“One of the principal questions which one has to put to
oneself is this: how far or to what depth can the mind penetrate into itself?
That is the quality of seriousness because it implies awareness of the whole
structure of one's own psychological being, with its urges, its compulsions,
its desire to fulfill, and its frustrations, its miseries, strains and
anxieties, its struggles, sorrows, and the innumerable problems that it has.
The mind that perpetually has problems is not a serious mind at all, but the
mind that understands each problem as it arises and dissolves it immediately so
that it is not carried over to the next day such a mind is serious.
What are most of us interested in? If we have money, we turn to so-called spiritual things, or to intellectual amusements, or we discuss art, or take up painting to express ourselves.
If we have no money, our time is taken up day
after day with earning it, and we are caught in that misery, in the endless
routine and boredom of it.
Most of us are trained to function mechanically in
some job, year in and year out.
We have responsibilities, a wife and children
to provide for, and caught up in this mad world we try to be serious, we try to
become religious;
we go to church, we join this religious organization or that
or perhaps we hear about these meetings and because we have holidays we turn up
here.
But none of that will bring about this extraordinary transformation of
the mind.”
Mechanically
trained man...
"Fico a pensar por que estão todos aqui. Por que nos
reunimos todos aqui às margens do Ganges? Se alguém fizesse esta pergunta
seriamente, qual seria a resposta?
É simplesmente porque antes os senhores já
ouviram este homem falar várias vezes; portanto, dizem, vamos lá ouvi-lo?
Qual
é a relação do que ele diz com o que os senhores fazem?
São duas coisas
separadas?
Os senhores apenas ouvem o que ele tem a dizer e continuam com as
suas vidas de todos os dias? Entenderam a nossa questão?
Nós, como velhos amigos, sentados debaixo de uma árvore,
vamos discutir, juntos, não alguns problemas abstractos, teóricos, mas a nossa
vida diária, que é muito mais importante.
Temos tantos problemas: como meditar,
que guru seguir, se for um seguidor, que tipo de prática, lazer, a que tipo de
actividade diária se dedicar e assim por diante.
E também, o que é o nosso relacionamento com a natureza, com
todas as árvores, os rios, as montanhas, as planícies, os vales? O que é o
nosso relacionamento com uma flor, com um pássaro?
E o que é o nosso
relacionamento um com o outro, não com o orador, mas um com o outro, com a sua
esposa, com o seu marido, com os seus filhos, com o ambiente, com o seu
vizinho, com a sua comunidade, com o governo, e assim por diante.
O que é o nosso
relacionamento com tudo isso?
Ou estamos isolados, preocupados com nós mesmos,
intensamente interessados no nosso próprio modo de vida?
Estamos a fazer estas perguntas como amigos de verdade, não como
guru. O orador não tem a mínima intenção de impressioná-los, de lhes dizer o
que fazer ou de ajudá-los. Por favor, tenham isso em mente durante todas as
palestras. Ele não tem intenção nenhuma de ajudá-los. Vou-lhes dizer por quê,
vou lhes dizer a razão, a lógica disso.
Os senhores tiveram muitos gurus,
milhares deles, muita gente para ajudar, cristãos, hindus, budistas, todo o
tipo de líder, não apenas políticos, mas os assim chamados religiosos. Os
senhores tiveram grandes líderes e pequenos líderes. E onde estão os senhores
ao fim desta longa evolução?
Possivelmente, vivemos nesta terra há um milhão de anos, e
durante essa longa evolução continuamos bárbaros. Podemos ser mais limpos, mais
rápidos na comunicação, ter mais higiene, melhores transportes e assim por
diante, mas moralmente, eticamente e se me permitem usar a palavra
espiritualmente ainda somos bárbaros.
Matamos uns aos outros, não apenas na
guerra, mas também por palavras, por gestos. Somos muito competitivos. Somos
muito ambiciosos. Cada um está preocupado consigo mesmo.
O interesse pessoal é
a nota dominante da nossa vida, preocupação com o nosso próprio bem-estar, com
a nossa segurança, com as nossas posses, com o poder, e assim por diante.
