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O miseras hominum mentes...
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A inutilidade
de guerras e revoluções
As guerras e as revoluções, há sempre uma
ou outra em curso, chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar não horror
mas tédio.
Não é a crueldade de todos aqueles mortos e feridos, o sacrifício de
todos os que morrem batendo-se, ou são mortos sem que se batam, que pesa
duramente na alma: é a estupidez que sacrifica vidas e haveres a qualquer coisa
inevitavelmente inútil.
Todos os ideais e todas as ambições são um desvairo de comadres homens. Não há império que valha que por ele se parta uma boneca de criança.
Não há ideal que mereça o sacrifício de um comboio de lata.
Que império é útil ou que ideal profícuo?Tudo é humanidade, e a humanidade é sempre a mesma, variável mas inaperfeiçoável, oscilante mas improgressiva.
Perante o curso inimplorável das coisas, a vida que tivemos sem saber como e perderemos sem saber quando, o jogo de mil xadrezes que é a vida em comum e luta, o tédio de contemplar sem utilidade o que se não realiza nunca, que pode fazer o sábio senão pedir o repouso, o não ter que pensar em viver, pois basta ter que viver, um pouco de lugar ao sol e ao ar e ao menos o sonho de que há paz do lado de lá dos montes.
Fernando Pessoa
"Livro do Desassossego"
TITO
COLAÇO
IV ___ IX
___ MMXIV
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