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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Observe our daily life!







It is important to understand from the very beginning that I am not formulating any philosophy or any theological structure of ideas or theological concepts. 


It seems to me that all ideologies are utterly idiotic. What is important is not a philosophy of life but to observe what is actually taking place in our daily life, inwardly and outwardly. 

If you observe very closely what is taking place and examine it, you will see that it is based on an intellectual conception, and the intellect is not the whole field of existence; 


it is a fragment, and a fragment, however cleverly put together, however ancient and traditional, is still a small part of existence whereas we have to deal with the totality of life.






This is freedom is not an ideal, a thing to take place eventually. 

The first step in freedom is the last step in it. It is the first step that counts, not the last step. What you do now is far more essential than what you do at some future date. 


Life is what is happening this instant, not an imagined instant, not what thought has conceived. 


So it is the first step you take now that is important. If that step is in the right direction, then the whole of life is open to you. 

The right direction is not towards an ideal, a predetermined end. It is inseparable from that which is taking place now. 

This is not a philosophy, a series of theories. It is exactly what the word philosophy means, the love of truth, the love of life. 


It is not something that you go to the university to learn. We are learning about the art of living in our daily life.




Jiddu Krishnamurti
"Freedom from the known"




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Observe our daily life!

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- Eu também aprecio os livros de História. Ensinam-nos que, basicamente, somos iguais hoje ao que fomos outrora. 


Pode haver diferenças insignificantes em termos de vestuário e de estilo de vida, mas não há grande diferença no que pensamos e fazemos. 


No fundo, os seres humanos não passam de veículos, ou locais de passagem, para os genes. 
De geração em geração, correm dentro de nós até nos esgotarem, como cavalos de corrida. 

Os genes não pensam no bem e no mal. Não querem saber se somos felizes ou infelizes. 

Para eles, não passamos de um meio para atingir um fim. 
Só pensam no que é mais eficaz do seu ponto de vista.


- Apesar de tudo, não conseguimos deixar de pensar no bem e no mal. Não é o que está a dizer?  


A senhora anuiu.






Haruki Murakami

"1Q84"





"
Nas três últimas palestras estivemos a considerar a importância e a urgência da revolução radical na mente. 

Essa revolução não pode ser o produto de uma intenção planeada, sistematizada, porque toda a revolução que segue um certo plano, uma certa filosofia, uma certa ideia ou ideologia, deixa de ser revolução; é mero ajustamento a um padrão, ainda que muito ideológico e muito nobre.


Os entes humanos vivem, há mais de dois milhões de anos, num perene estado de guerra, dentro e fora de si mesmos, em perene conflito. 













A vida é um campo de batalha, tanto na vida prática como na intimidade da família. Uma sociedade recriada, renovada, deve decerto pôr termo a esse conflito. De contrário, tanto a sociedade como o indivíduo, o ente humano, permanecerão fechados na prisão dos conflitos, aflições e da competição.


Foi isso, com efeito, o que sempre sucedeu, na história da humanidade, e continua a suceder na actualidade. Parecemos incapazes de quebrar as paredes desta prisão, de libertar-nos. Talvez haja umas poucas excepções, porém essas excepções não entram em linha de conta. 


O que importa é que nós, como entes humanos, possamos operar uma mudança real, radical, dentro em nós mesmos, para nos tornarmos entes humanos diferentes e vivermos uma vida diferente, sem um só momento de conflito.


No geral, quando seriamente fazemos esta pergunta a nós mesmos, não sabemos como agir. 


A estrutura psicológica da sociedade é tão forte, e opressiva, e exigente, que, quando, como entes humanos, participantes dessa sociedade (pois o ente humano não é diferente da sociedade), quando perguntamos a nós mesmos se é possível aquela mudança radical, ou nos tornamos pessimistas, dizendo-a impossível; 

ou fugimos, por meio da imaginação, para um certo mundo fantástico, irreal; 

ou, ainda, pensamos que, a pouco e pouco, gradual e lentamente, podemos transformar o nosso coração e a nossa mente, mediante esforço constante, pelo embrutecer da mente e do coração.











É isso o que se verifica em todo o mundo, tanto no Oriente como no Ocidente. Se nada disso fazemos, então, endeusamos o Estado ou ficamos a viver, simplesmente, como melhor podemos, num mundo absurdo, completamente caótico, sem nada de significativo. 


É isso o que faz a maioria de nós, ainda que nos mostremos muito sérios. 


O nosso principal objectivo é encontrar, no meio de tanta aflição, tanto caos e confusão, uma certa espécie de prazer que seja realmente satisfatória.

