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As coisas humanas são efémeras e sem valor
Pensa de contínuo em quantos médicos morreram, eles que tinham tanta vez carregado o sobrolho à cabeceira dos seus doentes, quantos astrólogos que julgaram maravilhar os outros predizendo-lhes a morte, quantos filósofos após uma infinidade de ásperas disputas sobre a morte e a imortalidade, quantos príncipes depois de terem dado a morte a tanta gente; quantos tiranos que, como se fossem imortais, abusaram, com uma arrogância nunca vista, do poder, a ponto de atentarem contra a vida humana.
Quantas cidades, se assim podemos dizer, morreram de raiz: Heliqué, Pompeia, Herculano, e outras que não têm conto!
Enumera agora, um após outro todos aqueles que conheceste.
Este, depois de prestar os últimos serviços àquele, foi posto de pés juntos no leito fúnebre por um terceiro a quem também chegou a sua vez.
E em tão pouco espaço de tempo!
Em suma, as coisas humanas é considerá-las como efémeras e sem valor: ontem, um pouco de greda; amanhã, múmia e um punhado de cinzas.
Esta minúscula duração vive-a a tom com a natureza e chega ao fim com a alma contente: como a azeitona madurinha que tombasse abençoando a terra que a criou e dando graças à árvore que a deixou crescer.
Marco Aurélio
"Pensamentos"
O juízo da perturbação
Se estás aflito por alguma coisa externa, não é ela que te perturba, mas o juízo que dela fazes.
E está em teu poder dissipar esse juízo.
Mas se a dor provém da tua disposição interior, quem te impede de a corrigir?
E se sofres particularmente por não estares a fazer algo que te parece certo, por que não ages, em vez de te lamentares?
Um obstáculo insuperável te o impede?
Não te aflijas, então, pois a causa de não o estares a fazer não depende de ti.
Não vale a pena viver se não o pderes fazer? Parte, então, desta vida satisfeito, como partirias se tivesses logrado êxito no que pretendias fazer, mas sem cólera contra o que se te opôs.
Marco Aurélio
"A fortaleza interior"
TITO COLAÇO
XIV___IV____MMXIV
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