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sábado, 20 de fevereiro de 2016

The `problem´ of life...














































“There are two ways to be fooled. 
One is to believe what isn't true; 
the other is to refuse 
to believe what is true.” 

Søren Kierkegaard





The `problem´
of
life...








There are many people who reach their conclusions about life like schoolboys: 
they cheat their master by copying the answer out of a book without having worked the sum out for themselves.” 

Soren Kierkegaard














O problema do viver!



"Penso que uma das nossas principais dificuldades é a incapacidade de resolvermos os problemas humanos. Defrontamo-nos com numerosos problemas, um após outro, e em geral parecemos incapazes de resolvê-los. E é possível adquirir essa capacidade através do `processo´ do tempo, ou ela nasce, não tanto pelo processo temporal, porém pela directa compreensão do problema? 
A meu ver, não se trata de cultivar a capacidade, porém, antes, de aplicar uma atenção que não seja distraída. Vou explicar o que quero dizer.

Todos temos muitos problemas humanos em conflito entre si, problemas sociais, económicos, religiosos, etc., e estamos conscientes desses problemas, não só individualmente, na nossa vida particular, mas também colectivamente. Vemos que a actual sociedade está em perene conflito entre si, e que internamente há sempre o factor de deterioração; e também vemos que na nossa mente, por mais ardente e vigilante que seja, se encontra em contínuo movimento esse mesmo processo de deterioração.

Ora, é possível a mente atender a todos esses problemas de forma global, e não parcialmente, um a um? Compreendeis? Estamos frente a frente com este complexo de problemas e pensamos que poderemos resolvê-lo se atacarmos os problemas um a um, procurando fazer algo em relação com a parte, desassociada do todo. O político, por exemplo, sempre atende a uma parte e não ao todo, de modo que nunca trará a paz, embora fale a seu respeito. Isto é como podar um ramo quando as raízes da árvore não recebem nutrição adequada, rega suficiente, etc.

Portanto, o importante é perceber que o complexo problema da existência humana não pode ser resolvido a pouco e pouco, uma parte de cada vez, mas que deve ser atacado por inteiro, como um todo, e parece-me que aí é que reside a nossa dificuldade. Pela educação, pela tradição, criamos a divisão de vida religiosa e vida mundana, de uma fórmula espiritual e uma técnica material, e com essa visão fragmentária estamos a tentar resolver os nossos numerosos conflitos. Nessa visão fragmentária, penso, está a causa real da multiplicação dos nossos conflitos, e não na falta de capacidade para atendermos ao problema. Supomos que essa capacidade nos falta, e por isso, recorremos a uma certa autoridade para nos ajudar, praticamos disciplinas várias, etc.; mas não acho que o problema seja este. O problema não é o cultivo de determinada técnica, ou o seguir de certo caminho, mas sim, perceber que não nos estamos a aplicar à vida como uma totalidade.

Não há coisa tal como uma existência isolada. Nada pode existir no isolamento, porque tudo está relacionado entre si. Se percebermos a realidade disso, realmente, e não apenas intelectualmente, isto é, se a mente puder olhar todo o complexo da existência e perceber que ela é uma totalidade “inter-relacionada” (e isso não é criar uma série de divisões e compreensões parciais), penso que então atenderemos aos nossos problemas de um ponto de vista bem diferente.

Assim, pode a mente aliviar-se da sua maneira de pensar hindu, cristã ou budista? Pode cessar de pensar à maneira do político, do homem ambicioso, do homem virtuoso, etc., e nunca funcionar parcialmente? Pode deixar de olhar a vida fragmentariamente? Podeis libertar-vos, por exemplo, da ideia de que sois hindu, americano, russo, ou comunista, libertar-vos não só da palavra, mas também de todo o conteúdo da palavra, de toda a tradição e modo de ver, para pensardes como ente humano a quem cabe resolver o complexo problema da existência? 
Ora, por certo, a vida deve ser considerada não de acordo com um dado padrão, sistema ou ideologia, mas como um todo integral; e invariavelmente, surge a pergunta: `Como fazer isso, qual o método?´

