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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Cinquentenário de AQUILINO RIBEIRO Aquilino Ribeiro : A árvore da vida


Cinquentenário de 

AQUILINO RIBEIRO


Aquilino Ribeiro : A árvore da vida




No ano em que se assinalam o cinquentenário da morte do grande Aquilino Ribeiro (1885-1963) e os 100 anos da publicação do primeiro livro, a VISÃO traça-lhe uma geografia sentimental, pela obra ou pela vida. Ou por ambas, que em Aquilino as duas sempre se lhe ensarilharam na ponta do aparo...



Foi o escritor de todos os superlativos. Chamaram-lhe mestre, "o poderoso Aquilino", "um dos maiores prosadores da língua portuguesa", "dos mais bem situados nas nossas estantes, de Gil Vicente e Fernão Lopes a Vieira e Camilo", "figura de encruzilhada cultural, entre o primitivismo rural e o amor gratuito da erudição livresca", "de estilo assente na miúda reticulação das fibras que conjuga um mundo recôndito de coisas vindas das retinas, dos tímpanos, das papilas sensitivas à flor da pele e das mucosas"... e toda a adjectivação se torna penosamente frouxa e pleonástica perante o autor de setenta títulos, que viu na sua vida ( sinuosa como no título do seu romance) um inesgotável alforge para as suas aventuras literárias - e que o trazia sempre preso à ilharga, cheio de campo e seiva e o bichedo das serranias beirãs lá dentro, mesmo quando se viu citadino, "emigrado" em Lisboa, enjaulado em calabouços (por duas vezes), cosmopolita, exilado em Paris (também por duas vezes), e na Alemanha... Era um cidadão do mundo, mas as raízes da terra nunca lhe largaram os tornozelos. Na sua obra cabe quase um século inteiro, com as suas vezes e revezes. Na vida coube um romantismo aventuroso à Victor Hugo, que sempre mostrava peito feito às tiranias e aos despotismos vários. Não se vergava nem às sotainas da sua adolescência, nem aos ferrolhos das prisões, nem a juízes, monarcas ou ditadores. E quantas vezes, nas suas lamúrias maternais, ele escutara: "É um homem perdido!" E afinal... eis a maestria de um escritor que talhava as frases num apuro de técnica e perfeição, que trouxe o campo e os cumes mais ariscos à cidade, e em cada linha destampou os cofres fortes das palavras, não as deixou lá ficar, embalsamadas, no bafio do esquecimento. E resgatou-as, reinventou-as, completou-as, ressuscitou-as, "com uma veracidade verónica , graças à perfeição de escrita alcançada nos últimos livros, em que o seu barroquismo visceral se tornara num fio de luz de simplicidade riquíssima - guia seguro por labirintos em que a treva adquiria o depuramento de cristal"( José Gomes Ferreira). A acompanhar as cerimónias oficiais (debates, conferências em Portugal e Paris - 19 de Março, 22 de Maio - , visitas guiadas pelos lugares marcantes da sua vida, por Henrique Monteiro Henrique Monteiro, na Beira, e Mário Cláudio, no Minho - 20 e 21 de Abril-, segue-se um outro itinerário pela seiva que também corria na circulação sanguínea de Aquilino, e suas hastes, nódulos, troncos e ramificações.



BEIRA ALTA

Aquilino Ribeiros nasceu, a 13 de Setembro de 1885, no Carregal da Tabosa, concelho de Sernancelhe, no ano da morte de Victor Hugo e em que se constrói o primeiro carro. Passa uma infância rústica e bucólica, primeiro no Carregal e depois em Soutosa (concelho de Moimenta da Beira). Foi o escritor que melhor desenhou com palavras a beira, suas paisagens, seus bichedos, suas gentes, esses seres rudes que se arrastam na sombra pesada de pedras negras, e seus modos de falar, lendas e costumes.

