What
prevents?
“Relationship based
on mutual need brings only conflict.
However interdependent we are on each
other, we are using each other for a purpose, for an end. With an end in view,
relationship is not.
You may use me and I may use you. In this usage, we lose
contact.
A society based on mutual usage is the foundation of violence.
When we
use another, we have only the picture of the end to be gained.
The end, the
gain, prevents relationship, communion.
In the usage of another, however
gratifying and comforting it may be, there is always fear.
To avoid this fear,
we must possess. From this possession there arises envy, suspicion, and
constant conflict.
Such a relationship can never bring about happiness.
A
society whose structure is based on mere need, whether physiological or
psychological, must breed conflict, confusion, and misery.
“Society is the projection of yourself in relation with another,
in which the need and the use are predominant.
When you use another for your
need, physically or psychologically, in actuality there is no relationship at
all;
you really have no contact with the other, no communion with the other.
How can you have communion with the other when the other is used as a piece of
furniture, for your convenience and comfort?
So, it is essential to understand
the significance of relationship in daily life.”
“You know, in the case of most of us, the mind is
noisy, everlastingly chattering to itself , soliloquizing or chattering about
something, or trying to talk to itself, to convince itself of something;
it is
always moving, noisy. And from that noise, we act.
Any action born of noise
produces more noise, more confusion.
But if you have observed and learnt what
it means to communicate, the difficulty of communication, the non-verbalization
of the mind, that is, that communicates and receives communication, then,
as life is a movement, you will, in your action, move on naturally, freely,
easily, without any effort, to that state of communion.
And in that state of
communion, if you enquire more deeply, you will find that you are not only in
communion with nature, with the world, with everything about you, but also in
communion with yourself.”
“Relationship implies
communion with another on different levels; and is there communion with another
when he is only a tool, a means of my happiness?
In thus using another, am I
not really seeking self-isolation, in which I think I shall be happy?
This
self-isolation I call relationship; but actually there is no communion in this
process.
Communion can exist only where there is no fear; and there is gnawing
fear and pain where there is usage and so dependence. As nothing can live in
isolation, the attempts of the mind to isolate itself lead to its own
frustration and misery.
To escape from this sense of incompleteness, we seek
completeness in ideals, in people, in things; and so we are back again where we
started, in the search for substitutes.”
"Se nos é permitido, continuaremos a apreciar o assunto de que estávamos a tratar aqui, na nossa reunião no outro dia.
Falávamos da maturidade e da necessidade daquela energia a ela
associada, para se efectuar a transformação da mente.
E, para que seja completo o nosso exame,
devemos compreender, assim me parece, o que é acção; e com a compreensão da acção, devemos, por nós mesmos, compreender o que é comunicação e o que é comunhão.
Percebemos que, na nossa vida diária, a acção é extremamente contraditória, geradora de conflito, hipócrita.
Dizemos uma coisa e fazemos outra. Cremos em
certas fórmulas e fazemos coisas contrárias a essas fórmulas. Somos artistas, negociantes, políticos, escritores, poetas, pintores, professores.
E em
todos os níveis da
nossa vida e da nossa existência, verifica-se essa actividade contraditória: o ideal e o real.
O ideal nada tem em comum com o real, por exemplo, a violência nenhuma relação tem com a não-violência. Entretanto, vivemos nesta actividade fragmentária, contraditória.
Num nível, somos religiosos, pelo menos assim nos denominamos,
e noutro nível estamos
a nos destruir mutuamente, não só no mundo mercantil, com a nossa competição, ambição, avidez, mas também como grupo, como raça, como família.
É isso o que se verifica na nossa vida diária. Toda a acção é contraditória, fragmentária; a actividade de um nível contradiz a de outro nível.
Tais actividades deverão inevitavelmente, como se nota na vida quotidiana,
provocar muita destruição, muito sofrimento, confusão e conflito.
E, a fim de livrar-nos dessa actividade
contraditória,
procuramos estabelecer uma `super-actividade´ em total contradição com a nossa vida diária, pela prática da meditação, a observância das escrituras sagradas, etc.; mas isso representa
uma nova modalidade de fuga, noutro nível.
