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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

GENIUS...






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  Génio, talento e celebridade  



Pode-se supor que a presença no mesmo homem de mais de um elemento intelectual facilitaria a sua imediata celebridade. 
Até certo limite é assim, mas o é até um limite menor do que se poderia conjecturar na ociosidade da hipótese. Um homem dotado ao mesmo tempo de grande génio e de grande inteligência (como Shakespeare), ou de grande génio e grande talento (como Milton), não acumula na sua época ou na seguinte os resultados do génio e os resultados de outra qualidade. 
É que estes diferentes elementos intelectuais estão misturados por coexistirem no homem, e derrama-se na substância da inteligência ou do talento o sagrado veneno do génio; a bebida é amarga, embora retenha algo do seu gosto comum. 
Os antigos misturavam mel com vinho e achavam isso gostoso; mas o néctar não pode fazer qualquer vinho gostoso ao paladar da gente comum.
Um homem que pudesse ter em si próprio, em certo grau, génio, talento e inteligência, estaria preparado para produzir impacto no seu tempo pela sua inteligência, na sua época pelo seu talento e na generalidade dos futuros tempos e épocas pelo seu génio. Mas como o seu génio afectaria o seu talento e o seu talento e o seu génio a sua inteligência - pois as coisas que coexistem na mente coexistem por interfusão e não por mera continuidade - menor seria o seu talento puro, e menos atrairia gerações mais amplas; e menos seria a sua inteligência pura e menos acariciaria a simplicidade de todos os presentes. 
Qualquer exemplo tornaria isto claro para quem compreende por meio de exemplos. Um homem de espírito que, entre os seus pares, faz uma piada, daquelas que um espírito talentoso poderia inteligentemente conceber, provoca uma gargalhada geral de apreço. Esta coisa impura é pura inteligência. O homem que, no mesmo grupo, faz uma piada com uma alusão clássica ou com uma distensão de espiritualidade intelectual, pode mostrar ao analista que acrescentou alguma coisa à inteligência, mas, no efeito moderado que produziu nos ouvintes, ter-lhe-á subtraído algo. 
Se, além disso, o mesmo homem for um génio e acontecer que faça tal piada em que o seu génio claramente se mostre e inunde a sua inteligência com a sua côr, terá de enfrentar o daltonismo de cada ouvinte diante do qual torna ridícula a sua sabedoria. 
Será algo de parecido como fazer uma piada em língua estrangeira. O presente não tem segunda-visão e a ponta permanece na bainha. 



Fernando Pessoa
"Heróstrato"




































TITO COLAÇO
19.09.2013












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