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domingo, 30 de junho de 2013

A Relação com a Natureza...

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       O sistema que nos sustém é muito frágil         



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  A interiorização da nossa dependência do mundo natural pode propiciar um novo esforço para inverter a tendência de declínio dos ecossistemas.
  Os grandes progressos em matéria de bem-estar humano operados desde meados do século XX deveram-se à descoberta de formas de exploração mais eficientes dos recursos da Terra.
  Actualmente, os seres humanos consomem um quinhão que se cifra entre um terço e metade dos recursos mundiais. Não somos mais independentes do nosso ambiente do que os sapos, os pinguins ou as palmeiras. Os seres humanos são parte da natureza e tornaram-se um elemento relevante de quase todos os ecossistemas. A nossa sobrevivência, como a de qualquer outra espécie do planeta, depende da sua saúde.A natureza dá muito mais do que o oxigénio libertado pelas plantas e o peixe dos mares. 
  A natureza oferece água potável e o controlo da erosão, novos medicamentos e estâncias de recreio.
  Os ecossistemas têm também uma acção crucial como coadjuvantes no processo de regulação meteorológica e do clima, das florestas tropicais que polarizam a precipitação regional aos ecossistemas costeiros que retiram da atmosfera dióxido de carbono, com o respectivo efeito de estufa, passando pelas áreas verdes urbanas que moderam a temperatura. 
  Não conhecemos ainda em toda a sua extensão os serviços prestados pela natureza, mas é cada vez mais evidente que não os podemos dar por adquiridos: eles dependem não só da conservação de espécies isoladas mas também da preservação de ecossistemas saudáveis, intactos, repletos de uma miríade de interacções que só agora começamos a entender. 
  Os serviços prestados pelos ecossistemas são o reconhecimento da infinidade de benefícios que retiramos da natureza. 
  Esse pode ser um primeiro passo no sentido da sua protecção. Os passos subsequentes – a conservação – não são fáceis nem baratos. 
  Se queremos continuar a alimentar-nos, a vestir-nos e a cuidar de nós mesmos no futuro, temos impreterivelmente de avançar nessa direcção.








          "A Relação com a Natureza"
          EXTRA - EARTH PULSE
         National Geographic PORTUGAL



TITO COLAÇO
30.06.2013




  
  

  

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Liberdade de pensar...








Liberdade de pensar...




