“It is important to understand from the very
beginning that I am not formulating any philosophy or any theological structure
of ideas or theological concepts.
It seems to me that all ideologies are
utterly idiotic. What is important is not a philosophy of life but to observe
what is actually taking place in our daily life, inwardly and outwardly.
If you
observe very closely what is taking place and examine it, you will see that it
is based on an intellectual conception, and the intellect is not the whole
field of existence;
it is a fragment, and a fragment, however cleverly put
together, however ancient and traditional, is still a small part of existence
whereas we have to deal with the totality of life.”
“This is freedom is
not an ideal, a thing to take place eventually.
The first step in freedom is
the last step in it. It is the first step that counts, not the last step. What
you do now is far more essential than what you do at some future date.
Life is
what is happening this instant, not an imagined instant, not what thought has
conceived.
So it is the first step you take now that is important. If that step
is in the right direction, then the whole of life is open to you.
The right
direction is not towards an ideal, a predetermined end. It is inseparable from
that which is taking place now.
This is not a philosophy, a series of theories.
It is exactly what the word philosophy means, the love of truth, the love of
life.
It is not something that you go to the university to learn. We are
learning about the art of living in our daily life.”
Jiddu Krishnamurti
"Freedom from the known"
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Observe our daily
life!
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“ - Eu também aprecio os livros de História. Ensinam-nos que,
basicamente, somos iguais hoje ao que fomos outrora.
Pode haver diferenças insignificantes em termos de vestuário
e de estilo de vida, mas não há grande diferença no que pensamos e
fazemos.
No fundo, os seres humanos não passam de veículos, ou locais
de passagem, para os genes.
De geração em geração, correm dentro de nós até nos
esgotarem, como cavalos de corrida.
Os genes não pensam no bem e no mal. Não querem saber se
somos felizes ou infelizes.
Para eles, não passamos de um meio para atingir um fim.
Só
pensam no que é mais eficaz do seu ponto de vista.
- Apesar de tudo, não conseguimos deixar de pensar no bem e no mal. Não é o que está a dizer?
A senhora anuiu.“
Haruki Murakami
"1Q84"
"Nas três últimas palestras estivemos a considerar a importância e a urgência da revolução radical na mente.
Essa revolução não pode ser o produto
de uma intenção planeada, sistematizada, porque toda a revolução que segue um
certo plano, uma certa filosofia, uma certa ideia ou ideologia, deixa de ser
revolução; é mero ajustamento a um padrão, ainda que muito ideológico e muito nobre.
Os entes
humanos vivem, há mais de dois milhões de anos, num perene estado de guerra,
dentro e fora de si mesmos, em perene conflito.
A vida é um campo de batalha,
tanto na vida prática como na intimidade da família. Uma sociedade recriada,
renovada, deve decerto pôr termo a esse conflito. De contrário, tanto a
sociedade como o indivíduo, o ente humano, permanecerão fechados na prisão dos
conflitos, aflições e da competição.
Foi isso, com
efeito, o que sempre sucedeu, na história da humanidade, e continua a suceder
na actualidade. Parecemos incapazes de quebrar as paredes desta prisão, de
libertar-nos. Talvez haja umas poucas excepções, porém essas excepções não
entram em linha de conta.
O que importa é que nós, como entes humanos, possamos
operar uma mudança real, radical, dentro em nós mesmos, para nos tornarmos
entes humanos diferentes e vivermos uma vida diferente, sem um só momento de
conflito.
No geral,
quando seriamente fazemos esta pergunta a nós mesmos, não sabemos como agir.
A
estrutura psicológica da sociedade é tão forte, e opressiva, e exigente, que,
quando, como entes humanos, participantes dessa sociedade (pois o ente humano
não é diferente da sociedade), quando perguntamos a nós mesmos se é possível
aquela mudança radical, ou nos tornamos pessimistas, dizendo-a impossível;
ou
fugimos, por meio da imaginação, para um certo mundo fantástico, irreal;
ou,
ainda, pensamos que, a pouco e pouco, gradual e lentamente, podemos transformar
o nosso coração e a nossa mente, mediante esforço constante, pelo embrutecer da
mente e do coração.
