" Aprendi que ao espalhar coisas boas, o vento se encarrega de
trazer outras melhores para mim".
Victor Hugo
É fácil trocar os silêncios, os teus pelos meus.
Difícil é interpretar as palavras, as que não querias dizer e as que acabei por dizer.
É fácil caminhar lado a lado, desde que te encontre.
Difícil é caminhar a distanciar-nos.
É fácil beijar o rosto, se for o teu. Difícil é beijar sem te chegar...
TITO COLAÇO
(baseado em Fernando Pessoa)
A arte da recordação
A memória é não-mediada, e o que vem em seu auxílio vem directamente; a recordação é sempre reflectida.
É por isso que recordar é uma arte.
Como Temístocles, em vez de lembrar, desejo poder esquecer; porém, recordar e esquecer não são opostos.
Não é fácil a arte de recordar, porque a recordação, no momento em que é preparada, pode modificar-se, enquanto a memória se limita a flutuar entre a lembrança certa e a lembrança errada.
Por exemplo, o que é a saudade?
É vir à recordação algo que está na memória. A saudade gera-se simplesmente pelo facto de se estar ausente.
Arte seria conseguir sentir-se saudade sem se estar ausente. Para tanto é preciso estar-se treinado em matéria de ilusão.
Viver numa ilusão, em que o crepúsculo é contínuo e nunca se faz dia, ou alguém ver-se reflectido numa ilusão, não é tão difícil como alguém reflectir-se para dentro de uma ilusão e ser capaz de deixá-la agir sobre si, com todo o poder que é o da ilusão, apesar de se ter pleno conhecimento disso.
A magia de trazer até si o passado não é tão difícil como a de fazer desaparecer o que está presente em benefício da recordação.
É aqui que reside no fundo a arte da recordação e a reflexão elevada à segunda potência.
Soren Kierkegaard
"In Vino Veritas"
TITO COLAÇO
III_____I_____MMXIV
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