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domingo, 11 de maio de 2014

Radix malorum est cupiditas...





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  A mancha humana  

 É o resultado de ter sido criado entre nós - disse Faunia. 
- É o resultado de passar toda a vida com pessoas como nós. A mancha humana - acrescentou, mas sem repulsa, desprezo ou condenação. 
Nem sequer com tristeza. As coisas são como são, à sua maneira seca e concisa, era só isso que ela estava a dizer à rapariga que dava de comer à serpente: nós deixamos uma mancha, deixamos um rasto, deixamos a nossa marca. Impureza, crueldade, mau trato, erro, excremento, sémen.
Não há outra maneira de estar aqui. 
Não tem nada a ver com desobediência. 
Nem com graça, ou salvação, ou redenção. 
Está em todos. Sopro interior. Inerente. Determinante. 
A mancha que existe antes da sua marca. Sem o sinal de que está lá. 
A mancha que é tão intrínseca que não precisa de uma marca. 
A mancha que precede a desobediência, que engloba a desobediência e confunde toda e qualquer explicação e compreensão. 
É por isso que toda a purificação é uma anedota. É uma anedota básica, ainda por cima. 
A fantasia da pureza é aterradora. É demencial. O que há-de ânsia de purificar senão impureza? 
Tudo quanto estava a dizer acerca da mancha era que ela é inelutável. 
Essa era, naturalmente, a visão de Faunia a esse respeito: as criaturas inevitavelmente manchadas que nós somos. 
Resignada com a horrível imperfeição elementar. Ela é como os Gregos, como os Gregos de Coleman. Como os seus deuses. Eles são mesquinhos. Brigam. Lutam. Odeiam. Assassinam. Fodem. Zeus não quer fazer outra coisa senão foder deusas, mortais, bezerras, ursas, e não apenas na sua própria forma, mas também, ainda mais excitantemente, assumindo a forma visível de animal. Para montar colossalmente uma mulher como um touro. Para a penetrar excentricamente como um cisne branco de asas agitadas. Nunca há carne suficiente para o rei dos deuses, nem carne nem perversidade. Toda a loucura que o desejo gera. A devassidão. A depravação. Os prazeres mais grosseiros. E a fúria da esposa que tudo vê. 
Não o deus hebraico, infinitamente só, infinitamente obscuro, monomaniacamente o único deus que existe, existiu e jamais existirá, sem nada melhor para fazer do que preocupar-se com os judeus. 
Nem o perfeitamente dessexuado homem-deus cristão, e a sua mãe imaculada, e toda a culpa e vergonha que uma espiritualidade sublime inspira. 
Antes, o Zeus grego, enredado em aventuras, vivamente expressivo, caprichoso, sensual, exuberantemente ligado à sua própria existência opulenta, tudo menos só e tudo menos oculto. Antes a mancha divina. 
Uma grande religião reflectora da realidade para Faunia Farley se, por intermédio de Coleman, ela tivesse aprendido alguma coisa a esse respeito. Pelos padrões da fantasia hubrística, feita à imagem de Deus, sem dúvida, mas não do nosso: do deles. Deus devasso. Deus corrupto. Um deus da vida, se algum houve. Deus à imagem do homem. 


 Philip Roth 
"A mancha humana"





























































TITO COLAÇO
XI  ___  V  ___  MMXIV







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