"Quando se passa à vista dessas serranias, perfiladas no horizonte, que têm o seu quê das monticulações dos formigueiros, cheias de povos, de passaredo, de bichesa humana e montesinha, toma-nos, da projecção da nossa pequenez sobre a imensidade e o mistério da distância, um sentimento que tanto pode ser de exaltar como de deprimir"

In Geografia Sentimental



"Pelo braço de estrada fora rompiam ranchos em algazarra, bestas rinchonas caracolando e maltas de varapaus leva que leva. Lá adiante, ao morrer da baixa, o melhor duma aldeia, harmónio fungando, cores a bezerrar, avançava em animado passo de dança. Sozinhos, chegados um ao outro, lá passavam dois casadinhos de fresco; bem se lhes via nos olhos muito mexidos o regalo de se mostrar. Tropicavam azeméis com velhos de capote e chapéu braguês para a nuca, e éguas de alabarda com matronas de lenço de seda, peito coberto de oiro e tamanquinha de Viseu no bico do pé. Para aguentar o passo, outras mulheres tinham tirado as chinelas e com elas na mão, a par do sombreiro, ou à cabeça sobre o xaile, desinhavam-se todas, tep, tep. E lá seguia tudo a catrapós, no frenesi de meter com sol à festa que o mês de Agosto c'os seus santos ao pescoço não tinha melhor que a Senhora da Lapa, a rica Senhora da Lapinha. "

In Terras do Demo




SEMINÁRIO DE BEJA

Aos 17, anos, acabado o liceu em Lamego, os pais fizeram-lhe uma guerra muda: queriam vê-lo no seminário, deixaram de lhe falar, não lhe chocalhou mais no bolso um vintém, enviavam-lhe "uma batalhão estudado de razões e bons conselhos", as pessoas bem-pensantes da terra, o alfaiate Albino e outros "intermezzos de encomenda". Mas água mole, já se sabe, acabou por pisar o coração, largar a namorada, e abalar para Viseu, estudar filosofia, "sem sequer pedir a bênção da mãe". No seminário de Beja a "disciplina era branda e não se esfolava os joelhos a rezar". Não lhe suportava o sinistro badalo que o acordava entre quatro paredes frias. Nem os seminaristas a zumbirem como colmeia na oração. Nem a sotaina ou o barrete. Nem aquele degredo numa cidade "moirisca degenerada", cheia de "nuvens de moscas zumbentes" que "cravejavam as mãos com seu herpes gordo e movediço"... "Foi-se efetuando em mim o degelo da neve pura que era ao tempo em matéria de fé". "Mas que andas tu aqui a fazer? - perguntava dentro de mim D. Quixote; E para onde hás-de ir?, contrapunha Sancho". Despediu-se para nunca mais, por completa ausência de vocação.

"A sineta, enforcada em dois braços de ferro quase em frente do meu quarto, ladrou a bom ladrar às seis e meia da manhã. Para mim que não estava habituado àquela voz imperativa - a sineta toda paternal do Colégio de Lamego há que mundos deixara de regular os meus hábitos- foi-me desagradável como deve ser a do padre capelão que chega À cela do condenado à morte e lhe diz: Meu Caro Amigo, o recurso foi denegado. Prepare-se para morrer."

In Um escritor Confessa-se



ANTIGA BIBLIOTECA NACIONAL

Arredado e com gáudio da vida eclesiástica, desiludido do jornalismo, excluída a pretensão a amanuense dos Caminhos de Ferro (ficou de fora num concurso com mais de duzentos candidatos)- "pela primeira vez reconheci o que significa no plano da vida prática mudar de rumo à procura dum ofício longe daquele para que se vinha batendo sola"-, o jovem desiste do panorama das mangas de alpaca, "recurvos sobre a banca de concurso a versar os pontos mais metafísicos" e encontra refúgio entre os livros.

"Refugiei-me na literatura como num convento do Monte Atos. Desde os primeiros anos do Colégio que tivera pronunciada tendência para a especulação literária. Por agora volvia à leitura (...). Entrava para a Biblioteca Nacional com o abrir do portão e era o último a largar. Nunca me aconteceu adormecer sobre os livros como convidava aquela sala em abóboda, firmada em aduelas de tijolo, verdadeira adega do espírito fradesco, com o salitre tomístico colado aos muros, no ar a boiar ainda a mofeta inextinta dos silogismos. Mas havia muitos que dormiam e ressonavam, sem escândalo para ninguém, louvados sejam os leitores da Morgadinha dos Canaviais. Tão encharcado andava eu de leituras que, involuntariamente, cheguei a falar como os heróis de Camilo, prestando-se o facto um dia a franca chuchadeira dos amigos. Curei-me do vernáculo nas relações com os meus patrícios sarcasticamente triviais, mas não deixei de prosseguir na formação autodidáctica".