Ora, não há `como´. Há `como´ no cultivo de uma maneira de ver fragmentária; mas a perspectiva completa, na qual se vê imediatamente o problema total da existência, não pode ser cultivada por método nenhum. Que fazer, então? Não há dúvida que o necessário é que vós, que nascestes neste país, que fostes educados ou condicionados segundo certas tradições e crenças, percebais que a vossa educação, o vosso condicionamento, vos impede o percebimento do todo, do ente humano total, com os seus numerosos problemas. Isto é, deveis ser capazes de atender aos problemas da vida, não como os atenderia o comunista, o socialista, o hinduísta, ou a chamada pessoa religiosa, porém como um ser humano que está constantemente correspondendo ao desafio de maneira nova. 
A mente que não corresponde de maneira plena e adequada ao desafio da vida não tarda a encontrar-se num estado de deterioração. Só aquela que está habituada a enfrentar com êxito esse desafio e quanto dela se exige, só essa mente não se deteriora.

Enquanto a mente pensa em termos relativos à parte, e não corresponde ao complexo total da existência, não será capaz de resolver os problemas humanos, por mais competente que ela seja no campo político, económico ou no chamado terreno religioso. A mente cujo pensar é fragmentário, parcial, não pode corresponder ao desafio da vida com vigor, com clareza; a sua reacção é incompleta, inadequada, e é essa a mente que contém em si o factor deteriorante. Se vós e eu percebermos esse facto, percebermos realmente a sua verdade, é então necessária alguma técnica? Entendeis?

O importante, por certo, é perceber-se a necessidade de nos abeirarmos da vida de maneira nova, não com os preconceitos do hinduísmo, do comunismo e todos os demais `ismos´, e que significa que a nossa mente não deve pensar em termos do `velho´, não deve criar um futuro padrão baseado no `velho´. 

Devemos ser capazes de abeirar-nos do problema, seja ele qual for, com uma mente inteiramente desprovida de uma perspectiva fragmentária, `separatista´ ou parcial; e acho que este é o básico problema que o mundo enfrenta. Nós não somos hindus, nem americanos, nem húngaros: somos seres humanos. Esta é nossa Terra, onde devemos viver totalmente, e não podemos viver uma vida total se estamos a pensar como cristãos, budistas, comunistas, ou o que mais seja.
Agora, se escutastes realmente isto, se efectivamente o percebeis, se sentis completamente a sua necessidade, a vossa mente já está então livre do condicionamento do passado. E quando esse condicionamento se manifesta, sabeis como cuidar dele, porque a vossa mente está a pensar em termos do todo e não da parte. Para corresponder de maneira nova a qualquer desafio (e um desafio é sempre novo), deve a mente esvaziar-se completamente do passado. O passado não pode ser ressuscitado. A ideia de reerguer uma velha religião, por mais fascinante que pareça, é em verdade prejudicial. Uma coisa que está morta não pode ser ressuscitada, e religião não é questão de `ressurgimento´ ( do inglês`Revival´: renovado interesse na religião, após um período de indiferença e declínio). 
Religião é algo inteiramente diverso do condicionamento social da mente. Um homem que é muçulmano, hindu, budista, ou cristão, e que por esse caminho busca a Realidade, nunca a encontrará. Não há caminho para Deus. Os caminhos foram inventados pelo homem pela sua própria conveniência, e por mais diligente que siga o caminho para o qual sua mente foi condicionada, nunca encontrará ele a Realidade, porque o seu pensar é parcial; e é por isso que ele desconhece a essência do amor. O amor não é coisa da mente, e só se pode compreender a sua totalidade quando a mente é capaz de encarar a vida como um todo e não como parte.

Há várias perguntas, que passarei a considerar, e fazendo-o, não vamos tentar encontrar uma solução para o problema, mas sim, pensar juntos no problema. Buscamos solução quando não compreendemos o problema. Se vós e eu compreendemos o problema, não há necessidade de solução; mas a mente que busca uma resposta, que espera uma solução, só fará o problema crescer, porquanto se está a apartar dele, não está realmente interessada no problema em si.

