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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Understands itself...




Nada conheço mais ao mesmo tempo falso e significativo que aquele dito de Leonardo da Vinci, de que se não pode amar ou odiar uma coisa senão depois de compreendê-la.
Fernando  Pessoa



But we are all brains and no heart; we cultivate the intellect and despise humility. 

If we really loved our children, we would want to save and protect them, we would not let them be sacrificed in wars. 

I think we really want arms; we like the show of military power, the uniforms, the rituals, the drinks, the noise, the violence. 

Our everyday life is a reflection in miniature of this same brutal superficiality, and we are destroying one another through envy and thoughtlessness. 

We want to be rich; and the richer we get, the more ruthless we become, even though we may contribute large sums to charity and education. 

Having robbed the victim, we return to him a little of the spoils, and this we call philanthropy.




Understands
itself...


War is merely the catastrophic effect of our daily living, and so long as we do not change our daily living, no amount of legislation, controls, and sanctions will prevent war. 


Is peace in the mind and heart, in the way of our life, or is it merely a governmental regulation, something to be decided in the United Nations? 


I am afraid that for most of us, peace is only a matter of legislation, and we are not concerned with peace in our own minds and hearts; therefore, there can be no peace in the world. 


You cannot have peace, inward or outward, so long as you are ambitious, competitive, so long as you regard yourself as a German, a Hindu, a Russian, or an Englishman, so long as you are striving to become somebody in this mad world. 


Peace comes only when you understand all this and are no longer pursuing success in a society which is already corrupt. 

Only the peaceful mind, the mind that understands itself, can bring peace in the world.





"Provavelmente, se `queremos paz´, é daquela qualidade que consiste numa fuga completa do mundo; e fugir é uma coisa que em geral sabemos fazer com muito êxito. 


Fugimos, servindo-nos do rádio, do dogma, da crença, da actividade. 
A completa absorção numa dada actividade, dá-nos o que pensamos ser a paz. Mas isso, por certo, não é a paz. 



A paz não é o oposto da agitação. Mas se, em vez de procurar a paz, eu for capaz de compreender o que causa a agitação; 

se for capaz de compreender qual é o processo que faz nascer a agitação em mim, nas minhas relações, nos meus valores, e portanto na sociedade, se eu puder compreender todo o processo responsável pela agitação, então, libertando-me dessa agitação, encontro a paz. 




Entretanto, procurar a paz, sem compreender o processo total de mim mesmo, responsável pela agitação, daí só resulta uma ilusão. 



Eis porque as pessoas que meditam para terem paz, que lêem, e praticam vários exercícios, e se deixam narcotizar para terem paz, estão em verdade em busca um estado de sono.


O que traz a paz, a verdadeira tranquilidade e serenidade da mente, é a compreensão do processo total de nós mesmos, e isso não significa buscar a paz, mas compreender o `eu´, com todas as suas ambições, a sua inveja, a sua avidez, a sua ânsia de aquisição, a sua violência; 

compreender tudo isso é a função da meditação, meditação isenta de condenação, de escolha, meditação que é percebimento no mais alto grau, observação sem senso de identificação.


A paz, para a maioria de nós, é uma retirada, é entrar numa caverna cheia de escuridão, ou agarrar-nos a uma crença, um dogma, onde encontramos segurança; mas isso não é a Paz. 


Só vem a paz com a compreensão total de nós mesmos, que é auto-conhecimento, e esse auto-conhecimento não pode ser comprado. 



Não precisais de nenhum livro, nenhuma igreja, nenhum sacerdote, nenhum analista. 

Podeis observar o processo de vós mesmos no espelho das vossas relações com o vosso patrão, a vossa família, a vossa sociedade. 



Se a mente está sempre muito atenta e vigilante, sem escolha, estamos então libertos da limitação do `eu´, e por conseguinte, temos a paz, a qual traz a sua segurança própria."






"A vontade é essencialmente o `eu´, o `ego´; e a luta constante do `eu´, seja a desejar, seja a negar a virtude, ou a criar várias formas de experiência, para si próprio, a luta constante do `eu´, objectiva a obtenção de permanência, segurança.



A identificação com qualquer forma de pensamento, qualquer ideia, ou experiência, dará esse sentimento de segurança, de permanência, sendo por isso que nos identificamos com uma nação, com um grupo de pessoas, uma religião, um conhecimento, ou experiência.