Não parecemos aprender, absolutamente. À palavra `aprender´ tem alta significação. Há duas espécies de aprender. 


Para a maioria de nós, `aprender´ significa acumular conhecimentos, experiências, tecnologia, adquirir uma certa capacidade, uma nova língua.



Há também o aprender no plano psicológico, aprender da experiência (constituída tanto das experiências directas da vida, que deixam um certo resíduo, um depósito de conhecimentos) ou do resíduo psicológico da tradição, da raça, da sociedade.











Há duas maneiras de aprender a enfrentar a vida, uma psicológica e a outra fisiológica; capacidade exterior e capacidade interior. Não existe, com efeito, uma linha divisória entre ambas; elas se misturam.


Não estamos por ora a considerar a capacidade que se adquire pela prática, o conhecimento técnico que se adquire pelo estudo. 


O que aqui nos interessa é o conhecimento psicológico adquirido através de séculos, ou herdado como tradição, saber, experiência. Chamamos a isso `aprender´, mas duvido de que seja aprender.















Não me refiro ao aprender de uma capacidade, uma língua, uma técnica, porém, sim, estou a indagar se a mente tem alguma possibilidade de aprender psicologicamente. Ela aprendeu e com o que aprendeu está a enfrentar os desafios da vida. Está sempre a traduzir a vida, ou o desafio novo, em conformidade com o que aprendeu. 
É o que fazemos. 


Mas, isso é aprender? Aprender não sugere coisa nova, coisa que não conheço e estou a aprender?


Se estou apenas a aumentar o que já sei, isso já não é aprender. 
É um processo adicional, com o qual estou a enfrentar a vida. Isso temos de compreender claramente, porque, de contrário, o que mais adiante vamos considerar poderá tornar-se um tanto confuso.


O aprender, por certo, exige uma mente nova, uma mente que está a aprender (e não, que aprendeu e funciona e actua em conformidade com o aprendido). 

A mente que está a aprender está sempre a actuar, não em conformidade com o que já adquiriu, porém, no seu próprio actuar está a aprender.


Como no outro dia dissemos, a vida é um movimento, um rio imenso, de grande profundidade e beleza, de extraordinária rapidez. 
Enquanto, como ente humano, estou a mover-me, acompanho o seu movimento, estou a aprender. 

E já não estou a aprender quando estou meramente a funcionar com o que já sei.


Neste último caso, nunca enfrento a vida de maneira nova; estou a enfrentá-la com o que já sei. Tenho de aprender uma diferente maneira de viver, em que não haja conflito, nem batalhas, nem guerras, interior ou exteriormente.



Tem havido guerras sucessivas, guerras brutais e sem significação alguma. Nenhuma guerra tem significação; não há guerra justa, ou guerra injusta. Todas as guerras são injustas. 












Temos de aprender e, aparentemente, somos incapazes de aprender. A actual geração mais velha, embora tenha assistido a duas guerras catastróficas, não parece aprender. 


Continuamos a viver, psicologicamente, numa sociedade em que há competição, avidez, inveja, a adoração do êxito. Tudo isso denota conflito, batalha.


Se, como ente humano, sou verdadeiramente sério, tenho de aprender uma maneira de vida totalmente pacífica, tenho de aprendê-la como se, antes, eu nunca tivesse vivido. Só quando a mente está em paz, temos a possibilidade de aprender, de ver, de descobrir. 


A mente que está em conflito nenhuma possibilidade tem de ver com muita clareza, porque tudo o que vê se deforma, se corrompe.



A paz é uma necessidade absoluta, tanto interior como exteriormente. 

Mas nós, em primeiro lugar, não queremos paz; não exigimos a paz. 

Se o fizéssemos, não teríamos nacionalidades, nem governos soberanos, nem exércitos; mas, como entes humanos, temos `direitos adquiridos´, e assim, não desejamos a paz, em absoluto.










O que desejamos é só algum conforto e satisfação no meio de toda esta agonia. Queremos talhar, dentro da nossa mente e coração, um cantinho sossegado, para lá ficarmos a viver, fechados no nosso pequenino e degradado EGO.


Se desejamos realmente a paz, interior e exteriormente, não só necessitamos de uma radical revolução psicológica, mas também temos de reaprender a viver. 

Isso ninguém poderá ensinar-nos, nenhum filósofo, nenhum instrutor, nenhum guru, nenhum psicólogo e muito menos os chefes militares ou políticos. Temos de reaprender tudo; aprender a viver sem conflito.


Para compreendermos o conflito e compreendermos a paz, temos de investigar a questão do prazer, porque, se não compreendemos o prazer e o seu oposto, a dor, não teremos paz e não poderemos viver livres de conflitos.


