Time speaks...
Time speaks ...
Por que
causa a ignorância nos mantém agarrados com tanta força?
Primeiro,
porque não a repelimos com suficiente energia nem usamos todas as nossas forças
para nos libertarmos dela; depois, porque não confiamos o bastante nas lições
dos sábios nem as interiorizamos como devíamos, antes tratamos uma tão magna
questão de forma leviana.
Como pode
alguém, aliás, aprender suficientemente a lutar contra os vícios se apenas
dedica a esse estudo o tempo que os vícios lhe deixam livre?...
Nenhum de nós aprofunda bastante esta matéria; abordamos o assunto pela rama e, como gente extremamente ocupada, achamos que dedicar umas horas à filosofia é mais do que suficiente. E o que mais nos prejudica é a facilidade com que o nosso amor-próprio se satisfaz. Se encontramos alguém que nos ache homens de bem, homens esclarecidos e irrepreensíveis, logo nos mostramos de acordo! Nem sequer nos contentamos com louvores comedidos: tudo quanto a adulação despudoradamente nos atribui, nós o assumimos como de pleno direito. Se alguém nos declara os melhores e mais sábios do mundo, nós assentimos, mesmo quando sabemos que esse alguém é useiro e vezeiro na mentira!
Nenhum de nós aprofunda bastante esta matéria; abordamos o assunto pela rama e, como gente extremamente ocupada, achamos que dedicar umas horas à filosofia é mais do que suficiente. E o que mais nos prejudica é a facilidade com que o nosso amor-próprio se satisfaz. Se encontramos alguém que nos ache homens de bem, homens esclarecidos e irrepreensíveis, logo nos mostramos de acordo! Nem sequer nos contentamos com louvores comedidos: tudo quanto a adulação despudoradamente nos atribui, nós o assumimos como de pleno direito. Se alguém nos declara os melhores e mais sábios do mundo, nós assentimos, mesmo quando sabemos que esse alguém é useiro e vezeiro na mentira!
A nossa auto-complacência
vai mesmo tão longe que pretendemos ser louvados em nome de princípios que as
nossas acções frontalmente desmentem (...) A consequência é que ninguém mostra
vontade de corrigir o seu carácter, pois cada um se considera a melhor pessoa
deste mundo...
(...)
Esforça-te
por que não te suceda o mesmo que a mim: começar os estudos na velhice. E
esforça-te tanto mais quanto enveredaste por um estudo que dificilmente chegarás
a dominar mesmo na velhice.
“Até que
ponto poderei progredir?” - perguntas-me. Até ao ponto onde chegarem os teus
esforços. De que estás à espera?
O saber
não se obtém por obra do acaso. O dinheiro pode cair-te em sorte, as honras
serem-te oferecidas, os favores e os altos cargos poderão talvez acumular-se
sobre ti: a virtude, essa, não virá ter contigo!
Não é sem
custo, sem grandes esforços, que chegamos a conhecê-la; mas vale bem a pena o
esforço, porquanto de uma só vez se obtêm todos os bens possíveis. De facto, o
único bem é aquele que é conforme à moral; nos valores aceites pela opinião comum
não encontrarás a mínima parcela de verdade ou de certeza.
(...) Cada coisa é avaliada por uma qualidade específica. O valor da videira está na sua produtividade, o do vinho no seu sabor, o do veado na sua rapidez; o que nos interessa nas bestas de carga é a sua força, pois elas apenas servem para isso mesmo: transportar carga. Num cão a primeira qualidade é o faro, se o destinamos a seguir a pista da caça, a velocidade, se queremos que ele persiga as feras, a coragem, se pretendemos que as ataque à dentada. Em cada ser, portanto, há uma qualidade que predomina, para cujo exercício nasce, e em virtude da qual é avaliado. Ora qual é a qualidade suprema do homem?
(...) Cada coisa é avaliada por uma qualidade específica. O valor da videira está na sua produtividade, o do vinho no seu sabor, o do veado na sua rapidez; o que nos interessa nas bestas de carga é a sua força, pois elas apenas servem para isso mesmo: transportar carga. Num cão a primeira qualidade é o faro, se o destinamos a seguir a pista da caça, a velocidade, se queremos que ele persiga as feras, a coragem, se pretendemos que as ataque à dentada. Em cada ser, portanto, há uma qualidade que predomina, para cujo exercício nasce, e em virtude da qual é avaliado. Ora qual é a qualidade suprema do homem?
