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Why we
create wars?
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“So long
as we remain attached to a group or to an ideology, so long as we are
ambitious, seeking success, we are bound to create war.
It may not be a war of
outward destruction, but we will have conflict between each other and within
ourselves, which is actually a form of war.
I do not think we see this, and
even if we do, we are not serious about it.
We want some miraculous event to
take place to stop war, while we continue to live as we are in the present
social structure, making money, seeking position, power, prestige, trying to
become famous, and all the rest of it.
That is our pattern, and so long as that
pattern exists in our minds and hearts, we are bound to produce war.”
"O homem, agora,
faz a si mesmo uma pergunta que devia ter feito há muitos anos, e não no
último momento.
Preparou-se para a guerra durante todos os dias da sua vida.
Infelizmente, a preparação para a guerra parece ser a nossa tendência natural.
Depois de ter percorrido um longo caminho nessa direcção, nos indagamos agora:
o que fazer? O que devem fazer os seres humanos? E encarar o assunto com
honestidade, qual é a nossa responsabilidade?
É esta a questão a ser
respondida pela humanidade actual, e não quais os tipos de instrumentos de
guerra que devemos inventar ou construir.
Como ocorre sempre,
produzimos a crise e depois nos perguntamos o que fazer.
Dada a situação
actual, os políticos e o grande público decidirão com base no seu orgulho
nacional e racial, com as suas pátrias e terras natais e todo o resto.
A pergunta surge tarde
demais.
Precisamos nos indagar, a despeito da acção imediata que é necessária, e se é possível acabar com todas as guerras, não com um determinado tipo de
guerra, a nuclear ou as convencionais, e descobrir quais são as causas da
guerra.
Até que essas causas sejam descobertas e anuladas, tenhamos a guerra
convencional ou a nuclear, não teremos mudado, e o homem destruirá o homem.
Sendo assim, a
pergunta, na verdade, deveria ser: quais são, essencialmente, fundamentalmente,
as causas da guerra?
Precisamos ver juntos
as verdadeiras causas, não as inventadas, não as românticas, como as causas
patrióticas e todas essas tolices, mas descobrir com honestidade, o motivo que
leva o homem a se preparar para cometer assassinatos legalizados: a guerra.
Até que pesquisemos e
cheguemos à resposta, as guerras prosseguirão.
Mas não estamos a considerar com
a necessária seriedade, ou a nos dedicar com o necessário afinco, à tarefa de
desvendar as causas da guerra.
Deixar de lado tudo
aquilo, com o que defrontamos no momento actual, a proximidade do assunto, a
crise actual, não poderemos juntos descobrir as verdadeiras causas e colocá‐las de lado, dissolvê‐las?
Isso
requer o ímpeto de descobrir a verdade.
Alguém poderá
perguntar: qual a origem desta divisão, o russo, o americano, o inglês, o
francês, o alemão, etc., por que existe essa distinção entre homem e homem,
entre raça e raça, cultura contra cultura, uma ideologia contra a outra? Por
quê? Por que existe essa separação?
O homem dividiu a terra
entre o que é seu e o que é meu, por quê?
Será que buscamos
encontrar segurança, protecção, num determinado grupo ou em determinada crença
ou fé?
Mas as religiões também dividiram os homens, colocaram o homem contra o
homem, os hindus, os muçulmanos, os cristãos, os judeus e assim por diante.
O nacionalismo, com o
seu malfadado patriotismo, é na verdade uma forma exaltada, uma forma
enobrecida de valorizar a vida em tribos.
Seja numa pequena tribo, seja numa maior,
existe o sentimento de estar junto, de ter a mesma língua, as mesmas
superstições, o mesmo tipo de sistema político ou religioso.
E com isso a
pessoa se sente segura, protegida, feliz e com bem‐estar.
E em nome dessa segurança e bem‐estar estamos dispostos
a matar outros que têm o mesmo tipo de desejo de segurança, de se sentirem
protegidos, de pertencer a algo.
Esse terrível desejo de
se identificar com um grupo, com uma bandeira, com um ritual religioso, etc, dá-nos a sensação de que temos raízes, de que não vagamos ao acaso. Existe o
desejo, a ânsia de descobrir as próprias raízes.
E também dividimos o
mundo em zonas económicas, com todos os seus problemas. Talvez uma das
principais causas da guerra seja a indústria pesada.
Quando a indústria e a
economia caminham de braços dados com a política, é inevitável que tentem
sustentar uma actividade separatista de modo a manter o seu status económico.
Todos os países estão a
fazer isso, grandes e pequenos. As nações poderosas estão a armar as pequenas,
algumas discreta e sub‐repticiamente, outras
ostensivamente.
Será que a causa de
toda essa desgraça e sofrimento, e de todo o enorme dispêndio de dinheiro em
armamentos, é a manutenção visível do orgulho, do desejo de ser superior aos
outros?
A Terra é nossa, não de
vocês ou minha ou dele. É de se supor que devemos viver nela ajudando‐nos mutuamente e não a nos destruir uns aos outros. Não se
trata aqui de nenhuma tolice romântica, mas de factos reais.
O homem, porém, dividiu
a terra na esperança de, no particular, encontrar a felicidade, segurança, uma
sensação de inexcedível bem‐estar.
