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quarta-feira, 4 de maio de 2016

The depths of violence...









Violence is not merely killing another. 


It is violence when we use a sharp word, when we make a gesture to brush away a person, when we obey because there is fear. 


So violence isn’t merely organized butchery in the name of God, in the name of society or country. 


Violence is much more subtle, much deeper, and we are inquiring into the very depths of violence. 

When you call yourself an Indian or a Muslim or a Christian or a European, or anything else, you are being violent. Do you know why it is violent? 


Because you are separating yourself from the rest of mankind. 


When you separate yourself by belief, by nationality, by tradition, it breeds violence. 


So a man who is seeking to understand violence does not belong to any country, to any religion, to any political party or system; he is concerned with the total understanding of mankind.









 The depths of  violence...








"As opiniões não nos levarão a parte alguma, e entreter-nos com meras subtilezas intelectuais pouco significa, porque a verdade não pode ser encontrada mediante uma simples troca de opiniões ou ideias. 

Assim, se vamos conversar sobre qualquer problema, temos de fazê-lo num nível não intelectual, emocional ou sentimental.


Interrogante: Penso que a guerra ao comunismo tem uma certa justificação. Gostaria de averiguar junto convosco se tenho ou não razão. Entenda-se que vivi dez anos sujeito ao comunismo; estive num campo de concentração russo e também numa prisão comunista. Entre os comunistas só se entende uma língua: a força. 
Assim, pergunto: Não é esta uma guerra de auto-defesa?


J. Krishnamurti: Creio que todos os grupos que provocam a guerra a justificam como auto-defesa. Sempre houve guerras, ofensivas e defensivas; mas, em todos os séculos, tem havido guerras peculiarmente monstruosas. 

E, todavia, nós, que nos prezamos de ser educados e cultos, continuamos a promover os mais selvagens morticínios. Vamos, pois, examinar esta questão, verificar o que é essa violência, essa agressividade profundamente enraizada no homem; vamos ver se é possível nos libertarmos dela.

Houve pessoas que disseram: `Nunca, em circunstância alguma, manifestar violência!´. Isso implica viver pacificamente, ainda que rodeado de gente agressiva e violenta; constituir uma espécie de núcleo num meio cruel, brutal, violento. 

Mas, como pode a mente libertar-se dessa acumulação de violência em si própria, a violência `civilizada´, auto-protectora, a violência agressiva, a violência do espírito de competição, a violência dos que querem tornar-se `importantes´, dos que procuram disciplinar-se segundo um padrão para alcançarem `posição´, dos que se reprimem, tiranizam e embrutecem a si próprios, a fim de se tornarem `não-violentos´, como pode a mente libertar-se de todas essas formas de violência?

Há inúmeras variedades de violência. Que devemos fazer: examinar cada uma dessas variedades, separadamente, ou considerar, no seu todo, a estrutura da violência? Podemos olhar a violência no seu aspecto total, em vez de observarmos apenas uma das suas partes?

A fonte da violência é o `eu´, o `ego´, que se expressa de muitos e vários modos, que divide, luta para se tornar ou ser importante, etc.; que se divide em `eu´ e `não-eu´, em consciente e inconsciente; que se identifica, ou não, com a família, a comunidade, etc. Ele é como uma pedra lançada num lago tranquilo, a qual forma ondas que se estendem mais e mais, no centro fica o `eu´. 

Enquanto subsistir o `eu´, em qualquer forma que seja, subtil ou grosseira, haverá inevitavelmente violência.

Mas, indagar a causa fundamental da violência, descobri-la, não significa necessariamente libertar-se da violência.

Penso que, se souber por que sou brutal, deixo de ser brutal, assim, levo semanas, meses, anos a indagar a causa da violência ou leio as explicações dadas pelos especialistas sobre as suas diferentes causas, e, no fim, continuo violento. 

