“Sir, when two people
have the extraordinary quality
of this state, words are not necessary.
Where
that quality of love exists,
words become unnecessary.
There is instant
communication.”
“We must, I
think, look at the problem as a whole, not at a particular part of that problem,
not at a segment or a fragment of it, but at the whole problem of living,
which
includes going to the office, the family, love, sex, conflict, ambition and the
understanding of what death is; and also if there is something called God, or
truth, or whatever name one might give it.
We must understand the totality of
this problem. That is going to be our difficulty, because we are so used to act
and react to a given problem and not to see that all human problems are
interrelated.
So it seems that to bring about a complete psychological
revolution is far more important than an economic or social revolution, upsetting a particular establishment, either in this country or in France, or
in India,
because the problems are much deeper, much more profound than merely
becoming an activist, or joining a particular group, or withdrawing into a
monastery to meditate, learning Zen or Yoga.”
/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\
Totality
of the
`Problem´
/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\
"Temos
problemas económicos, sociais, emocionais, intelectuais e religiosos.
Vivemos
em compartimentos diferentes, separados, e cada separação, cada segmento, cada
fragmento tem o seu peculiar problema ou problemas;
e tais problemas, oriundos
dos diferentes fragmentos da mente, estão naturalmente em contradição entre si.
Todo o indivíduo deseja preencher-se intelectualmente, tornar-se escritor
famoso, artista famoso, preencher-se de uma ou de outra maneira na vida.
E
nessa ânsia de preenchimento contradiz outros modos de existência. Vendo-nos
incertos, buscamos a certeza, a permanência; desejamos compreender a
imortalidade, enquanto nos vamos tornando velhos e definhando emocional,
psicológica e fisicamente.
Nessas
condições, em toda a nossa vida, embora gozemos de boa situação financeira, e
mesmo, mantenhamos relações satisfatórias uns com os outros, em toda a nossa
vida temos problemas.
E, se não resolvermos esses problemas totalmente, e isso
é possível, não importa que sejamos muito talentosos, muito brilhantes nos
nossos raciocínios, muito competentes, eles nos devorarão a mente e o coração.
E
que possibilidade tem um ente humano que vive neste mundo sem o evitar, sem
refugiar-se num mosteiro, em alguma fantasia mitológica, alguma crença, dogma
ou ritual, em visões ilusórias, extravagantes, que possibilidade tem esse ente
humano de varrer da sua mente todos os problemas, tornando-a vigorosa, juvenil,
inocente?
Ora,
para compreender-se o que estamos a dizer é necessário escutar; e esta é uma das
coisas difíceis do mundo: escutar. É uma arte.
Porque na verdade, nunca
escutamos. Não estais a escutar realmente o que se está a dizer.
Na
realidade, tendes as vossas opiniões, juízos, avaliações, conclusões; e tendes
certas ideias a respeito da reputação do orador.
Ficais assim, numa atitude de
expectativa, a qual, com efeito, vos impede de escutar realmente, actuando como
uma cortina que não vos permite escutar com toda a intensidade.
Só
quando escutais sem tensão ou esforço, sem concordar ou discordar, mas,
observar e ver o facto e a esse respeito, não deixar interferir a vossa opinião,
as vossas conclusões e conceitos intelectuais, as vossas fórmulas, só então,
podeis escutar realmente com toda a calma e facilidade, penetrar o que se está
a dizer e descobrir se é verdadeiro ou falso.
E
esta se me afigura uma das coisas mais importantes, quando desejamos pôr-nos em
comunicação uns com os outros.
Porque, é bem de ver, aqui estamos, vós e eu,
com o fim de nos comunicarmos, de comungarmos. Não viestes para ouvir a minha
palestra e sair daqui concordando ou discordando, contrapondo as vossas
opiniões, refutações, etc, etc.
Aqui estamos com o fim de entrar em comunhão a
respeito do extraordinário problema da vida; e para esse efeito, não só teremos
de empregar palavras, mas também de compreender a significação das palavras,
cientes de que a palavra não é, nunca é, a coisa;
e também, enquanto escutais,
deveis conhecer ou perceber os vossos preconceitos, as vossas impugnações, o
vosso desejo de vantagens, os vossos embustes, enfim toda a estrutura
psicológica com a qual escutais.
É
pois, uma verdadeira arte, e talvez das mais difíceis, não só observar,
escutar, mas também aprender. Aprender é coisa bem diferente de saber.
