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sábado, 11 de outubro de 2014

O tempo e o observador...










O tempo e o observador...













O texto de Daniel Dennett (n. 1942) que aqui se apresenta, de co-autoria com Marcel Kinsbourne, é bem o exemplo de uma abordagem filosófica do conceito de consciência que não dispensa o recurso às entidades e aos métodos das ciências experimentais, nomeadamente da psicologia. 
Contudo, não é uma aceitação passiva das mesmas, na medida em que são trabalhados dentro das ciências (sobretudo de B. Libet) que, quando analisados criticamente, permitem uma reformulação de teorias e de modelos. 
Em "O Tempo e o Observador: O Onde e o Quando da Consciência no Cérebro" de 1992, Dennett e Kinsbourne criticam o modelo cartesiano da consciência (o Teatro Cartesiano) segundo o qual a consciência é uma espécie de espectáculo que se oferece ao sujeito experienciador, e apresentam como alternativa a este modelo aquilo que eles chamam o Modelo das Versões Múltiplas. Segundo este modelo, não há qualquer meta final para a apresentação da consciência numa versão final canónica, mas sim um constante fluir de experiências em estados diferentes de montagem por parte dos diversos componentes do sistema de "edição/montagem"
Assim, os fenómenos de cor phi e daquilo que eles chamam "o coelho cutâneo" (a sensação de um coelho a saltar ao longo do braço) deixam de aparecer como fenómenos anómalos que põem em causa a lei da causalidade que estabelece que as causas precedem sempre os seus efeitos. 
As múltiplas versões são revistas e montadas de acordo com dois princípios da representação de propriedades temporais (que têm de se distinguir das propriedades temporais das representações), a saber, as revisões orwelliana e estalinesca.

















O Tempo e o Observador: 
O Onde e o Quando da Consciência no Cérebro      


  Daniel C. Dennett & Marcel Kinsbourne  




Não tenho a certeza se os outros não me conseguem ver ou se, uma fracção de segundo após o meu rosto interferir com o seu horizonte, uma milionésima de segundo após terem pousado o seu olhar em mim, eles começam já a varrer-me da sua memória: esquecido antes de chegar a ser o pobre, triste arcanjo de uma recordação.

  Ariel Dorfman, Máscara, 1988 


Quando os avanços científicos vão contra as intuições do “senso comum”, as ideias a
que nos habituámos subsistem frequentemente, não só para além da sua utilidade ultrapassada, mas até mesmo confundindo os cientistas cujas descobertas as deviam ter destronado. Identificamos aqui um erro de pensamento omnipresente que tem origem precisamente numa tal fidelidade despropositada a quadros habituais, facilmente demonstrável com exemplos retirados de trabalhos recentes nas áreas da psicologia e das neurociências.
Embora este seja um texto “teórico”, dirige-se especialmente àqueles que pensam, erroneamente, que não têm teorias e que nem precisam delas. Mostramos como factos incontestáveis acerca das propriedades espacio-temporais de acontecimentos que envolvem transmissão de informação no cérebro nos obrigam a abandonar todo um conjunto de intuições profundamente enraizadas acerca da “corrente de consciência” e da sua relação com acontecimentos com lugar no cérebro.

 (...) 