Qual a correcta maneira de proceder: investigar a questão da violência mediante o descobrimento da causa e do efeito, ou tomar a violência no seu todo e observá-la? 

Não há distinção notável entre a causa e o efeito; constituem uma cadeia, em que a causa se torna efeito e o efeito se torna causa, um processo contínuo. 

Mas, se olharmos como um todo o problema da violência, poderemos compreendê-lo tão fundamentalmente que ela cessará definitivamente.

Construímos uma sociedade violenta e, como entes humanos, somos violentos: o ambiente, a cultura em que vivemos são produto dos nossos esforços, das nossas lutas e dores, das nossas horrendas brutalidades. Portanto, a questão mais importante é esta: Temos possibilidade de pôr fim à tremenda violência em nós existente? Eis a verdadeira questão.


Interrogante: É possível transformar a violência?





J. Krishnamurti: A violência é uma forma de energia; é a energia que, utilizada de uma certa maneira, se torna agressão. 

Mas, por ora, não vamos tentar transformar ou modificar a violência, mas sim, compreendê-la tão completamente que dela possamos nos libertar, que a mente se ponha fora do seu alcance, não importa se transcendendo-a ou transformando-a. Isso é possível? Impossível? 

`Possível´, que palavra! De que maneira pensamos na violência? 
De que maneira a olhamos? Prestai atenção a esta pergunta: Como sabe uma pessoa que é violenta? 

Quando somos violentos, percebemo-lo? Como se conhece a violência? 

Esta questão de `conhecer´ é verdadeiramente complexa. 

Quando digo `Conheço-vos´, o que significa `conheço´? Conheço-vos de ontem ou de há dez anos passados. Mas, nesse intervalo, de dez anos, vós mudastes e eu mudei; por conseguinte, não vos conheço. 
Só vos conheço como fostes no passado, por conseguinte, não posso de modo nenhum dizer `conheço-vos´. Peço-vos que compreendam, em primeiro lugar, esta coisa simples. 

Consequentemente, só posso dizer: `Eu fui violento, mas não sei o que a violência é agora´. Dizeis-me uma coisa que me irrita os nervos e me faz raiva. Um segundo depois, digo`Fiquei com raiva´. No momento da raiva, não a reconheço; só posteriormente a reconheço. 

Faz-se mister examinar a estrutura do reconhecimento; a menos que a compreendamos, não temos possibilidade de enfrentar a cólera de maneira nova. Sinto cólera, mas só sei que a senti um momento após. 

Esse percebimento é o reconhecimento de ter estado encolerizado; verifica-se depois que estive encolerizado; de contrário, não posso saber que o que senti foi cólera. 

Vede o que aconteceu: o reconhecimento interfere na realidade. 

Estou sempre a traduzir a realidade presente em função do passado.

Assim, posso, em vez de traduzir o presente em função do passado, olhar a reacção de maneira nova, com uma mente nova? 

Uma pessoa me chama idiota, o sangue logo me aflui às faces e eu replico: `Idiota é você!´. O que sucedeu em mim, emocionalmente, interiormente? 

Tenho, a respeito de mim mesmo, a imagem de uma pessoa estimável, nobre, digna, e alguém insultou essa imagem. Quem reage é essa imagem, ou seja, o `velho´. Assim, a `próxima pergunta´ é esta: Pode a reacção não proceder do velho? 

Pode criar-se um intervalo entre o `velho´ e a realidade nova? Pode o velho deter-se, para permitir a manifestação do novo? Aí está o problema inteiro.


Interrogante: Quereis dizer que a violência é apenas a divisão entre `o que não é´ e `o que é´?





J. Krishnamurti: Não, senhor. Recomecemos. Nós somos violentos. Em toda a sua existência, os entes humanos sempre foram violentos. 

Desejo, como ente humano, descobrir como transcender essa violência, como ultrapassá-la. O que posso fazer? 

