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sábado, 20 de julho de 2013

"O Homem é do tamanho do seu sonho."






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  "Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."  
-                   Nova beleza  
                                                                      Fernando Pessoa
















"O Homem é do tamanho do seu sonho."
                           -                 Tamanho do sonho  -
                                                                               Fernando Pessoa





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A minha vida é um barco abandonado 
Infiel, no ermo porto, ao seu destino
Por que não ergue ferro e segue o atino 
De navegar, casado com o seu fado ? 
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado 
Torne seu vulto em velas; peregrino 
Frescor de afastamento, no divino 
Amplexo da manhã, puro e salgado. 

Morto corpo da acção sem vontade 
Que o viva, vulto estéril de viver, 
Boiando à tona inútil da saudade. 

Os limos esverdeiam tua quilha, 
O vento embala-te sem te mover, 
E é para além do mar a ansiada Ilha.
-  A minha vida é um barco abandonado
                                                                      Fernando Pessoa














































Grandes mistérios habitam 
O limiar do meu ser, 
O limiar onde hesitam 
Grandes pássaros que fitam 
Meu transpor tardo de os ver. 
São aves cheias de abismo, 
Como nos sonhos as há. 
Hesito se sondo e cismo, 
E à minha alma é cataclismo 
O limiar onde está. 

Então desperto do sonho 
E sou alegre da luz, 
Inda que em dia tristonho; 
Porque o limiar é medonho 
E todo passo é uma cruz.
-                           Grandes mistérios habitam  -
                                                                         Fernando Pessoa










































No ar frio da noite calma 
Boia à vontade a minha alma, 
Quase sem querer viver 
Sente os momentos correr, 
Como uma folha no rio
Sente contra si o frio 
Das horas fluidas levando 
Seu inerte corpo brando. 

Mais do que isto? Para quê? 
Tudo quanto o olhar vê 
A mão toca, o ouvido escuta, 
A consciência perscruta, 
É inútil que se escutasse, 
Que se visse ou se pensasse. 

Entre as margens com arbustos 
Luze, na noite dos sustos, 
Só o luar repousado, 
Ao correr vago e amparado 
Do rio deixado em livre 
A alma passa, a alma vive. 

Ninguém. Só eu e o segredo 
Do luar e do arvoredo 
Que das margens causa medo. 

Nada. Só a hora inútil 
Só o sacrifício fútil 
De desejar sem querer 
E sem razão esquecer. 

Prolixa memória, toda. 
Rio indo como uma roda, 
Noite como um lago mudo, 
E a incerteza de tudo. 

Recosto-me, e a hora dorme. 
Corre-me o que a noite enorme 
Atribui à minha mágoa, 
Como um ser múrmuro de água. 

Ninguém; a noite e o luar. 
Nada; nem saber pensar. 
Raie o dia, ou morra eu 
Volte no oriente do céu 
O sol ou não volte mais, 
Só sempre os tédios iguais 
E as horas, calem o medo, 
Como o rio entre o arvoredo, 
De noturna consistência, 
Com fluida, vaga insistência.
 O mal é haver consciência.
                                 Noite Calma   
                                                   Poemas de Bernardo Soares                                                                                                 

















































A manhã raia. Não: a manhã não raia. 
A manhã é uma coisa abstracta, está, não é uma coisa. 
Começamos a ver o sol, a esta hora, aqui. 
Se o sol matutino dando nas árvores é belo, 
É tão belo se chamarmos à manhã «Começarmos a ver o sol» 
Como o é se lhe chamarmos a manhã, 
Por isso se não há vantagem em por nomes errados às coisas, 
Devemos nunca lhes por nomes alguns.
-                          A Manhã Raia  -
                                                      Poemas de Alberto Caeiro                                                                         











































   TITO COLAÇO   
          20.07.2013          















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