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segunda-feira, 10 de junho de 2013

Sou a Tua Casa...















 Sou a Tua Casa 












Sou a tua casa, a tua rua, a tua segurança, o teu destino. 
Sou a maçã que comes e a roupa que vestes. 
Sou o degrau por onde sobes, o copo por onde bebes, o teu riso e o teu choro, o teu frio e a tua lareira. O pedinte que ajudas, o asilo que te quer acolher. 
Sou o teu pensamento, a tua recordação, a tua vontade. E também o artesão que para ti trabalha, o medo que te perturba e o cão que te guia quando entras pela noite. 
Sou o sítio onde descansas, a árvore que te dá sombra, o vento que contigo se comove. 
Sou o teu corpo, o teu espírito, o teu brilho, a tua dúvida. 
Sou a tua mãe, o teu amante, o marfim dos teus dentes. E sou, na luz do outono, o teu olhar. 
Sou a tua parteira e a tua lápide. Os teus vinte anos. O coração sepultado em ti. 
Sou as tuas asas, a tua liberdade, e tudo o que se move no teu interior. 
Sou a tua ressaca, o teu transtorno, o relógio que mede o tempo que te resta. 
Sou a tua memória, a memória da tua memória, o teu orgulho, a fecundação das tuas entranhas, a absolvição dos teus pecados. O teu amuleto e a tua humildade. 
Sou a tua cobardia, a tua coragem, a força com que amas. Sou os teus óculos e a tua leitura. A tua música preferida, a tua cor preferida, o teu poema preferido. 
Sou o que significas para mim, a ternura que desagua nos teus dedos, o tamanho das tuas pupilas antes e depois de fazer amor. 
Sou o que sou em ti e o que não podes ser em mim. Sou uma só coisa. E duas coisas diferentes.


Joaquim Pessoa
 'Ano Comum'

























 TITO COLAÇO 
10.06.2013

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