What is the reason...
What
is the reason...
Nunca perguntastes a vós mesmo porque
aos entes humanos falta essa coisa?
Eles geram filhos, satisfazem o sexo, têm
ternuras, a capacidade de compartilhar as coisas num estado de companheirismo,
de amizade, de camaradagem, mas essa coisa - porque razão não a tem?
Nunca vos ocorreu, num momento de
folga - ao andardes sozinho por uma rua imunda, ao viajardes num autocarro, ao
passardes umas férias à beira-mar, ao passeardes numa floresta, entre os
pássaros, as árvores, os regatos, os animais selvagens - nunca vos ocorreu
perguntar porque razão o homem, que vive há milhões e milhões de anos, ainda
não possui essa coisa, essa flor maravilhosa e imarcescível; porque razão vós,
um ente humano, dotado de tanta capacidade, tanta inteligência, tanta subtileza;
vós, que tanto competis, que possuis uma tão maravilhosa tecnologia, que sois
capaz de elevar-vos aos espaços e de descer ao fundo do mar, de inventar
fantásticos cérebros electrónicos - por que razão não possuis essa única coisa
verdadeiramente importante?
Não sei se alguma vez já considerastes
seriamente esta questão: Por que está vazio o vosso coração?
Que responderíeis se fizésseis a vós
mesmo essa pergunta; qual seria a vossa resposta imediata, inequívoca, sem subtilezas?
Vossa resposta deveria corresponder à
intensidade com que fizésseis a pergunta, e ao vosso sentimento de urgência;
mas vós não sois intenso, nem sentis aquela urgência, e isso porque não tendes
energia, a energia que é paixão - pois nenhuma verdade se pode descobrir sem
paixão - paixão impelida por intenso fervor, paixão sem nenhum desejo secreto.
A paixão é uma coisa um tanto
assustadora, porque, se tendes paixão, não sabeis aonde ela vos levará.
Assim, será o medo a razão por que não
possuis a energia daquela paixão, para descobrirdes por vós mesmo porque vos
falta aquela essência do amor, por que não arde em vosso coração essa chama?
Se
examinastes com muita atenção a vossa mente e o vosso coração, sabereis porque
não a tendes.
Se sois apaixonado, no descobrir porque
não a possuis, ela se vos mostrará. Só pela negação completa, a mais alta forma
da paixão, torna-se existente aquela coisa que é o amor.
Como a humildade, não podeis cultivar
o amor.
A humildade vem à existência com a
total cessação da presunção - e, então, jamais sabereis o que é ser humilde.
O homem que sabe o que significa ter
humildade é um homem vaidoso. Do mesmo modo, quando aplicais a vossa mente e o vosso
coração, os vossos nervos, os vossos olhos, todo o vosso ser, a descobrir o
caminho da vida, a ver o que realmente é, e a ultrapassá-lo, a rejeitar total e
completamente a vida que hoje vivemos - nessa negação do maléfico, do brutal,
torna-se existente a outra coisa.
E nunca o sabereis. O homem que diz
que sabe que está em silêncio, o homem que diz que sabe que ama, não sabe o que
é o amor ou o que é o silêncio.
Jiddu Krishnamurti
“Liberte-se
do Passado”
I
was a poet animated by philosophy, not a philosopher with poetic faculties.
I loved to admire the beauty of things, to trace in the
imperceptible through the minute the poetic soul of the universe.
The poetry of the earth is never dead. We may say that ages gone
have been more poetic, but we can say
(...)
Poetry is in everything — in land and in sea, in lake and in
riverside.
It is in the city too — deny it not — it is evident to me here as I
sit: there is poetry in this table, in this paper, in this inkstand; there is
poetry in the rattling of the cars on the streets, in each minute, common,
ridiculous motion of a workman, who the other side of the street is painting
the sign-board of a butcher's shop.
Mine inner sense predominates in such a way over my five senses
that I see things in this life — I do believe it — in a way different from
other men.
There
is for me — there was — a wealth of meaning in a thing so ridiculous as a
door-key, a nail on a wall, a cat's whiskers.
There
is to me a fulness of spiritual suggestion in a fowl with its chickens
strutting across the road.
There
is to me a meaning deeper than human fears in the smell of sandalwood, in the
old tins on a dirt heap, in a match box lying in the gutter, in two dirty
papers which, on a windy day, will roll and chase each other down the street.
For
poetry is astonishment, admiration, as of a being fallen from the skies taking
full consciousness of his fall, astonished about things.
As
of one who knew things in their souls, striving to remember this knowledge,
remembering that it was not this he knew them, not under these forms and these
conditions, but remembering nothing more.
Fernando Pessoa
“Páginas íntimas e de auto-interpretação”
Tito Colaço
XXVI _ III _ MMXV
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