Onde quer que haja uma mente consciente, há um ponto de vista. Uma mente consciente é um observador que recebe a informação disponível numa determinada sequência (mais ou menos) contínua de tempos e lugares no universo. Uma mente é, pois, um centro de subjectividade, 
uma coisa que é como ser algo (Farrell 1950; Nagel 1974). O como é ser essa coisa determina-se parcialmente por aquilo de que dispomos para ser observado ou experienciado ao longo da trajectória através do espaço-tempo desse ponto de vista em movimento o qual, no fim de contas, não passa disso: um ponto
Por exemplo, a dissociação surpreendente entre o som de fogos-de-artíficio distantes e o seu aparecimento explica-se pelas diferentes velocidades de transmissão do som e da luz, os quais chegam ao observador  (àquele ponto) em momentos diferentes, apesar de terem partido da mesma fonte ao mesmo tempo. 
Mas se perguntarmos onde é que se situa exactamente esse ponto de vista no cérebro, as suposições simples que funcionam tão bem a escalas maiores de espaço e de tempo caem por terra. 
Hoje é mais do que evidente que não há nenhum ponto no cérebro onde toda a
informação convirja, e isto traz consigo algumas consequências que estão longe de ser evidentes.
A luz viaja muito mais rapidamente do que o som, tal como o exemplo dos fogos-de artifício no-lo recorda, mas o cérebro leva mais tempo a processar estímulos visuais do que a processar estímulos auditivos. 
Como Pöppel (1985/1988) mostrou, graças a estas diferenças compensatórias, o “horizonte de simultaneidade” é de cerca de 10 metros: a luz e o som que partem de um mesmo ponto situado a cerca de 10 metros dos órgãos dos sentidos do observador produzem respostas neuronais “disponíveis a nível central” ao mesmo tempo. Será que podemos tornar este número mais exacto?
Existe um problema. O problema não é somente a medição das distâncias entre o acontecimento exterior e os órgãos dos sentidos, ou das velocidades de transmissão nos vários meios, ou ainda a consideração de diferenças individuais. 
O problema mais importante é decidir o que havemos de considerar como sendo a
“meta de chegada” no cérebro. 
Pöppel obteve os seus resultados pela comparação de medições comportamentais: tempos de reacção médios (premir botões) a estímulos auditivos e visuais. A diferença vai de 30 a 40 milissegundos, o tempo que o som leva a percorrer aproximadamente 10 metros (o tempo que a luz leva a percorrer 10 metros só infinitesimalmente é diferente de zero). Pöppel usou uma meta de chegada periférica — o comportamento externo — mas a nossa intuição natural é de que a experiência da luz e do som ocorre entre o momento em que as vibrações atingem os nossos órgãos dos sentidos e o momento em que premimos o botão para assinalar essa experiência. E isso passa-se algures centralmente, algures no cérebro nos trajectos excitados entre o órgão sensorial e os músculos que movem o dedo. Aparentemente, se pudéssemos indicar com exactidão onde a experiência  ocorreu, poderíamos inferir com exactidão quando ela ocorreu. E vice-versa: se pudéssemos
dizer com exactidão quando é que ela aconteceu, poderíamos inferir onde é que no cérebro a experiência consciente se localizou.
Esta imagem do modo como a experiência se deve localizar no cérebro é uma
extrapolação natural do facto familiar e inquestionável de que para intervalos de tempo a uma macro escala podemos de facto ordenar acontecimentos nas categorias de “ainda não observado” e “já observado”, localizando o observador e traçando os movimentos dos transmissores da informação com relação a esse ponto. Mas quando pretendemos aplicar este método à explicação de fenómenos envolvendo intervalos muito curtos, deparamo-nos com
uma dificuldade lógica: se o “ponto” de vista do observador se estende por um volume
bastante extenso no cérebro do observador, o seu próprio sentido subjectivo de sequência e simultaneidade devem ser determinados por outra coisa qualquer que não uma “ordem de
chegada” única, porque a ordem de chegada permanece incompletamente definida até
especificarmos o destino em causa.
Se A vence B numa meta de chegada, mas B vence A numa outra meta, qual dos resultados fixa a sequência subjectiva na consciência (cf. Minsky 1985, p. 61)? Qual o ponto ou quais os pontos de “disponibilidade central” que “contariam” como um determinador de ordem experienciada, e porquê?
Tomemos a evolução temporal do processamento normal da informação visual.
Estímulos visuais desencadeiam séries de ocorrências no córtex, as quais gradualmente
produzem conteúdos de especificidade crescente. Em diferentes momentos e em diferentes áreas, várias “decisões” são tomadas ou “juízos” são feitos: dito de forma mais literal, partes do cérebro entram em estados que respondem diferencialmente a diferentes características, por exemplo, primeiramente um mero começo do estímulo, depois a forma, mais tarde a cor (num trajecto diferente), o movimento e, por fim, o reconhecimento do objecto. É tentador supor que deve haver algum sítio no cérebro onde “tudo se junta” numa representação ou exibição multimodal que determina definitivamente o conteúdo da consciência experiente em, pelo menos, este sentido: as propriedades temporais das ocorrências com lugar nesse ponto específico da representação determinam as propriedades temporais — de sequência, simultaneidade e tempo real do início, por exemplo — da “corrente de consciência” subjectiva. Esta é a forma errada de pensar que queremos mostrar. Onde é que tudo “se junta”? A resposta, propomos, é: em lugar nenhum. Alguns dos estados com conteúdo distribuídos pelo cérebro extinguem-se num curto espaço de tempo, não deixando quaisquer marcas. Outros há que deixam marcas nos relatos verbais posteriores de experiência e de memória, na “prontidão semântica” (“semantic readiness”) e noutras variedades da estrutura perceptiva, em estados emocionais, em disposições comportamentais, e por aí fora. Alguns