É
facílimo acumular conhecimentos, reunir informações, armazená-las, mediante a
experiência, leituras, reacções, etc., e depois, como no geral fazemos, actuar
de acordo com esse conhecimento acumulado.
Mas, aprender é muito diferente
disso; porque o que foi aprendido está no passado e já se tornou conhecimento.
Aprender é um processo constante, um movimento isento de acumulação de qualquer
espécie.
Em regra, consideramos um dado problema através do que já sabemos, com
as nossas acumulações, os nossos conhecimentos, as nossas lembranças, a nossa
experiência, os nossos condicionamentos, e por isso nos impede de aprender a
respeito do problema.
Aprender
é um acto, um acto do presente activo. É o verbo aprender, um movimento. Mas, o
que foi aprendido já se tornou uma coisa estática.
Se portanto, pudermos
escutar do mesmo modo, não só o que o orador diz, mas todas as coisas da vida,
todas as insinuações dos nossos próprios desejos e impulsos, das nossas
secretas ânsias;
escutar os outros, o marido, o filho, a esposa, o vizinho,
para que a mente se torne penetrante, lúcida, interessada unicamente em factos
e não em opiniões e preconceitos emocionais, desse modo talvez cheguemos a
compreender os problemas altamente complexos que a vida encerra.
Vivemos
em fragmentos. Há o fragmento chamado `vida espiritual´, o fragmento que é o
intelecto, o fragmento que são as emoções, o fragmento dos sentidos físicos.
Está pois a mente dividida em vários fragmentos, cada um deles encerrado num
compartimento estanque e muito escassamente em relação com os outros.
Por isso,
existe entre eles um perene conflito, o qual procuramos evitar mediante fuga.
Mas para podermos compreender um facto, devemos encará-lo, entrar imediata e
directamente em contacto com ele.
Mas nós não entramos em relação com o facto,
porque ou cuidamos de analisá-lo ou de evitá-lo, ou de descobrir a sua causa;
ou ainda, se nada disso fazemos, dele fugimos completamente e ficamos a viver
uma vida superficial, satisfazendo-nos com coisas insignificantes, com a vida
burguesa que leva a maioria de nós.
Trata-se
pois, de saber se é possível entrar directamente em contacto com um problema.
Entrando em directo contacto com um facto, directo contacto, talvez possais
perceber o seu pleno significado.
Porém, nunca entramos em contacto directo com
coisa alguma a não ser fisicamente, sensorialmente.
Toco
neste microfone, e isto é um contacto directo. Nada, nenhuma conclusão verbal
existe, impedindo-me de entrar em contacto directamente com ele.
Mas é muito
difícil entrar, dessa maneira directa, em contacto ou comunhão comigo mesmo,
com todos os problemas que um ente humano tem; por conseguinte, os problemas
não só crescem e se multiplicam, mas também se enraízam na mente, e a mente,
assim, fica a ser o terreno em que todos os problemas, desde a infância até
agora, continuam existentes.
Notai,
por favor, que não estais apenas a ouvir-me dizer uma porção de palavras, pois
isso seria completamente inútil.
Estais, decerto, a ouvir palavras que são
importantes para o contacto directo com os vossos problemas; isto é, as palavras
vos estão a servir de espelho, espelho em que percebeis a vós mesmos e vossos
problemas.
Se houver esse percebimento, esse contacto directo com o vosso
problema ou problemas, então esta palestra terá significação. Mas, se de
contrário, lhe derdes ouvidos apenas intelectual ou verbalmente, ir-vos-eis
daqui de mãos vazias, levando uma porção de cinzas sem nenhum valor.
Espero
pois, que não a estejais a escutar apenas com o intento de adquirir
conhecimentos, mas sim, de entrar directamente em contacto com os vossos
problemas de ente humano.
Para
me pôr em contacto com um problema, assim como me ponho em contacto com um
objecto físico, quer se trate de problema intelectual, emocional, psicológico,
quer de problema `espiritual´, assim chamado, tenho por certo de compreender em
primeiro lugar o significado e a função das palavras; porque as palavras nos
impedem de entrar em contacto com o problema.
Se sinto ansiedade, esse
sentimento de culpa, de medo, de desespero, que se chama `ansiedade´, devo para
entrar em relação com a ansiedade, perceber a função da palavra `ansiedade´;
porque a palavra cria o sentimento.
Não sei se já notastes como as palavras, em
si, despertam um determinado sentimento. Devemos, pois estar perfeitamente
cientes da própria palavra.
