“Violence is not merely killing
another.
It is violence when we use a sharp word, when we make a gesture to
brush away a person, when we obey because there is fear.
So violence isn’t
merely organized butchery in the name of God, in the name of society or
country.
Violence is much more subtle, much deeper, and we are inquiring into
the very depths of violence.
When you call yourself an Indian or a Muslim or a
Christian or a European, or anything else, you are being violent. Do you know
why it is violent?
Because you are separating yourself from the rest of
mankind.
When you separate yourself by belief, by nationality, by tradition, it
breeds violence.
So a man who is seeking to understand violence does not belong
to any country, to any religion, to any political party or system; he is
concerned with the total understanding of mankind.”
The depths of violence...
"As
opiniões não nos levarão a parte alguma, e entreter-nos com meras subtilezas
intelectuais pouco significa, porque a verdade não pode ser encontrada mediante
uma simples troca de opiniões ou ideias.
Assim, se vamos conversar sobre
qualquer problema, temos de fazê-lo num nível não intelectual, emocional ou
sentimental.
Interrogante: Penso
que a guerra ao comunismo tem uma certa justificação. Gostaria de averiguar
junto convosco se tenho ou não razão. Entenda-se que vivi dez anos sujeito ao
comunismo; estive num campo de concentração russo e também numa prisão
comunista. Entre os comunistas só se entende uma língua: a força.
Assim,
pergunto: Não é esta uma guerra de auto-defesa?
J. Krishnamurti: Creio
que todos os grupos que provocam a guerra a justificam como auto-defesa. Sempre
houve guerras, ofensivas e defensivas; mas, em todos os séculos, tem havido
guerras peculiarmente monstruosas.
E, todavia, nós, que nos prezamos de ser
educados e cultos, continuamos a promover os mais selvagens morticínios. Vamos,
pois, examinar esta questão, verificar o que é essa violência, essa
agressividade profundamente enraizada no homem; vamos ver se é possível nos
libertarmos dela.
Houve
pessoas que disseram: `Nunca, em circunstância alguma, manifestar violência!´.
Isso implica viver pacificamente, ainda que rodeado de gente agressiva e
violenta; constituir uma espécie de núcleo num meio cruel, brutal, violento.
Mas, como pode a mente libertar-se dessa acumulação de violência em si própria,
a violência `civilizada´, auto-protectora, a violência agressiva, a violência
do espírito de competição, a violência dos que querem tornar-se `importantes´,
dos que procuram disciplinar-se segundo um padrão para alcançarem `posição´,
dos que se reprimem, tiranizam e embrutecem a si próprios, a fim de se tornarem
`não-violentos´, como pode a mente libertar-se de todas essas formas de
violência?
Há
inúmeras variedades de violência. Que devemos fazer: examinar cada uma dessas
variedades, separadamente, ou considerar, no seu todo, a estrutura da
violência? Podemos olhar a violência no seu aspecto total, em vez de
observarmos apenas uma das suas partes?
A
fonte da violência é o `eu´, o `ego´, que se expressa de muitos e vários modos,
que divide, luta para se tornar ou ser importante, etc.; que se divide em `eu´
e `não-eu´, em consciente e inconsciente; que se identifica, ou não, com a
família, a comunidade, etc. Ele é como uma pedra lançada num lago tranquilo, a
qual forma ondas que se estendem mais e mais, no centro fica o `eu´.
Enquanto
subsistir o `eu´, em qualquer forma que seja, subtil ou grosseira, haverá
inevitavelmente violência.
Mas,
indagar a causa fundamental da violência, descobri-la, não significa
necessariamente libertar-se da violência.
Penso
que, se souber por que sou brutal, deixo de ser brutal, assim, levo semanas,
meses, anos a indagar a causa da violência ou leio as explicações dadas pelos
especialistas sobre as suas diferentes causas, e, no fim, continuo violento.
Qual a correcta maneira de proceder: investigar a questão da violência mediante
o descobrimento da causa e do efeito, ou tomar a violência no seu todo e
observá-la?