Até que ocorra uma
mudança radical e varramos com todas as nacionalidades, com todas as
ideologias, com todas as divisões religiosas, e estabeleçamos um relacionamento
global, psicológico de início, interiormente, antes de organizarmos o exterior,
a menos que isso ocorra, as guerras continuarão.
Se fizer mal aos
outros, se matar, seja por raiva ou num assassinato organizado, a que se dá o
nome de guerra, cada um que é o restante da humanidade, estará a se destruir.
Essa é a questão
básica, a questão verdadeira, que precisamos compreender e resolver.
Até que
nos dediquemos, e nos envolvamos em erradicar essa divisão nacional, económica
e religiosa, estará a perpetuar a guerra. Somos responsáveis por todas as
guerras, sejam elas convencionais ou nucleares.
Essa é, com efeito, uma
questão urgente e importante; pode o homem, nós, produzir essa mudança em nós
mesmos, e não dizer: `Se eu mudar, será que isso tem algum valor? Não será
apenas uma gota d'água no oceano, sem efeito algum ? Que importa eu mudar?´.
Essa não é a questão
correcta, se me permitem dizê‐lo. Está errada porque,
cada um é o resto da humanidade. Cada um é o mundo; não é separado do mundo.
Não é por ser
americano, russo, hindu ou muçulmano. Pode falar uma língua diferente, ter
costumes diferentes.
Isso é cultura superficial, todas as culturas
aparentemente são superficiais, mas a sua consciência, as suas reacções, a sua
fé, as suas crenças, as suas ideologias, os seus medos, ansiedades, solidão,
sofrimento e prazer são semelhantes às do restante da humanidade.
Se cada um
mudar, isso afectará a humanidade como um todo.
É importante ter isso
em mente, não de forma vaga ou superficial, ao investigar, pesquisar, buscar as
causas da guerra.
A guerra só poderá ser compreendida e eliminada, se
estivermos profundamente preocupados com a sobrevivência do homem ao perceberem
a extrema responsabilidade pela matança dos outros.
O que o fará mudar?
O
que fará com que se consciencialize da terrível situação que produzimos agora?
O que fará com que repudie todo o tipo de divisão, religiosa, nacional, ética,
e assim por diante? O sofrimento fará isso?
Mas o homem carrega esse sofrimento
há milhares e milhares de anos, e não mudou; busca ainda a mesma tradição, o
mesmo modo de vida em tribos, a mesma divisão religiosa de `meu Deus´, do `seu
Deus´.
Os deuses, ou os seus
representantes, são inventados pelo pensamento; não possuem nenhuma realidade
na vida diária.
Segundo a maioria das
religiões, matar o semelhante é o maior dos pecados.
Já antes do cristianismo, os hindus afirmavam isso, os budistas diziam isso, e no entanto as pessoas
matam apesar da sua crença em Deus, ou da sua crença num salvador, e assim por
diante; ainda prosseguem no caminho da matança.
Será que a recompensa
dos céus ou o castigo dos infernos fará com que mudem? Mas isso também já foi
oferecido aos homens. E também fracassou.
Nenhuma imposição externa, leis,
sistemas, nada disso jamais impedirá o homem de matar. Assim como nenhuma
convicção intelectual ou romântica acabará com as guerras.
Só terminarão quando
cada um, como sendo o resto da humanidade, ver a verdade de que, enquanto existirem
divisões de qualquer tipo, haverá conflitos, limitados ou amplos, estreitos ou
em expansão, haverá lutas, conflito, dor.
Sendo assim, cada um é
responsável, não apenas pelos seus filhos, mas também pelo resto da humanidade.
A menos que compreenda isso profundamente, não de modo puramente idealista ou
intelectual, mas sinta isso no seu próprio sangue, na sua maneira de olhar a
vida, nas suas acções, estará a apoiar o assassinato organizado que é chamado
de guerra.
O imediatismo da
percepção, é mais importante do que o imediatismo de responder a uma questão,
que é o resultado de milhares de anos ao longo dos quais o homem tem vindo a
matar o homem.
O mundo está doente; e
ninguém pode ajudá-lo, excepto nós mesmos.
Já tivemos líderes, especialistas,
todo o tipo de influência externa, incluindo Deus criado pelas religões, sem nenhum efeito; não
influenciaram de forma alguma o seu estado psicológico.
Estes não podem guiá‐lo. Nenhum estadista, mestre, guru, ninguém pode fazê‐lo, mais forte interiormente, ninguém lhe pode dar a suprema
saúde.
Enquanto permanecer em
desordem, enquanto a sua casa não for mantida em condição adequada, num estado
adequado, criará o profeta externo e ele estará sempre a desencaminhá‐lo.
A sua casa está em desordem, e ninguém nesta terra ou no
céu pode trazer a ordem para a sua casa. A menos que por si mesmo, compreenda a
natureza da desordem, a natureza do conflito, a natureza da divisão, `a sua casa´,
ou seja, permanecerá sempre na desordem, em guerra.
A questão não é saber
quem tem o maior poderio militar; trata‐se do homem
contra o homem, o homem que acumulou ideologias; e estas, produzidas pelo
homem, fazem com que um se volte contra o outro.
Até que essas ideias,
ideologias, terminem e o homem se torne responsável pelos outros seres humanos,
em hipótese alguma haverá paz no mundo."
Jiddu Krishnamurti
"O indivíduo e a sociedade"
t.
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