A razão:
graças a ela o homem supera os outros animais e aproxima-se dos deuses. Por
conseguinte, o bem específico do homem é a razão perfeita, todas as suas
restantes qualidades são-lhe comuns com os animais e as plantas. O homem tem
força: também os leões. É belo: também os pavões. É veloz: também os cavalos.
Não digo que em relação a todas estas qualidades ele seja superado, nem me
interessa qual a qualidade que o homem tem mais desenvolvida, mas sim qual é a
sua qualidade única, específica. O homem tem corpo: também as árvores. Tem
capacidade de se mover instintiva e voluntariamente: os animais e os vermes
também. Tem voz: mas muito mais sonora é a voz do cão, mais estridente a da
águia, mais grave a do touro, mais doce e ágil a do rouxinol. Qual é a
qualidade exclusiva do homem?
A razão:
quando a razão é plena e consumada proporciona ao homem a plenitude. Por
conseguinte, uma vez que cada coisa quando leva à perfeição a sua qualidade
específica se torna admirável e atinge a sua finalidade natural, e uma vez que
a qualidade específica do homem é a razão, o homem torna-se admirável e atinge
a sua finalidade natural quando leva a razão à perfeição máxima. À razão
perfeita chamamos a virtude, a qual é também o bem moral.
(...)
A
velocidade do tempo é infinita, e só quando olhamos para o passado, é que temos
consciência disso. O tempo ilude quem se aplica ao momento presente, de tal
modo é insensível a passagem do seu curso vertiginoso. Queres saber porquê?
Porque
todo o tempo passado se acumula num mesmo lugar; todo o passado é contemplado
em bloco, forma uma totalidade; todo ele se precipita no mesmo abismo. De
resto, não é possível delimitar grandes intervalos nesta nossa vida tão breve.
A
existência humana é um ponto, é menos que um ponto. Só por troça é que a
natureza deu a tão diminuta existência a aparência de uma grande duração,
dividindo-a em infância, em adolescência, em juventude, em período de transição
da juventude à velhice, finalmente em velhice. Tantos períodos num tão exíguo
espaço de tempo!
(...) Habitualmente não me parecia tão veloz a passagem do tempo; agora, porém, parece-me incrivelmente rápida, talvez porque sinto aproximar-se o fim, talvez porque passei a dar-lhe atenção e a avaliar o desgaste que em mim provoca.
Por isso mesmo me causa indignação ver como as pessoas gastam em futilidades a maior parte de uma vida que, mesmo despendida com a maior parcimónia, não seria bastante para as coisas essenciais.
(...) Habitualmente não me parecia tão veloz a passagem do tempo; agora, porém, parece-me incrivelmente rápida, talvez porque sinto aproximar-se o fim, talvez porque passei a dar-lhe atenção e a avaliar o desgaste que em mim provoca.
Por isso mesmo me causa indignação ver como as pessoas gastam em futilidades a maior parte de uma vida que, mesmo despendida com a maior parcimónia, não seria bastante para as coisas essenciais.
(...)
"Não
te ponhas a pedir o que não pretendes obter!" É que sucede muitas vezes
nós pedirmos com empenho coisas que recusaríamos se alguém no-las oferecesse.
Por ligeireza? Por excesso de gentileza?
Seja qual
for a razão, apliquemos-lhe um castigo: acedamos largamente ao pedido. Muitas
coisas nós desejamos parecer querer quando de facto as não queremos.
Numa
leitura pública, um autor levou uma vez uma obra histórica enorme, escrita em letra
miudinha, num volume densíssimo, e, depois de ler a maior parte, disse:
"Se querem, fico por aqui." Ora os auditores, embora o seu único
desejo fosse que o homem se calasse imediatamente, gritaram em coro:
"Continua a leitura, continua!”.
