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quarta-feira, 18 de maio de 2016

The distance within ourselves...







We are not concerned with what you should or should not do; that is not the problem. We are concerned with understanding the mind; and in understanding there is no condemnation, no demand for a pattern of action. 


You are merely observing; and observation is denied when you concern yourself with a pattern of action, or merely explain the inevitability of a slavish life. 


What matters is to observe your own mind without judgment, just to look at it, to watch it, to be conscious of the fact that your mind is a slave, and no more; because that very perception releases energy, and it is this energy that is going to destroy the slavishness of the mind. 


But if you merely ask, `How am I to be free from my slavery to routine, from my fear and boredom in everyday existence?´, you will never release this energy. 





We are concerned only with perceiving what is; and it is the perception of what is that releases the creative fire. You cannot perceive if you do not ask the right question and a right question has no answer, because it needs no answer. It is wrong questions that invariably have answers. 


The urgency behind the right question, the very instance of it, brings about perception. 

The perceiving mind is living, moving, full of energy, and only such a mind can understand what truth is. 


But most of us, when we are face to face with a problem of this kind, invariably seek an answer, a solution, the `what to do', and the solution, the `what to do' is so easy, leading to further misfortune, further misery. That is the way of politicians. That is the way of the organized religions, which offer an answer, an explanation; and having found it, the so-called religious mind is thereby satisfied. 


But we are not politicians, nor are we slavish to organized religions. We are now examining the ways of our own minds, and for that there must be no fear. 


To find out about oneself, what one thinks, what one is, the extraordinary depths and movements of the mind, just to be aware of all that requires a certain freedom. And to inquire into oneself also requires an astonishing energy, because one has to travel a distance which is immeasurable. 


Most of us are fascinated by the idea of going to the moon, or to Venus; but those distances are much shorter than the distance within ourselves.








The distance

within ourselves...








"Estamos realmente conscientes da cólera, da tristeza, da felicidade? 
Ou delas só nos tornamos conscientes depois de passadas? 


Comecemos como se nada soubéssemos do assunto, da estaca zero. 

Não façamos asserções de espécie alguma, dogmáticas ou subtis, mas tratemos de explorar esta questão, pois, se realmente a penetrarmos, esse exame poderá revelar-nos um estado extraordinário que a mente provavelmente jamais atingiu, uma dimensão ainda não alcançada pelo percebimento superficial. 

Partamos, pois, desse percebimento superficial e daí penetremos até ao fim.



Nós vemos com os olhos, percebemos com os sentidos as coisas que nos cercam, a cor da flor, o colibri que sobre ela adeja, a luz deste sol Californiano, os sons inúmeros e de diferentes qualidades e graus de subtileza, as alturas e as profundezas, a sombra da árvore e a própria árvore. 


De modo idêntico percebemos o nosso corpo, o instrumento dessas diferentes espécies de percepção superficial, sensorial. Se tais percepções permanecessem no nível superficial, não haveria confusão nenhuma. 

Aquela flor, aquele amor-perfeito, aquela rosa, estão ali, diante de nós, pura e simplesmente. Não há preferência, comparação, gostar e não gostar: só aquela coisa à nossa frente, sem nenhuma complicação psicológica. É perfeitamente clara essa percepção sensorial, superficial? 

E pode estender-se às estrelas, às profundezas dos oceanos, e ao extremo limite da observação científica, com o auxílio dos instrumentos da moderna tecnologia.

(...)

Vedes, pois, que a rosa, e o universo e os seus habitantes, e a vossa própria esposa, se a tendes, e as estrelas, os mares, as montanhas, os micróbios, os átomos, os neutrons, esta sala, aquela porta, existem realmente. 


Agora, o segundo passo: o que pensais ou sentis a respeito dessas coisas é a vossa reacção psicológica a elas. A essa reacção chamamos `pensamento´ ou `emoção´.


Consequentemente, o percebimento superficial é uma coisa muito simples: ali está aquela porta. Mas a descrição da porta não é a porta, e quando emocionalmente vos deixais enredar na descrição, não vedes a porta. 