E, ao se perceber essa actividade tão fragmentária, incoerente, não é natural desejar-se, não através de ideias ou teorias, descobrir uma acção que não seja fragmentária, que não seja hipócrita, que não seja `departamental´, como que posta em compartimentos estanques, mas que
seja uma acção que,
aplicada ao descobrimento, funcione como um todo, em cada actividade da vida?
Quero dizer que devemos fazer a nós mesmos esta pergunta: Existe uma acção que, onde quer que se expresse, seja total, não contraditória?
Ora, se o permitis, investigaremos este ponto.
Primeiramente, para a compreensão do que estamos a dizer, deve-se perceber a diferença entre a `comunicação´ e a natureza do `estado de comunhão´.
Essas duas coisas, penso eu, são diferentes, isto é, a comunicação é uma coisa, e o estado de comunhão outra coisa muito diferente.
A comunicação exige palavras, gestos, alguma forma de expressão exterior que transmita ao ouvinte o pensamento do
orador, ou o do ouvinte ao orador; é isso o que entendemos por `comunicação´.
Quando falamos, servimo-nos de certas palavras como símbolos; e isso implica a existência de objectos aos quais os símbolos se referem.
Assim sendo, uma comunicação, quando clara e precisamente expressa em palavras que vós e eu compreendemos, não pode ser mal compreendida. Não há então possibilidade de equívoco, pois a comunicação é clara e precisa.
Vós e eu compreendemos o inglês, suponhamos, e servimo-nos de certas palavras, símbolos, gestos, como meios de transmitir certos
pensamentos.
Estamos então, ambos, num `estado de compreensão´ daquilo que se está a comunicar. Isso está perfeitamente claro, sem dúvida.
Mas, muito mais difícil é a outra coisa: estar em comunhão. Digo `muito mais difícil´, porque a maioria de nós não está em comunhão com coisa alguma.
Por essa palavra não entendo apenas o significado que o dicionário nos dá, mas muito mais do que isso. Estar em comunhão com uma coisa, implica que não há obstáculo entre vós e as coisas que vedes, ou sejam, os pássaros, as árvores, o rio, a terra, os verdes campos, a lama da
estrada, não é verdade?
Uma pessoa não está em comunhão com a natureza se há qualquer ideia de resistência, condenação, desprezo ou aversão. Há comunhão, quando não há nenhuma interferência do pensamento, entre a coisa e o observador.
Prestai, por favor, um pouco de atenção, porque o que vamos em seguida examinar exige aquela
comunhão entre o orador e vós, o ouvinte. De contrário, não poderemos encontrar-nos; poderemos estar verbalmente em
comunicação, mas não estaremos num estado de comunhão.
E, no meu sentir, é necessário compreender o real significado da acção não contraditória.
Entendemos, pois, por comunhão, um estado de espírito não provocado e que não permita a intervenção de nenhuma barreira entre vós e o que estais a ouvir, que pode estar em contradição com o que credes; um estado de espírito que não compara, cita, avalia, mas que escuta, que procura
compreender.
Há comunhão entre pessoas, entre vós e a natureza, quando existe uma grande afeição, quando eu gosto de vós e vós gostais de mim, ou quando gostais reciprocamente uns dos
outros; quando existe imensa solidariedade, afeição, e nenhuma ideia de condenação, comparação, julgamento, avaliação.
Então, em tal estado, duas pessoas estão em comunhão; quer dizer, estão em comunhão no mesmo instante, no mesmo nível, com a mesma intensidade; isso, afinal, é o que se chama `amor´.
Assim, só a mente que pode rejeitar toda a espécie de opinião, de julgamento, de avaliação, de comparação, etc., só essa pode estar em comunhão com a natureza, ou com outra mente, ou estar em comunhão consigo mesma, o que é muito mais difícil.
É necessário compreender isso, porque, se não estais directamente em comunhão com vós mesmos, e por conseguinte, com uma fonte de acção não contraditória, a vossa vida será, inevitavelmente, uma contradição.