Esta é uma coisa que acho muito importante compreender e sentir a sua verdade: que a resposta, a solução de um problema se encontra no próprio problema, e não fora dele. A mente que busca solução não está interessada no problema: está interessada na solução; por isso, é incapaz de considerar o problema e de compreendê-lo. Tampouco a mente é capaz de compreender o problema, se começa com uma conclusão. Por certo, a mente que pensa a partir de uma conclusão não está a pensar, em absoluto. Se tenho uma conclusão a respeito de como o amor deve ser e do que não deve ser, e daí inicio o meu processo de pensar, é bem óbvio que a minha mente não está a pensar; apenas se move de conclusão para conclusão, e é isso o que faz a mente de quase todos. Porque nunca compreenderam o que é amar, a sua mente funciona apenas na esfera intelectual das conclusões, e por conseguinte, o seu mundo é estéril.

Assim, ao considerarmos estas perguntas, não estaremos a procurar respostas, e tende a bondade de tomar nota disto. Uma resposta pode-se obter a preço reduzido: podeis encontrá-la em qualquer livro ou `comprá-la´ de uma autoridade, ofertai-lhe uma grinalda ou dai-lhe algum dinheiro, e tereis a desejada resposta. O homem que realmente deseja compreender um problema tem de afastar de si toda a tentação de achar a resposta; mas esta não é a única dificuldade. Ele deve também começar sem conclusão alguma. A mente que leva a carga de uma conclusão é incapaz de considerar o problema, e por conseguinte, só poderá aumentá-lo e multiplicá-lo.

Pergunta: O sono é um período de repouso para o espírito e o corpo. O que é que provoca os sonhos?

Krishnamurti: O que é um sonho, e por que sonhamos? E é possível não sonhar nada? Sabemos que sonhamos e que há várias espécies de sonho. Certos sonhos são muito superficiais, enquanto outros têm profunda significação, e como somos incapazes de compreender as suas implicações, recorremos ao psicólogo para obter uma interpretação; mas o intérprete dos sonhos evidentemente os interpreta consoante o próprio condicionamento, e isso significa que nos tornamos escravos do intérprete. Espero que o estejais a perceber. Primeiro, há um sonho, e em seguida, o esforço para descobrir o significado do sonho; e finalmente, há a questão de se a mente tem mesmo necessidade de sonhar, podendo ser este o problema realmente importante, e não o outro.

Notai, por favor, que estamos a pensar juntos neste problema. Observai a vossa própria mente em funcionamento: não fiqueis meramente a escutar as minhas palavras. Estou a descrever o processo de sonhar, mas se vos contentais com a descrição, ficareis afinal sem compreender e só vos restarão as cinzas das palavras.

Nós sonhamos. O que significa isso? Quando o organismo físico adormece, a mente continua a funcionar, e esse funcionamento da mente durante o sono se manifesta nos sonhos, mas isso não significa que a mente não esteja a funcionar se não sonhamos. A mente, não são apenas os níveis superficiais da consciência, é também o inconsciente e, ao dormirmos, ela começa a sonhar. Por quê?

Agora, o que se passa durante o dia quando a mente não está a sonhar, quando pelo menos pensa que não está a sonhar? O que se passa realmente? Nos níveis superficiais a mente se ocupa com dada tarefa, em aprender determinada técnica, com o que quer que seja; está activa, constantemente ocupada com muitas coisas. Assim ocupada durante o dia, a mente superficial não se abre às comunicações do inconsciente, como é óbvio; pois se está ocupada, como pode dar atenção a outra coisa que não a sua própria ocupação? Ela se fecha, não só para o inconsciente, mas também para a extraordinária beleza do céu, as maravilhas da Terra, a medonha pobreza e esqualidez existentes em torno de nós. A mente ocupada é incapaz de ser sensível. Mas, quando o organismo físico adormece e a mente superficial, cansada das ocupações do dia, se tornou relativamente quieta, então nessa quietude, ela pode receber as comunicações do inconsciente. Essas comunicações assumem a forma de símbolos, visões, ideias, sonhos. É o que de facto acontece, e não há nada de misterioso nisso. Podemos pensar que estamos a ter experiências extraordinárias, encontrando-nos com o Mestre e outras tolices que tais, mas não há nada disso.
O inconsciente está tão condicionado como o consciente, e ele projecta certas ideias na forma de sonhos. É isso o que realmente sucede. A mente consciente, que está ocupada durante o dia, fica quieta durante o sono, e assim, as comunicações do inconsciente se projectam nela; e ao despertardes, dizeis: `Tive um sonho´. Desejais então descobrir o significado do sonho e recorreis a uma certa autoridade ou tentais vós mesmos interpretá-lo.