Não estamos preocupados com nós mesmos, espiritualmente,
religiosamente, nos negócios?
Na verdade, no mundo inteiro, todos estamos
preocupados com nós mesmos. Isto significa nos isolarmos do resto da
humanidade. Isto é um facto; não estamos a exagerar. Não estamos a dizer algo
que não seja verdade.
Onde quer que se vá, e este orador percorreu o mundo todo e
ainda viaja, o que está a acontecer? Aumenta o número de armamentos, a
violência, o fanatismo, e o grande e profundo sentimento de insegurança, de
incerteza e separação, vocês e eu, é uma característica comum da humanidade.
Por favor, estamos a encarar os factos, não teorias, não algum tipo de
afirmação teórica, filosófica, distante, estamos a olhar para os factos. Não
para os meus factos em oposição aos seus, mas factos. Todos os países do mundo,
como devem saber, adquirem armas, todos os países, sejam pobres, sejam ricos.
Certo?
Olhem para o vosso próprio país, a imensa pobreza, a desordem, a
corrupção, todos os senhores sabem disso, e a compra de armas.
Costumava ser
uma moca para matar o outro; agora pode-se vaporizar a humanidade aos milhões
com uma bomba atómica ou uma bomba de neutrons.
Uma imensa revolução está a
ocorrer, da qual sabemos muito pouco. O processo tecnológico é tão rápido que
da noite para o dia aparece uma coisa nova. Mas, eticamente, somos o que temos
sido durante um milhão de anos. Os senhores percebem o contraste?
Tecnologicamente, temos o computador, que pode sobrepor o
homem, que pode inventar novas meditações, novos deuses, novas teorias. E, meus
amigos, isto é, os senhores e eu, o que vai acontecer com os nossos cérebros?
O
computador pode fazer quase tudo o que os seres humanos conseguem fazer,
excepto, claro, fazer amor ou olhar para a lua nova. Isto não é uma teoria;
está a acontecer agora. Portanto, o que vai acontecer connosco enquanto seres
humanos?
Queremos entretenimento. Provavelmente, isso faz parte da ideia
que fazem de entretenimento, vir aqui, sentar, ouvir e concordar ou discordar,
e voltar para casa e continuar com as suas vidas; é uma espécie de
entretenimento, como ir à igreja, ao templo, à mesquita, ao futebol ou ao
cricket.
Por favor, isto não é um entretenimento.
Os senhores e eu, o
orador, devemos pensar juntos, e não apenas sentar calmamente e absorver uma
estranha atmosfera, uma `punya´; desculpem-me, não é nada disso.
Vamos pensar juntos, sensatamente, logicamente, olhar para a mesma
coisa juntos. Não como os senhores olham, ou como eu olho, mas juntos observar
a nossa vida diária, que é bem mais importante do que qualquer outra coisa,
observar a cada minuto do nosso dia.
Então, primeiramente, vamos pensar juntos,
não apenas ouvir, concordar ou discordar, o que é muito fácil. Desejamos
fervorosamente que pudessem pôr de lado a concordância e a discordância! Isto é muito difícil para a maioria das pessoas que estão
ansiosas demais para concordar ou discordar.
As nossas reacções são tão
rápidas; nós classificamos tudo, homem religioso, homem não-religioso, mundano,
e assim por diante.
Portanto, se puderem, nesta manhã pelo menos, ponham de
lado a concordância e a discordância, e apenas observem juntos, pensem juntos.
Farão isso?
Deixem completamente de lado a sua opinião e a minha opinião, o seu
modo de pensar e o modo de pensar da outra pessoa, e apenas observem juntos,
pensem juntos.
A concordância e a discordância dividem as pessoas. É ilógico
dizer `sim, eu concordo consigo´, ou `eu não concordo consigo´, porque os
senhores estão ou a projectar, agarrando-se à sua opinião, ao seu julgamento, à
sua avaliação, ou a descartar o que foi dito.
Então, nesta manhã, só por diversão, por entretenimento, se
preferem, vamos esquecer as nossas opiniões, os nossos julgamentos, as nossas
concordâncias ou discordâncias e deixar o cérebro verdadeiramente limpo, não de
forma devocional, emocional ou romântica, mas um cérebro que não se envolva em
todas as complicações de teoria, opinião, aceitação, dissensão. Podemos
fazê-lo?
