Recede...
Retrocesso
civilizacional
São talvez as prioridades dos nossos tempos que acarretam um retrocesso e uma eventual depreciação da vida contemplativa.
Mas há que confessar
que a nossa época é pobre em grandes moralistas, que Pascal, Epicteto, Séneca,
Plutarco pouco são lidos ainda, que o trabalho e o esforço outrora, no séquito
da grande deusa Saúde, parecem por vezes, grassar como uma doença.
Porque faltam tempo
para pensar e sossego no pensar, já não se examina as opiniões diferentes: a
gente contenta-se em odiá-las.
Dada a enorme
aceleração da vida, o espírito e o olhar são acostumados a ver e a julgar
parcial ou erradamente, e toda a gente se assemelha aos viajantes que ficam a
conhecer um país e um povo, vendo-os do caminho-de-ferro.
Uma atitude
independente e cautelosa em matéria de conhecimento é menosprezada quase como
uma espécie de tolice, o espírito livre é difamado, nomeadamente, por eruditos
que, na sua arte de observar as coisas, sentem a falta da minúcia e do zelo de
formigas que lhes são próprios, e bem gostariam de bani-lo para um canto
isolado da ciência: quando ele tem a missão, completamente diferente e
superior, de comandar, a partir de uma posição solitária, toda a hoste dos
homens da ciência e da erudição, e de lhes mostrar os caminhos e os objectivos
da cultura.
Uma lamentação, como a
que acaba de ser cantada, terá provavelmente a sua época e calar-se-á por si
própria, um dia, quando se der o regresso em força do génio da meditação.
Friedrich Nietzsche
“Humano,
demasiado humano”
Tito
Colaço
XXVI
_ XI _ MMXIV
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