Não importa o que façais, que padrões sigais, que ideias, que conceitos tenhais, a vossa
vida será uma contradição, como se observa neste país (Índia), onde se prega incessantemente ahimsa (a não-violência), e se faz exactamente o contrário.
Gabais-vos de ser uma nação pacífica, `não-violenta´, enquanto vos preparais para a guerra muito mais do que as
outras nações, onde não se fala em não-violência. Aqui, todo o político, todo o indivíduo tem essa esquizofrenia, essa entidade dupla, essa
dupla personalidade, esse pensar duplo.
Tendes ideais, maravilhosos ideais, sem nenhuma relação com a existência diária. Por essa razão, levais uma existência terrivelmente contraditória, uma vida hipócrita.
E essa vida contraditória torna-se um factor de maior contradição e aflição, e maior se torna a distância entre o facto e a teoria. Surge, assim, o problema:
como unir o facto e a teoria?
Resulta, daí, a busca incessante, o conflito, o esforço para disciplinar a mente, a fim de ajustá-la ao padrão ou ao conceito, com o que se causa mais contradição, uma maior, mais larga, mais profunda separação entre o facto e a teoria.
Vede, por favor, isso está a acontecer realmente na vossa vida. Não é uma teoria minha, e não o estou a condenar. Estamos apenas a dizer: Observai isto, é um facto.
Assim, aquele que é verdadeiramente sério, pergunta a si próprio: `O que é acção total?´.
A vida só favorece aos que são sérios. Só para o homem sério, ardoroso, tem a vida profundidade, significado, força, energia.
Mas, no geral, nós não somos sérios; somo-lo apenas fragmentariamente, um pouquinho de
seriedade aqui, um pouquinho de seriedade ali: não há seriedade total.
Cabe-vos, pois, descobrir por vós mesmos o que é acção total, sem esperardes que eu, que este orador vo-lo diga, pois
o que ele vos dissesse se tornaria o vosso padrão, o vosso ideal, e de novo vos veríeis em contradição.
Se exercerdes a vossa razão, sem emocionalismo; se exercerdes a vossa própria capacidade de compreensão, descobrireis por vós mesmos o que é essa acção total, acção não dividida em `acção individual´ e `acção colectiva´, ou a retribuição à sociedade daquilo que a sociedade dá ao indivíduo; todas essas divisões terminam completamente.
E o findar dessa divisão da acção é o começo da maturidade.
Assim, trataremos, nesta manhã, de descobrir por nós mesmos o que é a acção total, mediante exploração e não por ajustamentos, ou a ouvir o que outro diz, ou a criar um
padrão verbal; todos os padrões são verbais, excepto o padrão ou plano traçado pelo engenheiro num papel azul.
Sem criarmos nenhum
padrão ideológico ou contraditório, iremos descobrir, se possível, se existe uma acção total, que o que quer que estejamos a fazer, não gere contradição, e por conseguinte, mais aflição, mais sofrimento, mais confusão.
Se está claro isso, acho que é suficiente o que já disse nesta manhã, dispensando mais pormenores. Por conseguinte, devemos
considerar, em primeiro lugar, o que é comunicação.
Isso tem de ser compreendido claramente, para que possamos
descobrir o que é a mente que está no `estado de comunhão´. Pois, se não se compreende o que é a comunicação, nunca compreenderemos o que é comunhão.
Quando temos algo para comunicar uns aos outros,
servimo-nos de palavras.
Quando digo que gosto de vós ou que não gosto de vós, tenho de fazer uso de palavras ou gestos; e o gesto, a
palavra, o símbolo,
transmite o pensamento, o qual interpretais conforme os vossos próprios gostos e aversões, ou conforme o vosso próprio condicionamento, ou o vosso medo.
Assim, pois, a comunicação por meio de palavras tem as suas peculiares limitações; a menos que ambos empreguemos a mesma palavra, com o
mesmo significado, a mesma clareza, de parte a parte, não compreendemos, mediante a comunicação, o que se está a dizer. Isso também é bastante claro, não?
