Aegroto
dum anima est, spes est...
Há dentro de nós um poço.
No fundo dele é que estamos, porque está o que é mais nós, o que nos individualiza, a fonte do que nos enriquece no em que somos humanos.
E a vida exterior, o assalto do que nos rodeia, o que visa é esse íntimo de nós para o ocupar, o preencher, o esvaziar do que nos pertence e nos faz ser homens.
Jamais como hoje esse assalto foi tão violento, jamais como hoje fomos invadidos do que não é nós.
É lá nesse fundo que se gera a espiritualidade, a gravidade do sermos, o encantamento da arte.
E a nossa luta é terrível, para nos defendermos no último recesso da nossa intimidade.
Porque tudo nos expulsa de lá, quando essa intimidade for preenchida pelo exterior, quando a materialidade se nos for depositando dentro, o homem definitivamente terá em nós morrido.
Já há exemplos disso. Um dos mais perfeitos chama-se robot.
É invencível pensarmos o que será o homem amanhã. E nenhuma outra imagem se nos impõe com mais força.
Mas o que desse visionar mais nos enriquece a alma é que o homem então será possivelmente feliz.
Porque ser homem não é ter felicidade mas apenas ser humano.
Não há grandeza nenhuma ser feliz, e é decerto por isso que se diz que os felizes não têm história. A única felicidade compatível com a grandeza é a que já não tem esse nome, mesmo que o tenha. Chamemos-lhe apenas compreensão ou aceitação.
Vergílio Ferreira
"Conta-corrente IV"
TITO COLAÇO
V ___ VII ___ MMXIV
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