Esse constante processo de identificação com alguma coisa é tudo o que conhecemos; esta batalha constante é a nossa vida, e toda a nossa civilização, todos os nossos valores estão baseados nela.



Ora, a mim me parece que a paz não é um resultado dessa batalha. 



















A mente que é ambiciosa, a mente identificada com qualquer grupo, nação, classe, crença, religião ou dogma, é incapaz de ter paz, porque está à procura de segurança e com isso acentua, fortalece a vontade do `eu´, o que naturalmente tem de ser um conflito perene.


Ora, para se perceber isso, não meramente como uma ideia, mas como um facto real, devemos, ao mesmo tempo em que escutamos, estar conscientes desse `processo´ mental da busca. 


O que é que buscamos? 
Alguma espécie de preenchimento, não é verdade?



Um preenchimento em que haja uma certa permanência. Há em nós esse impulso constante para realizar, ser, alcançar, e depois de alcançar, alcançar mais ainda. 


E a mente que está numa busca constante, a lutar com todas as forças para compreender, para estabelecer-se numa certa forma de permanência, essa mente pode, em algum tempo, estar em paz?


E não é essencial que a mente tenha tranquilidade completa, sem esforço, para que possa manifestar-se aquela realidade criadora que chamamos Deus, ou como quiserdes?


O que quero dizer é que toda a nossa vida é uma luta; e pode-se por meio de luta encontrar aquela coisa que chamamos o real?


Afinal, é isso o que todos nós queremos: um estado permanente de bem-aventurança, felicidade, chamai-o Deus, a Verdade, ou como quiserdes.



Entretanto, isso é uma coisa que não pode ser imaginada pela mente, porque a mente é resultado do tempo, e toda a `projecção´ temporal, mental, é sempre limitada, sempre resultado do passado, e por conseguinte não contém nada novo, não é o real, o estado criador.



Ora, pode esse `processo´, na sua totalidade, não só a luta consciente, mas também a luta inconsciente para ser, realizar, essa ambição responsável por todas as devastações que o mundo tem sofrido, pode todo esse processo terminar, de modo que a mente encontre a paz verdadeira? 

É só então que há possibilidade da verdadeira segurança.



Como sabeis, o que acontece no mundo é que cada indivíduo se identifica com uma nação, com um grupo, uma religião e desse modo cria para si próprio uma permanência artificial, uma segurança de oposição a outras nações ou outros grupos, pois cada um de nós quer estar identificado com algo maior, algo mais nobre, algo imensamente maior do que o nosso pequenino e mesquinho `eu´.



O Estado, a crença, a religião, oferecem uma fuga ao `eu´, e com essa fuga esperamos encontrar a paz permanente. 












Essa permanência, porém, é o resultado do nosso desejo de estarmos seguros, em alguma espécie de identificação, e por isso há uma batalha constante entre os indivíduos, entre os grupos, as religiões e as nações.


Como ontem dizia, o que é importante, quando escutamos o que se está a dizer, é que não nos limitemos a aceitar ou rejeitar, mas que escutemos sem julgamento de espécie alguma, o que não significa pôr-se num estado hipnótico.


Escutar sem julgamento, é escutar para descobrir, isto é: escutar o funcionamento da nossa mente, dos nossos pensamentos, com o que eles se tornam assombrosamente separados, apartados.


Quando a mente está tranquila, e não foi obrigada artificialmente a estar tranquila, observa-se, aí, um sentimento de total insegurança, em que há segurança completa, devido à ausência do `eu´, que vive numa batalha perene.



Eis porque é tão importante o auto-conhecimento, tão importante conhecermos por nós mesmos os muitos pensamentos, os muitos impulsos, as ambições, as frustrações, em cujas redes estamos presos, e nos mantermos conscientes de todos eles.




Os mais de nós, quando estamos conscientes de alguma coisa, o nosso percebimento consiste em julgar; condenar, escolher, aceitar ou rejeitar. 

Isto não é percebimento, e sim, apenas, acção da vontade sobre o pensamento.


Se sois capazes de observar, e de perceber sem escolha alguma, de ver, simplesmente, o que está a acontecer, vereis então como todo o processo do inconsciente, que está oculto, no escuro, sepultado nas profundezas, virá à superfície, por meio de sonhos, de sugestões, de várias formas de reacção espontânea, e ao surgirem, eles também podem ser observados sem nenhuma tendência para a condenação ou a justificação, sem aceitação e sem rejeição.