Então, vamos prosseguir. O que é o pensamento? Todo o ser humano
no mundo, do mais ignorante, do mais rude, da pessoa mais humilde de uma
pequena vila, ao mais altamente sofisticado cientista, tem algo em comum: o
pensamento.
Todos nós pensamos, o aldeão que nunca leu nada, que nunca foi à
escola, à faculdade ou à universidade, e a maioria dos senhores aqui, que
estudaram. O homem que senta sozinho lá no Himalaia, ele também pensa. E este
pensamento persiste desde o começo.
Então, primeiro, os senhores devem fazer a
pergunta: o que é o pensamento? O que é isso sobre o que os senhores pensam?
Primeiro, respondam a essa pergunta, não a partir dos livros, do Gita, ou dos
Upanishads, ou da Bíblia, ou do Corão.
O que é o pensamento? Nós vivemos pelo pensamento. A nossa acção
diária é baseada no pensamento. O senhor pode pensar de um jeito, e ele pode
pensar de outro jeito, mas ainda é pensamento. Então, o que é?
Pode-se pensar
se não se tem memória? Os senhores podem pensar no passado e no futuro, o que
farão amanhã ou na próxima hora, ou o que fizeram ontem ou nesta manhã? O que
no mundo tecnológico do computador chama-se arquitectura.
Então, temos de descobrir, juntos, não o modo de pensar dos
indianos ou dos europeus, ou o modo particular de pensar do budista, do hindu,
do muçulmano, do cristão, ou de qualquer outra seita, mas o que é o pensamento.
A não ser que realmente entendamos o processo do pensamento, a nossa vida
sempre será muito limitada. Assim, temos de examinar muito profundamente, muito
seriamente, todo o processo do pensamento que modela a nossa vida.
O homem criou deus pelo seu pensamento; esse deus não criou o homem.
Deve ter sido um deus muito medíocre que criou estes seres humanos que estão a
lutar uns com os outros, perpetuamente. Portanto, o que é o pensamento e por
que temos criado problemas com ele?
Por que temos problemas? Temos uma porção deles, problemas políticos,
problemas financeiros, problemas económicos, os problemas de uma religião
contra a outra, problemas aos milhares.
O que é um problema e qual o significado da palavra problema?
Segundo o dicionário, significa algo repentinamente lançado em alguém, um
desafio, algo que se tem de olhar de frente, que se tem de encarar. Não se pode
evitá-lo, não se pode fugir dele, não se pode eliminá-lo; ele está lá, como um
dedo dolorido.
Por que durante toda a nossa vida, desde o momento em que
nascemos até à morte, temos problemas, com a morte, com o medo, com centenas de
coisas?
Os senhores estão a fazer esta pergunta, ou eu a estou a fazer
para os senhores? Desde o momento em que nascem, os senhores têm problemas.
Vão
para a escola lá, têm de ler, de escrever, e isso torna-se um problema para a
criança. Um pouco mais tarde, ela tem que aprender matemática, e isto torna-se
um problema.
E a mãe diz, `faça isto, não faça aquilo´, e isso torna-se um
problema.
Assim, desde a infância, somos educados com problemas, o nosso
cérebro é condicionado com problemas; ele nunca está livre de problemas.
Quando
os senhores crescem, tornam-se adolescentes, fazem amor, aprender a ganhar
dinheiro, a seguir ou não a sociedade, tudo isso torna-se um problema. E no fim
os senhores se submetem à sociedade, ao ambiente.
Todo o político do mundo
resolve um problema, e assim, cria outros problemas. Já notaram isso?
O próprio
cérebro humano, que fica dentro da cabeça, tem problemas. Então, pode ele
libertar-se de problemas para resolver problemas?
Compreendem a minha pergunta?
Se o cérebro não está livre de problemas, como pode resolver
qualquer problema? Isto é lógico. Certo?