Não há distinção notável entre a causa e o efeito; constituem uma
cadeia, em que a causa se torna efeito e o efeito se torna causa, um processo
contínuo.
Mas, se olharmos como um todo o problema da violência, poderemos
compreendê-lo tão fundamentalmente que ela cessará definitivamente.
Construímos
uma sociedade violenta e, como entes humanos, somos violentos: o ambiente, a
cultura em que vivemos são produto dos nossos esforços, das nossas lutas e
dores, das nossas horrendas brutalidades. Portanto, a questão mais importante é
esta: Temos possibilidade de pôr fim à tremenda violência em nós existente? Eis
a verdadeira questão.
Interrogante: É
possível transformar a violência?
J. Krishnamurti: A violência é uma forma de energia; é a energia que,
utilizada de uma certa maneira, se torna agressão.
Mas, por ora, não vamos
tentar transformar ou modificar a violência, mas sim, compreendê-la tão completamente
que dela possamos nos libertar, que a mente se ponha fora do seu alcance, não
importa se transcendendo-a ou transformando-a. Isso é possível?
Impossível?
`Possível´,
que palavra! De que maneira pensamos na violência?
De que maneira a olhamos?
Prestai atenção a esta pergunta: Como sabe uma pessoa que é violenta?
Quando
somos violentos, percebemo-lo? Como se conhece a violência?
Esta questão de
`conhecer´ é verdadeiramente complexa.
Quando digo `Conheço-vos´, o que
significa `conheço´? Conheço-vos de ontem ou de há dez anos passados. Mas,
nesse intervalo, de dez anos, vós mudastes e eu mudei; por conseguinte, não vos
conheço.
Só vos conheço como fostes no passado, por conseguinte, não posso de
modo nenhum dizer `conheço-vos´. Peço-vos que compreendam, em primeiro lugar,
esta coisa simples.
Consequentemente,
só posso dizer: `Eu fui violento, mas não sei o que a violência é agora´.
Dizeis-me uma coisa que me irrita os nervos e me faz raiva. Um segundo depois,
digo`Fiquei com raiva´. No momento da raiva, não a reconheço; só posteriormente
a reconheço.
Faz-se mister examinar a estrutura do reconhecimento; a menos que
a compreendamos, não temos possibilidade de enfrentar a cólera de maneira nova.
Sinto cólera, mas só sei que a senti um momento após.
Esse percebimento é o
reconhecimento de ter estado encolerizado; verifica-se depois que estive
encolerizado; de contrário, não posso saber que o que senti foi cólera.
Vede o
que aconteceu: o reconhecimento interfere na realidade.
Estou sempre a traduzir
a realidade presente em função do passado.
Assim,
posso, em vez de traduzir o presente em função do passado, olhar a reacção de
maneira nova, com uma mente nova?
Uma
pessoa me chama idiota, o sangue logo me aflui às faces e eu replico: `Idiota é
você!´. O que sucedeu em mim, emocionalmente, interiormente?
Tenho, a respeito
de mim mesmo, a imagem de uma pessoa estimável, nobre, digna, e alguém insultou
essa imagem. Quem reage é essa imagem, ou seja, o `velho´. Assim, a `próxima
pergunta´ é esta: Pode a reacção não proceder do velho?
Pode criar-se um
intervalo entre o `velho´ e a realidade nova? Pode o velho deter-se, para
permitir a manifestação do novo? Aí está o problema inteiro.
Interrogante: Quereis
dizer que a violência é apenas a divisão entre `o que não é´ e `o que é´?
J. Krishnamurti: Não,
senhor. Recomecemos. Nós somos violentos. Em toda a sua existência, os entes
humanos sempre foram violentos.
Desejo, como ente humano, descobrir como
transcender essa violência, como ultrapassá-la. O que posso fazer?
Vejo
o que a violência tem feito no mundo, destrói todas as formas de relação,
produz em cada ente humano agonias e aflições.