Essa descrição pode ser uma palavra, ou um tratado científico, ou uma forte reacção emocional; nada disso constitui a própria porta. É muito importante compreender isso desde o começo. 


Se não o compreendermos, tornar-nos-emos cada vez mais confusos. A descrição nunca é a coisa descrita.


Embora neste momento estejamos a fazer uma descrição, não podemos evitá-lo, a coisa que estamos a descrever não é a descrição que dela estamos a fazer. Peço-vos, pois, ter isto em mente, em toda a duração desta palestra. 


A palavra nunca é o real, mas facilmente nos deixamos arrebatar ao alcançarmos o segundo grau do percebimento, aquele em que o percebimento se torna pessoal e, por influência da palavra, nos tornamos emocionais.


Temos, pois, o percebimento superficial da árvore, do pássaro, da porta, e temos a reacção a esse percebimento, ou seja o pensamento, o sentimento, a emoção. Pois bem; ao nos tornarmos conscientes dessa reacção, podemos chamá-la um segundo grau de profundidade do percebimento. 

Há o percebimento da rosa, e o percebimento da reacção à rosa. Muitas vezes, não temos percebimento dessa reacção à rosa. Na realidade é o mesmo percebimento que vê a rosa e vê a reacção. 


Trata-se de um só movimento, e é erróneo falar de percebimento externo e percebimento interno. 



Quando há a percepção visual da árvore, sem nenhuma complicação psicológica, não há divisão nessa relação. Mas, quando há uma reacção psicológica à árvore, esta é uma reacção condicionada, a reacção das lembranças e experiências passadas, sendo essa reacção uma divisão na relação. É ela a origem disso a que chamamos `eu´, em relação com o `não-eu´.


É dessa maneira que vos pondes em relação com o mundo. É assim que se cria o indivíduo e a colectividade. O mundo é percebido, não como é em si, porém, nas suas diferentes relações com o `ego´ nascido da memória. 

Essa divisão é a vida e o florescimento disso a que chamamos `nosso ser psicológico´, e dela procedem todas as contradições e divisões. Estais a perceber isso com toda a clareza? No percebimento da árvore, não há avaliação de espécie alguma.

Mas, quando há uma reacção à árvore, quando a árvore é julgada com agrado ou desagrado, ocorre, então, nesse percebimento, a divisão em `eu´ e `não-eu´, sendo o `eu´ diferente da coisa observada.


Esse `eu´ é a reacção, nas relações, das lembranças e experiências do passado. Ora, pode haver um percebimento, uma observação da árvore, sem nenhuma espécie de julgamento, e pode haver uma observação da `resposta´, das reacções, inteiramente isenta de julgamento? 


Desse modo, erradicamos o princípio da divisão, o princípio do `eu´ e `não-eu´, tanto quando olhamos a árvore, como quando olhamos a nós mesmos.

(...)

Está tão claro como a própria árvore, ou é simplesmente a clareza da descrição? Lembrai-vos de que, como já dissemos, a coisa descrita não é a descrição. Que compreendestes, a coisa ou sua descrição?

(...)

Por conseguinte, no ver esse facto não existe `eu´, que é a descrição. No ver qualquer facto, não existe `eu´. Ou há `eu´, ou há `ver´: não pode haver os dois ao mesmo tempo. `Eu´ é `não ver´.

O `eu´ não pode ver, não pode estar consciente.

(...)

Já vimos o quanto são condicionadas as nossas reacções. Se se pergunta se existe um `eu´ fora das relações, tal pergunta será puramente especulativa, enquanto não se estiver livre daquelas reacções condicionadas. Percebeis? 


Assim, a primeira questão não é se existe, ou não, um `eu´ fora das reacções condicionadas, porém, sim, se a mente, que inclui todos os nossos sentimentos, pode libertar-se desse condicionamento, que é o passado. 



O passado é o `eu´. Não há `eu´ no presente. Enquanto a mente funciona no passado, existe `eu´ e a mente é esse passado, é esse `eu´.