É isso o que
se verifica em todo o mundo, tanto no Oriente como no Ocidente. Se nada disso
fazemos, então, endeusamos o Estado ou ficamos a viver, simplesmente, como
melhor podemos, num mundo absurdo, completamente caótico, sem nada de
significativo.
É isso o que faz a maioria de nós, ainda que nos mostremos muito
sérios.
O nosso principal objectivo é encontrar, no meio de tanta aflição,
tanto caos e confusão, uma certa espécie de prazer que seja realmente
satisfatória.
Não parecemos
aprender, absolutamente. À palavra `aprender´ tem alta significação. Há duas
espécies de aprender.
Para a maioria de nós, `aprender´ significa acumular
conhecimentos, experiências, tecnologia, adquirir uma certa capacidade, uma
nova língua.
Há também o
aprender no plano psicológico, aprender da experiência (constituída tanto das
experiências directas da vida, que deixam um certo resíduo, um depósito de
conhecimentos) ou do resíduo psicológico da tradição, da raça, da sociedade.
Há duas
maneiras de aprender a enfrentar a vida, uma psicológica e a outra fisiológica;
capacidade exterior e capacidade interior. Não existe, com efeito, uma linha
divisória entre ambas; elas se misturam.
Não estamos
por ora a considerar a capacidade que se adquire pela prática, o conhecimento
técnico que se adquire pelo estudo.
O que aqui nos interessa é o conhecimento
psicológico adquirido através de séculos, ou herdado como tradição, saber,
experiência. Chamamos a isso `aprender´, mas duvido de que seja aprender.
Não me refiro
ao aprender de uma capacidade, uma língua, uma técnica, porém, sim, estou a
indagar se a mente tem alguma possibilidade de aprender psicologicamente. Ela
aprendeu e com o que aprendeu está a enfrentar os desafios da vida. Está sempre
a traduzir a vida, ou o desafio novo, em conformidade com o que aprendeu.
É o
que fazemos.
Mas, isso é aprender? Aprender não sugere coisa nova, coisa que
não conheço e estou a aprender?
Se estou
apenas a aumentar o que já sei, isso já não é aprender.
É um processo
adicional, com o qual estou a enfrentar a vida. Isso temos de compreender
claramente, porque, de contrário, o que mais adiante vamos considerar poderá
tornar-se um tanto confuso.
O aprender,
por certo, exige uma mente nova, uma mente que está a aprender (e não, que
aprendeu e funciona e actua em conformidade com o aprendido).
A mente que está
a aprender está sempre a actuar, não em conformidade com o que já adquiriu,
porém, no seu próprio actuar está a aprender.
Como no outro
dia dissemos, a vida é um movimento, um rio imenso, de grande profundidade e
beleza, de extraordinária rapidez.
Enquanto, como ente humano, estou a
mover-me, acompanho o seu movimento, estou a aprender.
E já não estou a
aprender quando estou meramente a funcionar com o que já sei.
Neste último
caso, nunca enfrento a vida de maneira nova; estou a enfrentá-la com o que já
sei. Tenho de aprender uma diferente maneira de viver, em que não haja
conflito, nem batalhas, nem guerras, interior ou exteriormente.
Tem havido
guerras sucessivas, guerras brutais e sem significação alguma. Nenhuma guerra
tem significação; não há guerra justa, ou guerra injusta. Todas as guerras são
injustas.
Temos de aprender e, aparentemente, somos incapazes de aprender. A
actual geração mais velha, embora tenha assistido a duas guerras catastróficas,
não parece aprender.
Continuamos a viver, psicologicamente, numa sociedade em
que há competição, avidez, inveja, a adoração do êxito. Tudo isso denota
conflito, batalha.
