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terça-feira, 25 de março de 2014

Dictum...








Dictum...


































   A justiça em estado puro   


Quero que me ensinem também o valor sagrado da justiça, da justiça que apenas tem em vista o bem dos outros, e para si mesma nada reclama senão o direito de ser posta em prática. 
A justiça nada tem a ver com a ambição ou a cobiça da fama, apenas pretende merecer aos seus próprios olhos. 
Acima de tudo, cada um de nós deve convencer-se de que temos de ser justos sem buscar recompensa. 
Mais ainda: cada um de nós deve convencer-se de que por esta inestimável virtude devemos estar prontos a arriscar a vida, abstendo-nos o mais possível de quaisquer considerações de comodidade pessoal. 
Não há que pensar qual virá a ser o prémio de um acto justo; o maior prémio está no facto de ele ser praticado. 
Mete também na ideia aquilo que há pouco te dizia: não interessa para nada saber quantas pessoas estão a par do teu espírito de justiça. 
Fazer publicidade da nossa virtude significa que nos preocupamos com a fama, e não com a virtude em si. 
Não queres ser justo sem gozares da fama de o ser ? 
Pois fica sabendo: muitas vezes não poderás ser justo sem que façam mau juízo de ti! 
Em tal circunstância, se te comportares como sábio, até sentirás prazer em ser mal julgado por uma causa nobre! 


Séneca
 "Cartas a Lucílio"






















"Eu elogio a vida, não a que levo, mas aquela que sei dever ser vivida."








































































::::::::::::::TITO COLAÇO::::::::::::::
::XXV___ III ___MMXIV::










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quinta-feira, 20 de março de 2014

Inside...








Inside...



























 A necessidade da metafísica 


A razão humana tem este destino singular, numa parte dos seus conhecimentos, de sucumbir ao peso de certas questões que não pode evitar. 
Com efeito, tais questões impõem-se à razão devido à sua mesma natureza, mas ela não pode responder-lhes porque de todo ultrapassam a sua capacidade. 
Não devemos contar que o espírito humano renuncie um dia por completo às indagações metafísicas: seria o mesmo que aguardar que, em vez de respirar sempre um ar viciado, suspendêssemos um belo dia a respiração. 
Por conseguinte, haverá sempre no mundo, ou, melhor, em todo homem, sobretudo se ele reflecte, uma metafísica, que, na ausência de uma norma comum, cada qual talhará a seu grado; ora o que até aqui se tem denominado metafísica não pode satisfazer nenhum espírito reflectido, mas renunciar a ela por completo é também impossível; é necessário, pois, empreender enfim uma crítica da razão pura em si, ou, se alguma existe, perscrutá-la e examiná-la em conjunto; na verdade, não há outro meio de satisfazer esta exigência imperiosa, que é coisa muito diferente de um simples desejo de saber. 

Emmanuel Kant
"Prolegómenos"
































TITO COLAÇO
XX___ III ___MMXIV








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segunda-feira, 17 de março de 2014

JUDGE YOURSELF!!!






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JUDGE YOURSELF!!!












  Juízes imparciais  


Se quisermos ser juízes imparciais em qualquer circunstância, devemos, antes de mais, ter em conta que ninguém está livre de culpa; o que está na origem da nossa indignação é a ideia de que: «Eu não errei» e «Eu não fiz nada». 
Pelo contrário, tu recusas admitir os teus erros! 
Indignamo-nos quando somos castigados ou repreendidos, cometendo, simultaneamente, o erro de acrescentar aos crimes cometidos, a arrogância e a obstinação. 
Quem poderá dizer que nunca infringiu a lei? 
E, se assim for, é bem estreita inocência ser bom perante a lei! 
Quão mais vasta é a regra do dever do que a regra do direito! 
Quantas obrigações impõem a piedade, a humanidade, a bondade, a justiça e a lealdade, que não estão escritas em nenhuma tábua de leis!
Mas nós não podemos satisfazer-nos com aquela noção de inocência tão limitada: há erros que cometemos, outros que pensamos cometer, outros que desejamos cometer, outros que favorecemos; por vezes, somos inocentes por não termos conseguido cometê-los. 
Se tivermos isto em conta, somos mais justos para com os delinquentes, e mais persuasivos nas admoestações; em todo o caso, não nos iremos contra os homens bons (de facto, contra quem não nos sentiremos irados, se nos irarmos contra os homens bons?), muito menos contra os deuses: na verdade, não é por causa deles, mas devido à nossa condição de mortais que sofremos tantos incómodos.
 - Mas as doenças e as dores assaltam-nos. 
- De qualquer maneira, teremos que sair desta morada decadente que nos foi atribuída. 
Supões que alguém disse mal de ti: pensa se não terás tu começado primeiro, pensa nas pessoas sobre quem já disseste mal. 


Séneca
"Da ira"






















































TITO COLAÇO
XVII___III___MMXIV










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sexta-feira, 14 de março de 2014

Supra summus...







Supra summus...















   O Bem supremo   


Muito discutiu a antiguidade em torno do supremo bem. 
O que é o supremo bem? 
Seria o mesmo que perguntar o que é o supremo azul, o supremo acepipe, o supremo andar, o ler supremo, etc. 
Cada um põe a felicidade onde pode, e quanto pode ao seu gosto.
(...) 
Sumo bem é o bem que vos deleita a ponto de nos polarizar toda a sensibilidade, assim como mal supremo é aquele que vos torna completamente insensível. 
Eis os dois pólos da natureza humana. 
Esses dois momentos são curtos. Não existem deleites extremos nem extremos tormentos capazes de durar a vida inteira. 
Supremo bem e supremo mal são quimeras.
Conhecemos a bela fábula de Crântor, que fez comparecer aos jogos olímpicos a Fortuna, a Volúpia, a Saúde e a Virtude
Fortuna: - O sumo bem sou eu, pois comigo tudo se obtém. 
Volúpia: - O meu é o pomo, porquanto não se aspira à riqueza senão para ter-me a mim. 
Saúde: - Sem mim não há volúpia e a riqueza seria inútil. 
Virtude: - Acima da riqueza, da volúpia e da saúde estou eu, que embora com ouro, prazeres e saúde pode haver infelicidade, se não há virtude. 
Teve o pomo a Virtude
A fábula é engenhosa, mas não resolve o problema absurdo do supremo bem. 
Virtude não é bem, senão dever. Pertence a um plano superior. 
Nada tem que ver com as sensações dolorosas ou agradáveis. 
Com cálculos e gota, sem arrimo, sem amigos, privado do necessário, perseguido, agrilhoado por um tirano voluptuoso aboletado no fausto, o homem virtuoso é infelicíssimo, e o perseguidor insolente que acaricia uma nova amante no seu leito de púrpura, felicíssimo. 
Podeis dizer ser preferível o sábio perseguido ao perseguidor impertinente. 
Podeis dizer amar a um e detestar o outro. 
Mas esquece-vos que le sage dans les fers enrage. Se não concordar o sábio, engana-vos: é um charlatão. 


Voltaire
"Dicionário filosófico"























































































TITO COLAÇO
XIV___III___MMXIV