"Ver-se como à
natureza;
olhar para as suas impressões
como para um campo -
a sabedoria é
isto."
Fernando Pessoa
"Livro do desassossego"
“We are talking of a passion that is without
motive.
There is such a passion. It has nothing to do with personal gain or
loss, or all the petty little demands of a particular pleasure and the
avoidance of pain.
Without that passion you cannot possibly cooperate, and
cooperation is life, which is relationship.”
“Reformers
-political, social, and religious- will only cause more sorrow for man unless
man understands the workings of his own mind.
In the understanding of the total
process of the mind, there is a radical, inward revolution, and from that
inward revolution springs the action of true cooperation, which is not
cooperation with a pattern, with authority, with somebody who `knows´.
When you know how to co-operate because there is this inward
revolution, then you will also know when not to cooperate, which is really very
important, perhaps more important.
We now cooperate with any person who offers
a reform, a change, which only perpetuates conflict and misery, but if we can
know what it is to have the spirit of cooperation that comes into being with
the understanding of the total process of the mind and in which there is
freedom from the self, then there is a possibility of creating a new
civilization, a totally different world in which there is no acquisitiveness,
no envy, no comparison.
This is not a theoretical utopia but the actual state
of the mind that is constantly inquiring and pursuing that which is true and
blessed.”
Cooperation
without motive!
"Temos falado a respeito de tantos assuntos, de vários
problemas da vida,
não é?
Porém, pergunto-me se realmente sabemos o que é um
problema.
Os problemas tornam-se difíceis de serem resolvidos se permitirmos
que eles criem raízes na mente.
A mente os cria, e depois torna-se o solo no
qual se enraízam; e uma vez bem estabelecidos na mente é muito difícil arrancá-
los.
O essencial é que a própria mente os veja e não ceda espaço para que
cresçam.
Um dos problemas básicos confrontando o mundo é o da cooperação.
O que significa a palavra cooperação?
Cooperar é fazer as coisas juntos,
construir juntos, sentir juntos, ter alguma coisa em comum para podermos
trabalhar livremente juntos.
Mas, as pessoas no geral não se sentem inclinadas a trabalhar
juntas, de modo natural, fácil e feliz; por isso, são compelidas a fazê-lo por
meio de vários incentivos: ameaça, medo, punição, recompensa.
Essa é a prática
comum no mundo. Sob governos tirânicos, são brutalmente forçados a trabalhar
juntos; se não `cooperarem´, estarão liquidados ou enviados para um campo de
concentração.
Nas chamadas nações civilizadas, são induzidos a trabalhar juntos
por meio do conceito de `o meu país´, ou por uma ideologia que foi cuidadosamente
planeada e amplamente propagada para que a aceitem; ou trabalham juntos para
realizar um plano que alguém inventou, um esquema para uma Utopia.
Então, esse é o plano, a ideia, a autoridade que induz as
pessoas a trabalharem unidas.
No geral, chamamos de cooperação, e nela existe
sempre a implicação de recompensa ou punição, que significa que por trás dessa
`cooperação´ existe medo.
Estão sempre a trabalhar por alguma coisa, pelo país,
para o rei, para o partido, por Deus ou pelo mestre, pela paz ou para fazer
esta ou aquela reforma.
A ideia que têm de cooperação é trabalhar juntos para um
determinado resultado; têm um ideal, construir uma escola perfeita ou o que
for, para o qual estão a trabalhar, e dizem, portanto, que a cooperação é
necessária. Tudo isso implica autoridade, não é?
Existe sempre alguém que supomos que sabe qual é a coisa certa a
se fazer, e então dizem: `Precisamos cooperar para realizar´.
Não chamo isso de cooperação. Não é cooperação, trata-se de uma
forma de ganância, de medo, de compulsão.
Por trás existe a ameaça de que, se
não cooperarem, o governo não os reconhecerá, ou um `Plano de Cinco Anos´
falhará, ou serão enviados para um campo de concentração, ou o país perderá a
guerra, ou não irão para o céu.
Existe sempre alguma forma de incentivo, e onde
existe incentivo não pode haver cooperação verdadeira.
Nem existe cooperação quando trabalhamos juntos apenas porque
concordamos mutuamente em fazer algo. Em qualquer acordo, o importante é fazer
o que foi determinado, não trabalhar juntos.
Podemos concordar em construir uma
ponte, fazer uma estrada ou plantar algumas árvores juntos, mas nesse acordo
existe sempre o medo do desacordo, o medo de que eu não faça a minha parte e
deixe que vocês façam tudo.
Por isso não existe cooperação quando trabalhamos juntos por
meio de qualquer forma de incentivo, ou por mero acordo, porque por trás de
todo o esforço existe a implicação de ganhar ou evitar algo.
Para mim, cooperação é completamente diferente. Cooperação é a
diversão de ser e fazer juntos, não necessariamente fazer algo em particular.
Compreendem?
As crianças possuem, no geral, o sentimento de ser e fazer
juntos. Já notaram? Cooperam em tudo.
Não existe problema de acordo ou
desacordo, recompensa ou punição; elas só querem ajudar.
Cooperam
instintivamente pela alegria de ser e fazer juntos.
Mas as pessoas adultas destroem o espírito natural, espontâneo,
de cooperação nas crianças ao dizerem: `Se fizerem isto, eu lhes darei aquilo;
se não o fizerem, não deixarei irem ao cinema´, o que introduz o elemento
corruptor.
Então, a verdadeira cooperação surge não apenas no acordo de
realizar juntos algum projecto, mas na alegria, na sensação da união, se
podemos usar esta palavra, porque nela não existe obstinação de idealização, de
opinião pessoal.
Quando conhecem a cooperação, conhecem também o não cooperar,
que é igualmente importante. Compreendem?
É necessário que todos despertemos em nós mesmos o espírito de
cooperação, pois então não será um mero plano, ou acordo, que nos fará
trabalhar juntos, mas a sensação extraordinária da união, a sensação de alegria
em ser e fazer juntos sem qualquer pensamento de recompensa ou punição. É muito
importante.
Mas é igualmente importante saber quando não cooperar, porque,
se não formos sábios, poderemos cooperar com os não sábios, com líderes
ambiciosos que têm esquemas grandiosos, ideias fantásticas, como Hitler e
outros tiranos da história.
Por isso, precisamos saber quando não cooperar; e
somente poderemos saber quando conhecermos a alegria da verdadeira cooperação.
Trata-se de uma questão muito importante, sobre a qual devemos
conversar, porque, quando é sugerido que trabalhemos juntos, a resposta
imediata provavelmente será: `Para quê? O que teremos de fazer?´.
Por outras palavras, a coisa a ser feita torna-se mais
importante do que a sensação de ser e fazer juntos; e quando a coisa a ser
feita, plano, conceito, utopia ideológica, assume a importância primária, então
não existe cooperação verdadeira.
É só a ideia que nos mantém juntos; e se uma
ideia pode nos unir, outra pode nos dividir.
Portanto, o que importa é despertarmos em nós o espírito de
cooperação, o sentimento de alegria em ser e fazer juntos, sem qualquer noção
de recompensa ou punição.
Muitas pessoas jovens o possuem espontânea e livremente,
se não foram corrompidas pelos mais velhos."
Jiddu Krishnamurti
"Pense nisso"
t.
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