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sexta-feira, 21 de junho de 2013

I. KANT: "Sobre um suposto direito de mentir"




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 Sobre um suposto direito de mentir... 
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Será que não abordar o tema da “mentira” equivale a minimizar a “verdade”? De facto, após o idealismo alemão, cujos representantes (Kant, Fichte, Hegel) ainda se referiram à mentira, condenando-a, o tema parece ter esmorecido na boca e na pena dos filósofos, persistindo sobretudo nos tratados de moral que a seu respeito afinaram as distinções e avaliaram, com severidade diversa, os casos da sua ocorrência. 
Talvez o eclipse crescente da temática da mentira indique – quem sabe? – um hiato entre o acto de filosofar, radical decerto no intuito, mas não tanto na prática, porque a filosofia foi deixando de ser, em grande parte, um “exercício espiritual” que molda a vida. 
Nos tempos em que a “virtude” ainda fazia jus ao seu nome e surgia como ideal ou imperativo plasmador da existência (individual e colectiva), a mentira era objecto de análise, de classificação e de reprovação diversamente matizada, mesmo em autores modernos (por ex. Fr. Chr. Baumeister, S. Pufendorf, Hugo Grotius, Chr. Thomasius) que se esforçaram por destrinçar campos distintos – moral, jurídico e político – em que a mentira, como falsiloquium e não apenas como mendacium, perdeu uma parte do estigma condenatório com que era encarada; “após a virtude”, porém, e depois da inflexão causada por Nietzsche e, ultimamente, por Michel Foucault, que reduzem a ’verdade’ a simples jogo de poder, a uma espécie de estratégia de domínio, tudo se alterou; dá-se um deslize – ilegítimo – para o simples “ideológico”. 
E numa cultura que, segundo alguns sociólogos (assim os alemães Heiko Ernst e Gerhard Schulze), vive fagueiramente no esplendor (!) dos “sete pecados capitais”, a mentira – que sempre lhes serviu de acólito, embora sem pertencer ao septeto – reina serena na era do “simulacro”, da simulação e da publicidade.
Surge-nos, pois, quase intolerável, a posição de Kant neste pequeno 
e denso ensaio, com o seu rigor fechado a qualquer excepção à verdade. Ressoam nele e noutras páginas afins do filósofo (de modo implícito, mas comprovável) alguns acordes agostiniainos que, sem contemplações, fustigam a voluntas fallendi (a vontade de enganar), o “coração dúplice”, que o mestre de Königsberg orquestra com o tema da obrigação moral de veracidade consigo e perante si mesmo, sem olhar às consequências. 
Ex ungue leonem... Se pela garra se adivinha e identifica o 
leão, destas breves páginas e da sua argumentação cerrada e concisa, fruto da maturidade última de Kant, que as escreveu nos seus 73 anos, somos levados ao cerne da sua doutrina moral, com a universalidade e a exigência que a habitam. 
Se a solução proposta causa desconforto, pois a vida nos seus meandros, e por vezes nos seus becos sem saída, não tem esta clareza, obriga pelo menos a pensar, abre sendas e fendas – que é o fito dos textos filosóficos. 


                                                               
 Tradutor: Artur Morão 
                                                               


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   TITO COLAÇO   
 21.06.2013 






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