Quando digo que dois e dois são quatro, isso é perfeitamente claro. Só não é claro para a mente pervertida que se recusa a ver, para a mente
desequilibrada, a mente em que há alguma `fixação´, alguma opinião, ideia, conclusão definitiva que manda dizer: `Não, dois e dois são seis ou cinco´.
Em tal caso, a mente se recusa a ver o facto, nega o
facto, porque está toda emaranhada no seu próprio condicionamento, na sua própria opinião, na sua própria experiência e crença, e não quer ver o facto de que dois e dois são quatro.
Vede, pois, quanto é difícil comunicar algo a quem, como a maioria das pessoas, está preso à tradição, agrilhoado às suas próprias ideias, opiniões, julgamentos, temores, a seu inepto, ineficiente
pensar, a uma palavra a que atribui uma significação que o orador não lhe dá.
Vede, por favor, a imensa dificuldade que apresenta a
comunicação verbal.Empregamos determinadas palavras, como
`disciplina´, e logo
temos certos padrões.
Imediatamente, traduzis a palavra segundo a vossa própria terminologia, a vossa experiência pessoal, ou a entendeis em conformidade com um certo
guia religioso; assim vos negais a compreender o significado que o vosso
interlocutor está a dar à tal palavra.
Assim, enquanto vos colocardes numa posição, seja intelectual, seja verbal, e vos recusardes a
arredar-vos dessa posição, torna-se impossível a comunicação, em qualquer forma que seja. Isso também é perfeitamente óbvio.
Assim, só é possível estarmos em comunicação, estou a empregar a palavra `comunicação´, e não `comunhão´, quando este orador faz uso de uma palavra inglesa e vós compreendeis essa palavra no seu nível próprio, isto é, lhe dais o mesmo significado que o orador lhe dá, sem a traduzirdes conforme a vossa particular
terminologia do sânscrito, que tem as suas associações próprias; aí, então, há possibilidade de estarmos em comunicação.
Vede, senhor, tomai qualquer palavra, a palavra
`disciplina´, a palavra
`esforço´. Eu emprego a palavra `disciplina´ no seu sentido real. É uma palavra inglesa (discipline) e a sua raiz significa
`aprender´. Mas, para
vós, ela tem uma significação completamente diferente.
No instante em que ouvis essa
palavra, a traduzis com o sentido de `ajustamento a padrão´, `repressão´, `controle´, isto é, o sentido que alguém lhe dá, Sankara ou outro.
Desse modo, cessa imediatamente a comunicação entre vós e mim. Não é exacto isso?
Para podermos comunicar-nos verbalmente, deveis
dispor-vos a compreender o que a palavra significa para quem vos fala, em vez
de conferi-la com a vossa particular definição.
Como vemos, mesmo no nível verbal, é muito difícil nos comunicarmos. E muito mais difícil ainda é estarmos num estado de comunhão a respeito de uma coisa que requer extraordinária energia, profundo senso de `não divisão´, ou seja o percebimento simultâneo da mesma coisa, no mesmo nível, com a mesma intensidade.
Pois bem.
Vamos empregar a palavra `acção´. `Acção´ significa `fazer´ ou `ter feito´ ou `ir fazer´, `agir´, não em conformidade com um padrão ou ideal, com o que disse o Gita ou o Buda.
Falo de acção, não conforme alguém entende a palavra, nem conforme o vosso próprio conceito de `acção´.
Porque conceito não é acção, ideia não é acção. Por `acção´ entendo `fazer´.
Assim, não nos interessa a ideia do que seja `acção correcta´ e`acção incorrecta´, não nos interessa o conceito, a fórmula.
Só nos interessa descobrir a acção total, que não cria, que não encerra em si o germe da confusão, o germe da contradição. Assim estaremos, vós e eu, num estado de comunhão, em que iremos descobrir o que é a acção total, completa.
Portanto, cumpre perceber, em primeiro lugar, que na
nossa vida, no seu movimento, produz a actividade geradora de contradição; porque a vida é movimento, e esse movimento, acção.
Não se pode viver sem acção, seja acção intelectual, seja acção emocional, acção física, ou acção nas relações com a esposa, com os filhos, o marido, a sociedade.