Esse é um `processo´. Há ainda outro `processo´, embora eu não saiba se ele já vos ocorreu: uma pessoa sonha, e ao mesmo tempo, se processa a interpretação do sonho, de modo que, ao despertar, não há mais necessidade de nenhuma interpretação.

Estais a seguir tudo isso apenas no domínio verbal ou estais realmente a penetrar e sentir o que se está a dizer? 
Porque, se deveras não sentirdes, estareis apenas a escutar as palavras e, no fim, direis: `Escutei-vos, mas nada ganhei com isso´. Exactamente; porque não escutastes com a intenção de descobrir por vós mesmos, ao observar a vossa mente em funcionamento.

Assim, o inconsciente, que é um repositório de memórias raciais, padrões culturais, experiências inumeráveis, tanto individuais como colectivas, deseja comunicar algo à mente consciente; mas esta, estando activa, ocupada, durante o dia, é incapaz de receber comunicações do inconsciente, a não ser na forma de sonhos, quando o organismo físico dorme.

A seguir, vem a pergunta: A mente tem mesmo necessidade de sonhar? Se a vossa mente estiver vigilante durante o dia, entendei, senhores, que não se trata de como estar vigilante, se estiver apenas vigilante, bem desperta, e não meramente ocupada, a observar o movimento de uma árvore ou de um pássaro, o sorriso de uma criança, a postura de um mendigo, a observar a vossa própria ocupação, a vossa rotina, a vossa reacção ao que diz o vosso patrão, a observar a maneira como tratais os vossos criados e cortejais os favores dos ricos, se observais a tudo isso, se sois realmente sensível a tudo isso, estais então a receber comunicações do inconsciente a todas as horas. Este não é um processo complicado. Estais desperto no nível superficial, e ao mesmo tempo, o inconsciente, que é o resíduo do passado, vos está a transmitir coisas, como uma enciclopédia. O consciente já não é uma coisa separada do inconsciente, na qual o inconsciente terá de projectar certas ideias durante o sono. 
Assim sendo, conforme o grau em que estiverdes desperto, vigilante, que necessidade há de sonhar? Está claro isto? 
A mente se mostra então sobremodo sensível, durante o dia, recebendo e compreendendo, momento por momento, sem nada reter nem acumular. Escutai bem isso, por favor. No momento em que acumulais, fica-vos um resíduo que se tornará sonho, o qual terá de ser interpretado. A mente sensível não acumula; mas a mente que acumulou é insensível, e essa acumulação é o inconsciente, que tem necessidade de descarregar-se, `limpar-se´ e por isso, começa a projectar símbolos, etc.

Se estais desperto, se sois sensível, não só ao que se está a passar no vosso próprio processo de pensamento, mas a tudo o que vos cerca; se quando ledes os jornais ou os vossos livros sagrados, estais consciente de quanta estupidez neles se contém; se quando estudais a vossa particular autoridade, percebeis as suas pretensões, o seu desejo de poder, posição, e ao mesmo tempo o vosso próprio desejo de poder, posição, autoridade, se estais desperto para tudo isso, descobrireis então que já não haverá divisão entre consciente e inconsciente. 
A experiência não deixa então resíduo algum, e tal significa que não há necessidade de sonhar nem de interpretação de sonhos.

O que acontece à mente que se mostra tão sensível, durante o dia, que nada retém, nada acumula? O que acontece quando essa mente adormece? Está adormecida? Compreendeis? O organismo físico dorme, naturalmente, pois necessita de repouso. Mas necessita de repouso a mente que esteve tão desperta durante o dia? Ou continua ela no mesmo estado de sensibilidade, porém livre das numerosas impressões externas, e assim apta a penetrar em grandes profundidades, sem ser impelida por nenhum incentivo, e capaz, portanto, quando o organismo físico desperta, de perceber algo totalmente novo?

Tudo isso são simples palavras para vós, naturalmente, uma vez que nunca experimentastes tais coisas. Nunca estivestes sensíveis durante o dia, realmente activos, `activos´ não no sentido de tagarelar, mexericar, executar tarefas rotineiras, etc. A mente activa é agudamente sensível tanto ao belo como ao feio, e para ela já não há divisão de vigília e sono, de consciente e inconsciente. A mente funciona, então, como um todo integral.