Não estamos a dizer que devamos privar-nos do prazer ou levar vida de puritano. 

Isso o homem já experimentou, disciplinando-se, matando todos os seus desejos e prazeres, torturando-se, negando a si próprio todo e qualquer deleite dos sentidos, e, todavia, ele não dissolveu o seu conflito, a sua tortura psicológica.


Se de facto desejamos compreender, seriamente, a natureza do conflito, e a sua terminação, isto é, a paz, temos de investigar, não só intelectualmente, porém real e verdadeiramente a questão do prazer, que é desejo.


Não poderemos viver em paz uns com os outros ou com nós mesmos, se não houver amor, se não houver afeição. O desejo não é amor; o desejo leva ao prazer; o desejo é prazer. 

Não estamos a condenar o desejo. Seria rematada estupidez dizer que devemos viver sem desejo, visto que isso é impossível. O homem já o tentou.
























Muitos têm negado a si próprios toda a espécie de prazer, têm-se disciplinado, torturado e, contudo, o desejo persiste, criando conflitos, com todos os seus efeitos embrutecedores.

Não estamos a advogar um estado de `não-desejo´; mas, devemos compreender o fenómeno do desejo, do prazer e da dor e, se pudermos transcendê-lo, encontraremos um estado de bem-aventurança e de êxtase, que é amor.

Vamos falar sobre isso nesta manhã, mas não intelectualmente, pois isso é fútil. 
É fútil especular a respeito do desejo; especular a respeito do amor; permanecer no nível verbal, intelectual, a `moer´ palavras, interminavelmente, sobre se é possível viver-se neste mundo sem conflito.


Um homem, um ente humano, não tem nacionalidade, nem religião. Um ente humano é um ser que se vê cercado de conflitos, aflição, medo, ansiedade, agoniado por uma existência de solidão e de tédio. 




Para investigar o prazer, necessitamos primeiramente de clareza. Não podemos ter essa clareza, se condenamos o prazer, ou se dizemos `Preciso dele´, quer se trate de prazer sensual, quer do prazer derivado das nossas diferentes reacções psicológicas.

Quando condenamos ou desejamos o prazer, não podemos compreendê-lo. 


Não entendo pela palavra `compreender´ uma compreensão intelectual, conceptual, compreensão criada por uma palavra ou ideia, pois ideia é palavra ou pensamento organizado.


Se, em relação ao prazer e à dor, pensamos na base de uma fórmula ou conceito, não os compreenderemos. Temos de olhar, de penetrar o prazer. 

Mas não podemos compreendê-lo ou penetrá-lo se admitimos ou sustentamos que precisamos do prazer, porque todos os nossos valores sociais, morais, religiosos e éticos estão baseados no prazer.


Seria estupidez negar que a nossa moral está baseada no prazer. 

A nossa atitude perante a vida está baseada nos deleites dos sentidos ou nos deleites interiores, psicológicos. 

Todo o nosso buscar, e tactear, e desejar, e exigir, se baseia no prazer.




















Os nossos deuses estão baseados no deleite de buscar um mundo diferente, distante desta tortura, deste medo. 

A coisa que estamos a buscar baseia-se nessa exigência de um certo prazer profundo, permanente.

Para o examinarmos, objectiva, equilibrada, claramente, não deve haver nem condenação nem exigência do prazer. 

Se isto está bem claro entre o orador e vós, ouvintes (sinto que sejais obrigado a ouvi-lo, e não sei porque o fazeis), então é bem óbvio que precisamos de estar bem certos de que desejamos verdadeiramente compreendê-lo (o prazer), pois, de contrário, não pode haver nenhuma revolução.

Continuaremos no mesmo campo, embora num canto diferente; não haverá revolução radical na psicose, na própria mente. 


As nossas células cerebrais e a inteira estrutura da psicose, da nossa existência diária, estão baseadas no prazer, o prazer do preenchimento, do sucesso, da ambição, da competição, de dúzias de coisas diferentes.











A menos que haja, aí, uma revolução radical, podemos ficar a falar interminavelmente a respeito de mudança, da necessidade de uma nova espécie de sociedade, etc. etc., e tudo serão palavras ocas.


Nós vamos aprender, e isso significa que não ides ser ensinados por este orador, para depois de ensinados, dizerdes: `Aprendi´, e nessa base, tratardes de viver de maneira diferente. Nós vamos aprender. 


O que nos interessa é o presente activo: aprender, e não `ter aprendido´ou `aprenderei´.


