de Abril de 2011 
iinformação