Vejo o que a violência tem feito no mundo, destrói todas as formas de relação, produz em cada ente humano agonias e aflições. 

Tudo isso eu vejo, e digo para mim: `Desejo viver uma vida realmente pacífica, com abundância de amor; toda a espécie de violência precisa de acabar´. O que posso fazer? 

Em primeiro lugar, não devo fugir dela; tenhamos toda a certeza a esse respeito. 

Não devo fugir ao facto de que sou violento, isto é, condenar ou justificar o facto, ou dar-lhe o nome de `violência´; dar nome é uma forma de condenação ou de justificação.

Cabe-me perceber que a mente não deve distrair-me do facto que é a violência, ao buscar a causa ou explicando-o pela causa; não deve dar nome ao facto, nem justificá-lo, condená-lo ou procurar libertar-se dele. Tudo isso são formas de distração do facto que é a violência. 

A mente deve ver com toda a clareza que não está a haver fuga ao facto; tampouco deve haver o exercício da vontade: `Quero dominar a violência´. A vontade é a mesma essência da violência.


Interrogante: Basicamente, estamos a tentar descobrir o que é a violência, e nela procurando a ordem.





J. Krishnamurti: Não, senhor. Como pode haver ordem na violência? Violência é desordem.

Não deve haver nenhuma espécie de fuga, nem justificação ou explicação intelectual da violência. 

Vede como isso é difícil, porquanto a mente é tão ardilosa e subtil no fugir, pois não sabe o que fazer com a violência. Não é ou pensa não ser capaz de enfrentar a violência, e por conseguinte, recorre à fuga. 

Toda a espécie de fuga, distracção, afastamento, sustenta a violência. Percebendo-se isso, a mente se vê frente a frente com o facto `o que é´ e nada mais.


Interrogante: Como se pode saber que a reacção é violência se não lhe damos nome?





J. Krishnamurti: Dar-lhe nome é relacioná-la com o passado, é olhá-la com olhos contaminados pelo passado; não é olhá-la de maneira nova. Percebeis?

Olhar a violência, e justificá-la, é dizer que ela é necessária para vivermos nesta sociedade monstruosa, dizer que ela faz parte da natureza, pois `a natureza mata´. 

Estamos condicionados para olhar a violência com condenação, justificação ou resistência. 

Só poderemos olhá-la de maneira nova, como coisa nova, se nos tornarmos conscientes de que estamos a identificar o que vemos com as imagens do que já conhecemos, e portanto, não estamos a olhar de maneira nova. 

Surge, assim, a questão: Como se formam essas imagens? Qual o mecanismo formador de imagens? 

A minha mulher me diz: `Você é um tolo´; não gosto de ouvir isso, e deixa uma marca na minha mente. Se me disser outra coisa, também produz o mesmo efeito. Essas marcas são as imagens da memória. 
Ora, se no mesmo minuto em que ela me chama `tolo´, estou vigilante, atento, não se produz marca nenhuma; ela pode ter razão.

A desatenção, pois, gera a imagem; a atenção liberta a mente da imagem. Isto é muito simples. 

Do mesmo modo, se quando sinto cólera, me torno completamente atento, não há então aquela desatenção que deixa o passado apresentar-se e interferir na percepção da cólera, naquele momento.


Interrogante: Isso não é acto de vontade?





J. Krishnamurti: Dissemos: `A vontade é, essencialmente, violência´. Examinemos o que é a vontade: `Quero fazer isto´, `Não quero aquilo´, `Farei isto´, resisto, exijo, desejo, e tudo isso são formas de resistência. Quando dizeis: `Eu quero aquilo´, isto é uma forma de resistência, e resistência é violência.


Interrogante: Compreendo-vos ao dizerdes que evitamos o problema com o buscar-lhe a solução. Isso nos afasta de `o que é´.





J. Krishnamurti: Portanto, desejo saber como olhar `o que é´. Pois bem; estamos agora a tentar descobrir se é possível transcendermos a violência. 