Não há então acumulação do `aprendido´, como ideia ou conclusão, na base da qual ficaremos a funcionar ou actuar. Actuamos enquanto aprendemos. Aí está toda a diferença. 

Por conseguinte, não é na base de uma ideia, ou símbolo, ou conceito, que estamos a actuar. 


Se conseguirdes compreender isso, total e completamente, a vossa acção terá um significado inteiramente diferente. 


Não estareis então a actuar com base numa ideia, num conceito, porém estareis a actuar e `actuar´ não tem futuro.


Não sei se percebeis a beleza disso, pois todos nós estamos acostumados a actuar com base no passado. Temos ideias sobre o que deve ser `acção´: boa acção, má acção, acção justa, acção baseada em certos princípios, certas fórmulas, conceitos, ideias.



Estabelecemos essas ideias filosóficas, ou sejam ideias derivadas da experiência, quer dizer, conceitos. De acordo com elas actuamos, e a acção visa sempre a ajustar-se à ideia. 

Há sempre conflito entre a ideia e a acção e andamos sempre a tentar uni-las, integrá-las, uma impossibilidade.










Não estamos aqui a aprender nenhuma ideia, nenhum conceito novo. Estamos, sim, `aprender´ sempre no presente activo.

Se percebemos isso, não intelectual, nem sentimental ou `sensacionalmente´, porém com o máximo de clareza, terá então a acção uma extraordinária beleza e trará, em si mesma, a liberdade.


Estamos a aprender, ou vamos aprender (com o sentido do presente), no presente activo, o que é o prazer e por que razão ele se tornou tão desmedidamente importante. 

Não o estamos a rejeitar, não nos estamos a fazer de puritanos. O que é o prazer?


Há uma infinidade de variações do prazer sensual ou psicológico. Esses dois estão relacionados entre si. Não se pode dizer que isto é prazer sensual e isto prazer psicológico, e portanto, não os estamos a separar. 

Estamos a considerar, no seu todo, o processo do prazer, quer sensual, quer psicológico.


O que é o prazer e porque tem ele papel tão importante na nossa vida? Só pensamos no que proporcionará prazer. Temos a imagem, sexual ou de outra natureza, e o pensamento intervém e gera prazer.





Cumpre-nos descobrir o que é o prazer, e aprender que o prazer é, em si, disciplina. A raiz da palavra `disciplina´ significa `aprender´, e não, ajustar-se a um padrão, a um sistema, fazer tudo aquilo a que comummente se dá o nome de `disciplina´. 


O próprio acto de aprender é disciplina, e a palavra `disciplina´ significa `aprender´, e não, `ter aprendido´, `reprimir´, `praticar certas coisas ou ajustar-se a um padrão´.


O acto de aprender é a via da disciplina e, portanto, não há dizer `devo´ ou `não-devo´ ter prazer. O que é o prazer? 

Por favor, não espereis pela minha resposta. Nós estamos a aprender. 


Posso articular uma resposta, expor verbalmente o que é o prazer, descrevê-lo, examiná-lo minuciosamente, mas vós tendes de aprender. É o que estamos a fazer, juntos.


Por conseguinte, estais a escutar não só ao orador, mas também a escutar no vosso interior, e observar a pergunta que se vos faz.


O prazer está relacionado com o desejo. Saboreei uma certa iguaria e desejo prová-la mais uma vez; isso dá-me deleite. Há o sexo, o prazer do pôr-do-sol, numa bela tarde; a luz reflectida nas águas do rio; a beleza de um pássaro a voar; a beleza de um rosto; a frase que nos inspira profunda alegria; um sorriso. Vem então o desejo, a exigir repetição.


E há o desejo sexual, o desejo psicológico ou outro, que provou um certo prazer e quer de novo prová-lo. O desejo de repetição apresenta-se no mesmo momento em que nasce o pensamento. Consideremos isso com muita simplicidade, por ser uma questão muito complexa.

Ontem de tarde, no meio das nuvens e do vento, o sol iluminou subitamente uma pequena porção de um campo. Uma luz de extraordinária plenitude em que o verde do campo adquiriu maravilhosa viveza. 

Os olhos viram, a mente registou, e experimentou enorme deleite, ante daquela beleza, aquela luz, aquele verde incomparável. 


Quero a repetição daquela delícia, e assim, vou procurar aquela mesma luz, aquela mesma beleza, aquele mesmo sentimento, e isso já é pensamento.


O acto de ver foi uma coisa, e depois, veio o pensamento: `Desejo repetir aquilo; tenho de repeti-lo amanhã´. 

Essa repetição é o começo do prazer. Quando vi a luz a brilhar naquele campo, não existia desejo nem prazer, mas só um estado de intensa observação e deleite.