In Um Escritor Confessa-se


LISBOA

"Da Costa do Castelo e Graça sentia-se como que a rajada sísmica no acto de varrer para a Baixa as agulhas estroncadas e os arcaboiços rotos das igrejas e palácios. Raro esta e aquela silhueta - as torres da Sé, as volutas brancas do Carmo, o corpanzil verde de D. José em cima do cavalo (...), e os seus palacetes empoleirados nos altos do Torel - quebravam a impressão de assombro que se recebia na varanda ante a floresta de pedra das duas colinas. Se porém se dilatavam olhos até os planos remotos, para lá da laguna dourada que orla o Terreiro do Paço, quer demorando-os mais longe na seda azul, levemente crespa, das águas fluviais, quer no tracto de terra de Outra Banda salpicado dos grandes malmequeres, Alfeite, Cacilhas, Barreiro, com a Arrábida às espaldas, tão roxa que nem pintada, a vista repousava bêbada de luz na confiança das confianças".

In Mónica



"O Café era a Universidade e a antecâmara permanente da revolução. Cada um tinha os seus clientes, agrupados perla cor das ideias e da gravata: republicanos, aficionados, poetas, batoteiros, e seria milagre que acampasse por ali um só que não acusasse estigma. Desconhecido que aparecesse era tal um moiro na costa. De mesa para mesa voava a palavra de passe: Cuidado que pode ser bufo!"

In um Escritor Confessa-se




PARQUE EDUARDO VII

Um escritor que nunca perdeu as graças do campo, nem traiu as suas origens e exultava, recebia, de braços e pulmões, abertos a sua aldeia de infância, o seu fiel Argos, mastim coelheiro, ou então tinha de se contentar com um retalho verde, simulacro de serra empacotada, encravada na cidade. "Eu reintegrava-me no meio que derivara, e nessa operação sentia a delícia das delícias. Era como o lagarto que depois de hibernar, se espreguiça ao sol".

"Nas belas manhãs eu gostava de ir sozinho Avenida Fora, trepar ao bocado de sertão que era o Parque pouco antes baptizado de Eduardo VII, onde via coelhos a correr, Pássaros de tanguinho no bico em vias de construir o ninho. Ali a natureza era a autêntica madre, no seu plano primitivo, ou quase. Lá estava no alto uma casa de granja, quadrada e com telha moura, ares de "monte" alentejano, desdobrada em abegoaria e alpendres, o Casal Ventoso, onde se vendia um copo de leite, se nos apetecia este mimo rural. E eu voltava aos meus romancistas, arejado dos pulmões, os olhos recreados de todos os belos painéis da geórgica que se oferecia naquele bocado de serra e frágua, inacessível porém então às gâmbias alfacinhas".

"Que regalo não é mudar de pele como as cobras, estes inofensivos répteis dos campos que concitam a aversão atávica do homem, e despir o que se traz da cidade, traje, engravatamento, leituras, presunções de civilizado, e entregar-se o filho pródigo ao seio da natureza como um mamoto aos úberes da vaca mãe, ou chapinhar, açoutar a água de pés e mãos num dos poços da ribeira, adormecidos ao coaxar das rãs?!"

In Um autor Confessa-se



Rua do Carrião

Em 1907, Aquilino adere à Carbonária. Durante a manipulação de cargas de TNT "dois caixotitos", dá-se uma violenta explosão no quarto que habita. Sai fisicamente incólume, ao contrário de dois companheiros, mas foi preso na sequência de tão indiscreta algazarra. Viu-se diante do célebre juiz Veiga, "o grande papão dos republicanos, o terror dos anarquistas, o alcoviteiro do rei, a divindade colérica e tutelar que pairava sobre a Monarquia e as instituições, armada de trindente e coriscos". Afinal, em vez de um Javert eriçado à Victor Hugo, saiu-lhe um avozinho, "um bom velhote, o seu tanto surdo, que punha a mão por detrás do pavilhão da orelha para ouvir melhor e me pedia o favor de falar mais alto, como um avô ao neto, falas brandas edulcoradas de piedade e mansetude".

