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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Verum...









Verum...








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  A obrigação da verdade  


Quando olhamos um espelho, pensamos que a imagem à nossa frente é exacta. 
Mas basta movermo-nos um milímetro para a imagem se alterar. 
Aquilo que estamos realmente a ver é uma gama infindável de reflexos. 
Mas às vezes o escritor tem de quebrar o espelho — porque é do outro lado do espelho que a verdade nos encara. 
Estou convencido de que, apesar dos enormes obstáculos existentes, há uma obrigação crucial que recai sobre todos nós enquanto cidadãos: de com uma determinação intelectual inflexível, inabalável e feroz definir a verdade autêntica das nossas vidas e das nossas sociedades. 
É de facto uma obrigação imperativa. 

Harold Pinter
 "Discurso do recebimento do Prémio Nobel"










 Verosimilhança não é Verdade 


Quase sempre as suspeitas nos inquietam; somos sempre o joguete desses boatos de opinião, que tantas vezes põe em fuga um exército, quanto mais um simples indivíduo. 
(...) 
Nós rendemo-nos prontamente à opinião. Não fazemos a crítica das razões que nos levam ao temor, não as esquadrinhamos. Perdemos todo o sangue-frio, batemos em retirada, como os soldados expulsos do seu campo à vista da nuvem de poeira que levanta uma tropa a galope, ou tomados de terror colectivo por causa de um boato semeado sem garante. 
Não sei como, mas as falsidades perturbam-nos desde logo. 
A verdade traz consigo a sua própria medida; tudo quanto se funda sobre uma incerteza, porém, fica entregue à conjectura e às fantasias de um espírito perturbado.
Eis porque, entre as mais diversas formas do medo, não há outra mais desastrosa, mais incoercível que o medo pânico. 
Nos casos ordinários, a reflexão é falha; nestes, a inteligência está ausente. 
Interroguemos, pois, cuidadosamente a realidade. 
É verosímil que uma desgraça venha a produzir-se? 
Verosimilhança não é verdade. Quantos acontecimentos ocorreram sem que os esperássemos! 
Quantos acontecimentos esperados que jamais ocorreram! 
Mesmo que venham a produzir-se, que é que lucraremos em nos anteciparmos à nossa dor? 
Sofrerás com muito maior presteza quando ela chegar. Enquanto esperas, imagina um futuro melhor. 
Que ganharás com isso? Tempo. Muitos incidentes poderão fazer com que o perigo próximo ou iminente se detenha, se dissipe ou caia sobre outra cabeça. 
(...) 
Há casos em que, sem o menor aviso prévio de uma catástrofe, o espírito forja falsas ideias: ou é uma expressão ambígua, que ele só interpreta em sentido desfavorável, ou é a magnitude de uma ofensa cometida que ele exagera, preocupado, aliás, não com a cólera de outrem, mas com o que poderá advir dessa cólera. 

Séneca
"Dos reveses"

































  As Novas Verdades  

Nenhuma verdade nova, e completamente estranha às opiniões correntes, quando demonstrada pelo primeiro que dela se apercebeu, ainda que com uma evidência e uma exactidão idênticas ou semelhantes às da geometria, conseguiu nunca, se as demonstrações não foram de natureza material, introduzir-se e fixar-se no mundo imediatamente, mas só com o decorrer do tempo, através da prática e do exemplo: habituando-se os homens a acreditar nela como em qualquer outra coisa; ou melhor, acreditando geralmente por habituação e não pela exactidão de experiências concebidas no seu espírito.
Até que por fim essa verdade, começando a ser ensinada às crianças, é comummente aceite, evocado com espanto o seu desconhecimento, e escarnecidas as opiniões diferentes, tanto dos antepassados como dos contemporâneos. 
E isto com tanto mais dificuldade e demora quanto maiores e mais importantes foram essas novas e incríveis verdades, e, por conseguinte, subversoras de um maior número de opiniões radicadas nos espíritos. 
Nem mesmo os intelectos perspicazes e treinados sentem facilmente toda a eficiência das razões que demonstram essas verdades ianuditas e que excedem em muito os limites dos conhecimentos e dos hábitos desses intelectos, principalmente quando essas razões e essas verdades se opõem às crenças neles arreigadas. 


Giacomo Leopardi
"Pequenas obras morais"























































  TITO COLAÇO  
  XVI___II___MMXIV  









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