A mente, então, não é um simples instrumento de avaliação, de análise, e essa mente, já que não é accionada pela vontade do `eu´, com todos os seus condicionamentos, exigências e buscas, está realmente tranquila. 


Nessa tranquilidade, todo o pensamento, toda a `resposta´, toda a reacção, todo o movimento do `eu´ é repelido, e isso me parece importante, se desejamos resolver qualquer dos nossos problemas, na vida.



A compreensão do `eu´, a compreensão de mim mesmo, não é coisa que se possa aprender imediatamente, de súbito. 
Mas é também errado dizer-se: `aprendê-lo-ei gradualmente´, porque não é pelo processo do tempo que chegaremos a compreender.



Acreditamos que a compreensão vem como resultado de acumulação, acumulação de experiência ou de conhecimentos.
A compreensão resulta do conhecimento, ou vem quando a mente não está mais com a carga do passado?


Por isso, vos digo que experimenteis, que penseis, enquanto falo; experimentai directamente o que estou a dizer, e sabereis descobrir por vós mesmos. 



Tendes acaso um problema, e a mente anda muito ocupada com ele, aflige-se, por causa dele; mas, assim que a mente está tranquila, não mais, por assim dizer, preocupada com o problema, surge então um sentimento de compreensão.














Do mesmo modo, se pudermos compreender a mente, se pudermos estar simplesmente conscientes de todos os seus movimentos, quando viajamos num autocarro, quando conversamos à mesa, a maneira como falamos, a maneira como criticamos os outros, as nossas fugas, devoções, orações, então, através de todas essas coisas nos serão reveladas as profundezas da consciência.


Ora, para se descobrir aquilo que é eterno, que está além das fúteis `projecções´ da mente, a mente tem de cessar, não artificialmente, pela disciplina, mas pelo percebimento do processo do pensar.


Assim, a mente, embora capaz de exercitar a razão no mais alto grau, na própria razão chega ao seu fim; e só então é possível aquela paz interior que, só ela, pode pôr fim a estas guerras monstruosas e realizar a salvação do mundo.



Nós, porém, criamos a dificuldade, dizemos: `somos pessoas insignificantes, simples indivíduos comuns. Que podemos fazer?´. 

Parece-me, todos devíamos dar graças a Deus por sermos pessoas sem poder, sem posição, sem autoridade, porque os que têm poder, posição ou autoridade não querem a paz. Querem a paz política, que é coisa de todo diferente.



Mas eu acho que a paz depende de nós, os que somos muito simples, apesar de todos os nossos conflitos e misérias e tribulações; 

a nós é que compete principiar, por assim dizer, `no nosso próprio quintal´, investigar a nós mesmos, para conhecermos as várias actividades da nossa mente e nos tornarmos, cada um de nós, um centro de paz, da verdadeira paz e não aquela paz de mentira mantida pelos exércitos e pelos governos no intervalo entre duas guerras.


Sem aquela paz real nunca haverá segurança; apenas, medo.


O medo é a própria natureza do `eu´, porque o `eu´ se vê continuamente ameaçado, de diferentes maneiras, principalmente nas grandes crises; 

e como vivemos cheios de medo e não encontramos outra solução, pomo-nos em fuga por caminhos diversos, ou corremos para os líderes políticos ou religiosos.














Este problema não pode ser resolvido por nenhum líder e por nenhum dogma. Não há exército, nação ou ideia que possa trazer a paz ao mundo. 



Quando cada um de nós for capaz de compreender a si mesmo como um processo total, não meramente o problema económico ou o problema das massas, mas o processo integral de nós mesmos, como indivíduos, então, na compreensão desses processos, surgirá a paz. Só então poderá haver segurança.



Se pomos, porém, em primeiro lugar a segurança, se a consideramos como coisa mais importante da vida, nesse caso nunca haverá paz; só escuridão e temor."








"Por que precisamos ajustar-nos à sociedade? (Risos)



Não é caso para rir. Tal é o desejo de todo o pai: que o filho ou a filha se ajuste à sociedade. 
Por quê? 

Por que deve o filho ajustar-se à sociedade? 
Que sociedade maravilhosa é esta que temos?


