Quisquis
iniqua facit, patiatur iniqua, necesse est...
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A nossa vida, como repertório de possibilidades, é
magnífica, exuberante, superior a todas as historicamente conhecidas.
Mas assim
como o seu formato é maior, transbordou todos os caminhos, princípios, normas e
ideais legados pela tradição.
É mais vida que todas as vidas, e por isso mesmo
mais problemática.
Não pode orientar-se no pretérito. Tem de inventar o seu
próprio destino.
Mas agora é preciso
completar o diagnóstico. A vida, que é, antes de tudo, o que podemos ser, vida
possível, é também, e por isso mesmo, decidir entre as possibilidades o que em
efeito vamos ser. Circunstâncias e decisão são os dois elementos radicais de
que se compõe a vida. A circunstância – as possibilidades – é o que da nossa
vida nos é dado e imposto.
Isso constitui o que chamamos o mundo.
A vida não
elege o seu mundo, mas viver é encontrar-se, imediatamente, num mundo
determinado e insubstituível: neste o de agora.
O nosso mundo é a dimensão de
fatalidade que integra a nossa vida.
Mas esta fatalidade
vital não se parece à mecânica. Não somos arremessados para a existência como a
bala de um fuzil, cuja trajectória está absolutamente pré-determinada.
A
fatalidade em que caímos ao cair neste mundo – o mundo é sempre este, este o de
agora – consiste em todo o contrário.
Em vez de impor-nos uma trajetória,
impõe-nos várias e, consequentemente, força-nos... a eleger.
Surpreendente
condição a da nossa vida! Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a
liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo.
Nem mum só instante se deixa
descansar a nossa actividade de decisão.
Inclusivé quando desesperados nos
abandonamos ao que queira vir, decidimos não decidir.
É, pois, falso dizer
que na vida "decidem as circunstâncias".
Pelo contrário: as circunstâncias são
o dilema, sempre novo, ante o qual temos de nos decidir.
Mas quem decide é o
nosso carácter.
Ortega y Gasset
"A Rebelião das Massas"
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TITO COLAÇO
II ___ IX ___ MMXIV
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