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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Homo homini lupus...










Homo homini lupus...





"Lupus est homo homini non homo"
Plauto  (254-184) 
In "Asinaria"



"Homem é o lobo do Homem"

Expressão popularizada por Thomas Hobbes  (1588/1679)

















































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  O Homem 
não deseja a paz  

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  Que estranho bicho o homem. 
O que ele mais deseja no convívio inter-humano não é afinal a paz, a concórdia, o sossego colectivo. 
O que ele deseja realmente é a guerra, o risco ao menos disso, e no fundo o desastre, o infortúnio. Ele não foi feito para a conquista de seja o que for, mas só para o conquistar seja o que for. Poucos homens afirmaram que a guerra é um bem (Hegel, por exemplo), mas é isso que no fundo desejam. 
A guerra é o perigo, o desafio ao destino, a possibilidade de triunfo, mas sobretudo a inquietação em acção. 
Da paz se diz que é "podre", porque é o estarmos recaídos sobre nós, a inactividade, a derrota que sobrevém não apenas ao que ficou derrotado, mas ainda ou sobretudo ao que venceu. 
O que ficou derrotado é o mais feliz pela necessidade iniludível de tentar de novo a sorte. Mas o que venceu não tem paz senão por algum tempo no seu coração alvoroçado. 
A guerra é o estado natural do bicho humano, ele não pode suportar a felicidade a que aspirou. Como o grupo de futebol, qualquer vitória alcançada é o estímulo insuportável para vencer outra vez.
Imaginar o mundo pacificado em aceitação e contentamento consigo é apenas o mito que justifique a continuação da guerra. A paz é insuportável como a pasmaceira. 
Nas situações mais vulgares, nós vemos a imperiosa necessidade de desafiar, irritar, provocar, agredir, sem razão nenhuma que não seja a de agitar a quietude, destruir a estagnação, fazer surgir o risco, a aventura. 
É o que leva o jogador a jogar, mesmo que não necessite de ganhar, pelo puro prazer de saborear o poder perder para a hipótese de não perder e ganhar. 
A excelência de nós próprios só se entende se se afirmar sobre o que o não é.
Numa sociedade de ricaços ninguém era feliz. Seria então necessário que por qualquer coisa houvesse alguns felizes sobre a infelicidade dos outros. O homem é o lobo do homem para que este possa ser o cordeiro daquele. 
Nenhuma luta se destina a criar a justiça, mas apenas a instaurar a injustiça. 
O homem é um ser sem remédio. Todo o remédio que ele quiser inventar é só para sobrepor a razão ao irracional que de facto é. 
Toda a história das guerras é uma parada de comédia para iludir a sua invencível condição de tragédia. 
A verdade dele é o crime. E tudo o mais é um pretexto para o disfarçar. 
A fábula do lobo e do cordeiro já disse tudo. 
A superioridade do homem sobre o lobo é que ele tem mais imaginação para inventar razões. 
A superioridade do homem sobre o lobo é que ele tem mais hábitos de educação. 
E a razão é uma forma de sermos educados. 


  Vergílio Ferreira  
 “Conta-corrente IV”  









































 TITO COLAÇO 

 XXX ___ IX ___ MMXIV 






segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Only KRONUS?














 Only KRONUS? 




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   Mitologia grega:   

No início, tudo era desordem, o universo estava imergido em trevas, pois o Caos, o único deus, que existia desde sempre, reinava sobre o nada, sozinho. 
Não se sabe ao certo se na GAIA mitologia assim o diz, mas um dia, parece que Caos cansou-se de ser um solitário, e decide criar o mundo.
Então, começou por criar Gaia, que pode ser considerada como a Mãe Terra, cheia de força vital. 
A seguir, foi criado Eros para ser a divindade do amor. 
Por fim, o deus Caos decidiu criar o Tártaro, que nada mais era do que uma espécie de localidade, mais precisamente, o inferno grego.
O reino do Tártaro localizava-se perto do centro da Terra, mas ficava muito longe da superfície, assim como a Terra é distante do céu. Para se ter uma ideia, uma bala de canhão, lançada da Terra, demoraria nada mais do que nove dias completos para atingir o chão do Tártaro. 
No coração tartárico, existe o palácio da Noite que é envolvido por nuvens negras e é onde a Noite fica durante o dia. 
Depois de algum tempo, Gaia criou Urano, que viria a ser a representação do céu e que seria também o amante de Gaia.
No entanto, Caos, Gaia, Tártaro e Eros eram como forças da natureza que estavam misturadas entre si, sem que houvesse um espaço certo para cada uma delas, e daí surgiu o espaço-tempo.
Urano, então, tem diversos filhos com Gaia, as mulheres eram as Titânidas e os homens os Titãs, sendo que o mais importante deles era Cronos. Todos tinham uma força descomunal e sobre-humana e uma beleza incrível. Como nasceram entre Tártaro e as profundidades de Gaia, os Titãs eram tidos como amedrontadores, violentos e sempre fascinantes.
Como estes, nasceram de Urano e Gaia, três Ciclopes que eram iguais aos titãs, mas que tinham apenas um olho no meio da testa e que possuíam domínios sobre os elementos que seriam a origem dos poderes de Zeus: o raio, o relâmpago e o trovão.
O facto é que Urano não gosta de nenhum dos seus filhos, e isso porque teme que um deles fique não só com o seu lugar de soberano, mas também com Gaia. Por isso, Urano lacra-os nas profundezas do Tártaro, no ventre de Gaia, e isso faz com que os seus filhos e até mesmo Gaia planeiem se vingar dele, pois Gaia não aguentava mais ter tantos filhos dentro de si.
Cronos, então propõe que a sua mãe fizesse um podão, uma espécie de tesoura, que seria usada para cortar a genitália do pai. 
O plano é posto em prática e depois que Cronos corta Urano, o sangue do seu pai se espalha pelo mundo e dá origem a diversas divindades.
As primeiras foram Aleto, Tisífone e Megera, que representam o ódio, a vingança e a discórdia, mas por incrível que pareça, na mitologia estas possuem até um bom papel, pois vingavam os crimes familiares e aqueles cometidos contra a hospitalidade, entre outros.  
Depois, nasceu a deusa Afrodite, personificação da beleza e do amor, mas que é capaz de tudo para impressionar a pessoa que deseja, inclusive mentir. Nasceram ainda muitas criaturas temíveis, como os gigantes.
Por causa do crime cometido e da dor sentida, Urano separa-se de Gaia e dá lugar ao espaço, e com isso, os seus filhos podem crescer e se desenvolver, facto que faz o tempo começar a rodar. Cronos toma noção de que o tempo pode mudar uma situação, e por isso decide, ao tomar o lugar de poder do pai, que a história não deveria ser mudada, mas sim destruída. 
Isso faz com que Cronos faça quase a mesma coisa que Urano fez com os seus filhos, e decide matar a sua própria prole, comendo-os.
Só que felizmente, um deles consegue sobreviver: ZEUS!