"A parte culta do País, na maioria, estava ganha à ideia republicana. Os propagandistas tinham feito obra sobretudo de demolição, e frutuosa como fora, só os censuravam os despeitados. Para se fazer um edifício novo onde só há ruínas e pardeiros, antes de mais nada está indicado que se deite abaixo e se removam os escombros. A casa lusitana estava velha e carcomida, e os mais culpados eram os reis. Primeiro os absolutos, em tanto que senhores de corpos e almas, depois os constitucionais (...) Os monarcas portugueses, todo esse fastidioso chorrilho de paranóicos, epilépticos e comições de orelha e tromba de cerdo, a cada um dos quais, uma vez defunto, o mais travadinho dos historiadores acorria a pôr o chinó dum cognome banaboia, afectos a ver a sua inútil pessoa divinizada e indiscutida à testa do rebanho, supondo por hipótese que eram transferidos para a vida civil, tenha-se por garantido que não davam uma para a caixa no que quer que fosse".

In Um escritor confessa-se



Esquadra de Caminho Novo

Foi parar a um chilindró subterrâneo, com bruta fechadura e um estrado de pinho, se não queria alongar o corpo no frio do pavimento. "Os cães tinham melhor!". Deu-lhe a angustiosa impressão "das terríveis idades bárbaras": casamatas, Bastilha, Torre de Nesle, S. Julião da Barra, Junqueira, em que apodreceu muito filho de boa mãe". E um bruto ferrolho que não se cansava de estudar e inspeccionar - "aquela bisarma era de facto para causar calafrios". Ao fim de um mês, com a ajuda da gravata de seda, de varetas improvisadas, muito engenho e arte, conseguiu desconjuntar a fechadura, parafuso a parafuso. Gorada a primeira tentativa de evasão, não falharia a segunda. E da outra vez que o meteram dentro de grades, em 1928, também não se ficou à espera que lhe abrissem a porta.

"A suprema aspiração do cativo, que não sabe o que o espera e ama a liberdade acima de tudo é evadir-se. Os pássaros metem a cabeça, alucinadamente, pelas grades, segundo o instinto que lhe é mais imperioso. Fá-lo a galinha, que é um animal aviltrado, quando a mudam de capoeira. Compreende-se que me ocipasse desde logo com o plano de fuga, desenvolvendo a minúcia eporfia que um charadista põe a solucionar o seu logogrifo".

In Um escritor Confessa-se



Universidade de SOBORNNE, PARIS

Depois de se evadir, ficou algum tempo em Lisboa a cometer imprudências, nas barbas da polícia. O pai veio em seu auxílio, a reunir migalhas. Partiu para o exílio, na manhã de 1 de Junho de 1908, apanhou o Sud-Express, no Entrocamento, de valise na mão: "Ao Diabo a sisudez e o medo da vida!". Em Paris residiu seis anos, em convivência com artistas e escritores. Regressou com a proclamação da República mas retornou à Sorbonne, cursando letras e filosofia. Aí conhece a primeira mulher, a alemã Grete Tiedermann. Passa por Berlim e Parchin, instala-se em Paris, onde em 1913 escreve o seu primeiro livro de contos, Jardim das Tormentas.

"O certo é que Paris, o Paris dos rapins, das porteiras, do beijo à boca farta, da lâmpada de álcool para aquecer a refeição pronta da charcuterie, do modelo pindérico e desnalgado, do cocuage dos amigos e pelos amigos, do Bal Bullier e do Bal des Quat'z Arts, dum dia de fartura e de seis de lazeira, da tasca na fraterna comensalidade de galdérias, rufiões, sábios, niilistas e poetas, tornara-se-lhe imprescindível como a casca do caracol".

