“Doubt is an extraordinarily important thing, not scepticism.
To observe
every experience that one has, to doubt that very experience, doubt that very
thought, doubt that very feeling, so the brain becomes extraordinarily cleansed
of all our accumulated experiences, tradition and so on.
This is what we are
going to do during all these talks. This is no personal, or personality cult.
Please understand this.
We all want to cling or worship, or feel near some one
person. We are accustomed to that. And we are saying this is not a personality
cult at all. So please don't build an image about him, the speaker. The speaker
is not very valuable.
What is valuable, what has significance, is what he is
saying. And to understand what he is saying you must question, not accept a thing.
Which means you have to observe, one has to observe one's own reactions, one's
own attitudes, justifications, defences and so on.
Then it is possible for both
of us to communicate with each other, not theoretically, not in abstraction but
actually.”
The power
of doubt...
"Penso que
todos percebemos a necessidade de uma certa mudança. Quanto mais inteligentes e
penetrantes somos, tanto mais premente, tanto mais urgente se nos mostra a
necessidade de mudança; mas em geral, pensamos em mudança no nível
superficial, mudança das circunstâncias, mudança de emprego, um pouco mais de
dinheiro, etc.
Mas nós nos
referimos à mudança total, completamente radical e revolucionária. Para
promovermos esta mudança, precisamos fazer perguntas fundamentais. Importa
verificar como se faz uma pergunta. Podemos fazer perguntas resultantes de
reacção.
Desejo produzir
uma certa mudança em mim próprio ou na sociedade, e essa mudança bem pode ser
uma reacção. A pergunta que faço a mim mesmo pode ser o resultado de uma
reacção ou independente de reacção. Só há duas maneiras de fazer uma pergunta:
uma que é reacção, e a outra que não é reacção. Se fazemos perguntas
resultantes de reacção, receberemos invariavelmente respostas
superficiais.
Fazer perguntas
não procedentes de reacção é dificílimo, porque para essas perguntas talvez não
haja resposta alguma. Deve, pois, haver um inquirir que fica sem resposta; e
isso, a meu ver, é bem mais significativo do que fazer uma pergunta que tem
resposta.
Desejo
discorrer nesta tarde, sobre uma mudança de todo indispensável à mente que
busca a revolução completa, total, a mente que exige liberdade completa, se tal
coisa existe, liberdade completa.
E, a meu ver, para investigarmos esta questão
cumpre em primeiro lugar verificar o verdadeiro significado da autoridade,
porquanto a mente de quase todos nós está sob o completo domínio da autoridade,
a autoridade da tradição, a autoridade da família, a autoridade da técnica, a
autoridade do conhecimento, da religião e da moral social. Eis as várias formas
de autoridade que nos moldam a mente.
Até que ponto
pode a mente ficar livre delas, e o que significa ser livre? Desejo examinar
esta matéria, porque acho que a autoridade, se não for perfeitamente
compreendida destrói todo o pensar, deforma o pensamento, e a mente que só
funciona mecanicamente, dentro dos limites do conhecimento, é incapaz de
transcender a si própria.
Por
conseguinte, parece-me, cabe-nos investigar devidamente a questão da
autoridade, interrogar-nos por que e em que nível obedecemos às leis físicas
das experiências psicológicas que se tornam conhecimento e nos orientam. Porque
deve haver obediência?
Todos os
governos, principalmente os governos tirânicos, não querem que os cidadãos em
circunstância alguma critiquem os seus líderes. Pode-se ver bem, claramente
porque se exige essa obediência absoluta.
Também se pode
ver porque, psicologicamente, nós seguimos a autoridade, a autoridade do guru,
a autoridade da tradição, a autoridade da experiência, a qual invariavelmente
gera hábito, bom ou mau, resistência ao mau e sujeição ao bom.
Um hábito se
torna também autoridade, tal como a autoridade do conhecimento, do
especialista, do polícia, da mulher sobre o marido ou do marido sobre a mulher.
Até que ponto
pode a mente ser livre dessa autoridade?
É possível obedecer à lei, ao Governo,
ao polícia e, interiormente, ser de todo livre da autoridade, inclusive a
autoridade da experiência, com o seu saber e a sua memória?
Se me permitis
dizê-lo, seria de sobremodo lamentável se vos limitásseis a ouvir esta palestra
verbalmente, intelectualmente, em vez de `experimentardes´ deveras o que se
está a dizer. Isto é, devemos perguntar-nos sob que autoridade, sob que
compulsão, a nossa mente funciona, e perceber que a experiência no-la está a
moldar.
