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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Living...







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  VIVER...  

Mas, se houver de viver, que seja devagar, 
para quando partir, e corpo deixar, 
no Sempre hei-de existir!

Porque o que aqui deixamos,
meramente sentimentos humanos,
serão a pretensa em se sentir!

Em todos os labirintos desta humana vida,
se cruza o saber e o conhecimento,
acumulado nesta passagem vivida.

Quantos laços existem para requerer,
em tamanha vontade e discernimento
para nesta dimensão poder ser o Ser!



TITO COLAÇO  (TC)
23.01.2014 













    Matéria e Espírito    


Nós hoje estamos ao mesmo tempo na melhor época da humanidade e na pior. Tão depressa sentimos que tudo em nós e em redor marcha uníssono em frente, como subitamente um grande atrito emperra as nossas próprias articulações. 
Há ao mesmo tempo qualquer coisa que nos desacompanha e qualquer coisa que nos anima. 
Há caminhos inteiros que terminam súbito e não há caminho inteiro e vitalício. 
E nós desejamos francamente acertar com a direcção única e onde o único obstáculo seja de verdade o mistério do futuro. 
Todo aquele que se lance mais animado pela palavra espírito, não creia que faz mais do que estar sujeito a uma determinante actual. 
A consciência material, como acontece hoje, dá entrada natural para o campo do espírito. 
Assim também o espírito tem existência vital segundo a qualidade de consciência da matéria. 
O espírito apartando da matéria não é deste mundo. Espírito e matéria confundem-se em vida.
Acontece, porém, que os fugitivos da matéria transformam em si esse unilateralismo ao ingressar no espírito, e ficam outra vez de banda, inversamente agora, mas como antes. 
Ora o espírito não tem mais dimensões do que a matéria; são outras, mas idênticas, que se justapõem, poro com poro. 
Mais digo que quem está saturado da matéria não é o mesmo que aquele que está bem avisado dela; assim é que o fugitivo da matéria há-de forçosamente queimar as asas na própria luz do espírito. 
O espírito como a matéria, ambos juntos, não se prestam a manejar os outros, mas muito simplesmente a animar cada um. 
Sempre que cada qual sinta mais necessidade de espírito do que de conhecimento da matéria, há-de fatalmente cair em abstracção de espírito, isto é, salta fora do seu próprio «controle». 
Do mesmo modo, de nada lhe servirá o «controle» exclusivo da matéria sem a animação própria do espírito. 
Acondicionados o espírito e a matéria em cada indivíduo humano, torna-se possível o seu desenvolvimento, o seu progresso e até o seu máximo de amplidão particular. 
Não há possibilidade de progresso colectivo que não venha justamente iniciado desde as condições pessoais de cada indivíduo humano. 
Isto é, o espírito tomado colectivamente não é senão o ponto de encontro das várias direcções individuais. 
Colectivamente o espírito é o lugar geral da comunicação entre os vários particulares. Porém, partir do espírito tomado colectivamente para atingir e valorizar cada uma das direcções particulares do espírito, é pôr de propósito as coisas de pernas ao ar. 
Pelo contrário, completamente ao contrário, valorizem-se as condições materiais da vida de cada indivíduo humano (digo indivíduo humano, preferívelmente a indivíduo social, e sobretudo para que não se confunda com indivíduo de profissão dependente imediatamente do Estado), proteja o Estado a vida material e quotidiana de cada um e de todos os particulares da colectividade, que uma vez criada essa confiança de cada qual com a vida material de todos os dias, o espírito lá está iminente em cada caso pessoal dos nossos compatriotas e capaz de com todo o seu ineditismo particular de trazer mais luz para os negócios colectivos do que quantos sistemas políticos lha possam garantir. 


Almada Negreiros
"Textos de Intervenção"















































































TITO COLAÇO
XXIII___I___MMXIV








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