Pergunta: Todos temos momentos de claridade interior, mas parecemos incapazes de relacionar esses momentos lúcidos com os nossos problemas pessoais, nacionais e internacionais. A menos que possamos estabelecer uma relação entre a lucidez e a acção, que valor tem esta claridade?


Krishnamurti: Todos nós temos momentos de claridade, mas essa claridade é uma coisa rara e a maior parte da nossa vida se passa num estado de contradição, confusão e luta. E o interrogante indaga: `Como posso eu, que conheço de momentos de claridade, aplicar esta claridade à confusão em que vivo? De que vale essa lucidez, se não sei relacioná-la com minha acção diária?´.

Ora, essa é uma pergunta incorrecta, não achais? E se fazeis uma pergunta incorrecta, só podeis ter uma resposta incorrecta. A vossa pergunta significa: Os nossos momentos de claridade podem ajudar-nos a introduzir ordem nas nossas actividades, para vivermos uma vida melhor? 
Eu digo que tal pergunta é incorrecta, porque só tendes claridade quando não há confusão. Não se pode relacionar a claridade com a confusão. Se o fazemos, ficamos ainda mais confusos. Entendeis? 
A clareza só vem quando a mente não se ocupa de si, das suas virtudes, dos seus deuses, das suas insignificantes disputas, ambições das ninharias da sua existência. Não estando a mente ocupada, há clareza. Tendo sentido essa clareza, dizeis: `Como posso relacioná-la com a minha ambição?´. Naturalmente, não podeis fazer isso. Essa clareza é sem valor em relação à vossa ambição; entretanto, é isto o que todos os líderes político-religiosos dizem: Que Deus deve intervir na nossa vida, deve guiar-nos, mostrar-nos como sermos livres ou espirituais.
Mas Deus não está interessado na nossa mente insignificante, é claro, porque é só quando a mente deixa de funcionar dentro da sua própria estrutura que existe clareza.

A nossa função, pois, não é de procurar a clareza. A mente pequenina não pode ver o imensurável. O que pode fazer é só libertar-se da sua pequenez, quer dizer, deixar de ser ambiciosa. Um homem ambicioso pode falar a respeito de Deus, mas isso é mera artimanha política do explorador. 

É só quando deixamos de ser invejosos, ávidos, quando temos o amor real e não ideias relativas ao amor, só então existe uma clareza não relacionada com o que é pequeno. Compreendeis, senhores? Como pode uma mente insignificante, uma mente confusa, contraditória, ambiciosa, vã, insensata, medíocre, compreender aquilo que é imenso, ilimitado? 

Temos ocasionais vislumbres de algo amplo, cheio, rico, e dizemos: `Como posso relacionar esse estado com a minha mente pequenina?´. Ao fazermos uma pergunta incorrecta, teremos uma resposta incorrecta; e a nossa vida está cheia de respostas incorrectas, porque estamos sempre a fazer perguntas erróneas.


Pergunta: O nosso medo mais constante, durante a vida, é o medo da morte. Tememos a morte porque não desejamos deixar a vida, ou porque não sabemos o que existe além?

Krishnamurti: Senhor, esta é uma questão muito complexa, que envolve muitos problemas: o problema de karma, ou causa-efeito, o problema da solidão completa, e todo o problema referente ao espiritismo, materializações, de se tentar tornar a ver alguém que conhecemos e que pensamos que esteja a viver `do outro lado´. E envolve também a crença na reencarnação ou em alguma forma de ressurreição. Esta questão, pois, abrange outras mais secundárias, que não podemos agora examinar. Talvez possamos fazê-lo noutra ocasião. Assim consideremos o problema principal, porque, se pudermos compreendê-lo, ficaremos aptos a tratar das questões secundárias.