destes efeitos — por exemplo, influências em relatos verbais posteriores — são pelo menos
sintomáticos de consciência. Mas não há nenhum lugar no cérebro pelo qual todas estas cadeias causais tenham que passar para depositarem os seus conteúdos “na consciência” (ver ainda Damásio 1989).
O cérebro tem que ser capaz de “ligar” ou “correlacionar” e “comparar” vários
conteúdos discriminados separadamente, mas os processos que levam a cabo estas unificações são eles próprios distribuídos, não se encontrando todos juntos num qualquer ponto central de decisão e, como resultado, o “ponto de vista do observador” é espacialmente “espalhado”. Se os cérebros computassem a uma velocidade próxima da velocidade da luz, tal como os computadores o fazem, esta distribuição espacial seria insignificante. Mas, dadas as velocidades relativamente lentas de transmissão e de computação dos neurónios, a distribuição espacial dos processos cria um “espalhamento” temporal importante —
chegando, como veremos, a algumas centenas de milissegundos — tendo em conta os valores
da qual as suposições normais do senso comum acerca da correcção temporal e da chegada ao observador têm que ser substituídas. Para muitas tarefas, a capacidade humana para fazer discriminações de ordem temporal diminui até dar lugar ao puro acaso quando a diferença no
momento de início é da ordem dos 50 milissegundos (dependendo das condições do
estímulo), mas este limiar variável é o resultado de interacções complexas e não um limite
básico da capacidade do cérebro para fazer os juízos de ordem especializados necessários na interpretação e coordenação de fenómenos perceptivos e motores. Precisamos de outros princípios para explicar as maneiras como a ordem temporal subjectiva se constitui, especialmente em casos em que o cérebro tem que lidar com sequências rápidas nos limites das suas capacidades de resolução temporal. Como de costume, o desempenho do cérebro quando posto sob pressão fornece pistas importantes relativas aos seus modos gerais de funcionamento.
Descartes, o primeiro (1662) a pensar a sério acerca do que deve passar-se dentro do
corpo do observador, concebeu uma ideia tão aparentemente natural e atraente que
influenciou desde então a nossa forma de pensar acerca da consciência e nos permitiu adiar enfrentarmos as aporias — até agora. Descartes concluiu que o cérebro tinha de facto um centro: a glândula pineal, que servia como via de acesso à mente consciente. Este era o único órgão no cérebro que se encontrava no meio, em vez de emparelhado, com versões esquerda e direita. A glândula pineal parecia ser diferente e, visto que a sua função era na época bastante inescrutável (e continua a sê-lo), Descartes atribuiu-lhe um papel: para que uma pessoa se tornasse consciente de algo, mensagens dos sentidos tinham que chegar a esta central, onde ela de imediato causava uma interacção especial — na verdade, mágica — entre o cérebro material do indivíduo e a mente imaterial. Quando a mente consciente decidia então agir fisicamente, enviava uma mensagem de volta “para” o corpo via a glândula pineal. A glândula pineal é, pois, como um teatro no qual se exibe informação para estudo por parte da mente.
A visão de Descartes do papel da glândula pineal como o torniquete da consciência
(podemos chamar-lhe o gargalo cartesiano) está irremediavelmente errada. Os problemas que o dualismo interaccionista de Descartes enfrenta, com a sua interacção sistematicamente inexplicável entre o domínio do material e o domínio postulado do imaterial, já eram tomados em consideração no tempo de Descartes, e séculos de reflexão mais não fizeram que endurecer o veredicto: a ideia do Fantasma na Máquina, como Ryle (1949) a ridicularizou, é uma solução inviável para os problemas da mente. Mas, embora o materialismo de vários tipos seja hoje uma posição aceite quase por unanimidade,2 até mesmo os materialistas mais sofisticados hoje em dia se esquecem frequentemente que, assim que a fantasmagórica res cogitans cartesiana é posta de lado, deixa de haver um papel para uma via de acesso centralizada ou, já agora, para qualquer centro funcional para o cérebro. O cérebro é ele próprio o Quartel-general, o ponto onde se encontra o observador final, mas é um erro acreditar que o cérebro possui outros quartéis-generais mais profundos, um qualquer santuário interior, a chegada ao qual é a condição necessária ou suficiente para a experiência consciente.
Chamemos materialismo cartesiano a esta ideia de um tal ponto centrado no cérebro,