Se, como ente humano,
sou verdadeiramente sério, tenho de aprender uma maneira de vida totalmente
pacífica, tenho de aprendê-la como se, antes, eu nunca tivesse vivido. Só
quando a mente está em paz, temos a possibilidade de aprender, de ver, de
descobrir.
A mente que está em conflito nenhuma possibilidade tem de ver com
muita clareza, porque tudo o que vê se deforma, se corrompe.
A paz é uma
necessidade absoluta, tanto interior como exteriormente.
Mas nós, em primeiro
lugar, não queremos paz; não exigimos a paz.
Se o fizéssemos, não teríamos
nacionalidades, nem governos soberanos, nem exércitos; mas, como entes humanos,
temos `direitos adquiridos´, e assim, não desejamos a paz, em absoluto.
O que
desejamos é só algum conforto e satisfação no meio de toda esta agonia. Queremos
talhar, dentro da nossa mente e coração, um cantinho sossegado, para lá
ficarmos a viver, fechados no nosso pequenino e degradado EGO.
Se desejamos
realmente a paz, interior e exteriormente, não só necessitamos de uma radical
revolução psicológica, mas também temos de reaprender a viver.
Isso ninguém
poderá ensinar-nos, nenhum filósofo, nenhum instrutor, nenhum guru, nenhum
psicólogo e muito menos os chefes militares ou políticos. Temos de reaprender
tudo; aprender a viver sem conflito.
Para compreendermos
o conflito e compreendermos a paz, temos de investigar a questão do prazer,
porque, se não compreendemos o prazer e o seu oposto, a dor, não teremos paz e
não poderemos viver livres de conflitos.
Não estamos a
dizer que devamos privar-nos do prazer ou levar vida de puritano.
Isso o homem
já experimentou, disciplinando-se, matando todos os seus desejos e prazeres,
torturando-se, negando a si próprio todo e qualquer deleite dos sentidos, e,
todavia, ele não dissolveu o seu conflito, a sua tortura psicológica.
Se de facto
desejamos compreender, seriamente, a natureza do conflito, e a sua terminação,
isto é, a paz, temos de investigar, não só intelectualmente, porém real e
verdadeiramente a questão do prazer, que é desejo.
Não poderemos
viver em paz uns com os outros ou com nós mesmos, se não houver amor, se não
houver afeição. O desejo não é amor; o desejo leva ao prazer; o desejo é
prazer.
Não estamos a condenar o desejo. Seria rematada estupidez dizer que
devemos viver sem desejo, visto que isso é impossível. O homem já o tentou.
Muitos têm
negado a si próprios toda a espécie de prazer, têm-se disciplinado, torturado
e, contudo, o desejo persiste, criando conflitos, com todos os seus efeitos
embrutecedores.
Não estamos a
advogar um estado de `não-desejo´; mas, devemos compreender o fenómeno do
desejo, do prazer e da dor e, se pudermos transcendê-lo, encontraremos um
estado de bem-aventurança e de êxtase, que é amor.
Vamos falar
sobre isso nesta manhã, mas não intelectualmente, pois isso é fútil.
É fútil
especular a respeito do desejo; especular a respeito do amor; permanecer no
nível verbal, intelectual, a `moer´ palavras, interminavelmente, sobre se é
possível viver-se neste mundo sem conflito.
Um homem, um
ente humano, não tem nacionalidade, nem religião. Um ente humano é um ser que
se vê cercado de conflitos, aflição, medo, ansiedade, agoniado por uma
existência de solidão e de tédio.
Para investigar o prazer, necessitamos
primeiramente de clareza. Não podemos ter essa clareza, se condenamos o prazer,
ou se dizemos `Preciso dele´, quer se trate de prazer sensual, quer do prazer
derivado das nossas diferentes reacções psicológicas.
Quando
condenamos ou desejamos o prazer, não podemos compreendê-lo.
