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sexta-feira, 9 de maio de 2014

Vincit qui se vincit...





   Vincit qui se vincit...  












           
Vencer o medo           

Parecemos estar hoje animados quase exclusivamente pelo medo. 
Receamos até aquilo que é bom, aquilo que é saudável, aquilo que é alegre. 
E o que é o herói? 
Antes de mais, alguém que venceu os seus medos. 
É possível ser-se herói em qualquer campo; nunca deixamos de reconhecer um herói quando este aparece. 
A sua virtude singular é o facto de ele ser um só com a vida, um só consigo próprio. Tendo deixado de duvidar e de interrogar, acelera o curso e o ritmo da vida. 
O cobarde, par contre, procura deter o fluxo da vida. 
E claro que não detém nada, a menos que se detenha a si próprio. 
A vida continua sempre a avançar, quer nos portemos como cobardes, quer nos portemos como heróis. 
A vida não impõe outra disciplina, se ao menos o soubéssemos compreender! 
Para além de a aceitarmos tal como é. 
Tudo aquilo a que fechamos os olhos, tudo aquilo de que fugimos, tudo aquilo que negamos, denegrimos ou desprezamos, acaba por contribuir para nos derrotar. 
O que nos parece sórdido, doloroso, mau, poderá tornar-se numa fonte de beleza, alegria e força, se o enfrentarmos com largueza de espírito. 
Todos os momentos são momentos de ouro para os que têm a capacidade de os ver como tais. 
A vida é agora, são todos os momentos, mesmo que o mundo esteja cheio de morte. 
A morte só triunfa ao serviço da vida.


(...)



   Nada é certo   

Ninguém avança pela vida em linha recta. 
Muitas vezes, não paramos nas estações indicadas no horário. 
Por vezes, saímos dos trilhos. 
Por vezes, perdemo-nos, ou levantamos voo e desaparecemos como pó. 
As viagens mais incríveis fazem-se às vezes sem se sair do mesmo lugar. 
No espaço de alguns minutos, certos indivíduos vivem aquilo que um mortal comum levaria toda a sua vida a viver. 
Alguns gastam um sem número de vidas no decurso da sua estadia cá em baixo. 
Alguns crescem como cogumelos, enquanto outros ficam inelutávelmente para trás, atolados no caminho. 
Aquilo que, momento a momento, se passa na vida de um homem é para sempre insondável. 
É absolutamente impossível que alguém conte a história toda, por muito limitado que seja o fragmento da nossa vida que decidamos tratar.


(...)



   O espírito do homem é como um rio que procura o mar   

O espírito do homem é como um rio que procura o mar. 
Represem-no e aumentarão a sua força. 
Não responsabilizem o homem pelas suas explosões devastadoras! 
Condenem antes a força da vida! 
O espírito que nos anima pode assumir as mais diversas formas: tornar-nos semelhantes a anjos, a demónios ou a bestas. 
A cada um a sua escolha. 
Nada barra o caminho ao homem para além das fantasmagorias dos seus medos. 
O mundo é a nossa casa, mas teremos ainda que a ocupar, a mulher que amamos está à nossa espera, mas não sabemos onde encontrá-la, o atalho que buscamos está sob os nossos pés, mas não o reconhecemos. Quer sejamos deste mundo por muito ou pouco tempo, os poderes por explorar são ilimitados. 


 Henry Miller 
"O mundo do sexo"




"E o que é o herói? 
Antes de mais, alguém que venceu os seus medos."
"Ninguém avança pela vida em linha recta." 




























































































   TITO COLAÇO   
   IX   ___   V   ___   MMXIV   










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