Mas, o pensamento interferiu: `Oh, que bom seria se eu pudesse repetir isso amanhã!´.



É sempre isso o que fazemos, seja em relação ao sexo, seja quando alguém nos lisonjeia e se diz nosso amigo. 

O pensamento se ingere e deseja repetição. O começo do prazer é o começo do pensamento, com o seu conflito. 
O pensamento tem necessidade de conflito, e cria o conflito.












O meu problema não é o deleite que experimento ao ver uma coisa bela, porém, começa a existir logo que o pensamento exige repetição. O deleite torna-se então prazer e sinto necessidade da sua repetição. 


A ideia de repetição, de `mais uma vez´ é criada pelo pensamento.


Vejo um rosto agradável, um belo semblante iluminado por um sorriso, e nele fico a pensar. Primeiro vejo-o, depois penso nele. 

Esse pensar é o começo da tortura, da dor, do prazer, como possuir, conservar, dominar o que vejo. Uma vez dominado, está destruído, e vou procurar outra coisa, etc. etc. 


Posso contemplar aquele campo verde, ver aquela luz maravilhosa, extasiar-me com aquela extraordinária beleza, sem deixar o pensamento interferir? 

Este é que é o problema.



No momento em que o pensamento intervém, começa a tortura, a dor, o conflito, com todos os seus resultados e efeitos indirectos. O pensamento destrói o que antes era belo. 

O meu problema não é de evitar ou de aceitar o prazer, mas sim, de compreender no seu todo, o processo do pensamento.


Vejo um belo e possante carro. O pensar nele intensifica o desejo, torna-o mais forte. O desejo torna-se prazer, a imaginação entra a funcionar, etc. etc. 


Tenho de investigar agora o pensamento, o pensar, e não se tenho possibilidade de detê-lo, pois não a tenho; tenho de investigar se tenho possibilidade de compreender o mecanismo do pensamento.














Este é um assunto verdadeiramente sério. Tendes de dispensar-lhe muita atenção, e vos cansais muito depressa. Não podeis prestar atenção durante uma hora inteira, com plena energia. 

Se até agora estivestes a examinar-vos com toda a vossa energia, atenção e capacidade, com intensidade, então o vosso corpo, a vossa mente, todo o vosso ser está esgotado. 

Se dizeis: `Tende a bondade de prosseguir, e entenderei o que quereis dizer´, isso significa que desejais continuar a ouvir e que eu continue a explicar; já não estais aplicado à coisa com toda a vossa vitalidade.

Voltaremos a considerar este assunto, o mecanismo do pensamento, na próxima ocasião. Para compreendê-lo, deveis investigar a questão do tempo, do tempo como memória, do tempo como passado. Este é um problema muito complexo, a que deveis aplicar-vos na enfastiada da vida. 

Para examinardes o mecanismo do pensamento, que é memória, tendes de penetrar fundo no consciente e no inconsciente; tendes de compreender o tempo cronológico e o tempo psicológico e de considerar se o tempo pode terminar.


Tudo isso está incluído na investigação do pensar. Esta investigação exige uma mente muito penetrante, e não uma mente embotada, cansada, que apenas sente curiosidade, pois está esgotada, após quarenta anos de labor num escritório. 



Exige uma mente clara, aguçada, capaz de pensar lúcida e resolutamente, sem hesitar entre uma coisa e outra. Uma mente dotada da energia necessária para prosseguir, sem desfalecimentos, até ao fim.





Quando assim tiverdes feito, sabereis por vós mesmos o que é o prazer, e a dor que sempre o acompanha; e sabereis se é possível viver neste mundo com infinito deleitamento, bem-aventurada e arrebatada, inteiramente livre do prazer e da dor.


Para atingir-se esse ponto, necessita-se de uma mente muito ardorosa, muito séria, e não de uma mente presumida, uma mente cheia de vaidade, que diz: `Eu sei´. 



A compreensão do que estamos a explicar requer muita humildade, e humildade significa aprender. Não podeis aprender, se não sois simples."




Jiddu Krishnamurti
"O mistério da compreensão"








Apesar da idade, não me acostumar à vida. 


Vivê-la até ao derradeiro suspiro de credo na boca. 


Sempre pela primeira vez, com a mesma apetência, o mesmo espanto, a mesma aflição. 


Não consentir que ela se banalize nos sentidos e no entendimento. 


Esquecer em cada poente o do dia anterior. 


Saborear os frutos do quotidiano sem ter o gosto deles na memória. 



Nascer todas as manhãs.















Miguel Torga
"Diário (1982)"











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