Quando estamos cientes da palavra e percebemos que
ela não é a coisa, que a palavra `ansiedade´ não é, de modo nenhum, o facto,
estamos, então, mais ou menos em contacto com esse sentimento. Se não está bem
claro o que estou a dizer, conversaremos depois sobre tudo isso.
Assim,
precisamos não só compreender a palavra, de que maneira ela cria, domina ou dá
colorido ao sentimento, mas também devemos estar conscientes de que a palavra
não é a coisa, não é o sentimento.
Para a maioria de nós, a palavra é o sentimento;
há imediata correspondência entre o sentimento e a palavra. Assim, se desejamos
entrar em contacto com o facto, precisamos ver a significação, a importância, a
natureza e o sentido da palavra.
E,
também devemos compreender as nossas várias vias de fuga, porquanto um problema
só se torna intenso, agudo, quando é uma coisa que exige imediata e plena
atenção.
Mas, a maioria de nós não deseja viver com tal intensidade, e é por
isso que os problemas crescem, se multiplicam e lançam raízes.
Por conseguinte,
não só devemos estar conscientes da palavra, mas também das maneiras como a
nossa mente foge; pois somos muito hábeis em fugir da vida.
Há a igreja, a
literatura, as nossas próprias experiências e conhecimentos, as nossas próprias
maneiras de considerar a vida, as nossas várias formas de fuga psicológica, de
modo que jamais entramos em contacto com o facto.
No
geral, pensamos que se pudermos compreender a causa de um problema, teremos
resolvido o problema; ou que se analisarmos o problema, tê-lo-emos compreendido.
Mas é exacto isso?
Conheço a causa do medo, da ansiedade, e esse conhecimento,
portanto, deveria impedir-me de sentir ansiedade, medo. Posso também analisar a
natureza do medo, da ansiedade, da culpa, etc., e no entanto, a minha mente não
está livre dessas coisas.
Assim, o mero exame, a mera análise, o percebimento
da causa de uma coisa não libertam a mente dessa coisa, do facto; e a busca da
causa, a análise, torna-se uma fuga ao facto.
Assim, se desejamos realmente
resolver todos os problemas da vida, devemos entrar em contacto directo com
cada problema; entrar em contacto directo com um problema significa compreender
a palavra, e ao mesmo tempo, compreender a natureza das fugas.
Desse modo,
entra-se directamente em contacto com o problema.
Estamos
a falar a respeito de problemas, porque me parece que a mente que tem qualquer
problema, não importa de que natureza, torna-se insensível, temerosa da morte,
da velhice, de tantas coisas!
A mente que tem medo, e sem resistência, se
sujeita aos diferentes modos de vida, depressa se torna muito confusa,
embotada, insensível.
Já notastes quanto a nossa mente é ineficiente, sem
clareza, obtusa, quando teme?
E
a maioria de nós tem medo de muitas coisas: de viver, de morrer, do vizinho, de
perder o emprego, de nunca ter um momento de plenitude na vida.
As nossas
inumeráveis frustrações acarretam medo, e este por sua vez torna-se um problema
intenso, do qual podemos estar ou não estar conscientes.
Conscientemente, posso
resolver o problema do medo, dele fugindo, sufocando-o, repelindo-o;
entretanto, ele continua existente, e para podermos entrar em contacto com esse
medo, `cravar-lhe os dentes´, precisamos como já indiquei, compreender a
palavra e a natureza da fuga.
Os
nossos problemas estão a crescer. Ainda que tenhamos segurança, segurança
física, bem-estar social, etc., uma grande parte de nós está ainda,
psicologicamente, ligada ao animal, e se não compreendermos toda essa estrutura
psicológica da sociedade, e também a nossa própria, que faz parte da sociedade,
a mente nunca poderá ser livre, estará sempre a ser torturada pelo medo.
Eis
por que sou de parecer que um ente humano amadurecido que deseje ir muito
longe, não à lua, mas penetrar muito longe em si próprio, para descobrir o
que é verdadeiro, necessita de uma mente muito lúcida, não-contaminada,
imaculada.
E a mente só é imaculada e lúcida, quando livre, livre do medo, por
exemplo. Só então se pode descobrir, sem a ajuda de nenhum dogma ou crença, sem
nenhum esforço, o que é verdadeiro.
Assim,
se somos realmente sérios, o nosso principal interesse deve ser o de investigar
perseverantemente esta questão: se a mente pode ficar livre dos seus problemas.
