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sábado, 4 de janeiro de 2014

Don´t forget! keep your mind strong!





































Sim.
Noutro tempo.
Não! Não sou saudosista, até porque saudade é algo que apaguei da memória, para não poder recordar do que não fui e não foste.
Do que não vivi e não viveste.
Do que não tive e não tiveste.
Do que não quis e não quiseste.
Não! Não sou saudosista! Até porque saudade é algo que não existe, porque fui e tu foste.
Eu vivi e tu viveste.
Eu tive e tu tiveste.
Eu quis e tu quiseste, e sempre foi assim, porquê recordar o que ainda é?
Sim. Foi o outro tempo.


TITO COLAÇO (TC)
03.01.2014









 A vantagem do esquecimento 

O esquecimento não é só uma vis inertioe, como crêem os espíritos superfinos; antes é um poder activo, uma faculdade moderadora, à qual devemos o facto de que tudo quanto nos acontece na vida, tudo quanto absorvemos, se apresenta à nossa consciência durante o estado da «digestão» (que poderia chamar-se absorção física), do mesmo modo que o multíplice processo da assimilação corporal tão pouco fatiga a consciência. 
Fechar de quando em quando as portas e janelas da consciência, permanecer insensível às ruidosas lutas do mundo subterrâneo dos nossos órgãos; fazer silêncio e tábua rasa da nossa consciência, a fim de que aí haja lugar para as funções mais nobres para governar, para rever, para pressentir (porque o nosso organismo é uma verdadeira oligarquia): eis aqui, repito, o ofício desta faculdade activa, desta vigilante guarda encarregada de manter a ordem física, a tranquilidade, a etiqueta. 
Donde se coligue que nenhuma felicidade, nenhuma serenidade, nenhuma esperança, nenhum gozo presente poderiam existir sem a faculdade do esquecimento. 


Friedrich Nietzsche
"A Genealogia da Moral"






























 Esquecimento esvaziante 


A variedade das nossas emoções torna claro que cada homem guarda dentro de si os celeiros do contentamento e do descontentamento: os jarros das coisas boas e más não estão depositados «na soleira de Zeus», mas na alma. 
O néscio negligencia e desdenha as coisas boas que lá estão porque a sua imaginação acha-se sempre voltada para o futuro; o sensato, porém, torna os factos pregressos vividamente presentes com recordá-los. 
O presente oferece-se ao toque da nossa mão apenas por um instante e logo nos ilude os sentidos; os tolos julgam que ele não é mais nosso, que não mais nos pertence. 
Há a pintura de um cordoeiro no inferno, com um asno a engolir toda a corda feita por ele, à medida que ele a entretece; assim é a multidão acometida e dominada pelo esquecimento insensato e ingrato, que apaga cada acto, cada sucesso, cada experiência aprazível de bem-estar, de camaradagem e de deleite.
O esquecimento não consente à vida desenvolver-se unitariamente, o passado entretecido com o presente, mas separa o ontem do hoje, como se fossem de diferente substância, e o hoje do amanhã, como se não fossem o mesmo; transforma toda a ocorrência em não-ocorrência. 
A lógica do sofista, que nega o princípio do desenvolvimento fundado em que o estar-se em fluxo constante transformaria cada um de nós num outro homem, faz lembrar os que não retêm nem acalentam o passado na memória, mas permitem que ele se esvaia, tornando-se dessarte vazios e empobrecidos, dia por dia, e dependentes do amanhã, como se tudo quanto ocorreu ontem e anteontem não tivesse ocorrido ou fosse destituído de importância para eles. 


Plutarco
"Do contentamento"





