Não entendo pela
palavra `compreender´ uma compreensão intelectual, conceptual, compreensão
criada por uma palavra ou ideia, pois ideia é palavra ou pensamento organizado.
Se, em relação
ao prazer e à dor, pensamos na base de uma fórmula ou conceito, não os
compreenderemos. Temos de olhar, de penetrar o prazer.
Mas não podemos
compreendê-lo ou penetrá-lo se admitimos ou sustentamos que precisamos do
prazer, porque todos os nossos valores sociais, morais, religiosos e éticos
estão baseados no prazer.
Seria
estupidez negar que a nossa moral está baseada no prazer.
A nossa atitude
perante a vida está baseada nos deleites dos sentidos ou nos deleites
interiores, psicológicos.
Todo o nosso buscar, e tactear, e desejar, e exigir,
se baseia no prazer.
Os nossos
deuses estão baseados no deleite de buscar um mundo diferente, distante desta
tortura, deste medo.
A coisa que estamos a buscar baseia-se nessa exigência de
um certo prazer profundo, permanente.
Para o
examinarmos, objectiva, equilibrada, claramente, não deve haver nem condenação
nem exigência do prazer.
Se isto está bem claro entre o orador e vós, ouvintes
(sinto que sejais obrigado a ouvi-lo, e não sei porque o fazeis), então é bem
óbvio que precisamos de estar bem certos de que desejamos verdadeiramente
compreendê-lo (o prazer), pois, de contrário, não pode haver nenhuma revolução.
Continuaremos
no mesmo campo, embora num canto diferente; não haverá revolução radical na
psicose, na própria mente.
As nossas células cerebrais e a inteira estrutura da
psicose, da nossa existência diária, estão baseadas no prazer, o prazer do
preenchimento, do sucesso, da ambição, da competição, de dúzias de coisas
diferentes.
A menos que
haja, aí, uma revolução radical, podemos ficar a falar interminavelmente a
respeito de mudança, da necessidade de uma nova espécie de sociedade, etc.
etc., e tudo serão palavras ocas.
Nós vamos
aprender, e isso significa que não ides ser ensinados por este orador, para
depois de ensinados, dizerdes: `Aprendi´, e nessa base, tratardes de viver de
maneira diferente. Nós vamos aprender.
O que nos interessa é o presente activo:
aprender, e não `ter aprendido´ou `aprenderei´.
Não há então
acumulação do `aprendido´, como ideia ou conclusão, na base da qual ficaremos a
funcionar ou actuar. Actuamos enquanto aprendemos. Aí está toda a diferença.
Por conseguinte, não é na base de uma ideia, ou símbolo, ou conceito, que
estamos a actuar.
Se conseguirdes compreender isso, total e completamente, a
vossa acção terá um significado inteiramente diferente.
Não estareis então a
actuar com base numa ideia, num conceito, porém estareis a actuar e `actuar´
não tem futuro.
Não sei se
percebeis a beleza disso, pois todos nós estamos acostumados a actuar com base
no passado. Temos ideias sobre o que deve ser `acção´: boa acção, má acção,
acção justa, acção baseada em certos princípios, certas fórmulas, conceitos,
ideias.
Estabelecemos
essas ideias filosóficas, ou sejam ideias derivadas da experiência, quer dizer,
conceitos. De acordo com elas actuamos, e a acção visa sempre a ajustar-se à
ideia.
Há sempre conflito entre a ideia e a acção e andamos sempre a tentar
uni-las, integrá-las, uma impossibilidade.
Não estamos
aqui a aprender nenhuma ideia, nenhum conceito novo. Estamos, sim, `aprender´
sempre no presente activo.
Se percebemos isso, não intelectual, nem sentimental
ou `sensacionalmente´, porém com o máximo de clareza, terá então a acção uma
extraordinária beleza e trará, em si mesma, a liberdade.
Estamos a
aprender, ou vamos aprender (com o sentido do presente), no presente activo, o
que é o prazer e por que razão ele se tornou tão desmedidamente importante.