In Por obra e Graça


Romarigães, Minho

Aquela que é considerada, incontestavelmente, a obra-prima do mestre Aquilino (A casa Grande de Romarigães), tem este incipid assombroso, de um pinhão que cai e dele se faz àrvore e à sombra desta se construirá a casa que albergará três séculos de história portuguesa e gerações de personagens; uma prosa muito aquiliana, erudita mas eivada de regionalismo e construções desusadas que o escritor em boa hora não deixou embalsamar. Publicada em 1957, o escritor chamou-lhe crónica romanceada, a esta sucessão de paixões, desamores, invasões, insanidades e outros desvarios das gentes, debaixo do mesmo tecto, ao abrigo da mesma árvore. E à floresta hão de acorrer insetos, plantas, pássaros, lobos, javalis... A casa, ou o que dela resta, ainda lá está, em Paredes de Coura, no Minho e foi morada de Bernardino Machado (3º e 8ª presidente da República) e também do próprio escritor que casara com a filha de Bernardino, em 1929, quando ambos se encontravam em Paris, no exílio.

"O vento, que é um pincha-no-crivo devasso e curioso, penetrou na camarata, bufou, deu um abanão. O estarim parecia deserto. Não senhor, alguém dormia meio encurvado, cabeça para fora do seu decúbito, que se agitou molemente. Volveu a soprar. Buliu-lhe a veste, deu mesmo um estalido em sua tela semi-rígida e imobilizou-se. Outro sopro. Desta vezo pinhão, como um pretinho da Guiné de tanga a esvoaçar, libertou-se da cela e pulou no espaço. Que paraquedista!"

In A Casa Grande de Romarigães.


TRIBUNAL DA BOA HORA

Já com um prestígio muito ancorado na sua obra e na sua personalidade (aliás já tornado sócio da Academia de Ciências de Lisboa), o escritor publica o famoso romance Quando os Lobos Uivam, duplamente célebre pelo conteúdo e pelo inacreditável processo salazarento que se lhe moveu. É pronunciado como arguido pelo crime de abuso de liberdade de expressão, sujeito ao vexame dos interrogatórios, à afronta das mesquinhas diligências processuais . Candidato a Nobel e apoiado massivamente por um grupo de intelectuais e figuras públicas indignados, o processo é arquivado, a ver se salvava a face o bolorento regime. No Brasil já saía um livro em defesa de Aquilino: "Quando os Lobos Julgam, a Justiça Uiva". Escritor sem medo é, aos 74 anos, um dos promotores da campanha de outro homem sem medo, o general Humberto Delgado .

"Justo Rodrigues (presidente da Junta) - Já disse, e voltarei a dizê-lo na Câmara segunda-feira: a serra é nossa e muito nossa. Queremo-la assim, estamos no nosso direito. Desta forma é que nos faz arranjo. Os de Lisboa querem-na coberta de pinhal...? Semeiem pinhal nos parques e jardins onde têm empedrado e relva só pra vista.
Nacomba - Vai haver sangue, não haja dúvida - vai, vai! Se o governo teima em meter aqui a pata, temo-la tramada!
Dr. Rigoberto - A nação é de todos. A nação tem de ser igual para todos. Se não é igual para todos, é que os dirigentes, que se chamam Estado, se tornaram quadrilha. Se não presta ouvido ao que eu penso e não me deixa pensar como quero, se não deixa liberdade aos meus actos, desde que não prejudiquem o vizinho, tornou-se cárcere. Não, os serranos, mil, cinco mil, dez mil, têm tanto direito a ser respeitados como os restantes senhores da comunidade. Se os sacrificam, cometem uma acção bárbara, e eles estão no direito de se levantar por todos os meios contra tal política.
Louvadeus- Quando esta aldeia estiver mais adiantada, civilizada, tenha luz eléctrica, telefone, escolas dignas, hospital, água potável, (então) fale o estado em levar por diante este número do programa. Até lá, com fome, tamancos de amieiro e barbárie em toda a linha, deixem-nos o que temos. Não nos queiram ditar a vossa lei pela bala e a baioneta.
(Interrompe) Olhe que Nós também não vamos a Lisboa cobiçar os relvados, que lá há, para pastagem das nossas vacas"

In Quando os Lobos Uivam


Retirado em http://visao.sapo.pt/aquilino-ribeiro--a-arvore-da-vida=f717056
Ana Margarida de Carvalho
 7 de Março de 2013


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TITO COLAÇO
11.04.2013

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