Muitas
vezes, também, queremos uma coisa mas escolhemos outra, e nem sequer aos deuses
confessamos a verdade; o que vale é que os deuses ou não nos atendem ou têm
pena de nós!
Quanto a mim, vou proceder sem qualquer compaixão: vou mandar-te
uma carta gigantesca!
Se te
custar muito lê-la, não terás mais do que dizer: "Bonito serviço que eu
arranjei!", e põe o teu nome entre o daqueles homens que se desfizeram em
galanteios para casar com uma megera, ou se fartaram de suar para conseguir
riquezas e nelas só encontraram angústias, ou usaram todos os truques e
esforços para obter cargos públicos em que se sentem destroçados, em suma,
inclui-te na lista dos artífices dos próprios dissabores!
(...)
Ponho-me
a pensar na quantidade dos que exercitam o físico, e na escassez dos que ginasticam
a inteligência; na afluência que têm os gratuitos espectáculos desportivos, e
na ausência de público durante as manifestações culturais; enfim, na debilidade
mental desses atletas de quem admiramos as espáduas musculadas.
E penso
sobretudo nisto: se o corpo pode, à força de treino, atingir um grau de
resistência tal que permite ao atleta suportar a um tempo os murros e pontapés
de vários adversários, que o torna apto a aguentar um dia inteiro sob um sol
abrasador, numa arena escaldante, todo coberto de sangue - não será mais fácil
ainda dar à alma uma tal robustez que a torne capaz de resistir sem ceder aos
golpes da fortuna, capaz de erguer-se de novo ainda que derrubada e
espezinhada?!
De facto,
enquanto o corpo, para se tornar vigoroso, depende de muitos factores
materiais, a alma encontra em si mesma tudo quanto necessita para se
robustecer, alimentar, exercitar. Os atletas precisam de grande quantidade de
comida e bebida, de muitos unguentos, sobretudo de um treino intensivo: tu,
para atingires a virtude, não precisarás de despender um tostão em equipamento!
Aquilo
que pode fazer de ti um homem de bem existe dentro de ti. Para seres um homem
de bem só precisas de uma coisa: a vontade.
Em que poderás exercitar melhor a tua vontade do que no esforço para te libertares da servidão que oprime o género humano, essa servidão a que até os escravos do mais baixo estrato, nascidos, por assim dizer, no meio do lixo, tentam por todos os meios eximir-se?
Em que poderás exercitar melhor a tua vontade do que no esforço para te libertares da servidão que oprime o género humano, essa servidão a que até os escravos do mais baixo estrato, nascidos, por assim dizer, no meio do lixo, tentam por todos os meios eximir-se?
O escravo
gasta todas as economias que fez à custa de passar fome para comprar a sua
alforria; e tu, que te julgas de nascimento livre, não estás disposto a gastar
um centavo para garantires a verdadeira liberdade?!
Escusas de olhar para o
cofre, que esta liberdade não se compra. Por isso te digo que a “liberdade” a
que se referem os registos públicos é uma palavra vã, pois nem os compradores
nem os vendedores da alforria a possuem.
O bem que
é a liberdade terás tu de dá-lo a ti mesmo, de o reclamar a ti mesmo!
Liberta-te,
para começar, do medo da morte (já que a ideia da morte nos oprime como um
jugo), depois do medo da pobreza. Para te convenceres de que a pobreza não é em
si um mal bastar-te-á comparares o rosto dos pobres com o dos ricos. Um pobre
ri com mais frequência e convicção; nenhuma preocupação o aflige profundamente;
mesmo que algum cuidado se insinue nele depressa passará como nuvem ligeira. Em
contrapartida, aqueles a quem o vulgo chama “afortunados” exibem uma boa
disposição fingida, carregada, contaminada de tristeza, e tanto mais lamentável
quanto, muitas vezes, nem sequer podem mostrar-se abertamente infelizes, antes
se vêem forçados, entre desgostos que lhes roem o coração, a representarem a
comédia da felicidade!
Séneca
“Cartas a Lucílio”
A
liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos
homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade de dinheiro, ou a
necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio
e na solidão não podem ter alimento.
Se
te é impossível viver só, nasceste escravo.
Podes
ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um
servo inteligente: não és livre.