Tudo isso eu vejo, e digo para
mim: `Desejo viver uma vida realmente pacífica, com abundância de amor; toda a
espécie de violência precisa de acabar´. O que posso fazer?
Em primeiro lugar,
não devo fugir dela; tenhamos toda a certeza a esse respeito.
Não devo fugir ao
facto de que sou violento, isto é, condenar ou justificar o facto, ou dar-lhe o
nome de `violência´; dar nome é uma forma de condenação ou de justificação.
Cabe-me
perceber que a mente não deve distrair-me do facto que é a violência, ao buscar
a causa ou explicando-o pela causa; não deve dar nome ao facto, nem
justificá-lo, condená-lo ou procurar libertar-se dele. Tudo isso são formas de
distração do facto que é a violência.
A mente deve ver com toda a clareza que
não está a haver fuga ao facto; tampouco deve haver o exercício da vontade:
`Quero dominar a violência´. A vontade é a mesma essência da violência.
Interrogante: Basicamente,
estamos a tentar descobrir o que é a violência, e nela procurando a ordem.
J. Krishnamurti: Não,
senhor. Como pode haver ordem na violência? Violência é desordem.
Não
deve haver nenhuma espécie de fuga, nem justificação ou explicação intelectual
da violência.
Vede como isso é difícil, porquanto a mente é tão ardilosa e
subtil no fugir, pois não sabe o que fazer com a violência. Não é ou pensa não
ser capaz de enfrentar a violência, e por conseguinte, recorre à fuga.
Toda a
espécie de fuga, distracção, afastamento, sustenta a violência. Percebendo-se
isso, a mente se vê frente a frente com o facto `o que é´ e nada mais.
Interrogante: Como
se pode saber que a reacção é violência se não lhe damos nome?
J. Krishnamurti: Dar-lhe
nome é relacioná-la com o passado, é olhá-la com olhos contaminados pelo
passado; não é olhá-la de maneira nova. Percebeis?
Olhar
a violência, e justificá-la, é dizer que ela é necessária para vivermos nesta
sociedade monstruosa, dizer que ela faz parte da natureza, pois `a natureza
mata´.
Estamos condicionados para olhar a violência com condenação,
justificação ou resistência.
Só poderemos olhá-la de maneira nova, como coisa
nova, se nos tornarmos conscientes de que estamos a identificar o que vemos com
as imagens do que já conhecemos, e portanto, não estamos a olhar de maneira
nova.
Surge, assim, a questão: Como se formam essas imagens? Qual o mecanismo
formador de imagens?
A minha mulher me diz: `Você é um tolo´; não gosto de
ouvir isso, e deixa uma marca na minha mente. Se me disser outra coisa, também
produz o mesmo efeito. Essas marcas são as imagens da memória.
Ora, se no mesmo
minuto em que ela me chama `tolo´, estou vigilante, atento, não se produz marca
nenhuma; ela pode ter razão.
A
desatenção, pois, gera a imagem; a atenção liberta a mente da imagem. Isto é
muito simples.
Do mesmo modo, se quando sinto cólera, me torno completamente
atento, não há então aquela desatenção que deixa o passado apresentar-se e
interferir na percepção da cólera, naquele momento.
Interrogante: Isso
não é acto de vontade?
J. Krishnamurti: Dissemos:
`A vontade é, essencialmente, violência´. Examinemos o que é a vontade: `Quero
fazer isto´, `Não quero aquilo´, `Farei isto´, resisto, exijo, desejo, e tudo
isso são formas de resistência. Quando dizeis: `Eu quero aquilo´, isto é uma
forma de resistência, e resistência é violência.
Interrogante: Compreendo-vos
ao dizerdes que evitamos o problema com o buscar-lhe a solução. Isso nos afasta
de `o que é´.
J. Krishnamurti: Portanto,
desejo saber como olhar `o que é´. Pois
bem; estamos agora a tentar descobrir se é possível transcendermos a violência.