Portanto, o cérebro, que carrega a
memória, que adquiriu um tremendo conhecimento industrial, tem sido alimentado,
educado, para ter problemas.
Agora estamos a perguntar se esse cérebro,
primeiro, pode libertar-se dos problemas, de modo a poder resolvê-los.
Os
senhores podem primeiro libertar-se dos problemas?
Ou isso é impossível?
O nosso cérebro está condicionado pela estreiteza de várias
religiões; pela especialização, pelo ambiente em que vivemos, pela nossa
formação, pela pobreza ou pela riqueza, pelos votos que os senhores fizeram
como monges. Não sei por quê, mas os senhores fizeram os votos e eles tornam-se
uma tortura, um problema.
Portanto, os nossos cérebros estão extraordinariamente
condicionados como homens de negócios, como donas de casa, e assim por diante.
E desse estreito ponto de vista olhamos para o mundo.
Logo, temos de discutir a questão não apenas de ter problemas,
mas também do que é o pensamento. Por que pensamos? Há um modo diferente de
acção? Há um modo diferente de abordar a vida, de viver o dia-a-dia, que em
absoluto não requeira pensamento?
Primeiramente, teremos de olhar muito de perto, juntos;
descobrir por nós mesmos e então agir. Portanto, vamos discuti-lo. O que é o
pensamento?
Se os senhores não pensassem, não estariam aqui. Os senhores
tomaram providências para vir aqui, em determinada hora, e também o fizeram
para voltar. Isto é pensamento.
O que é o pensamento, filosoficamente? Filosoficamente,
significa o amor à verdade, o amor à vida, e não passar num exame na
universidade. Portanto, vamos descobrir, juntos, o que é o pensamento.
Se os senhores não tivessem nenhuma memória sobre o ontem,
absolutamente nenhuma, os senhores pensariam? Claro que não, não podem pensar
se não têm memória, certo? Então, o que é a memória?
Os senhores fizeram alguma
coisa ontem, e isso está registado no cérebro, e de acordo com essa memória, os
senhores pensam e agem. Os senhores lembram-se de alguém que os tenha elogiado,
de alguém que os tenha ferido, disse coisas feias. Isto é, a memória é a
consequência do conhecimento.
E o que é o conhecimento?
Isso é um tanto difícil. Todos nós acumulamos conhecimento; os
grandes eruditos, os grandes professores, cientistas adquirem um tremendo
conhecimento. Então, o que é o conhecimento?
Como o conhecimento opera?
O conhecimento vem quando há experiência.
Alguém
sofre um acidente de automóvel, isto torna-se uma experiência. Dessa
experiência nasce o conhecimento. E deste conhecimento vem a memória. Da
memória vem o pensamento. Certo?
Então, o que é a experiência? É aquele incidente, o acidente com
o carro, que é registado no cérebro como conhecimento.
Experiência,
conhecimento, memória, pensamento: isto é lógico, não é o meu modo de encará-lo
ou o dos senhores encará-lo.
Portanto, toda a experiência, seja a experiência de deus ou a
sua, é limitada. Os cientistas a aumentam a cada dia, e o que pode ser
aumentado é sempre limitado, certo?
Eu sei pouco, e tenho de saber mais, o senhor está a
acrescentar. A experiência de algo é sempre limitada e há algo mais a ser
acrescentado.
Logo, a experiência é limitada, o conhecimento é limitado, para
sempre. Por conseguinte, a memória é limitada, e o pensamento é limitado,
certo?
E onde há limitação, há divisão, como os sikhs, os hindus, os
budistas, os muçulmanos, os cristãos, o democrata, o republicano, o comunista.
Todos eles baseiam-se no pensamento e, portanto, todos os governos são
limitados, toda a actividade dos senhores é limitada. Seja a pensar da forma
mais abstracta ou a tentar ser muito nobre, ainda é pensamento, certo?
Assim, dessa qualidade limitada do pensamento, pois este é
sempre limitado, as nossas acções são limitadas.
Agora, os senhores começam a
indagar com todo o cuidado: o pensamento pode ter o seu justo lugar e nenhum
outro? Entendem a minha pergunta?
Há alguma acção que esteja livre da
limitação?