Dissemos: `Não fujais dela; não vos afasteis do facto central que é a violência´. Perguntou-se: `Como podemos saber que a reacção é violência?´. 

Só a conheceis por serdes capaz de reconhecê-la como `violência´? 

Mas, se a olhamos sem lhe dar nome, sem justificá-la ou condená-la (e tudo isso é condicionamento do passado), estamo-la, então, a olhar de maneira nova, não é verdade? Há, então, violência? 
Esta é uma das coisas mais difíceis, porque todo o nosso viver está condicionado pelo passado. Sabeis o que é viver no presente?


Interrogante: Dizeis: `Livrai-vos da violência´, isso subentende muitas coisas mais.





J. Krishnamurti: Penetremos o significado de `liberdade´.
Existem, nos níveis mais profundos, rancores, frustrações, resistências; de tudo isso a mente deve também libertar-se, não achais? 

Pergunto: Pode a mente livrar-se da violência activa no presente, livrar-se de todas as suas inconscientes acumulações de ódio, raiva, azedume, profundamente jacentes? Como conseguir isso?


Interrogante: Uma pessoa livre da sua própria violência não fica deprimida ao ver a violência existente no exterior? O que lhe cabe fazer?





J. Krishnamurti: O que lhe cabe fazer é ensinar aos outros.
Ensinar é a mais elevada missão, no mundo, ensinar, não para ganhar dinheiro, constituir um vultoso depósito no banco, ensinar, simplesmente.


Interrogante: Qual a maneira mais fácil de...


J. Krishnamurti: `A maneira mais fácil´? (risos) Por favor, não estamos num circo! Senhor, ensinar ao outro, estais também a aprender. 

Ensinar não exige uma prévia acumulação de conhecimentos. Vós sois violento; compreender a vós mesmos é ajudar outro a compreender a si próprio; por conseguinte, aprender é ensinar. Não percebeis quanta beleza há nisso!

Mas, continuemos. Não desejais de todo o coração saber o que é o amor? 

Não existe há milénios esta aspiração humana de descobrir a maneira de viver pacificamente, com uma grande abundância de amor, de compaixão? Isso só será possível no estado de `não-eu´. Compreendeis? 

E eu vos digo: Olhai, para poderdes descobrir, não importa de onde olhais, da solidão, da cólera, da rudeza, olhai, sem fugir. Fugir é dar nome ao estado; portanto, não lhe deis nome, olhai-o! E vede, então (sem dar nome), se ainda existe rudeza.


Interrogante: Advogais a libertação de toda a espécie de violência, ou existe porventura, na vida, uma `violência sã´? Não me refiro à violência física, mas ao livrar-nos da frustração. É de salutar não nos deixarmos frustrar?





J. Krishnamurti: Não, minha senhora. A resposta está contida na pergunta. Por que nos sentimos frustrados? 
Já perguntastes a vós mesma por que vos sentis frustrada? 

E, para responder à vossa pergunta, alguma vez perguntastes: O que é preenchimento? Por que desejais preencher-vos? Existe preenchimento? Quem é que se preenche? 

O `eu´, o `ego´, que é violento; o `ego´, que se separa, que diz `sou superior a você´; o `ego´, que está sempre a cultivar a ambição, a buscar a fama, a notoriedade, é esse `ego´ que se preenche? 

Porque o `ego´ deseja realizar `grandes coisas´, e se não consegue realizá-las, se sente frustrado, e por conseguinte, torna-se rude. 

Percebeis que existe essa coisa, o `ego´ que deseja expandir-se, e quando não o consegue, se sente frustrado, e por conseguinte, torna-se rude? 

Essa rudeza, esse desejo de expansão é violência. Pois bem; ao perceberdes essa verdade, não há mais desejo de preenchimento, e assim, deixa de haver frustração."



Jiddu Krishnamurti
"Fora da violência"






















t.





































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