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sábado, 28 de fevereiro de 2015

In the blink of an eye…



























































   In the blink of an eye…   































In the blink of an eye









Aqui vou eu num carro eléctrico, mais umas trinta ou quarenta pessoas,
Cheio (só) das minhas ideias imortais, (creio que boas).

Amanhã elas, postas em verso, serão
Por toda a Europa, por todo o mundo (quem sabe?!)
Triunfo meta, início, clarão
Que talvez não acabe.

E quem sobe? Que sente? O que vai a meu lado
Só sente em mim que sou o que, estrangeiro,
Tem o lugar da ponta, e do extremo, apanhado
Por quem entra primeiro.

Que o que vale são as ideias que tenho, enfim,
O resto, o que aqui está sentado, sou eu,
Vestido, visual, regular, sempre em mim,
Sob o azul do céu.

Ah, Destino dos deuses, dai-me ao menos o siso
Ao que em mim pensa a vida de ter um profundo
Senso essencial, mas certeiro e conciso
Da vida e do mundo!

Sei, sob o céu que é que toca as minhas ideias,
Sob o céu mais análogo ao que penso comigo
Que este carro vai com os bancos cheios
Para onde eu sigo.

E o ponto de absurdo de tudo isto qual é?
Onde é que está aqui o erro que sinto?
A minha razão enternecida aqui perde pé
E pensando minto,

Mas a que verdade minto, que ponte,
Há entre o que é falso aqui e o que é certo?
Se o que sinto e penso, não sei sequer como o conte,
Se o que está a descoberto

Agora no meu meditar é uma treva e um abismo
Que hei-de fazer da minha consciência dividida?
Oh, carro absurdo e irreal, onde está quanto cismo?
De que lado é que é a vida?







Álvaro de Campos
“Tramway”














































































How yesterday is long ago! The past
Is a fixed infinite distance from to-day,
And bygone things, the first-lived as the last,
In irreparable sameness far away.
How the to-be is infinitely ever
Out of the place wherein it will be Now,
Like the seen wave yet far up in the river,
Which reaches not us, but the new-waved flow!
This thing Time is, whose being is having none,
The equable tyrant of our different fates,
Who could not be bought off by a shattered sun
Or tricked by new use of our careful dates.
This thing Time is, that to the grave will bear
My heart, sure but of it and of my fear.






Fernando Pessoa
“35 Sonnets” in Poemas Ingleses
XXVII
 “How yesterday is long ago! The past”









































  

Tito Colaço





XXVIII _ II _ MMXV











































segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

More than...





More than...








 More than... 

















Aqui tens o que posso dizer-te constantemente, a matéria que poderei estar sempre a debater, pois ambos vemos à nossa roda inúmeros milhares de pessoas inquietas que, a fim de obterem algo de altamente nocivo, andam com perseverança a praticar o mal, sempre à procura de coisas que logo a seguir deixam de lhes interessar, ou mesmo as enchem de repulsa!
Já viste alguém contentar-se com uma coisa que, antes de a obter, lhe parecia mais que suficiente?
A felicidade, ao contrário da opinião corrente, não é ambiciosa, mas sim modesta, e por isso mesmo nunca sacia ninguém.
Tu pensas que aquilo que satisfaz o vulgo é elevado porque ainda estás longe da perfeição estóica, para quem a alcançou, tudo isso é absolutamente rasteiro!
Minto: para quem começou a subir até esse nível, pois o ponto que tu pensas ser já o mais alto, não passa de um degrau. 
Toda a gente é infelizmente confundida pela ignorância da verdade.
Enganada pela opinião vulgar, procura como se fossem bens certas coisas que, depois de muito penar para as conseguir, verifica serem nocivas, inúteis ou inferiores ao que esperava.
A maior parte das pessoas sente admiração por coisas que só ao fim de algum tempo se revelam ilusórias, e assim é que o vulgo toma por bom o que apenas parece grande.






Séneca
“Cartas a Lucílio”







                                                             











Can you find yourself and tell me what you feel?
Can you justify all you've done for me...

Try another step
Trust in what you felt forever.
Leave the past behind again,,,
Swimming in the stream of time...


Don't you see, there's so much more
We cannot hear and cannot see,
More than we can comprehend...

Where do we belong?
Where are we going to?
What else can we find if we ever try?

Somehow we understand,
We can not turn away
Even though we try to ignore the truth...

There's more than we can hear...
There's more than we can see...
There's more than we can comprehend for now...

You say you know...
I guess I believe in something you don't understand.
Sometimes we try
To find another reason why...
Wading through the Promised Land...


Don't you see, there's so much more
We cannot hear and cannot see,
More than we can comprehend...

Where do we belong?
Where are we going to?
What can we find if we try?

More than we can hear...
More than we can see...
More than we can comprehend...





Dreamscape
“More than”
































My heart was trembling in the breeze
Like a flag half‑furled and at rest...
My heart was trembling in the breeze
And all was restless in my breast...


My heart was lonely, sick and pale,
Silent like rocks in a calm sea...
My heart was lonely, sick and pale.
It seemed not to belong to me...


It sounded in me like a stone
Falling within a rivulet...
It sounded in me like a stone
That doth a silent river fret...


Oh, heart too sick for life like this.
Oh, peace that sleeps among the hills.
O heart too sick for life like this.
Oh rest at last for all my ills.






Fernando Pessoa
“My heart was trembling in the breeze














































Tito Colaço

XXIII _ II _ MMXV