E
não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo,
mas do Destino para si somente.
Ai
de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo.
Ai
de ti se, tendo nascido livre, capaz de te bastares e de te separares, a
penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes
contigo.
Nascer
livre, é a maior grandeza do homem, o que faz o eremita humilde superior aos
reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
A
morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo
vê-se livre à força dos seus prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e
contínua. Vê-se livre o rei dos seus domínios, que não queria deixar. As que
espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se
livres das vitórias para que a sua vida se fadou.
Por
isso a morte enobrece, veste de galas desconhecidas o pobre corpo absurdo. É
que ali está um libertado, embora o não quisesse ser. É que ali não está um
escravo, embora ele chorando perdesse a servidão. Como um rei cuja maior pompa
é o seu nome de rei, e que pode ser risível como homem, mas como rei é
superior, assim o morto pode ser disforme, mas é superior, porque a morte o
libertou.
Fecho,
cansado, as portas das minhas janelas, excluo o mundo e um momento tenho a liberdade.
Amanhã voltarei a ser escravo; porém agora, só, sem necessidade de ninguém,
receoso apenas que alguma voz ou presença venha interromper-me, tenho a minha
pequena liberdade, os meus momentos de excelsis.
Na
cadeira, aonde me recosto, esqueço a vida que me oprime. Não me dói senão
ter-me doído.
(...)
Adoramos
a perfeição, porque a não podemos ter; repugná-la-íamos se a tivéssemos.
O
perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito.
O
ódio surdo ao paraíso — o desejo como o da pobre infeliz de que houvesse campo
no céu.
Sim,
não são os êxtases do abstracto, nem as maravilhas do absoluto que podem
encantar uma alma que sente: são os lares e as encostas dos montes, as ilhas
verdes nos mares azuis, os caminhos através de árvores e as largas horas de
repouso nas quintas ancestrais, ainda que as nunca tenhamos.
Se
não houver terra no céu mais vale não haver céu. Seja então tudo o nada e acabe
o romance que não tinha enredo.
Para
poder obter a perfeição fora precisa uma frieza de fora do homem e não haveria
então coração de homem com que amar a própria perfeição.
Pasmamos,
adorando, da tensão para o perfeito dos grandes artistas. Amamos a sua
aproximação do perfeito, porém o amamos porque é só aproximação.
Fernando Pessoa
“Livro do Desassossego”
Wisdom creeps in
through the shadows
Even though it's hard, so hard to see
I remember well the reigning chaos
Held by chains and
Nobody really dares to defy it
Even though it's hard, so hard to see
I remember well the reigning chaos
Held by chains and
Nobody really dares to defy it
There will be lights and thunder
I am the rising one
Born to the never-ending night
There won't be lies and plunder
Fiends will lose one more time
Breaching the seal of disregard
I'm the awakened one
The awakened one
Vicious gaze, stitched to my new soul
It felt the sparkle seed in me
Tries to dip and rot my fierce hope
Confronted with my courage
And with my intuition
There will be lights and thunder
I am the rising one
Born to the never-ending night
There won't be lies an plunder
Fiends will lose one more time
Breaching the seal of disregard
I'm the awakened one
The awakened one
There will be lights and thunder
'cause i am the rising one
Born to the never-ending night
There won't be lies an plunder
Fiends will lose one more time
Breaching the seal of disregard
I'm the awakened one
The awakened one
I'm the awakened one.
Cem Köksal
“Awakened One”
Could I say what I think, could I
express
My every hidden and too silent thought,
And bring my feelings, in perfection
wrought,
To one unforced point of living stress;
Could I breathe forth my soul, could I
confess
The inmost secrets to my nature brought,
I might be great; yet none to me has
tought,
A language well to figure my distress.
Yet day and night to me new
whispers bring,
And night and day from me old whispers
lake…
Oh for a word, one phrase in which to
fling
All that I think or feel and so to wake
The world, but I am dumb and cannot sing
Dumb as you clouds before the thunders
break.
Charles Robert Anon
(Pessoa por Conhecer - Textos
para um Novo Mapa)
Tito Colaço
XX _ III _ MMXV
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