Fonte: Adaptado in Grimal, Pierre.(1988)."A Mitologia Grega". Publicações Europa América, Mem Martins.









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|           A morte não é nada para nós           | 
      
Habitua-te a pensar que a morte não é nada para nós, pois que o bem e o mal só existem na sensação. 
Donde se segue que um conhecimento exacto do facto de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma ideia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. 
Pois nada há de temível na vida para quem compreendeu nada haver de temível no facto de não viver. 
É pois, tolo quem afirma temer a morte, não porque a sua vinda seja temível, mas porque é temível esperá-la.
Tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. 
Assim, o mais espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais.
Não há morte, então, nem para os vivos nem para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais. 
Mas o vulgo, ou a teme como o pior dos males, ou a deseja como termo para os males da vida. 
O sábio não teme a morte, a vida não lhe é nenhum fardo, nem ele crê que seja um mal não mais existir.
Assim como não é a abundância dos manjares, mas a sua qualidade, que nos delicia, assim também não é a longa duração da vida, mas o seu encanto, que nos apraz. 
Quanto aos que aconselham os jovens a viverem bem, e os velhos a bem morrerem, são uns ingénuos, não apenas porque a vida tem encanto mesmo para os velhos, como porque o cuidado de viver bem e o de bem morrer constituem um único e mesmo cuidado.

Epicuro
"A conduta na vida"




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 TITO COLAÇO 

   XXIX ___ IX ___ MMXIV   















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sábado, 27 de setembro de 2014

Oblivion?

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Oblivion?

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        Uma busca inútil        


Enquanto pensarmos em termos de tempo, haverá medo da morte.
"Eu aprendi, mas não cheguei ao ponto final e, antes de morrer, devo encontrá-lo, e se não o encontrar antes de morrer, pelo menos eu espero encontrar numa próxima vida..." e assim por diante. Todo este nosso pensar se baseia no tempo.
O nosso pensar é o conhecido, é o resultado do conhecido, e o conhecido é o processo do tempo, e com essa mente estamos a tentar descobrir aquilo que é para ser imortal, fora do tempo, o que é uma busca inútil.
Isto não tem significação excepto para filósofos, teóricos e especuladores. 
Se eu quiser descobrir a verdade, não amanhã, mas de facto, directamente, não deve o “eu”, o “ego” que está sempre juntando, lutando, e dando a si mesmo uma continuidade pela memória, ele não deve cessar?
Não é possível morrer enquanto se está vivo, não perder a memória artificialmente, o que é amnésia, mas realmente cessar de acumular através da memória e, assim, parar de dar continuação ao "eu"? 
Vivendo neste mundo, que é do tempo, não é possível para a mente produzir, sem nenhuma forma de compulsão, um estado em que o experimentador e a experiência não têm base.
Enquanto existir o experimentador, o observador, o pensador, haverá o medo de findar e, consequentemente, da morte.
E assim, se fôr possível para a mente conhecer tudo isto, estar totalmente consciente disto e não simplesmente dizer: "Sim, isto é simples", se a mente puder estar consciente de todo o processo da consciência, ver o total significado da continuidade e do tempo, e da futilidade desta busca através do tempo para descobrir aquilo que está fora do tempo, se ela puder estar consciente de tudo isso, então pode haver a morte que é realmente uma criatividade fora do tempo.




 J. Krishnamurti
 “The book of life”











































































































































 TITO COLAÇO 

 XXVII ___ IX ___ MMXIV 












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