Dissemos: `Não fujais dela; não vos afasteis do facto central que é a
violência´. Perguntou-se: `Como podemos saber que a reacção é violência?´.
Só a
conheceis por serdes capaz de reconhecê-la como `violência´?
Mas, se a olhamos
sem lhe dar nome, sem justificá-la ou condená-la (e tudo isso é condicionamento
do passado), estamo-la, então, a olhar de maneira nova, não é verdade? Há,
então, violência?
Esta é uma das coisas mais difíceis, porque todo o nosso
viver está condicionado pelo passado. Sabeis o que é viver no presente?
Interrogante: Dizeis:
`Livrai-vos da violência´, isso subentende muitas coisas mais.
J. Krishnamurti: Penetremos
o significado de `liberdade´.
Existem,
nos níveis mais profundos, rancores, frustrações, resistências; de tudo isso a
mente deve também libertar-se, não achais?
Pergunto: Pode a mente livrar-se da
violência activa no presente, livrar-se de todas as suas inconscientes
acumulações de ódio, raiva, azedume, profundamente jacentes? Como conseguir
isso?
Interrogante: Uma
pessoa livre da sua própria violência não fica deprimida ao ver a violência
existente no exterior? O que lhe cabe fazer?
J. Krishnamurti: O que lhe cabe fazer é ensinar aos outros.
Ensinar
é a mais elevada missão, no mundo, ensinar, não para ganhar dinheiro,
constituir um vultoso depósito no banco, ensinar, simplesmente.
Interrogante: Qual
a maneira mais fácil de...
J. Krishnamurti: `A
maneira mais fácil´? (risos) Por favor, não estamos num circo! Senhor, ensinar
ao outro, estais também a aprender.
Ensinar não exige uma prévia acumulação de
conhecimentos. Vós sois violento; compreender a vós mesmos é ajudar outro a
compreender a si próprio; por conseguinte, aprender é ensinar. Não percebeis
quanta beleza há nisso!
Mas,
continuemos. Não desejais de todo o coração saber o que é o amor?
Não existe há
milénios esta aspiração humana de descobrir a maneira de viver pacificamente,
com uma grande abundância de amor, de compaixão? Isso só será possível no
estado de `não-eu´. Compreendeis?
E eu vos digo: Olhai, para poderdes
descobrir, não importa de onde olhais, da solidão, da cólera, da rudeza,
olhai, sem fugir. Fugir é dar nome ao estado; portanto, não lhe deis nome, olhai-o!
E vede, então (sem dar nome), se ainda existe rudeza.
Interrogante: Advogais
a libertação de toda a espécie de violência, ou existe porventura, na vida, uma
`violência sã´? Não me refiro à violência física, mas ao livrar-nos da
frustração. É de salutar não nos deixarmos frustrar?
J. Krishnamurti: Não,
minha senhora. A resposta está contida na pergunta. Por que nos sentimos
frustrados?
Já perguntastes a vós mesma por que vos sentis frustrada?
E, para
responder à vossa pergunta, alguma vez perguntastes: O que é preenchimento? Por
que desejais preencher-vos? Existe preenchimento? Quem é que se preenche?
O
`eu´, o `ego´, que é violento; o `ego´, que se separa, que diz `sou superior a
você´; o `ego´, que está sempre a cultivar a ambição, a buscar a fama, a
notoriedade, é esse `ego´ que se preenche?
Porque
o `ego´ deseja realizar `grandes coisas´, e se não consegue realizá-las, se
sente frustrado, e por conseguinte, torna-se rude.
Percebeis que existe essa
coisa, o `ego´ que deseja expandir-se, e quando não o consegue, se sente
frustrado, e por conseguinte, torna-se rude?
Essa rudeza, esse desejo de
expansão é violência. Pois bem; ao perceberdes essa verdade, não há mais desejo
de preenchimento, e assim, deixa de haver frustração."
Jiddu Krishnamurti
"Fora da violência"
t.
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