A vida é movimento; e esse movimento da vida cria contradição na acção, quando dividido em fragmentos, tais como `actividade científica´, `actividade filantrópica´, `actividade religiosa´, `actividade administrativa´, `actividade política´, `actividade de reforma social´, etc. etc.
E quando o indivíduo funciona dentro desses compartimentos, embora haja
movimento, esse movimento cria, ou gera, ou produz contradição, contradição a que a mente procura furtar-se através de um ideal, tal como o da `não-violência´, considerado um ideal nobre, etc.
Assim, primeiramente, temos de compreender que é um facto que a nossa vida está dividida em actividades fragmentárias, geradoras de contradição e, por conseguinte, de mais conflito, mais aflição.
O que devemos saber, em primeiro lugar, não é como fugir a esse facto nem o que cumpre fazer em relação a ele; primeiro, temos de perceber o facto.
Percebemos
esse facto? E, ainda, de que maneira o percebemos? Com repulsa, dizendo `como isso é terrível!´?
No momento em que dizeis `como isso é terrível´, cessastes de compreender o facto. O facto não requer a vossa opinião, o vosso julgamento.
O sol levanta-se todos os dias,
quer vos agrade, quer não; não importa se tendes dor de cabeça ou se dormistes mal, se tendes fome, etc., o facto lá está.
Do mesmo modo, deveis perceber este facto, o que é, e não o que deveria ser.
Assim, no momento em que percebeis o facto e não o traduzis em referência a uma opinião ou ao que cumpre fazer a seu respeito, então, visto que a vossa mente só está interessada no facto e não em traduzi-lo em conformidade com o vosso
condicionamento, então estais em comunhão com o facto. Está claro?
No geral, nunca estamos em comunhão com coisa alguma. Não estais em comunhão com a vossa esposa, o vosso marido, os vossos filhos;
estais em comunhão com a imagem da vossa esposa, as recordações da vossa esposa, os prazeres sexuais fruídos com a esposa ou o marido.
Estais em comunhão com a memória, mas não com o facto de que tendes uma esposa ou um marido.
Da mesma maneira, se se deseja aprofundar verdadeiramente
essa imensa questão da acção, não acção social, ou individual, ou colectiva, não o que cumpre fazer em relação à sociedade, é necessário compreender, cada um por si mesmo, ou melhor, descobrir, e
portanto, compreender o que é que essa acção total implica, o seu significado.
Temos de pôr-nos em comunhão com ela.
E tal comunhão só se torna possível se se compreende a comunicação verbal e as dificuldades a ela inerentes.
E, uma vez compreendida a comunicação verbal, podeis então dar o passo subsequente. Não, não se trata de `passo´, de sequência, mas do movimento natural, que é `estar em comunhão com vós mesmos´. Porque, afinal de contas, esta é que é a fonte de toda a acção, não achais?
Os vossos desejos, os vossos rancores, a vossa ambição, a vossa avidez, eis a fonte de toda a vossa acção, e com essa fonte não estais em comunhão, absolutamente.
Seguireis inevitavelmente o movimento
da vida, quando houver compreensão do significado da comunicação; tendo-a compreendido, passais à questão seguinte: É realmente possível estar em comunhão com alguma coisa?
Ou, como tendes as vossas `memórias´ do passado, podendo esse passado ser de mil anos ou de ontem,
irão essas memórias interferir a todo momento, de modo que nunca possais
estar em comunhão com coisa alguma?
Mas, é bem de ver que, se não estais em comunhão com coisa alguma, sois um ente humano morto.
Deveis estar em comunhão com o rio, com os pássaros, com as árvores, e a maravilhosa luminosidade do acaso, e a luz
matinal reflectida nas águas; tendes de estar em comunhão com o vosso próximo, a vossa esposa, os vossos filhos, o vosso marido.
Por `comunhão´ entendo `não-interferência do passado´, de modo que vejais tudo como novo, de maneira nova; e essa é a única maneira de estar em comunhão com alguma coisa, isto é, morrendo para tudo o que é de ontem.
É possível isso?