De tudo isso
precisamos estar bem conscientes, pois, afinal de contas, estamos a falar, não
para fazer propaganda, nem para convencer-vos de alguma coisa ou forçar-vos a
adoptar determinada norma de acção.
Só quando
começamos a interrogar-nos, parcial ou completamente, pode haver acção
verdadeira; só então poderá terminar toda a nossa angústia. Ouvir estas palavras
apenas verbal ou intelectualmente parece-me um completo desperdício de
tempo.
Não se trata
aqui de argumentar, de concordar ou discordar; trata-se sim, de olhar todos os
factos externos e observar como, interiormente, a nossa mente está escravizada
pela autoridade, e investigar se podemos ficar livres dela (pois,
evidentemente, a liberdade supõe que se esteja livre da autoridade) e qual o
estado da mente quando realmente livre da autoridade, e também, se é possível
um tal estado.
Para descobrir
por si própria, deve a pessoa fazer perguntas fundamentais; e uma das perguntas
fundamentais é esta: Por que obedecemos, por que fazemos isto ou aquilo? (Não
vos estou a aconselhar a obedecer ou desobedecer; mas sem dúvida, cumpre fazer
tal pergunta, para podermos descobrir).
Isso poderá
parecer um pouco infantil, sem maturidade, mas se pudermos penetrar muito
lentamente na matéria, passo por passo, talvez venhamos a compreender se é
possível, ou não, ficarmos inteiramente livres do passado, que é autoridade.
Eis uma questão
fundamental, porquanto o passado está-nos sempre a moldar a mente, a passada
experiência, o conhecimento passado, os incidentes e acidentes passados, as
pretéritas lisonjas, os insultos recebidos, o que disseram e o que será dito em
consequência do que disseram.
E apresenta-se, assim, a questão de se é
realmente possível ficarmos livres dessa imensa teia do passado que está sempre
a traduzir o presente, e por conseguinte, a perverter o presente que forma o
futuro.
Pois bem. Por
que obedecemos? O aluno escolar obedece porque o professor é um homem investido
de autoridade, de poderes discricionários, e porque tem de passar nos seus
exames, etc.
E há, ainda, a obediência à lei, também muito compreensível:
obedecemos-lhe, geralmente, porque tememos ser punidos e por várias outras
razões. É necessária, sem dúvida, uma inteligente obediência à lei. Mas, há
necessidade de qualquer outra forma de obediência?
Por que deve o
passado, digo psicologicamente, interiormente, condicionar a mente, e por essa
maneira, impor-lhe restrições, obrigá-la a ajustar-se ao seu padrão?
Dizemos que, se
nenhum passado temos, na forma de conhecimento, não há acção possível. Se não
houvesse conhecimentos acumulados, ou seja a ciência, nada poderíamos fazer,
não poderíamos ter a nossa moderna existência.
O conhecimento
científico, portanto, é essencial, e um homem precisa obedecer para poder ser
um físico. Mas esse homem, para ser um físico criador, não um simples inventor
de novidades mecânicas, deve desembaraçar-se do conhecimento e estar num total
estado de negação, se posso empregar esta palavra, para poder ser sensível,
alertado, em alto grau, e assim, capaz de perceber algo novo.
A mente é
moldada pelo passado, pelo tempo, por cada incidente, cada movimento, cada
precedente vibração ou pensamento. Pode esse passado, que na realidade é
memória, ser apagado?
Porque, se o
não apagarmos (e é possível apagá-lo), nunca veremos algo novo, nunca
experimentaremos algo totalmente imprevisto, desconhecido. No entanto, o
passado está-nos sempre a guiar, a moldar; cada instinto, cada pensamento, cada
sentimento é por ele guiado, ele que se constitui de memória; e a memória nos
impele a obedecer, a seguir. Espero que vos estejais a observar em
funcionamento, enquanto ouvis o que se está a dizer.
Onde a memória
é necessária e essencial, e onde não é?
Pois a memória
é uma autoridade para a maioria de nós. Memória é toda a experiência acumulada,
do passado, da raça, da pessoa; e a reacção dessa memória é pensamento. Quando
vos denominais hindu ou cristão, ou estais ligado a determinado movimento, tudo
isso é reacção da memória.