Homens de capacidades espirituais e de vistas largas! Admiro o vosso talento e aprecio muito o vosso sentimento humano. Mas reflectistes bem sobre o que fazeis e até onde se chegará com os vossos ataques à razão?
Quereis, sem dúvida, que a liberdade de pensar se mantenha incólume, pois, sem ela depressa acabariam os vossos livres ímpetos de génio. 
Vejamos o que naturalmente se irá passar com essa liberdade de pensamento se um procedimento, tal como o que iniciais, se tomar prevalecente.
À liberdade de pensar contrapõe-se, em primeiro lugar, a coacção civil. Há decerto quem diga: a liberdade de falar ou de escrever pode ser-nos tirada por um poder superior, mas não a liberdade de pensar. Mas quanto e com que correcção pensaríamos nós se, por assim dizer, não pensássemos em comunhão com os outros, aos quais comunicamos os nossos pensamentos e eles nos comunicam os seus! Pode, pois, muito bem dizer-se que o poder exterior, que arrebata aos homens a liberdade de comunicar publicamente os seus pensamentos, lhes rouba também a liberdade de pensar: o único tesouro que, não obstante todos os encargos civis, ainda nos resta e pelo qual apenas se pode criar um meio contra todos os males desta situação.
Em segundo lugar, a liberdade de pensar toma-se também no sentido de que se opõe à pressão sobre a consciência moral; quando, sem qualquer poder em matéria de religião, há cidadãos que se constituem tutores dos outros e, em vez de argumentos, sabem banir todo o exame da razão mediante uma impressão inicial sobre os ânimos, através de fórmulas de fé prescritas e acompanhadas pelo angustiante temor do perigo de uma inquirição pessoal.
Em terceiro lugar, a liberdade de pensamento significa ainda que a razão não se submete a nenhumas outras leis a não ser àquelas que ela a si mesmo dá; e o seu contrário é a máxima de um uso sem lei da razão (para assim, como imagina o génio, ver mais longe do que sob a restrição imposta pelas leis). 
A consequência que daí se tira é naturalmente esta: se a razão não quer submeter-se à lei, que ela a si própria dá, tem de se curvar sob o jugo das leis que um outro lhe dá; pois, sem lei alguma, nada, nem sequer a maior absurdidade, se pode exercer durante muito tempo. Por conseguinte, a consequência inevitável da declarada inexistência de lei no pensamento (a libertação das restrições impostas pela razão) é esta: a liberdade de pensar acaba por se perder e, porque a culpa não é de alguma infelicidade mas de uma verdadeira arrogância, a liberdade, no sentido genuíno da palavra, é confiscada.
O curso das coisas é mais ou menos este: a princípio, o génio compraz-se no seu ímpeto audacioso, porque deitou fora o fio com que a razão habitualmente o dirigia. Logo a seguir, fascina também outros mediante decisões imperiosas e grandes expectativas e parece ter-se sentado doravante num trono, que a vagarosa e pesada razão tão mal adornava, embora o génio continue a usar a linguagem dela. A máxima da invalidade, então aceite, de uma razão supremamente legisladora é aquilo que nós, homens comuns, chamamos o entusiasmo delirante; mas os favoritos da benevolente natureza dão-lhe o nome de iluminação. Como, entretanto, depressa surgirá entre estes uma confusão de linguagem, pois só a razão pode imperar validamente a todos, e agora cada qual segue a sua inspiração, por fim, factos provenientes de inspirações interiores serão confirmados por testemunhos exteriores, e de tradições que de início eram escolhidas e, com o tempo, se tornaram documentos impositivos, surgiu, numa palavra, a total submissão da razão aos factos, isto é, à superstição, porque esta, ao menos, não se pode reduzir a uma forma legal e entrar assim num estado de repouso.
No entanto, porque a razão humana aspira sempre à liberdade, o seu primeiro uso de uma liberdade, de que durante muito tempo se desacostumou, quando rompe as cadeias, degenerará em abuso e confiança temerária na independência do seu poder em relação a toda a limitação, numa convicção do domínio absoluto da razão especulativa, que nada admite a não ser o que se pode justificar por razões objectivas e pela convicção dogmática, negando com audácia tudo o mais. A máxima da independência da razão em relação à sua própria necessidade (renúncia à fé racional) chama-se então incredulidade: não é uma incredulidade histórica, pois não se pode pensar como deliberada, logo, também não como responsável (porque cada qual deve crer num facto que é tão suficientemente comprovado como uma demonstração matemática, quer queira quer não); mas é uma incredulidade racional, um inconveniente estado do espírito humano que priva as leis morais, primeiro, de toda a força de móbil sobre o coração e, com o tempo, até de toda a autoridade, suscitando assim o modo de pensar que se chama livre pensamento, isto é, o princípio de não reconhecer mais nenhum dever. Entra aqui em acção a autoridade, para que os próprios assuntos civis não entrem na maior desordem; e, visto que o meio mais rápido e mais enérgico é para ela o melhor, a autoridade suprime a liberdade de pensar e, tal como às outras actividades, também sujeita esta aos regulamentos do país e assim a liberdade de pensamento, ao querer agir de modo absolutamente independente das leis da razão, acaba por se destruir a si mesma.
Amigos do género humano e do que para ele é mais sagrado!
Aceitai o que, após um exame cuidadoso e honesto, vos parecer mais digno de fé quer sejam factos, quer princípios de razão; somente não impugneis à razão o que dela faz o supremo bem na terra, isto é, o privilégio de ser a derradeira pedra-de-toque da verdade.*
Caso contrário, indignos de tal liberdade, também decerto a perdereis, e esta infelicidade arrasta ainda a outra parte inocente da cabeça que, de outro modo, estaria disposta a servir-se legalmente da sua liberdade e a contribuir assim, de forma conveniente, para a melhoria do mundo.

Pensar por si mesmo significa procurar em si próprio (isto é, na sua própria razão) a suprema pedra de toque da verdade; e a máxima de pensar sempre por si mesmo é a Ilustração (Aufklárung). Não lhe incumbem tantas coisas como imaginam os que situam a ilustração nos conhecimentos; pois ela é antes um princípio negativo no uso da sua faculdade de conhecer e, muitas vezes, quem dispõe de uma riqueza excessiva de conhecimentos é muito menos esclarecido no uso dos mesmos. Servir-se da sua própria razão quer apenas dizer que, em tudo o que se deve aceitar, se faz a si mesmo esta pergunta: será possível transformar em princípio universal do uso da razão aquele pelo qual se admite algo, ou também a regra adoptada do que se admite? Qualquer um pode realizar consigo mesmo semelhante exame e bem depressa verá, neste escrutínio, desaparecer a superstição e o devaneio, mesmo se está muito longe de possuir os conhecimentos para a ambos refutar com razões objectivas. Serve-se, de facto,apenas da máxima da auto-conservação da razão. É, pois, fácil instituir a ilustração em sujeitos individuais por meio da educação; importa apenas começar cedo e habituar os jovens espíritos a esta reflexão. Mas esclarecer uma época é muito enfadonho, pois depara-se com muitos obstáculos exteriores que, em parte, proíbem e, em parte, dificultam aquele tipo de educação.




