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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Which a theory???









Which a theory???


























  A vida não cabe numa teoria  



A vida... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. 
Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós. 
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem. 
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar. 


Miguel Torga
 "Diário (1941)"
























Another winterday is gone
I'm lying here all alone
There are many like me here behind these closed doors

Somehow I lost the way?
Fear just led me astray
Deep into the labyrinth of my warped mind

I lost all of my belief
And I felt my spirit break
Through the rain, storm came over me

Back to madness -I go back to sadness
I go back to madness -- There is no return

Must go back to madness
Must go back to sadness
I go back to madness
Will I ever learn?
What I don't recall I will repeat

Have you ever been hurt?
Have you ever been abandoned?
Have you ever been truly scared?
Have you ever felt you don't belong here?
Have you ever you don't have a home?
Have you ever felt you don't have a chance?
From the moment of birth we are already dying
Death is the only true salvation
Through death man is reborn
Like a butterfly is born out of a caterpillar
And after that, man is finally free

Stratovarius 
 Lyrics: "Back To Madness"



































TITO COLAÇO
XX____II____MMXIV









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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Verum...









Verum...








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  A obrigação da verdade  


Quando olhamos um espelho, pensamos que a imagem à nossa frente é exacta. 
Mas basta movermo-nos um milímetro para a imagem se alterar. 
Aquilo que estamos realmente a ver é uma gama infindável de reflexos. 
Mas às vezes o escritor tem de quebrar o espelho — porque é do outro lado do espelho que a verdade nos encara. 
Estou convencido de que, apesar dos enormes obstáculos existentes, há uma obrigação crucial que recai sobre todos nós enquanto cidadãos: de com uma determinação intelectual inflexível, inabalável e feroz definir a verdade autêntica das nossas vidas e das nossas sociedades. 
É de facto uma obrigação imperativa. 

Harold Pinter
 "Discurso do recebimento do Prémio Nobel"










 Verosimilhança não é Verdade 


Quase sempre as suspeitas nos inquietam; somos sempre o joguete desses boatos de opinião, que tantas vezes põe em fuga um exército, quanto mais um simples indivíduo. 
(...) 
Nós rendemo-nos prontamente à opinião. Não fazemos a crítica das razões que nos levam ao temor, não as esquadrinhamos. Perdemos todo o sangue-frio, batemos em retirada, como os soldados expulsos do seu campo à vista da nuvem de poeira que levanta uma tropa a galope, ou tomados de terror colectivo por causa de um boato semeado sem garante. 
Não sei como, mas as falsidades perturbam-nos desde logo. 
A verdade traz consigo a sua própria medida; tudo quanto se funda sobre uma incerteza, porém, fica entregue à conjectura e às fantasias de um espírito perturbado.
Eis porque, entre as mais diversas formas do medo, não há outra mais desastrosa, mais incoercível que o medo pânico. 
Nos casos ordinários, a reflexão é falha; nestes, a inteligência está ausente. 
Interroguemos, pois, cuidadosamente a realidade. 
É verosímil que uma desgraça venha a produzir-se? 
Verosimilhança não é verdade. Quantos acontecimentos ocorreram sem que os esperássemos! 
Quantos acontecimentos esperados que jamais ocorreram! 
Mesmo que venham a produzir-se, que é que lucraremos em nos anteciparmos à nossa dor? 
Sofrerás com muito maior presteza quando ela chegar. Enquanto esperas, imagina um futuro melhor. 
Que ganharás com isso? Tempo. Muitos incidentes poderão fazer com que o perigo próximo ou iminente se detenha, se dissipe ou caia sobre outra cabeça. 
(...) 
Há casos em que, sem o menor aviso prévio de uma catástrofe, o espírito forja falsas ideias: ou é uma expressão ambígua, que ele só interpreta em sentido desfavorável, ou é a magnitude de uma ofensa cometida que ele exagera, preocupado, aliás, não com a cólera de outrem, mas com o que poderá advir dessa cólera. 

Séneca
"Dos reveses"

































  As Novas Verdades  

Nenhuma verdade nova, e completamente estranha às opiniões correntes, quando demonstrada pelo primeiro que dela se apercebeu, ainda que com uma evidência e uma exactidão idênticas ou semelhantes às da geometria, conseguiu nunca, se as demonstrações não foram de natureza material, introduzir-se e fixar-se no mundo imediatamente, mas só com o decorrer do tempo, através da prática e do exemplo: habituando-se os homens a acreditar nela como em qualquer outra coisa; ou melhor, acreditando geralmente por habituação e não pela exactidão de experiências concebidas no seu espírito.
Até que por fim essa verdade, começando a ser ensinada às crianças, é comummente aceite, evocado com espanto o seu desconhecimento, e escarnecidas as opiniões diferentes, tanto dos antepassados como dos contemporâneos. 
E isto com tanto mais dificuldade e demora quanto maiores e mais importantes foram essas novas e incríveis verdades, e, por conseguinte, subversoras de um maior número de opiniões radicadas nos espíritos. 
Nem mesmo os intelectos perspicazes e treinados sentem facilmente toda a eficiência das razões que demonstram essas verdades ianuditas e que excedem em muito os limites dos conhecimentos e dos hábitos desses intelectos, principalmente quando essas razões e essas verdades se opõem às crenças neles arreigadas. 


Giacomo Leopardi
"Pequenas obras morais"























































  TITO COLAÇO  
  XVI___II___MMXIV  









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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Vanitate...

                                                                                                                                                



         
                  
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           Vanitate...           



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  As melhores acções perdem efeito pela forma como são executadas  


As melhores acções se alteram e enfraquecem pela maneira por que são praticadas, e deixam até duvidar das intenções. 
Aquele que protege ou louva a virtude pela virtude, que corrige e reprova o vício por causa do vício, simplesmente, naturalmente, sem nenhum rodeio, sem nenhuma singularidade, sem ostentação, sem afectação: não usa respostas graves e sentenciosas, ainda menos os detalhes picantes e satíricos; não é nunca uma cena que ele representa para o público, é um bom exemplo que dá e um dever que cumpre; não fornece nada às visitas das mulheres, nem ao pavilhão, nem aos jornalistas; não dá a um homem espirituoso matéria para boa anedota. 
O bem que acaba de fazer é um pouco menos sabido e conhecido pelos outros, na verdade; mas fez esse bem; que é que ele podia querer mais?

(...)

No seu coração, os homens desejam ser estimados, mas eles cuida­dosamente ocultam esse desejo porque querem passar por virtuo­sos e porque o desejo de receber da virtude qualquer vantagem além dela mesma não seria ser virtuoso, mas amar a estima e o elogio — ou seja, ser vaidoso. 
Os homens são muito vaidosos, mas não há nada que eles mais detestem do que serem considerados vaidosos. 


Jean de La Bruyére
"Os Carácteres"
















































































                           
           TITO COLAÇO           
           XIV____II____MMXIV