A memória é como o ventre da alma


Encerro também na memória os afectos da minha alma, não da maneira como os sente a própria alma, quando os experimenta, mas de outra muito diferente, segundo o exige a força da memória. 
Não é isto para admirar, tratando-se do corpo: porque o espírito é uma coisa e o corpo é outra. 
Por isso, se recordo, cheio de gozo, as dores passadas do corpo, não é de admirar. Aqui, porém, o espírito é a memória. Efectivamente, quando confiamos a alguém qualquer negócio, para que se lhe grave na memóra, dizemos-lhe: «vê lá, grava-o bem no teu espírito». E quando nos esquecemos, exclamamos: «não o conservei no espírito», ou então: «escapou-se-me do espírito»; portanto, chamamos espírito à própria memória. 
Sendo assim, porque será que, ao evocar com alegria as minhas tristezas passadas, a alma contém a alegria e a memória a tristeza, de modo que a minha alma se regozija com a alegria que em si tem e a memória se não entristece com a tristeza que em si possui? 
Será porque não faz parte da alma? 
Quem se atreverá a afirmá-lo?
Não há dúvida que a memória é como o ventre da alma. 
A alegria, porém, e a tristeza são o seu alimento, doce ou amargo. Quando tais emoções se confiam à memória, podem ali encerrar-se depois de terem passado, por assim dizer, para esse estômago; mas não podem ter sabor. É ridículo considerar estas coisas como semelhantes. Contudo, também não são inteiramente dissemelhantes. 
Reparai que me apoio na memória, quando afirmo que são quatro as perturbações da alma: o desejo, a alegria, o medo e a tristeza. Qualquer que seja o raciocínio que possa fazer, dividindo cada uma delas pelas espécies dos seus géneros e definindo-as, aí encontro que dizer e declaro-o depois. Mas não me altero com nenhuma daquelas perturbações, quando as relembro com a memória. Ainda antes de eu as recordar e revolver, já lá estavam. Por isso consegui, mediante a lembrança, arrancá-las dali. 
Assim como a comida, graças à digestão, sai do estômago, assim também elas saem do fundo da memória, devido à lembrança. Então, porque é que o que discute, ou aquele que delas se vai recordando, não sente, na boca do pensamento, a doçura da alegria, nem a amargura da tristeza? 
Porventura nisto é dissemelhante o que não é semelhante em todos os seus aspectos? 
Quem em nós falaria voluntariamente da tristeza e do temor, se fôssemos obrigados a entristecer-nos e a temer, sempre que falamos de tristeza ou temor? 
Contudo, não os traríamos à conversa se não encontrássemos na nossa memória, não só os sons destas palavras, conforme às imagens gravadas em nós pelos sentimentos corporais, mas também a noção desses mesmos sentimentos. 
As noções não as alcançamos por nenhuma porta da carne, mas foi o espírito que, pela experiência das próprias emoções, as sentiu e confiou à memória; ou então foi a própria memória que as reteve sem que ninguém lhas entregasse. 


Santo Agostinho
"Confissões"




































     A memória     


Quanto mais algo é inteligível, mais facilmente se retém, e, ao contrário, quanto menos, mais facilmente o esquecemos. 
Por exemplo, se eu transmitir a alguém uma porção de palavras soltas, muito mais dificilmente as reterá do que se apresentar as mesmas palavras em forma de narração. 
Reforçada também sem auxílio do intelecto, a saber, pela força mediante a qual a imaginação ou o sentido a que chamam comum é afectado por alguma coisa singular corpórea. Digo singular, pois a imaginação só é afectada por coisas singulares. 
Com efeito, se alguém ler, por exemplo, só uma novela de amor, retê-la-á muito bem enquanto não ler muitas outras desse género, porque então vigora sozinha na imaginação; mas, se são mais do género, imaginam-se todas juntas e facilmente são confundidas.
Digo também corpórea, pois a imaginação só é afectada por corpos. Como, portanto, a memória é fortalecida pelo intelecto e também sem ele, conclui-se que é algo diverso do intelecto e que não há nenhuma memória nem esquecimento a respeito do intelecto visto em si. 
O
 que será, pois, a memória? 
Nada mais do que a sensação das impressões do cérebro junto com o pensamento de uma determinada duração da sensação; o que também a reminiscência mostra. 
Realmente, nesta a alma pensa nessa sensação, mas não sob uma contínua duração; e assim a ideia desta sensação não é a própria duração da sensação, quer dizer, a própria memória. 
Se, porém, as próprias ideias sofrem alguma corrupção, veremos na filosofia. E se isso parece a alguém muito absurdo, bastará para o nosso propósito que pense ser tanto mais facilmente retida uma coisa quanto mais for singular, como se vê do exemplo da novela que acabamos de dar. 
Além disso, quanto mais uma coisa é inteligível, mais facilmente é retida. Logo, não podemos deixar de reter uma coisa sumamente singular e somente inteligível. 


Baruch Von Espinoza
"Tratado da correcção do intelecto"






































































TITO COLAÇO
IV______I______MMXIV











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