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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Abditae causae...




Abditae causae...







  O Amor infinito  


Da mulher o que nos comove e enleva é a parte impoluta que ela tem do céu, é a magia que a fada exercita obedecendo a interno impulso, não sabido dela, não sabido de nós. 
Ali há mensagem de outras regiões, aqui, no peito arquejante, nos olhos amarados de gozozas lágrimas, há um expirar para o alto, um ir-se o coração voando desde os olhos, desde o sorriso dela para soberanas e imorredouras alegrias. 
Nós é que não sabemos nem podemos ver senão o pouquinho desse infinito que nos entre-luz nas graças do primeiro amor, do segundo amor, de quantos estremecimentos de súbita embriaguez nos fazem crer que despimos o invólucro de barro e pairamos alados sobre a região das lágrimas. 
É Deus que não quer ou somos nós que não podemos prorrogar a duração ao sonho? 
Se Deus, que mal faria à sua divina grandeza que o pequenino guzano o adorasse sempre?
Porque vai tão rápida aquela estação em que o homem é bom porque ama, e é caritativo e dadivoso porque tudo sobeja à sua felicidade? 
Quando poderam aliar-se um amor puro com a impureza das intenções? 
Quais olhos de homem afectivo e como santificado por seu amor recusaram chorar sobre desgraças estranhas? 
Que exuberância de bens a desbordar da alma! 
Que ânsia de fazermos em redor de nós alegrias, fortunas, mãos erguidas connosco a bem-dizer os contentamentos que nos chove o manancial dos puros deleites. 
Não é Deus que nos agourenta as alegrias castas, as espirações que lhe comprazem. Nós é que não sabemos que luz é essa da nova manhã que dentro nos alumia voluptuosidades desconhecidas. 
Atribuímos ao efeito os prestígios da causa. É que não podemos ver por longo tempo a mensageira dos mundos estrelados: quisemos pôr a mão na vara que nos encantou, e a vara fez-se serpente, porque a alma imaculada já não era o impulsor da nossa ansiedade. 
O homem, escurecido já no interior, viu a mulher ao sol da terra, sol que incende o sangue, e abrasa o rosto e cresta as asas do anjo. 
Ai dos anjos em carne que olham depois em si e correm a vestir-se da folhagem do paraíso! 
Desde esse momento a luz do homem, o calor das paixões radia do montante de fogo que empunha o executor de alta justiça. Fora do éden está o inferno. 
A baliza encravada na fronteira maldita chama-se o TÉDlO. 


Camilo Castelo Branco
"O Santo da Montanha (1866)"


































 TITO COLAÇO 
VII ___ VIII ___ MMXIV








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