Não
o estamos a rejeitar, não nos estamos a fazer de puritanos. O que é o prazer?
Há uma
infinidade de variações do prazer sensual ou psicológico. Esses dois estão
relacionados entre si. Não se pode dizer que isto é prazer sensual e isto
prazer psicológico, e portanto, não os estamos a separar.
Estamos a considerar,
no seu todo, o processo do prazer, quer sensual, quer psicológico.
O que é o
prazer e porque tem ele papel tão importante na nossa vida? Só pensamos no que
proporcionará prazer. Temos a imagem, sexual ou de outra natureza, e o
pensamento intervém e gera prazer.
Cumpre-nos
descobrir o que é o prazer, e aprender que o prazer é, em si, disciplina. A
raiz da palavra `disciplina´ significa `aprender´, e não, ajustar-se a um
padrão, a um sistema, fazer tudo aquilo a que comummente se dá o nome de
`disciplina´.
O próprio acto de aprender é disciplina, e a palavra `disciplina´
significa `aprender´, e não, `ter aprendido´, `reprimir´, `praticar certas
coisas ou ajustar-se a um padrão´.
O acto de
aprender é a via da disciplina e, portanto, não há dizer `devo´ ou `não-devo´
ter prazer. O que é o prazer?
Por favor, não espereis pela minha resposta. Nós
estamos a aprender.
Posso articular uma resposta, expor verbalmente o que é
o prazer, descrevê-lo, examiná-lo minuciosamente, mas vós tendes de aprender. É
o que estamos a fazer, juntos.
Por
conseguinte, estais a escutar não só ao orador, mas também a escutar no vosso
interior, e observar a pergunta que se vos faz.
O prazer está
relacionado com o desejo. Saboreei uma certa iguaria e desejo prová-la mais uma
vez; isso dá-me deleite. Há o sexo, o prazer do pôr-do-sol, numa bela tarde; a
luz reflectida nas águas do rio; a beleza de um pássaro a voar; a beleza de um
rosto; a frase que nos inspira profunda alegria; um sorriso. Vem então o
desejo, a exigir repetição.
E há o desejo
sexual, o desejo psicológico ou outro, que provou um certo prazer e quer de
novo prová-lo. O desejo de repetição apresenta-se no mesmo momento em que nasce
o pensamento. Consideremos isso com muita simplicidade, por ser uma questão
muito complexa.
Ontem de
tarde, no meio das nuvens e do vento, o sol iluminou subitamente uma pequena
porção de um campo. Uma luz de extraordinária plenitude em que o verde do campo
adquiriu maravilhosa viveza.
Os olhos viram, a mente registou, e experimentou
enorme deleite, ante daquela beleza, aquela luz, aquele verde incomparável.
Quero a repetição daquela delícia, e assim, vou procurar aquela mesma luz,
aquela mesma beleza, aquele mesmo sentimento, e isso já é pensamento.
O acto de ver
foi uma coisa, e depois, veio o pensamento: `Desejo repetir aquilo; tenho de
repeti-lo amanhã´.
Essa repetição é o começo do prazer. Quando vi a luz a
brilhar naquele campo, não existia desejo nem prazer, mas só um estado de
intensa observação e deleite.
Mas, o pensamento interferiu: `Oh, que bom seria
se eu pudesse repetir isso amanhã!´.
É sempre isso
o que fazemos, seja em relação ao sexo, seja quando alguém nos lisonjeia e se
diz nosso amigo.
O pensamento se ingere e deseja repetição. O começo do prazer
é o começo do pensamento, com o seu conflito.
O pensamento tem necessidade de
conflito, e cria o conflito.
O meu problema
não é o deleite que experimento ao ver uma coisa bela, porém, começa a existir
logo que o pensamento exige repetição. O deleite torna-se então prazer e sinto
necessidade da sua repetição.
A ideia de repetição, de `mais uma vez´ é criada
pelo pensamento.