Pode um indivíduo viver neste mundo, frequentar diariamente o escritório, ser
casado e ter filhos, ou não ser casado, bem conheceis as coisas da vida, e não
é necessário entrarmos em muitas minúcias, pode um indivíduo viver neste mundo,
neste século, com os seus fantásticos progressos técnicos, e levar uma vida
completamente isenta de problemas?
Esta
me parece ser a coisa mais importante de todas, porque a mente que tem qualquer
problema está em conflito. Todos os problemas envolvem conflito.
E pode a mente
estar activa, ser enérgica, eficiente, lúcida, vigorosa, sem estar a fazer
nenhum esforço, isto é, sem ter nenhum problema?
Porque,
se estamos a fazer um esforço constante, num dado sentido, num dado nível, é
bem de ver que esse esforço torna a mente insensível, incapaz de enfrentar a
vida; e a vida está sempre a criar problemas.
Por `problema´ entendo algo que
não foi compreendido, um desafio não correspondido adequadamente,
suficientemente, com atenção completa, existe por isso, uma contradição entre o
desfio e a `resposta´; pois só quando a reacção é adequada, não existe
problema.
Mas, o viver de tal maneira que todos os desafios sejam adequadamente
enfrentados requer uma mente que não esteja empenhada em perene batalha.
Devemos
perceber que não só há desafios, exigências, questões conscientes, mas também
desafios e experiências a que `respondemos´ inconscientemente.
Na verdade, não
gosto da palavra `inconsciente´ , uma das palavras mais ocas que se podem
empregar.
O inconsciente parece-me uma coisa muito trivial, a que temos
atribuído indevida importância.
O inconsciente é o que somos. É o passado, são
as tradições, as várias acumulações de conhecimentos, de experiência, a herança
racial, as coisas que ouvimos dizer.
Isso constitui a totalidade da
consciência, da qual só percebemos certas partes, enquanto de outras partes não
estamos conscientes.
Percebemos o consciente porque é essa a única parte de que
nos servimos nas nossas actividades diárias, na nossa vida profissional, etc.,
etc.
A outra parte está adormecida e temos muito cuidado em não mexer nela. Mas
estar consciente da coisa total não significa dar continuidade ao passado, ao
inconsciente.
De
ordinário, vivemos num estado de sonho. Não compreendemos o inteiro significado
dos nossos sonhos; vivemos num certo nível, numa certa parte; e essa parte,
esse fragmento, ao reagir a um dado desafio, só poderá criar contradição.
Pois
é só quando se `responde´ ao desafio de maneira total que não há contradição, e
por consequência, não existe problema.
A
nossa questão, por conseguinte, é esta:
É possível a qualquer de nós, como ente
humano existente há dois milhões de anos ou talvez mais, com um tão longo
passado, uma tão grande história nacional, como francês, inglês, hindu, o que
quer que seja, com tanto acumular de saber, e de experiência, é possível a esse
indivíduo ficar livre de tudo isso, que constitui o passado, para enfrentar o
desafio, que está sempre no presente?
De
outra maneira, a vida torna-se um conflito terrível, uma aflição, uma confusão.
Podeis orar a todos os deuses inventados pelo homem, recorrer a todas as
religiões organizadas, todas as crenças e rituais, mas o problema nunca será
resolvido dessa maneira, que é uma fuga, uma fuga vã. Tanto vale beber um copo
de bebida.
O importante é que se compreenda toda essa estrutura, não através de
um `processo´ intelectual, mas que se esteja totalmente consciente de tudo
isso, do passado, do presente, sem fugir dos factos, mas ao contrário, entrar
em directo contacto com eles.
Talvez
então, venhamos a saber o que significa viver. E será esse um descobrimento
feito por nós mesmos, não como indivíduos, mas como entes humanos, porquanto o
ente humano é muito mais importante do que o indivíduo;
o ente humano é a
entidade total de dois milhões de anos, com tudo o que tem acumulado; não é um
indivíduo isolado num exíguo canto.
Talvez
então, saberemos por nós mesmos, viver uma vida sem conflito, vida em que há
tanta beleza!
Só a mente que se libertou de todo e qualquer problema, e
portanto, de toda a espécie de esforço, só ela é capaz de descobrir algo não
`projectado´ de si própria, algo que não é mera palavra, mero sentimento,
emoção."
Jiddu Krishnamurti
"O descobrimento do amor"