Não se pode dizer `isto é a mente´ e `isto é o passado´, seja o passado de alguns dias, seja o de há dez mil anos. Portanto, perguntamos: Pode a mente libertar-se do ontem? Ora, há várias coisas implicadas nesta questão, não é verdade?


Primeiro, o percebimento superficial; depois, o percebimento da reacção condicionada; em seguida, o percebimento de que a mente é o passado, de que a mente é aquela reacção condicionada; e, por fim, a questão de se a mente pode libertar-se do passado. 

Tudo isso constitui um acto unitário de percebimento, porque nele não há conclusões. 


Ao dizermos que a mente é o passado, esse percebimento não é uma conclusão verbal, porém um percebimento real do facto. Os franceses têm uma palavra para o percebimento de um facto: constatation.

Ao perguntarmos se a mente pode libertar-se do passado, esta pergunta é feita pelo censor, o `eu´, que é o próprio passado?

(...)

Tenhamos em mente que estamos a tratar do percebimento. Estamos a conversar sobre a questão do percebimento.


Existe a árvore e a `reacção condicionada´ à árvore, reacção que é o `eu´ em relação, o `eu´ que constitui o centro mesmo do conflito. Pois bem; é esse `eu´ quem está a fazer a pergunta? Esse `eu´ que, conforme dissemos, é a estrutura mesma do passado?


Se a pergunta não vem da estrutura do passado, se não é feita pelo `eu´, não há então nenhuma estrutura do passado. Quando a estrutura faz a pergunta, está a operar em relação ao facto, que é ela própria, está com medo de si própria e actua com o fim de fugir de si própria. Quando não é a estrutura quem faz a pergunta, não está a actuar em relação a si própria.


Recapitulando: Existe a árvore, existe a palavra, a reacção à árvore, ou seja o `censor´ ou `eu´, vindo do passado; e a seguir, faz-se a pergunta: Posso livrar-me de toda esta agitação e agonia? 
Se é o `eu´ quem faz essa pergunta, está a perpetuar a si próprio.


Pois bem; percebendo isso, ele não faz a pergunta! Percebendo-se isso e todas as suas consequências, tal pergunta não pode ser feita. O `eu´ não a faz, porque percebe a armadilha. Estais a ver agora que esse percebimento é todo superficial? É idêntico ao percebimento que vê a árvore.

(...)

É necessária a crença para se conhecer Deus? Aprender é muito mais importante do que saber. O aprender a respeito da crença é o fim da crença. Livre da crença, tem a mente a possibilidade de olhar. 

É a crença ou a descrença que escraviza, pois crença e descrença são a mesma coisa, as faces opostas da mesma moeda. Podemos, pois, rejeitar de todo a crença, positiva ou negativa; o crente e o descrente são idênticos. Após essa rejeição, tem então um significado diferente a pergunta `Existe Deus?´.


A palavra `Deus´, com a sua soma de tradição e memória, as suas implicações intelectuais e sentimentais, não é Deus. A palavra não é o real. Pode, pois, a mente libertar-se da palavra?


(...)

A palavra é a tradição, a esperança, o desejo de descobrir o absoluto, a luta por alcançar a realidade última, o movimento que dá vitalidade à existência. Toma-se, assim, a própria palavra a realidade última; mas, pode-se ver que a palavra não é a coisa real. A mente é a palavra, e a palavra é pensamento.

(...)

No caso da árvore, o objecto está diante dos vossos olhos, e a palavra se aplica à árvore, por consenso geral. Ora, com relação à palavra `Deus´ não existe nada a que ela possa aplicar-se, de modo que cada homem pode criar a sua própria imagem da coisa designada por tal palavra. O teólogo o faz por uma certa maneira, o intelectual por outra, e o crente e o não crente pelas suas próprias e diferentes maneiras.


A esperança gera a crença e, em seguida, a busca. Essa esperança é produto do desespero, o desespero de todos os que nos cercam neste mundo. Do desespero nasce a esperança, também as duas faces da mesma moeda. Quando não há esperança, há o inferno, e o medo ao inferno dá-nos a vitalidade da esperança. Começa, então, a ilusão.