Vede por favor que não estou a dizer uma coisa superficial, que se possa varrer com uma risada. 
Na Índia, os pais querem que os filhos se ajustem à sociedade; aqui, é a mesma coisa; na Rússia, idem. Em toda a parte queremos que seja mantido o actual estado de coisas e que os nossos filhos a ele se ajustem.


O que é essa coisa chamada sociedade?


Pensemos a respeito dela de maneira simples, não no majestoso sentido económico ou filosófico. O que é esta sociedade?



Esta sociedade é produto da ânsia de aquisição, da ambição, da avidez, da inveja, da busca de preenchimento individual, da busca incessante de alguma espécie de permanência neste mundo impermanente.


Naturalmente, nesta sociedade há também alegrias passageiras, divertimentos variados, etc. 
Isto, dito cruamente, em poucas palavras, é o que constitui a nossa sociedade, e a ela queremos que os nossos filhos se ajustem e nela sejam bem sucedidos.


Adoramos os grandes êxitos. 
A nossa educação é um processo de ensinar os nossos filhos a se ajustarem, não é verdade?


Ela os condiciona, para se adaptarem a um determinado padrão, ensina-lhes certas técnicas para que obtenham bons empregos. E no meio de tudo isso há a constante ameaça de guerra.


Eis o que é a nossa sociedade. Mas, por que educamos os nossos filhos? Para que isso? 

Nunca o investigamos. Qual é a finalidade da educação, se os nossos filhos estão a ser destinados a matar ou a ser mortos na guerra?



Sem dúvida, é muito importante que pensemos em tudo isso de maneira totalmente nova, em vez de ficarmos a fazer reformas, isto é, a remendar aqui e ali. 

Não deveríamos cuidar de resolver os nossos problemas, não considerados em termos de América, Rússia, ou qualquer nação, mas como um todo?



Não devemos abeirar-nos do problema da existência do homem, não como americanos ou ingleses, mas do ponto de vista das relações humanas?



Enquanto assim não procedermos continuaremos a ter guerras constantes e continuará a haver miséria no mundo. 


Há miséria, talvez não tanto na América, mas há mais na Ásia, e enquanto este problema não for resolvido, não teremos paz aqui. 


E não podeis resolvê-lo como americano ou russo, como comunista ou capitalista; só podeis resolvê-lo como um ente humano.


Por favor, não desprezeis isso, como se fosse uma coisa já ouvida milhares de vezes. 
Se realmente o compreenderdes, como um indivíduo simples, estareis, então, no caminho da solução do problema.


Mas se só vos preocupa ajudar o vosso filho a ser bem sucedido numa determinada sociedade, se só vos interessa um determinado problema, o qual naturalmente terá de ser resolvido mas não poderá ser resolvido sem se dar atenção ao todo, nesse caso não achareis solução alguma, e por conseguinte, tereis mais complicações e mais misérias.


Temos, pois, fundamentalmente, realmente, de dar atenção ao problema da educação. 
Consiste ela, apenas em ensinar ao jovem uma técnica, para que tenha emprego?


Ou se destina a criar uma atmosfera de verdadeira liberdade, não liberdade para fazermos o que entendermos, mas liberdade para cultivarmos aquela inteligência que sabe enfrentar cada experiência e cada influência condicionadora, enfrentá-la, compreendê-la e ultrapassá-la?


Esse problema requer muita percepção, muito discernimento e inteligência, por parte de cada um de nós. 


Como deveis saber, mas, temos tanto medo porque queremos estar em segurança.
No momento em que buscamos a segurança, projecta-se sobre nós a sombra do temor, e na luta para vencermos o temor, condicionamo-nos mais ainda, condicionamos a nossa mente e criamos uma sociedade que fatalmente há-de limitar o nosso pensar. E quanto mais eficiente se torna uma sociedade, tanto mais é ela condicionada.


Dar real atenção ao problema da verdadeira educação, compreender integralmente o significado da educação, porque somos educados e para que isso serve, é uma empresa imensa, que não pode ser exposta em alguns minutos.



Podeis ter lido ou ser capaz de ler muitos livros, podeis ter muita erudição e uma infinita variedade de explicações; mas isso, por certo, não é liberdade.




Vem a liberdade com a compreensão de nós mesmos, e só a liberdade nos habilita a enfrentar sem temor todas as crises e todas as influências que condicionam; mas é necessária muita compenetração e meditação."




Jiddu Krishnmaurti
"Viver sem temor"








t.






















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