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terça-feira, 24 de junho de 2014

Quanta continua...




Quanta continua...























 A Sabedoria do corpo 

Tu dizes "eu" e orgulhas-te desta palavra. Mas há qualquer coisa de maior, em que te recusas a aceditar, é o teu corpo e a sua grande razão, ele não diz Eu, mas procede como Eu. 
Aquilo que a inteligência pressente, aquilo que o espírito reconhece nunca em si tem o seu fim. 
Mas a inteligência e o espírito quereriam convencer-te que são o fim de todas as coisas, tal é a sua soberba. 
Inteligência e espírito não passam de instrumentos e de brinquedos, o Em si está situado para além deles. 
O Em si informa-se também pelos olhos dos sentidos, ouve também pelos ouvidos do espírito. 
O Em si está sempre à escuta, alerta, compara, submete, conquista, destrói. Reina, e é também soberano do Eu. 
Por detrás dos teus pensamentos e dos teus sentimentos, meu irmão, há um senhor poderoso, um sábio desconhecido: chama-se o Em si. Habita no teu corpo, é o teu corpo. 
Há mais razão no teu corpo do que na própria essência da tua sabedoria. 
E quem sabe por que é que o teu corpo necessita da essência da tua sabedoria? 


  Friedrich Nietzsche  
"Assim falava Zaratustra"


















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Antecipações da percepção
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A propriedade das grandezas, segundo a qual nenhuma das suas partes é a mínima possível, (nenhuma parte é simples) denomina-se continuidade.
O espaço e o tempo são quanta continua, porque nenhuma das suas partes pode ser dada sem ser encerrada entre limites (pontos e instantes) e, por conseguinte, só de modo que essa parte seja, por sua vez, um espaço ou um tempo.
O espaço é pois constituído por espaços, o tempo por tempos.
Pontos e instantes são apenas limites, simples lugares da limitação do espaço e do tempo; os lugares, porém, pressupõem sempre as intuições que devem limitar ou determinar, e não é com simples lugares, considerados como partes integrantes, que poderiam mesmo ser dados anteriormente ao espaço e ao tempo, que se pode formar espaço e tempo.
A tais grandezas poder-se-ia também chamar fluentes, porque a síntese (da imaginação produtiva) na sua produção, é uma progressão no tempo, cuja continuidade se costuma particularmente designar pela expressão do fluir (escoar-se).
Todos os fenómenos em geral são, portanto, grandezas contínuas, tanto extensivas, quanto à sua intuição, como intensivas quanto à simples percepção (sensação e portanto realidade).
Quando é interrompida a síntese do diverso do fenómeno, esse diverso é um agregado de muitos fenómenos (e não propriamente um fenómeno como quantum) que não é produzido pela simples progressão da síntese produtiva de um certo modo, mas pela repetição de uma síntese sempre interrompida.
(...)
Se pois todos os fenómenos, considerados tanto extensiva como intensivamente, são grandezas contínuas, a proposição, segundo a qual toda a mudança (passagem de uma coisa de um estado para outro) é também contínua, poderia aqui ser demonstrada e com evidência matemática, se a causalidade de uma mudança em geral não se situasse totalmente fora das fronteiras de uma filosofia transcendental e não supusesse princípios empíricos.
Porque o entendimento não nos dá a priori nenhum esclarecimento quanto à possibilidade de haver uma causa, que modifique o estado das coisas, isto é, o determine num sentido contrário a um certo estado dado; não só porque não vê essa possibilidade ( pois falta-nos essa visão na maior parte dos conhecimentos a priori), mas sobretudo porque a mutabilidade atinge apenas certas determinações dos fenómenos, que só a experiência possível, nos pode ensinar, enquanto a causa deve ser procurada no imutável.
Como aqui nada temos à mão que nos possa servir, a não ser os conceitos puros fundamentais de toda a experiência possível, nos quais absolutamente nada de empírico deve haver, não podemos, sem arruinar a unidade do sistema, antecipar nada à física geral, que se ergue sobre determinadas experiências fundamentais.


  Immanuel Kant  
"Crítica da razão pura"
8ª Edição - Fundação Calouste Gulbenkian
pp. 203-205























TITO COLAÇO
XXIV ___ VI ___ MMXIV






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