Isto é, sendo o pensamento limitado, nós reduzimos todo o
universo a uma coisa muito pequena.
Transformamos a nossa vida nessa coisa
pequena, como o pensamento: devo ser isto, não devo ser aquilo, devo ter poder.
Estão a acompanhar?
Nós reduzimos a imensa qualidade da vida a uma coisa
pequena e insignificante.
Então, é possível ficar livre do pensamento?
O que significa,
tenho de pensar para vir aqui; se sou um burocrata, tenho de pensar em termos
de burocracia; se vou para a fábrica e aperto parafusos, devo ter um certo
conhecimento para isso. Por que eu deveria ter conhecimento sobre mim mesmo?
Sobre o eu superior, sobre o eu inferior e tudo mais? Por que
devo ter conhecimento sobre isso? É muito simples, é o interesse pessoal; na
verdade, só estou preocupado comigo mesmo.
Podemos fingir que há espírito
fraterno, podemos falar sobre a paz, jogar com as palavras, mas somos sempre
egocêntricos.
Assim, surge daí a pergunta: com esse egocentrismo, que é na
essência um profundo egoísmo, pode haver alguma mudança efectiva? Podemos ser
totalmente altruístas? Então, temos de indagar: o que é o ego?
O que são os senhores, independentemente do nome e da profissão,
dos seus votos, de seguir algum guru? O que são os senhores?
Ou me expressarei
de outro modo, os senhores são o seu nome, a sua profissão; os senhores fazem
parte da comunidade, fazem parte da tradição?
Não repitam o que diz o Gita, os
Upanishads ou seja lá quem for; isso é inútil.
O que os senhores são, na realidade? Esta é a primeira vez que
esta pergunta é feita aos senhores o que os senhores são? Os senhores são o seu
medo, o seu nome, o seu corpo?
Os senhores não são o que pensam que são, a
imagem que construíram de si mesmos? Os senhores não são tudo isso? Não são a
sua raiva? Ou a raiva está separada dos senhores?
Vamos lá, senhores, os senhores não são os vossos medos, as vossas
ambições, a vossa ganância, a vossa competição, a vossa insegurança, a vossa confusão,
a vossa dor, o vosso pesar, não são tudo isso?
Não são o guru que seguem? Então, não
são tudo isso com que se identificam? Ou são algo mais elevado, o super-ego, a
super-consciência?
Se os senhores dizem que têm uma super-consciência, um eu
superior, isto também faz parte do pensamento; portanto, aquilo que é chamado
de pensamento superior, de eu superior, ainda é muito pequeno.
Então, o que os senhores são? Eu digo que os senhores são um
feixe de tudo aquilo que é associado pelo pensamento.
O que quer que os
senhores pensam, isso os senhores são.
Pode-se inventar todo o tipo de coisa,
mas essa invenção também é o que o homem é. Certo?
Juntando tudo, isso chama-se eu, o meu ego, a minha
personalidade, o meu eu superior, o meu deus. E eu invento todo esse tipo de
coisas.
Quem juntou tudo isso? Ou há uma só estrutura? Quem dividiu tudo isso?
Quem disse que sou hindu ou muçulmano? Isso é uma propaganda?
Quem criou a
divisão entre os países?
O pensamento? Ou foi o desejo, a aspiração de ser
identificado, de estar seguro?
Estou a perguntar respeitosamente, quem criou a divisão? Foi o
pensamento?
É claro, mas por trás do pensamento há algo mais. Quem está a fazer
tudo isso, salvo o pensamento?
O que é o desejo, o que é o anseio, o que é o
movimento que há por trás disso? É a segurança, não é?
Eu quero estar seguro; é
por isso que sigo um guru. Quero estar seguro no meu relacionamento com os
senhores, com a minha mulher ela é a minha mulher, segura, protegida, a salvo.
O desejo, o anseio, a resposta, a reacção, é por segurança, eu tenho de estar
seguro, a salvo.
Todos nós queremos segurança, mas nunca nos perguntamos, existe
alguma segurança?
Existe algum lugar em que eu possa dizer que estou a salvo?