A palavra, por conseguinte, levou-nos à ilusão e não a Deus. Deus é a ilusão que adoramos; e o descrente cria a ilusão de outro Deus que ele venera, o Estado, ou uma certa utopia, ou um certo livro que ele pensa conter toda a verdade. Por isso vos perguntamos se podeis libertar-vos da palavra e da sua ilusão.

(...)

Viestes perguntar se há Deus, e nós respondemos: A palavra leva à ilusão que adoramos, e por causa dessa ilusão estamos prontos a matar-nos mutuamente. Quando não há nenhuma ilusão, `o que é´ é então sacratíssimo. Pois bem; olhemos o que realmente é.

Num dado momento, `o que é´ pode ser medo, ou extremo desespero, ou passageira alegria. Essas coisas variam constantemente. 


E há também o observador que diz: `Tudo o que me cerca varia, mas eu permaneço o mesmo´. É facto isso, é realmente o que é? 

Ele também não varia, ao acrescentar a si próprio, subtrair de si próprio, ao modificar-se, ajustar-se, para `vir a ser´, `não vir a ser´?


Vemos, pois, que tanto o observador como a coisa observada variam constantemente. `O que é´ é variação. Isso é um facto. É `o que é´.

(...)

Isso é amor? Ou quereis dizer que o amor é diferente da sua expressão? Ou estais a dar à expressão mais importância do que ao amor, e por conseguinte, a criar uma contradição e um conflito? Pode o amor prender-se à roda da mudança? 
Se pode, nesse caso ele pode também ser ódio; então amor é ódio. Só quando não há ilusão nenhuma, é sacratíssimo `o que é´.


Não havendo ilusão, `o que é´ é Deus, ou outro nome que se preferir. Assim, Deus, ou o nome que lhe derdes, existe quando vós não existis. 
Quando vós existis, Ele não existe. Quando vós não existis, existe o amor. Quando há vós, não há amor.


(...)

Ninguém pode puxar-vos para fora da armadilha, nenhum guru, nenhuma droga, nenhum mantra, pessoa alguma, inclusive eu próprio, principalmente eu próprio. O que vos cumpre fazer é apenas manter-vos consciente do começo ao fim, não vos tornardes desatento no meio do caminho.


Essa nova qualidade de percebimento é a atenção, e nessa atenção não existe nenhuma barreira levantada pelo `eu´. Essa atenção é a mais elevada forma da virtude, e por conseguinte, é amor. 
É a inteligência suprema, e não pode haver atenção, se não fordes sensível à estrutura e natureza dessas armadilhas construídas pelo homem."





Jiddu Krishnamurti
"A luz que não se apaga"












DO IMACULADO CONHECIMENTO 



Ontem a lua, ao nascer, pareceu-me que ia dar à luz um sol: tão avultada e prenhe jazia no horizonte. Mentia, porém, com a sua prenhez, e mais julgaria a lua homem do que mulher. 

Claro que também é muito pouco homem este tímido noctâmbulo. Anda pelos telhados com a consciência turva. Que a solitária lua está cheia de cobiça e de inveja: cobiça a terra e todas as alegrias dos que amam. 

Nada; não me agrada esse gato dos telhados; previnem-me todos os que espreitam as janelas voltadas. De manso e silencioso anda por alfombras de estrelas; mas eu detesto todos os pés cautelosos em que nem mesmo as esporas tilintam. 

Os passos do homem leal falam; mas o gato anda em segredo. Vede: a lua caminha deslealmente como o gato. 
A vós, hipócritas afectados, que procurais o `conhecimento puro´, ofereço esta parábola. 

A vós eu chamo lascivos. Vós também amais a terra e tudo quanto é terrestre: compreendi-vos bem! 
O vosso amor, porém, envergonha-se com uma consciência tortuosa: pareceis-vos com a lua. 

O vosso espírito convenceu-se de que deve menosprezar tudo quanto é terreno; mas não se convenceram as vossas entranhas. Elas são, todavia, o mais forte que há em vós. E agora o vosso espírito envergonha-se de obedecer às vossas entranhas, e segue caminhos escusos e ilusórios para se livrar da sua própria vergonha. 