visto que é a perspectiva a que se chega quando se põe de lado o dualismo de Descartes sem se eliminar a imagem que lhe está associada de um teatro central (mas material) onde “tudo se junta”. Uma vez explicada, é óbvia que esta é uma má ideia, não só porque, como uma questão de facto empírica, nada na neuroanatomia funcional do cérebro sugere um tal ponto de encontro geral, mas também porque postular um tal centro seria aparentemente o primeiro passo numa regressão ao infinito de homúnculos demasiado poderosos. Se todas as tarefas que Descartes atribuiu à mente imaterial têm que ser assumidas por um subsistema “consciente”, a sua própria actividade terá que ser ou sistematicamente misteriosa, ou decomposta na actividade de subsistemas paralelos que começam a duplicar as tarefas das partes “não conscientes” de todo o cérebro. Quer alguém defenda ou não explicitamente o materialismo cartesiano, algumas suposições omnipresentes da teorização contemporânea pressupõem esta perspectiva dúbia. Nós mostramos que a imagística persuasiva do Teatro Cartesiano, na sua forma materialista, continua a reafirmar-se sob diversas roupagens e por uma variedade de razões aparentemente convincentes. Pensar nos seus termos não é seguir um atalho inofensivo; é um mau hábito. Uma das suas implicações mais sedutoras é a suposição de que uma distinção pode sempre ser estabelecida entre “ainda não observado” e “já observado”. Mas, como acabámos de defender, esta distinção não pode ser estabelecida quando descemos à escala que nos coloca dentro dos limites da extensão espacio-temporal na qual se realizam as várias discriminações. Dentro deste “ponto de vista” alargado, distinções espaciais e temporais perdem o sentido que têm em contextos mais latos.
Podemos ver melhor as características fundamentais do modelo do Teatro Cartesiano contrastando-o com a alternativa que propomos, o modelo das Versões Múltiplas: Todas as operações perceptivas e,  já agora, todas as operações de pensamento e de acção, se realizam através de processos multipistas de interpretação e de elaboração que ocorrem num espaço de tempo de centenas de milissegundos, tempo durante o qual podem ocorrer várias adições, incorporações, correcções e sobreposições de conteúdo, em várias ordens. As detecções ou as discriminações de propriedades têm que ser feitas uma só vez. Isto é, uma vez feita uma “observação” localizada, especializada, o conteúdo de informação assim fixado não tem que ser enviado para um outro lugar qualquer para ser rediscriminado por um qualquer disciminador “mor”. Por outras palavras, não leva a uma re-presentação da propriedade já discriminada para o uso da audiência no Teatro Cartesiano. O modo como uma discriminação localizada contribui para o estado dominante do cérebro (e logo para a
consciência) e o efeito que ela tem nele pode mudar de um momento para o outro, dependendo da restante actividade no cérebro. Versões da experiência podem ser revistas a uma grande velocidade e nenhuma delas é mais correcta do que as outras. Cada uma delas reflecte a situação no momento em que é criada. Estas fixações de conteúdo distribuídas espacial e temporalmente são elas próprias precisamente localizáveis no espaço e no tempo, mas os seus momentos de início não determinam o início da consciência do seu conteúdo.
Trata-se sempre de uma questão em aberto saber se um qualquer conteúdo específico assim discriminado chegará a aparecer como um elemento na experiência consciente. Estas
discriminações de conteúdo distribuídas produzem, com o passar do tempo, algo como uma corrente ou sequência narrativa sujeita a revisões contínuas por muitos processos distribuídos pelo cérebro e que continuam indefinidamente no futuro (cf. o modelo de Calvin [1990] da consciência como “rotação de cenários” (“scenario-spinning”). Esta corrente de consciência só é algo como uma narrativa devido à sua multiplicidade; a cada instante há múltiplas “versões” de fragmentos narrativos em diferentes estádios de “montagem” em diferentes
partes do cérebro. Sondar esta corrente a diferentes intervalos produz efeitos diferentes, provoca diferentes relatos narrativos por parte do sujeito. Se adiarmos a sondagem por demasiado tempo (por exemplo, uma noite inteira) o resultado pode bem ser não haver qualquer narrativa — ou então haver uma narrativa que foi digerida ou “reconstruída racionalmente” ao ponto de a sua integridade ser mínima. Se se efectuar a sondagem “demasiado cedo”, pode-se recolher dados acerca da rapidez com que se realiza uma determinada discriminação na corrente, mas isto ao preço de perturbar o progresso normal da corrente. Mais importante, o modelo das Versões Múltiplas evita o erro tentador de supor que
deve haver uma única narrativa (a versão “definitiva” ou “publicada”) que é canónica — que representa a verdadeira corrente de consciência do sujeito, quer o investigador (ou até mesmo o sujeito) consiga ter acesso a ela quer não.
Os pontos principais em que este modelo difere do modelo tácito rival do Teatro
Cartesiano podem ser resumidos:
1. Discriminações localizadas não são percursores de re-presentações do conteúdo
discriminado por um discriminador mais central.
2. As propriedades objectivas temporais de estados discriminatórios podem ser determinadas,
mas não determinam propriedades temporais da experiência subjectiva.
3. A “corrente de consciência” não é uma narrativa única, definitiva. É uma corrente em
paralelo de conteúdos contraditórios em constante revisão, não sendo possível eleger nenhum
dos seus fios narrativos como canónico — como a versão verdadeira da experiência
consciente.



 Extracto de D.C. Dennett & M. Kinsbourne, “O Tempo e o Observador”  

 Os autores gentilmente concederam permissão para a tradução e publicação deste texto, originalmente publicado em 1992 na revista Behavioral and Brain Sciences. 

Tradução de Luís Augusto (reservados os direitos desta tradução)





































































































 TITO COLAÇO 
 XI _ X _ MMXIV 










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