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sábado, 21 de junho de 2014

Exempla movent magis quam verba...




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    Exempla movent magis quam verba...  







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   Alegria e tranquilidade   

A alegria pode sofrer interrupções no caso de pessoas ainda insuficientemente avançadas, enquanto, no caso do sábio, o bem estar é um tecido contínuo que nenhuma ocorrência, nenhum acidente pode romper, em todo o tempo, em todo o lugar o sábio goza de tranquilidade! Porquê? 
Porque o sábio não depende de factores externos, não está à espera dos favores da fortuna ou dos outros homens. 
A sua felicidade está dentro dele, fazê-la vir de fora seria expulsá-la da alma, que é onde, de facto, a felicidade nasce! 
Pode uma vez por outra surgir qualquer ocorrência que lembre ao sábio a sua condição de mortal, mas ocorrências deste tipo são de somenos importância e não o atingem mais do que à flor da pele. 
O sábio, insisto, pode ser tocado ao de leve por um ou outro contratempo, mas para ele o sumo bem permanece inalterável. 
Volto a dizer que lhe podem ocorrer contratempos provindos do exterior, tal como um homem de físico robusto não está livre de um furúnculo ou de uma ferida superficial, em profundidade, porém, não há mal que o atinja.
A diferença existente, insisto ainda outra vez, entre o homem que atingiu a plenitude da sabedoria e aquele que ainda lá não chegou é a mesma que se verifica entre um homem são e um convalescente de doença grave e prolongada. Para este a diminuição da intensidade da doença já quase significa saúde mas, se não se precaver, o mal rapidamente se agrava e volta à primitiva forma, o sábio, em contrapartida, nem pode retroceder, nem sequer avançar mais na via da sapiência. 
A saúde do corpo está à mercê do tempo e o médico, se a pode restituir, não a pode garantir perpetuamente, e tanto assim é que com frequência o mesmo doente o volta de novo a chamar; a saúde da alma, essa, obtém-se de uma vez por todas, e totalmente! 
Dir-te-ei agora o que significa uma alma sã: é cada um contentar-se consigo mesmo, ter confiança em si próprio, saber que todos os votos feitos pelos homens, todos os benefícios que trocam entre si não têm a mínima importância para a obtenção da felicidade. 
Uma coisa passível de acréscimo não é uma coisa perfeita, o homem que quer vir a possuir uma permanente alegria, tem de fruir apenas do que efectivamente lhe pertence. 
Ora todos os bens a que o comum dos mortais aspira são, de uma forma ou outra, transitórios, pois de coisa alguma a fortuna nos permite a posse para sempre. 


 Séneca 
"Cartas a Lucílio"
















    Talento não é sabedoria    


Deixa-me dizer-te francamente o juízo que eu formo do homem transcendente em génio, em estro, em fogo, em originalidade, finalmente em tudo isso que se inveja, que se ama, e que se detesta, muitas vezes. 
O homem de talento é sempre um mau homem. Alguns conheço eu que o mundo proclama virtuosos e sábios. Deixá-los proclamar. 
O talento não é sabedoria. 
Sabedoria é o trabalho incessante do espírito sobra a ciência. 
O talento é a vibração convulsiva de espírito, a originalidade inventiva e rebelde à autoridade, a viagem extática pelas regiões incógnitas da ideia. Agostinho, Fénelon, Madame de Staël e Bentham são sabedorias. Lutero, Ninon de Lenclos, Voltaire e Byron são talentos.
Compara as vicissitudes dessas duas mulheres e os serviços prestados à humanidade por esses homens, e terás encontrado o antagonismo social em que lutam o talento com a sabedoria. 
Porque é mau o homem de talento ? 
Essa bela flor porque tem no seio um espinho envenenado ? 
Essa esplêndida taça de brilhantes e ouro porque é que contém o fel, que abrasa os lábios de quem a toca ? 
Aqui tens um tema para trabalhos superiores à cabeça de uma mulher, ainda mesmo reforçada por duas dúzias de cabeças académicas! 
Lembra-me ouvir dizer a um doido que sofria por ter talento. 
Pedi-lhe as circunstâncias do seu martírio sublime, e respondeu-me o seguinte com a mais profunda convicção, e a mais tocante solenidade filosófica : os talentos são raros, e os estúpidos são muitos. 
Os estúpidos guerreiam barbaramente o talento : são os vândalos do mundo espiritual. 
O talento não tem partido nesta peleja desigual. Foge, dispara na retirada um tiroteio de sarcasmos pungentes, e, por fim, isola-se, segrega-se do contacto do mundo, e curte em silêncio aquele fel de vingança, que, mais cedo ou mais tarde, cospe na cara de algum inimigo, que encontra desviado do corpo do exército. 
Aí tem a razão por que o homem de talento é perigoso na sociedade. 
O ódio inspira-lhe a eloquência da traição. 


 Camilo Castelo Branco 
"Coisas que só eu sei"






































TITO COLAÇO
XXI ___ VI ___ MMXIV








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