`Para mim seria a coisa mais elevada (assim diz a si mesmo o vosso falso espírito) olhar a vida sem cobiça, e não como cães, com a língua de fora. 

Ser feliz na contemplação, com a vontade morta, isento de capacidade e de apetite egoísta, frio de corpo, mas com os olhos embriagados de lua. Para mim seria o melhor (assim se engana a si mesmo o enganado) amar a terra como a luz a ama, e tocar na sua beleza apenas com os olhos. 


Eis o que eu chamo o imaculado conhecimento de todas as coisas: não querer das coisas mais do que poder estar diante delas´. Hipócritas afectados e lascivos! 

Falta-vos a inocência no desejo, e por isso caluniais o desejo! Vós não amais a terra como criadores, como geradores satisfeitos de criar. Onde há inocência? 














Onde há vontade de engendrar. E o que criar qualquer coisa superior a si mesmo, esse, para mim, tem a vontade mais pura.


Onde há beleza? Onde é mister que eu queira com toda a minha vontade, onde eu quero amar e desaparecer, para que uma imagem não fique reduzida a uma simples imagem. 


Amar e desaparecer: são coisas que andam a par há eternidades. Querer amar é também estar pronto a morrer. Assim vos falo eu, cobardes!


Mas o vosso olhar ambíguo e efeminado quer ser contemplativo! E para vós, que maculais os nomes nobres, o que se pode tocar com olhos pusilânimes deve-se chamar `belo!´. A vossa maldição, porém, — ó! imaculados que procurais o simples conhecimento! — há-de ser nunca chegardes a dar à luz, por muito avultados e prenhes que apareçais no horizonte. 


Na verdade, encheis a boca de palavras nobres, e havíamos de crer que o vosso coração transborda, embusteiros? 



As minhas palavras, porém, são grosseiras, desprezadas e informes: a mim agrada-me recolher o que nos vossos festins cai da mesa. Com as minhas palavras chego sempre a dizer a verdade aos hipócritas! 

Sim, as minhas arestas, as minhas conchas e as minhas folhas espinhosas devem fazer-vos cócegas nos narizes, hipócritas!



Sempre há ar viciado em redor de vós e dos vossos festins: porque no ar flutuam os vossos lascivos pensamentos, as vossas mentiras e as vossas dissimulações. 














Atreveis-vos, pois, em primeiro lugar a ter fé em vós mesmos — em vós e nas vossas entranhas! — o que não tem fé em si mesmo mente sempre. 

Pusesteis diante de vós a máscara de um deus, homens `puros´: a vossa ignominiosa e rasteira larva ocultou-se detrás da máscara de um deus. A verdade é que vos enganais, `contemplativos!´. 

Zaratustra também foi joguete das vossas divinas peles; não suspeitou que eram serpentes que enchiam essa pele. Nos vossos divertimentos julgava eu ver divertir-se a alma de um deus, simples investigadores! Eu não conhecia arte melhor que os vossos artifícios! 

A vossa distância ocultava-me imundícies de serpente e maus cheiros, e eu não sabia que por aqui rondava, lasciva, a astúcia de um lagarto. Abeirei-me, porém, de vós: então chegou a mim a luz — e agora chega a vós; — os amores da lua estão no seu declive. Olhai-a. Aí a tendes surpreendida e pálida ante a aurora! 

Porque já surge ardente a aurora: o seu amor pela terra aproxima-se! Todo o amor solar é inocência e desejo do criador. Vede como a aurora passa impaciente pelo mar! Não sentis a sede e o cálido alento do seu amor? 

Quer aspirar o mar e beber as suas profundidades, e o desejo do mar eleva-se com mil ondas. Porque o mar quer ser beijado e aspirado pelo sol; quer tornar-se ar e altura e senda de luz também. 

Eu, à semelhança do sol, como a vida e todos os mares profundos. E tal é para mim o conhecimento: todo o profundo deve subir à minha altura´. 
Assim falava Zaratustra."

















Friedrich Nietzsche
"Assim falou Zaratustra"














t.






























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