Excerto de:   
                        "Que singifica orientar-se no pensamento?"
                             (1786)   
       
      Publicado na integra em 1786 no jornal  Berlinische Monatsschrift.


         I. KANT 

   Tradutor:   Artur Morão


http://www.lusosofia.net/autores_textos.php






































             TITO COLAÇO        
                                                                          28.06.2013             















terça-feira, 25 de junho de 2013

Louvor do aprender...

























   Louvor do Aprender   
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 Aprende o mais simples! Pra aqueles  
 Cujo tempo chegou  
 Nunca é tarde de mais!  
 Aprender o abc, não chega, mas  
 Aprende-o! E não te enfades!  
  Começa! Tens de saber tudo! 
 Tens de tomar a chefia!  

 Aprende, homem do asilo!  
 Aprende, homem na prisão!  
 Aprende, mulher na cozinha!  
 Aprende, sexagenária!  
 Tens de tomar a chefia!  

 Frequenta a escola, homem sem casa!  
 Arranja saber, homem com frio!  
 Faminto, pega no livro: é uma arma.  
 Tens de tomar a chefia.  

 Não te acanhes de perguntar, companheiro!  
 Não deixes que te metam patranhas na cabeça:  
 Vê c'os teus próprios olhos!  
 O que tu mesmo não sabes  
 Não o sabes.  
 Verifica a conta:  
 És tu que a pagas.  
 Põe o dedo em cada parcela,  
 Pergunta: Como aparece isto aqui?  
 Tens de tomar a chefia.     



 Bertold Brecht 
 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'  
 Tradução de Paulo Quintela 



                                                                                                                                                                                                                          .






  TITO COLAÇO  
 25.06.2013 






segunda-feira, 24 de junho de 2013

Caminho...





    Caminho    







I 

Tenho sonhos cruéis; n'alma doente 
Sinto um vago receio prematuro. 
Vou a medo na aresta do futuro, 
Embebido em saudades do presente... 
Saudades desta dor que em vão procuro 
Do peito afugentar bem rudemente, 
Devendo, ao desmaiar sobre o poente, 
Cobrir-me o coração dum véu escuro!... 
Porque a dor, esta falta de harmonia, 
Toda a luz desgrenhada que alumia 
As almas doidamente, o céu d'agora, 
Sem ela o coração é quase nada: 
Um sol onde expirasse a madrugada, 
Porque é só madrugada quando chora. 


II 


Encontraste-me um dia no caminho 
Em procura de quê, nem eu o sei. 
de Bom dia, companheiro, te saudei, 
Que a jornada é maior indo sozinho 
É longe, é muito longe, há muito espinho! 
Paraste a repousar, eu descansei... 
Na venda em que poisaste, onde poisei, 
Bebemos cada um do mesmo vinho. 
É no monte escabroso, solitário. 
Corta os pés como a rocha dum calvário, 
E queima como a areia!... Foi no entanto 
Que choramos a dor de cada um... 
E o vinho em que choraste era comum: 
Tivemos que beber do mesmo pranto. 



III 

Fez-nos bem, muito bem, esta demora: 
Enrijou a coragem fatigada... 
Eis os nossos bordões da caminhada, 
Vai já rompendo o sol: vamos embora. 
Este vinho, mais virgem do que a aurora, 
Tão virgem não o temos na jornada... 
Enchamos as cabaças: pela estrada, 
Daqui inda este néctar avigora!... 
Cada um por seu lado!... Eu vou sozinho, 
Eu quero arrostar só todo o caminho, 
Eu posso resistir à grande calma!... 
Deixai-me chorar mais e beber mais, 
Perseguir doidamente os meus ideais, 
E ter fé e sonhar d encher a alma.








  Camilo Pessanha  
 "Clepsidra" ...........................................................
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  TITO COLAÇO  
 24.06.2013 








AngeL...






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      ANGEL of mine     




   "Angel Of Mine"   
   
Frank Duval   





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 TITO COLAÇO 
 24.06.2013 






domingo, 23 de junho de 2013

O estado de paz entre os homens...















 
  "O estado de paz entre os homens que vivem juntos não é um estado de natureza (status naturalis), o qual é antes um estado de guerra, isto é, um estado em que, embora não exista sempre uma explosão das hostilidades, há sempre todavia uma ameaça constante.     
    Deve, pois, instaurar-se o estado de paz; a omissão de hostilidades não é ainda a garantia de paz e, se um vizinho não proporcionar segurança a outro (o que só pode acontecer num estado legal), cada um pode considerar como inimigo a quem lhe exigiu tal segurança."    


 "A Paz Perpétua. Um Projecto Filosófico" 

SEGUNDA SECÇÃO:    "QUE CONTÉM OS ARTIGOS DEFINITIVOS PARA A PAZ PERPÉTUA ENTRE OS ESTADOS" 
(1795)

  I. Kant  
























   TITO COLAÇO   
     23.06.2013