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segunda-feira, 6 de maio de 2013

É o fim que confere o significado às palavras...



É o fim que confere o significado às palavras...











Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. 
Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. 
Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. 
Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo. Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. 
Sem pausa para reflexão. 
Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. 
Talvez. 
Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. 
Talvez. 
É-me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. 
Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.


Samuel Beckett
"Textos para Nada"






06.05.2013
TITO COLAÇO

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