O
senhor desconfia da sua mulher, a sua mulher desconfia do senhor. O senhor
desconfia do seu patrão porque quer o lugar dele. É tudo muito sensato. Podem
achar graça agora, mas cada ser humano quer ter um lugar onde possa estar a
salvo, seguro, onde não haja competição, onde não seja maltratado, importunado.
Os senhores não querem tudo isso? Mas nunca perguntam: existe alguma segurança?
Se a querem, devem também fazer a pergunta: existe alguma segurança?
Então, surge a questão: por que os senhores querem segurança? Há
segurança nos vossos pensamentos?
Há segurança nos vossos relacionamentos, com
a mulher e com os filhos? Há segurança no emprego? O senhor pode ser um
professor, cuidadosamente protegido, mas há professores mais qualificados;
então, o senhor quer tornar-se o vice-chanceler. Onde está a segurança?
Pode
não haver nenhuma segurança, em absoluto. Pensem nisso, senhores, vejam que
beleza, não ter nenhum desejo de segurança, nenhum anseio, nenhum sentimento,
de qualquer tipo, em que haja segurança. No lar, no escritório, na fábrica, no parlamento, e assim por
diante, há segurança?
Talvez a vida não tenha segurança; a vida foi feita para
ser vivida, não para criar problemas e depois tentar resolvê-los. É para ser
vivida e acabar. Este é um dos nossos medos, morrer, não é?
Portanto, nesta manhã, aprendemos um com o outro, e não ajudamos
um ao outro, aprendemos, ouvimos de verdade o que o orador está a dizer?
Os
senhores ouviram com os ouvidos, viram os factos do mundo que são os senhores,
pois o mundo são os senhores? Ou tudo são ideias? Há uma diferença entre facto
e ideia; a ideia nunca é o facto.
A palavra `microfone´ não é o microfone, este
objecto que está na frente do orador. Mas fizemos da palavra o objecto.
Portanto, os hindus não são os senhores, a palavra não são os senhores.
Os
senhores são o facto, não a palavra. Então, podemos ver a palavra, ver que ela
não é o objecto? A palavra `deus´ não é deus. A palavra é totalmente diferente
da realidade.
Assim, perguntamos o mais respeitosamente possível: o que
aprenderam nesta manhã, o que realmente aprenderam, de que modo que agirão, e
não apenas dirão sim, certo, e irão para casa, e continuarão como antes.
O mundo está num grande caos. Não sei se o percebem; há muitas
dificuldades no mundo, muita miséria. Os senhores estão confusos, portanto,
estão a criar tudo isso no mundo que os cerca.
Se não alterarem a si próprios,
o mundo não pode alterar-se, não pode mudar. Porque, no mundo, aonde quer que
se vá, cada ser humano passa pelo mesmo fenómeno pelo qual os senhores estão a
passar, incerteza, infelicidade, medo, insegurança, desejo de segurança, de
controle, o seu guru é melhor do que o meu, e assim por diante. Entendem?
O orador não é um optimista nem um pessimista. Estamos a
apresentar os factos, não os factos do jornal. Estamos a conversar sobre as
nossas vidas, não a vida de um guru, ou de um imperador, ou de alguma outra
pessoa. Estamos a falar, juntos, sobre as nossas vidas. Elas são como as do
resto do mundo.
Os seres humanos são tremendamente infelizes, inseguros,
desditosos, desempregados aos milhões, submetidos à pobreza, à fome, ao
sofrimento, à dor, assim como os senhores; os senhores não são diferentes
deles.
Podem chamar-se de hindus ou muçulmanos, ou de cristãos, ou do
que quiserem, mas, conscientemente, lá dentro, são como o resto do mundo.
Os
senhores podem ser morenos escuros, eles podem ser morenos claros, ter um
governo diferente, mas todo o ser humano partilha deste mundo terrível.
Nós
fizemos o mundo, compreendem?
Nós somos a sociedade. Se querem que a sociedade
seja algo diferente, os senhores têm de começar, têm de pôr as suas casas em
ordem, as casas que são os senhores."
Jiddu Krishnamurti
"O futuro é agora"
t.
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