Mais uma vez peço-vos não apenas escutardes as minhas palavras, mas também sentirdes o que se está a dizer; porque o que vos interessa é a vossa vida, e não a minha. Estarei de partida daqui a poucos dias, o que talvez seja bom, e o que vos interessa não é a minha pessoa, porém a vossa existência de cada dia, com as tribulações, o medo, a agitação, a ansiedade e as outras e incontáveis coisas que constituem a vossa vida. Portanto, este problema é vosso e vós é que tendes de cuidar dele; mesmo porque não estais aqui simplesmente para escutar as minhas palavras.

Ora, o que é viver e o que é morrer, e por que separamos o viver do morrer? O viver está separado do `processo´ de morrer? Este é o primeiro problema contido na pergunta, não? Se compreendo realmente o problema primário, poderei então aplicar-me de todo o coração às questões secundárias e resolvê-las; mas se não compreendo o problema primário, não poderei tratar dos secundários.
O problema primário é este: Sei o que é viver? E, se sei o que é viver, posso ter medo de morrer? 
Certo, se sei o que é viver, então, nesse mesmo viver, a minha mente compreenderá o inteiro significado do morrer. Vamos, pois, agora averiguar o que é viver.

O que entendemos por viver? E, estamos a viver? 
O viver, para a maioria de nós, é uma rotina, uma série de acontecimentos repetidos: ir para o escritório, sexo, recitar um certo mantra, seguir uma autoridade, acumular e traduzir nos nossos próprios termos a experiência e o saber de outrem pensando tratar-se de coisa original, etc. Todo esse processo é o que chamamos `viver´, e se estais conscientes dele, se atentamente o observais, vereis que nele nada há de original, primário, não premeditado. 
Estais cheio do Gita, da Bíblia, repetis meramente o que disse Cristo, o que disse Krishna; sois impelidos pelo sexo ou pelo desejo de preencher alguma ambição, com todas as frustrações e horrores que acarreta. Gerais um filho e tentais, através desse filho, dos vossos haveres, imortalizar-vos; o vosso filho é importante, porque é o continuador do vosso nome. Compreendeis, senhores? Tudo isso é o que chamamos `viver´.

Ora, isso é viver? O viver é um `processo´ de satisfação e sofrimento, a mera série de eventos, ou o viver é algo inteiramente diferente? E que entendemos por “morrer”? Vendo que o organismo físico morre por causa do longo desgaste, por doença ou acidente, a mente diz: `Eu acumulei, sofri, adquiri virtude, trabalhei para a pátria, para Deus; e o que me acontecerá quando perecer o organismo físico? Existe no além uma continuidade?´. 
Há no nosso viver uma continuidade que é mera repetição. Compreendeis, senhores? Se examinais a vossa própria mente, o vosso próprio coração, percebeis algo vivente, ou meramente um processo de repetição? Há uma repetição, uma continuidade, no chamado viver, e dizeis: `Quando eu morrer, essa repetição, esse centro de continuidade, deverá continuar´. Não é exacto?

Expressando-o diferentemente, o `eu´, que aprendeu, que sofreu, que acumulou, não se preencheu e dizeis: `Não se lhe deve dar outra oportunidade?´. 
O `eu´, pois, é uma entidade complexa, composta de memória acumulada, e é isso que desejais que continue. Podeis pensar que existe um Atman, uma entidade transcendente ao tempo; mas essa entidade está ainda dentro da esfera do pensamento e, por conseguinte, faz parte do processo da continuidade. O que vos interessa é uma continuação, e por isso temeis o findar. 
Dizeis: `Vivi, trabalhei muito, e se com a morte tenho de acabar, que vale tudo isso?´. E, assim, ou vos tornais racionalista e vos desembaraçais da questão da morte intelectualmente, ou inventais uma confortante teoria chamada `reencarnação´ e aí vos deixais ficar. Estou apenas a mostrar o inteiro processo de operação da mente.

Quero saber o que é a morte, assim como sei o que é viver. Vejo que a repetição, que encerra a carga da tradição, da memória, não é viver; e porque percebo a falsidade ou a verdade sobre o não-viver, sei o que é viver. Percebeis o que estou a dizer? Está claro? A mente presa na rede da repetição não está viva. Percebo esta verdade; por conseguinte, estou livre da repetição. Tende a bondade de escutar.

