Homo homini lupus...
"Lupus est homo homini non homo"
Plauto (254-184)
In "Asinaria"
"Homem é o lobo do Homem"
Expressão popularizada por Thomas Hobbes (1588/1679)
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O
Homem
não
deseja a paz
Que estranho bicho o homem.
O que ele mais deseja no convívio inter-humano não é afinal a paz, a concórdia, o sossego colectivo.
O que ele deseja realmente é a guerra, o risco ao menos disso, e no fundo o desastre, o infortúnio. Ele não foi feito para a conquista de seja o que for, mas só para o conquistar seja o que for. Poucos homens afirmaram que a guerra é um bem (Hegel, por exemplo), mas é isso que no fundo desejam.
A guerra é o perigo, o desafio ao destino, a possibilidade de triunfo, mas sobretudo a inquietação em acção.
Da paz se diz que é "podre", porque é o estarmos recaídos sobre nós, a inactividade, a derrota que sobrevém não apenas ao que ficou derrotado, mas ainda ou sobretudo ao que venceu.
O que ficou derrotado é o mais feliz pela necessidade iniludível de tentar de novo a sorte. Mas o que venceu não tem paz senão por algum tempo no seu coração alvoroçado.
A guerra é o estado natural do bicho humano, ele não pode suportar a felicidade a que aspirou. Como o grupo de futebol, qualquer vitória alcançada é o estímulo insuportável para vencer outra vez.
Imaginar o mundo pacificado em aceitação e contentamento consigo é apenas o mito que justifique a continuação da guerra. A paz é insuportável como a pasmaceira.
Nas situações mais vulgares, nós vemos a imperiosa necessidade de desafiar, irritar, provocar, agredir, sem razão nenhuma que não seja a de agitar a quietude, destruir a estagnação, fazer surgir o risco, a aventura.
É o que leva o jogador a jogar, mesmo que não necessite de ganhar, pelo puro prazer de saborear o poder perder para a hipótese de não perder e ganhar.
A excelência de nós próprios só se entende se se afirmar sobre o que o não é.
Numa sociedade de ricaços ninguém era feliz. Seria então necessário que por qualquer coisa houvesse alguns felizes sobre a infelicidade dos outros. O homem é o lobo do homem para que este possa ser o cordeiro daquele.
Numa sociedade de ricaços ninguém era feliz. Seria então necessário que por qualquer coisa houvesse alguns felizes sobre a infelicidade dos outros. O homem é o lobo do homem para que este possa ser o cordeiro daquele.
Nenhuma luta se destina a criar a justiça, mas apenas a instaurar a injustiça.
O homem é um ser sem remédio. Todo o remédio que ele quiser inventar é só para sobrepor a razão ao irracional que de facto é.
Toda a história das guerras é uma parada de comédia para iludir a sua invencível condição de tragédia.
A verdade dele é o crime. E tudo o mais é um pretexto para o disfarçar.
A fábula do lobo e do cordeiro já disse tudo.
A superioridade do homem sobre o lobo é que ele tem mais imaginação para inventar razões.
A superioridade do homem sobre o lobo é que ele tem mais hábitos de educação.
E a razão é uma forma de sermos educados.
Vergílio Ferreira
Vergílio Ferreira
“Conta-corrente IV”
TITO COLAÇO
XXX ___ IX ___ MMXIV