Feel it...
Feel
it...
O que
habitualmente se sofre (se sente) não se pode contar.
Não é
só porque isso é normalmente ridículo (porque a grande maior parte do que se
pensa e sente é ridículo) e só o que é grande é que cai bem e vale portanto a
pena dizer-se.
É que o
dizer-se altera o que se diz.
O sentir é irredutível ao dizer.
Só o
estar sofrendo diz o sofrer.
Na palavra ninguém o reconhece ou reconhece-o de
outra maneira, essa maneira em que já o não reconhece o que o conta.
Mas
dizia eu que a generalidade do que se pensa, sente, é ridícula.
São
raros os momentos de “elevação”.
A quase
totalidade do tempo passamo-la distraídos, alheados em ideias sem interesse,
nascidas de coisas sem interesse, as coisas que vai havendo à nossa volta ou no
nosso divagar imaginativo ou que nem sequer chega a haver porque há só a
abstracção total no quedarmo-nos pregados às coisas que nem vemos nem nos
despertam ideia alguma e estão ali apenas como ponto de fixação do nosso
absoluto vazio interior.
Vergílio Ferreira
“Conta-Corrente 1”
À
primeira vista, nada pode parecer mais ilimitado do que o pensamento humano,
que não apenas escapa a toda autoridade e a todo poder do homem, mas também nem
sempre é reprimido dentro dos limites da natureza e da realidade.
Formar
monstros e juntar formas e aparências incongruentes não causam à imaginação
mais embaraço do que conceber os objectos mais naturais e mais familiares.
Apesar de o corpo confinar-se num só planeta, sobre o qual se arrasta com
sofrimento e dificuldade, o pensamento pode transportar-nos num instante às
regiões mais distantes do Universo, ou mesmo, além do Universo, para o caos
indeterminado, onde se supõe que a Natureza se encontra em total confusão.
Pode-se conceber o que ainda não foi visto ou ouvido, porque não há nada que
esteja fora do poder do pensamento, excepto o que implica absoluta contradição.
Entretanto,
embora o nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, ele está
realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e todo o poder criador do
espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de
diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela
experiência. Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos duas ideias
compatíveis, ouro e montanha, que outrora conheceramos.
Podemos
conceber um cavalo virtuoso, pois o sentimento que temos de nós mesmos
permite-nos conceber a virtude e podemos uni-la à figura e forma de um cavalo,
que é um animal bem conhecido.
Em
resumo, todos os materiais do pensamento derivam das nossas sensações externas
ou internas; mas a mistura e composição deles dependem do espírito e da vontade.
Ou melhor, para expressar-me em linguagem filosófica: todas as nossas ideias ou
percepções mais fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais
vivas.
Para
prová-lo, espero que serão suficientes os dois argumentos seguintes.
Primeiro,
se analisamos os nossos pensamentos ou ideias, por mais compostos ou sublimes
que sejam, sempre verificamos que se reduzem a ideias tão simples como eram as
cópias de sensações precedentes. Mesmo as ideias que, à primeira vista, parecem
mais distantes desta origem mostram-se, sob um escrutínio minucioso, derivadas
dela. A ideia de Deus, significando o Ser infinitamente inteligente, sábio e
bom, nasce da reflexão sobre as operações do nosso próprio espírito, quando
aumentamos indefinidamente as qualidades de bondade e de sabedoria. Podemos
continuar esta investigação até a extensão que quisermos, e concluiremos sempre
que cada ideia que examinamos é cópia de uma impressão semelhante.
Aqueles
que dizem que esta afirmação não é universalmente verdadeira, nem sem excepção,
têm apenas um método, e em verdade fácil, para refutá-la: mostrar uma ideia
que, em sua opinião, não deriva desta fonte.
Incumbir-nos-ia
então, se quiséssemos preservar a nossa doutrina, de mostrar a impressão ou
percepção mais viva que lhe corresponde.
Segundo,
se ocorre que o defeito de um órgão prive uma pessoa de uma classe de sensação,
notamos que ela tem a mesma incapacidade para formar as ideias correspondentes.
Assim, um cego não pode ter noção das cores nem um surdo dos sons. Restaurai a
um deles um dos sentidos de que carecem: ao abrirdes as portas às sensações,
possibilitais também a entrada das ideias, e a pessoa não terá mais dificuldade
para conceber aqueles objectos. O mesmo fenómeno ocorre quando o objecto
apropriado para estimular qualquer sensação nunca foi aplicado ao órgão do
sentido.
(...)
Apesar de
haver poucos ou nenhum caso de semelhante deficiência no espírito, em que uma
pessoa nunca sentiu ou que é completamente incapaz de um sentimento ou paixão
próprios da sua espécie, constatamos, todavia, que a mesma observação ocorre em
menor grau.
Um homem
de modos brandos não pode formar uma ideia de vingança ou de crueldade
obstinada, nem um coração egoísta pode conceber facilmente os ápices da amizade
e da generosidade.
Em
verdade, admitimos que outros seres podem possuir muitos sentidos dos quais não
temos noção, porque as ideias destes sentidos nunca nos foram apresentadas pela
única maneira por que uma ideia pode ter acesso ao espírito, isto é, mediante o
sentimento e a sensação reais.
David Hume
”Investigação acerca do entendimento humano”
Be it so; we are sundered for ever -
I and life's happy and sane.
My
nature and theirs did us sever;
Nought can unite us again.
Again?
We were never unparted,
Differently
destined and born -
They
born to be light and stout‑hearted,
I to be pained and worn.
Be it
so; we for ever are sundered!
What would the normal with me?
My own
inner reason hath wondered
Trembling
at its misery.
I give
me all over to terror
All unto madness and woe;
I
yield up my thoughts unto error.
'Twas to be so; be it so!
Of my
thoughts I no longer am master,
Ceasing is now all control.
My
mind doth decay: take your pasture
Ravings, ye worms of the soul!
Alexander Search
Be
it so!
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