Assim, só o
homem que compreendeu realmente toda a anatomia, toda a estrutura da
autoridade, da memória, pode experimentar algo totalmente novo. Por certo, se
há ou não há Deus, isso só se pode descobrir quando a mente é de todo nova,
quando ela já não está condicionada pela tradição de crença ou de
descrença.
Assim, pois,
pode-se eliminar completamente a autoridade, a memória, que gera medo e da qual
procede o impulso para obedecer?
Como a maioria
de nós está em busca da segurança, numa ou noutra forma, segurança física ou
segurança psicológica, para termos segurança externamente, precisamos obedecer
à estrutura da sociedade, e para termos segurança interior, precisamos obedecer
à experiência, ao conhecimento, à memória acumulada, e armazenada.
É possível
apagar por inteiro a memória, excepto a memória mecânica da existência diária,
que em nada influi, que não cria, não gera mais memória?
Quanto mais
velhos ficamos, mais confiamos na autoridade; e dessa maneira, todo o nosso
pensar se torna estreito, limitado.
Para podermos
operar uma mutação completa, cumpre duvidar a fundo da autoridade. Para mim,
esse duvidar é bem mais importante do que investigar como ficar livre da autoridade;
porque, ao duvidar, desvendaremos a natureza da autoridade, a sua significação,
o seu valor, a sua nocividade, o seu carácter venenoso.
Pelo duvidar,
descobre-se o que é verdadeiro. O problema está então resolvido e ninguém
precisa perguntar a si mesmo: Como poderei ficar livre da autoridade? Mas é
absolutamente necessário duvidar de tudo, de todas as formas de crença e todas
as formas de tradição, demolir todo o edifício. De contrário, permaneceremos
medíocres.
Neste país
(Índia), pode ser uma verdadeira calamidade a existência de líderes; a
autoridade política, a autoridade do guru, a autoridade dos livros sagrados
destruiu realmente todo o pensar, e por consequência, não existe um verdadeiro
investigar.
Se todas as
investigações se iniciam com a aceitação da autoridade do Gita, da Bíblia, ou
do que quer que seja, como é possível prosseguir a investigação?
E como o homem
que crê nesse Deus escrito ou numa certa utopia, quer investigar, indagar? O seu
investigar nenhuma validade tem.
A maioria de
nós começa com a aceitação de uma certa autoridade.
Poderá ser
necessária à criança a aceitação de determinada autoridade; mas quando a
criança começa a crescer, começa a raciocinar, deve ser ensinada a pôr em
dúvida os pais, a pôr em dúvida o mestre, a pôr em dúvida a sociedade; mas
nunca lhe ensinamos.
Isso, naturalmente, não sucede porque, basicamente, existe
o medo; e a mente temerosa só pode criar ilusões.
E do medo nasce
a autoridade. O homem sem medo não segue nenhuma autoridade, crença ou ideal; e
só esse homem, é óbvio, pode descobrir se há, ou não, o Imensurável.
Entretanto, a
autoridade é necessária na especialização. Para o homem que busca a liberdade
(não a liberdade consistente em estar livre de alguma coisa, pois isso é uma
reacção, e por conseguinte, não é liberdade), para o homem que busca a
liberdade, a fim de descobrir, a liberdade está precisamente no começo, e não
no fim.
Para
descobrirmos o verdadeiro, descobri-lo por nós mesmos, e não através do que nos
dizem, ou nos transmitem os livros sagrados (se eles existem), a mente deve ser
livre.
De contrário, tornamo-nos apenas mecanizados, passando nos nossos
exames, para obter emprego e a seguir o padrão da sociedade; e esse padrão é sempre
corruptor, sempre destrutivo.
Com efeito,
para o homem que busca o verdadeiro, a sociedade é um inimigo. Ele não pode
reformá-la. É uma das nossas ideias favoritas, essa de que os bons reformarão a
sociedade. O bom é o homem que abandona a sociedade.
Com este
`abandonar´ não estou a significar `abandonar a casa, a roupa, o abrigo´, mas
sim, abandonar as coisas que a sociedade representa, ou sejam, basicamente,
autoridade, ambição, avidez, inveja, ânsia de aquisição, abandonar todas essas
coisas que a sociedade tornou respeitáveis.
Realmente, só com
o profundo investigar é que começamos a destroçar o falso, a demolir o edifício
erguido pelo pensamento para a sua mesma protecção."
Jiddu Krishnamurti
"A mutação interior"
t.
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