Vejo um rosto
agradável, um belo semblante iluminado por um sorriso, e nele fico a pensar.
Primeiro vejo-o, depois penso nele.
Esse pensar é o começo da tortura, da dor,
do prazer, como possuir, conservar, dominar o que vejo. Uma vez dominado, está
destruído, e vou procurar outra coisa, etc. etc.
Posso contemplar aquele campo
verde, ver aquela luz maravilhosa, extasiar-me com aquela extraordinária
beleza, sem deixar o pensamento interferir?
Este é que é o problema.
No momento em
que o pensamento intervém, começa a tortura, a dor, o conflito, com todos os
seus resultados e efeitos indirectos. O pensamento destrói o que antes era
belo.
O meu problema não é de evitar ou de aceitar o prazer, mas sim, de
compreender no seu todo, o processo do pensamento.
Vejo um belo e
possante carro. O pensar nele intensifica o desejo, torna-o mais forte. O
desejo torna-se prazer, a imaginação entra a funcionar, etc. etc.
Tenho de
investigar agora o pensamento, o pensar, e não se tenho possibilidade de detê-lo,
pois não a tenho; tenho de investigar se tenho possibilidade de compreender o
mecanismo do pensamento.
Este é um
assunto verdadeiramente sério. Tendes de dispensar-lhe muita atenção, e vos
cansais muito depressa. Não podeis prestar atenção durante uma hora inteira,
com plena energia.
Se até agora estivestes a examinar-vos com toda a vossa
energia, atenção e capacidade, com intensidade, então o vosso corpo, a vossa
mente, todo o vosso ser está esgotado.
Se dizeis: `Tende a bondade de
prosseguir, e entenderei o que quereis dizer´, isso significa que desejais
continuar a ouvir e que eu continue a explicar; já não estais aplicado à coisa
com toda a vossa vitalidade.
Voltaremos a
considerar este assunto, o mecanismo do pensamento, na próxima ocasião. Para
compreendê-lo, deveis investigar a questão do tempo, do tempo como memória, do
tempo como passado. Este é um problema muito complexo, a que deveis aplicar-vos
na enfastiada da vida.
Para examinardes o mecanismo do pensamento, que é
memória, tendes de penetrar fundo no consciente e no inconsciente; tendes de
compreender o tempo cronológico e o tempo psicológico e de considerar se o
tempo pode terminar.
Tudo isso está
incluído na investigação do pensar. Esta investigação exige uma mente muito
penetrante, e não uma mente embotada, cansada, que apenas sente curiosidade,
pois está esgotada, após quarenta anos de labor num escritório.
Exige uma mente
clara, aguçada, capaz de pensar lúcida e resolutamente, sem hesitar entre uma
coisa e outra. Uma mente dotada da energia necessária para prosseguir, sem
desfalecimentos, até ao fim.
Quando assim
tiverdes feito, sabereis por vós mesmos o que é o prazer, e a dor que sempre o
acompanha; e sabereis se é possível viver neste mundo com infinito
deleitamento, bem-aventurada e arrebatada, inteiramente livre do prazer e da
dor.
Para
atingir-se esse ponto, necessita-se de uma mente muito ardorosa, muito séria, e
não de uma mente presumida, uma mente cheia de vaidade, que diz: `Eu sei´.
A
compreensão do que estamos a explicar requer muita humildade, e humildade
significa aprender. Não podeis aprender, se não sois simples."
Jiddu Krishnamurti
"O mistério da compreensão"
“Apesar da idade, não me acostumar à vida.
Vivê-la até ao derradeiro suspiro de credo na boca.
Sempre pela primeira vez, com a mesma apetência, o mesmo espanto, a mesma aflição.
Não consentir que ela se banalize nos sentidos e no entendimento.
Esquecer em cada poente o do dia anterior.
Saborear os frutos do quotidiano sem ter o gosto deles na memória.
Nascer todas as manhãs.”
Miguel Torga
"Diário (1982)"
t.
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