É preciso descobri-lo, e não perguntar `Como conseguirei isso?´.
Que é uma pergunta verdadeiramente infantil.
Muitas pessoas perguntam `Como conseguirei isso?´, o que revela a mentalidade dessas pessoas. Nada compreenderam;
o que querem é apenas um
certo resultado.
Assim, eu vos pergunto se alguma vez estais em contacto
com alguma coisa, e se alguma vez, tendes contacto com vós mesmos, não o vosso `eu superior´, o vosso `eu inferior´, e tantas outras divisões que o homem criou para fugir ao facto.
Vós tendes de descobrir isso; ninguém vos pode dizer nem ensinar como alcançar a acção total. Não há `como´, não há método, não há sistema; nada se vos pode ensinar.
Tendes de trabalhar, tendes
de descobrir! Não? Sinto muito. Não me refiro àquela palavra `trabalho´. Todos gostam de trabalhar, é uma das nossas `fantasias´ é essa, que precisamos trabalhar para alcançar alguma coisa. Não se trata de trabalhar; quando estais num estado de
comunhão, não há `trabalhar´; ele lá está, o perfume lá está, e não tendes necessidade de trabalhar.
Assim, pois, interrogai a vós mesmos, se me permitis sugeri-lo, a fim de, por vós mesmos descobrirdes se estais em comunhão com alguma coisa, se estais em comunhão com uma árvore. Já estivestes em comunhão com uma árvore?
Sabeis o que significa olhar uma árvore, sem haver nenhum pensamento, nenhuma lembrança a interferir na vossa observação, no vosso sentimento, no vosso estado nervoso de atenção, de modo a que só a árvore exista, e não vós a olhar a árvore?
Provavelmente, nunca fizestes tal coisa, porque, para vós, uma árvore nada significa.
A beleza de uma árvore nenhum significado tem, porque, para vós, beleza significa sexualidade.
Por isso, rejeitastes a árvore, a natureza, o rio, os vossos semelhantes. E com
coisa nenhuma estais em contacto, nem com vós mesmos.
Estais em contacto com as vossas ideias, com as
vossas próprias
palavras; sois como um ente humano em contacto com cinzas. Estais morto,
completamente consumido.
Assim sendo, o que em primeiro lugar se deve perceber é a necessidade de descobrir qual é a acção total que não gera contradição, em nenhum nível da existência;
descobrir o que é `estar em comunhão´, em comunhão com vós mesmos e não com o Atman, Deus, etc.; estar realmente em contacto convosco,
com a vossa avidez, a vossa inveja, ambição, brutalidade, falsidade, e, daí, passardes adiante.
Descobrireis então por vós mesmos, descobrir, e não `ser informado´, pois isso nenhum valor tem, que só há uma acção completa quando há na mente um silêncio total, de onde emana a acção.
Como sabeis, a mente de quase todos nós está cheia de barulho, sempre a`tagarelar´ consigo mesma, a monologar a respeito de alguma coisa, a
procurar persuadir-se ou convencer-se de alguma coisa; está sempre a mexer-se, a fazer barulho.
E desse barulho provém a nossa acção. Mas, toda a acção nascida do barulho, produz mais barulho ainda, mais
confusão.
Entretanto, se observastes e aprendestes o que significa
`estar em comunicação´, se compreendestes a dificuldade da comunicação, que é o estado em que a mente não `verbaliza´, quando transmite ou recebe uma comunicação, então, vendo a vida-movimento, vos movereis, no vosso actuar,
natural, livre, facilmente, sem nenhum esforço, para aquele estado de comunhão.
E, no estado de comunhão, se penetrardes mais fundo ainda, vereis que não só estareis em comunhão com a natureza, com o mundo, com tudo o que vos
circunda, mas também em comunhão com vós mesmos.
Estar em comunhão consigo mesmo requer silêncio completo, para que a mente esteja silenciosamente em
comunhão consigo mesma, a respeito de todas as coisas.
Daí vem a acção total. Só do vazio pode provir a acção total, criadora."
Jiddu Krishnamurti
"Uma nova maneira de agir"
t.
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