Páginas

domingo, 18 de maio de 2014

Tempus longum vitiat lapidem...







  Tempus longum vitiat lapidem...  






















   O centro do universo   


Se todo o indivíduo pudesse escolher entre o seu próprio aniquilamento e o do resto do mundo, não preciso dizer para que lado, na maioria dos casos, penderia a balança. 
Conforme essa escolha, cada um faz de si o centro do universo, refere tudo a si mesmo e considera primeiramente tudo o que acontece, por exemplo, as maiores mudanças no destino dos povos, do ponto de vista do seu interesse. 
Ainda que este seja muito pequeno e remoto, é nele que pensa acima de tudo. 
Não existe contraste maior do que aquele entre a alta e exclusiva divisão, que cada um faz dentro do seu próprio eu, e a indiferença com a qual, em geral, todos os outros consideram aquele eu, bem como o primeiro faz com o deles.
Chega a ter o seu lado cómico ver os inúmeros indivíduos que, pelo menos no aspecto prático, consideram-se exclusivamente reais e aos outros, de certo modo, como meros fantasmas. 
(...) 
O único universo que todos realmente conhecem e do qual têm consciência é aquele que carregam consigo como sua representação e que, portanto, constitui o seu centro. 
É justamente por isso que cada um é em si mesmo tudo em tudo. 


 Arthur Schopenhauer 
 "A arte de insultar"






























O universo é o sonho de um sonhador infinito

1. Não conhecemos senão as nossas sensações. O universo é pois um simples conceito nosso. 

2. O universo porém, ao contrário de e em contraste com, as nossas fantasias e os nossos sonhos, revela, ao ser examinado, que tem uma ordem, que é regido por regras sem excepção a que chamamos leis.
 
3. Àparte isso, o universo, ou grande parte dele, é um "conceito" comum a todos os que são constituídos como nós: isto é, é um conceito do espírito humano.
 
4. O universo é considerado objectivo, real, por isso e pela própria constituição dos nossos sentidos. 

5. Como objectivo, o universo é pois o conceito de um espírito infinito, único que pode sonhar de modo a criar. O universo é o sonho de um sonhador infinito e omnipotente. 

6. Como cada um de nós, ao vê-lo, ouvi-lo, etc., cria o universo, esse espírito infinito existe em todos nós. 

7. Como cada um de nós é parte do universo, esse espírito infinito, ao mesmo tempo que existe em nós, cria-nos a nós. Somos distintos e indistintos dele. 

8. A "Causa imanente", como é definida, tem que, ao criar, criar infinitamente. Em si mesma é infinita como uma, extra-numericamente, nos seres é infinita como inúmera, numericamente. Num caso é o indivisível, no outro infinitamente divisível. As almas são pois em número infinito. 

9. Tudo o que é criado é infinito, pois a Causa Infinita não pode criar senão infinito. Por isso tudo material, se tudo de natureza oposta à Causa Infinita, é infinitamente divisível e multiplicável (eternidade do tempo, infinidade do espaço). Só pode criar finitos em número infinito. Por isso tudo espiritual, isto é, não-espacial, como é da natureza da Causa, é indivisível. É portanto imortal. 


 Fernando Pessoa 
"Textos filosóficos"

















































TITO COLAÇO
XVIII ___ V ___ MMXIV





0 comentários:

Enviar um comentário