Sei que viver não é uma repetição; é algo incrivelmente novo a cada minuto, algo nunca dantes experimentado. 
E como sei o que é viver, no real sentido da palavra, devo também saber o que é morrer. Ora, posso experimentar o morrer, assim como sei o que é viver? Pelo viver posso experimentar o morrer? Se não posso, não estou a viver. Compreendeis? O morrer é uma parte do viver, e se só compreendo a parte, sou insensível ao todo. 
Por conseguinte, devo compreender, devo saber o que significa a morte, experimentá-la, não em momentos de acidente ou doença, quando o mecanismo físico se consome, mas enquanto estou vivo, sadio, activo.

Senhores, isto não é uma teoria, isto não é oratória, nem estas reuniões se destinam a estimular-vos intelectualmente; se vos estimulam, sereis ulteriormente entes humanos embotados.

Desejo, pois saber o que significa morrer. Morrer é chegar ao fim, não só do organismo físico, mas também da mente que pensa em termos de continuidade. Morrer é deixar de existir; é a cessação da existência como a conhecemos, a qual é uma continuidade. Compreendeis, senhores? 
`A minha casa´, `os meus haveres´, `o meu emprego´, `a minha mulher´, `as minhas virtudes´, etc. etc., é uma continuidade. Posso interromper, conscientemente, com pleno sentimento do que estou a fazer, todo esse processo de continuidade?

Senhores, não concordeis nem discordeis, não digais `posso´ ou `não posso´, porque não sabeis o que isso significa. Não sabeis o que significa viver; se soubésseis, nunca faríeis uma pergunta sobre o que significa morrer, porque então não haveria continuidade nenhuma. Morrer é esse viver sem continuidade. Por certo, uma mente que está viva acolhe a morte ou entra na `mansão da morte´, porquanto deve conhecer o perfeito significado desta palavra. A essa mente não interessa a reencarnação, quer verdadeira, quer falsa, pois está a pensar numa esfera completamente diferente.


Por certo, o que tem continuidade não é capaz de ser criador. Só no que finda existe possibilidade de renovação. Compreendeis, senhores? A mente que vive, que tem continuidade na memória, que pode ela saber acerca do que é novo? Apenas poderá conhecer a sua própria vaidade, as suas próprias projecções. Só há renovação para a mente que morre para todos os dias passados, que morre verdadeiramente, de modo que nenhum senso tem de propriedade. Podeis então viver numa casa, porém ela nenhum valor tem como `coisa vossa´; vós a mantendes limpa e bem arrumada, mas nenhuma identificação tendes com ela. 
De modo semelhante, com o vosso filho, a vossa filha, a vossa mulher. Esta não-identificação é amor. Por conseguinte, a mente que nenhuma identificação tem mediante a continuidade é uma mente realmente criadora, porém esta não é a criação consistente em escrever livros, conceber novos planos, etc. A mente criadora é ilimitada, e só ela não tem medo de viver, e por conseguinte, não teme morrer."



Jiddu Krishnamurti
"O homem livre"




















































Do you know who you are?
Will your deeds affect your conscience?
Are you thinking with your heart?
Or does your mind have the influence?

Now it's time for a change
You've heard it all before
Now stop this retardation!

Pollution in the seas
To hot cause global warning
Tap water will soon cease
Keep your mouth shut
While you're showering

At first, tiny things
A gradual increasing
A mother nature's vengeance

This wonderful world, on edge of falling
Our wonderful earth, there's no point of denying
This wonderful world, on edge of falling
Our great blue earth, it's crying and it's dying

Molested as a child
Brought up to be a badass
Can we blame them for their faults?
When they've been hurt as he has
A ragged screaming man
Proclaiming Armageddon
- Beware the end is coming!

This wonderful world...

Now you think I will tell you which way to go
The answers that I keep probably won't show
But I have learned that every effort counts

This wonderful world...














"When I consider the brief span of my life, swallowed up in the eternity before and after, the little space which I fill, and even can see, engulfed in the infinite immensity of spaces of which I am ignorant, and which know me not, I am frightened, and am astonished at being here rather than there; for there is no reason why here rather than there, now rather than then."

Blaise Pascal












"Imagine a number of men in chains, all under sentence of death, some of whom are each day butchered in the sight of the others; those remaining see their own condition in that of their fellows, and looking at each other with grief and despair await their turn. This is an image of the human condition."

Blaise Pascal


























































t.



































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