"The word 'together' means walking together,
being together all the time, not you walk ahead and the other walks behind, but
walking together means we are both going along the same way, not thinking
different things, observing the same thing, not translating what you observed
in your own particular inclination or prejudice, but observing together,
listening together, walking together."
Observing,
listening and walking
Observing,
listening and walking
together...
“The ancient Hindus and the Greeks
formulated a concept of a good society. Don't get bored with this. They said a good society is this,
this, this.
The Greeks said a good society is justice and so on, so
on.
The ancient Hindus said a good society is only possible if there are a
group of people who have renounced the world, please, careful, I am
not asking you to do it, anything, I am pointing out, who do not own property,
who are outside society, and being outside society they are responsible to the
activities of the society.
You follow?
Not that they withdraw, but
being outside society they are morally incorruptible, because they didn't own
property of any kind. And they were morally, ethically, religiously clear.
They would not kill and so on and so on, so on. And for a certain time,
probably, that existed. Then it, like everything else, it degenerated into what
the world knows as a Brahmin.
The Greeks had the same idea: that a good society must exist in
the world. And it was an idealistic, formulated, ideological society. Ideas, you understand? Ideals, and according to them they formulated very carefully,
the Aristotelian and so on and so on, society, but never existed.
Now we are saying, please listen, can we bring about a good
society, not ideologically, not as a utopia, not as something to be done,
achieved, but a society, which means a relationship between two people is
society. You are following all this? Can we as a group create such a good society?
Now wait a minute. The Greeks formulated, the Hindus formulated and probably
the Chinese, but we are not formulating anything.
We are not saying the ideal, society must be this, this, this. We are not saying that because that becomes a
utopia, an ideal to be pursued, you are following all this?
Something to be
done. We are talking about a good society which can only come into being when
you as a human being, representative of all mankind, I'm coming to
that, hold on to it, are responsible to another human being.
When we say you
are the whole of mankind, psychologically you are. Right?
You may have a
different shape of head, lighter skin or darker skin, better food
therefore you are taller, in a temperate climate, your name may be different,
but psychologically we live at the same level, sorrow, pain, anxiety,
frustration, a sense of hopeless loneliness, great sorrow. You
follow?
This exists right through the world. This is a fact, it is not an idea
which you accept.
If you go to India you see the same phenomena there as here.
They are darker people, over-populated, poverty but psychologically they are
anxious, insecure, confused, miserable, worship something which they imagine,
just like here.
So there is great similarity. And psychologically it is the
same movement, varied, modified, but the source of this movement is
the same for all mankind, right? You see this?
Not as an idea but as an
actuality, that is, what is happening. Right? So you are the rest of mankind.
If you see that you won't give such tremendous importance to yourself, your
personal anxieties, your personal fulfilment, you know all the self-centred
egotistic problems, because you are like everybody else. But you have to solve
it. Right?
So, we are saying, I am getting rather tired, are you? We are
saying a good society can come into being immediately, not something to be
achieved in the future.
That good society can come into being only when we
think together, which means no division between you and another.
Then our whole
conduct changes. Right, do you see that?
Then one does not exploit the other,
either sexually, or in various psychological subtle ways. Right?
At least
verbally follow this. But verbally means nothing, like following empty air,
holding empty ashes in your empty hand.
So, we are saying a good society, which must exist in this
terrible world, in this murderous world, immoral society, if a group of us
can think together, therefore I asked: what is the relationship of you
to another if there is no psychological future?
You see, you understand what
has happened? Do you... What has happened to a mind, please listen, what has
happened to a mind that has been accustomed, trained, educated, conditioned to
accept the whole pattern of a life which is based on the future?
That
has been your way of life. In that is involved the constant effort to
become, to achieve, competition, comparison, imitation, the struggle.
If
intelligently you don't accept that way of living, which means that
you do not accept in your relationship with another, future, then what takes
place in your mind, what has happened to your mind?
This is an important question
if you can solve it
for yourself,
not solve it.
If your mind has that quality that is not acting, please listen, from an ideological point of view, having an ideal and acting
according to that ideal, which means division, therefore no ideals whatever,
and therefore no attempt to achieve something other than understand what is
actually happening.
Have you understood this?
Are you all asleep?”
Jiddu Krishnamurti
Second Public Talk in Saanen
July 1979
Justiça
"Por mais ordeiro que um povo seja, sempre há coisas. É
uma asneira que se diz, um marco que o arado arranca, uma cabra lambisqueira
que salta à vinha de alguém, duas maçãs que uma criança rouba. Mas tudo isso
não vale nada. As mulheres engaleiam-se, o falatório no tanque anima-se,
discute-se nas cavas, e acaba tudo em águas de bacalhau. No tempo do Leonardo,
porém, Deus nos livrasse! Aquele cobardola só sabia dizer:
- Embargo! Ou fazes o que eu digo, ou vou à Vila e
enrolo-te em meia folha de papel selado.
- Se tem assim tanta razão, salte! Salte para aqui, e
tiram-se as teimas de homem para homem. Olha lá não saltasse! Metia o rabo
entre as pernas, e tribunal.
Ora, o que a justiça quer é comer. Certo e sabido:
vai-se ter com o Dr. Valério a Murça, e é logo:
- Você está cheio de razão, alma de Deus! Ponha a
questão, que não há ninguém que lha perca. Se quiser, passe-me uma procuração,
deixe trezentos mil réis para preparos, e o resto é comigo.
Um céu aberto. Até parece que a gente já está a ouvir
o juiz. Mas depois é que são elas! Começa um moedoiro, de dinheiro, que não há
bolsa que chegue. O advogado só diz:
- Então agora, que isto vai tão bem encaminhado, é que
você se quer compor?!
E cantem para aqui mais cinco notas! O pior é que daí
a um mês, zás: uma cartinha. `Senhor Fulano, é favor comparecer no meu
escritório´. Desce a gente de escantilhão pela serra abaixo, numas ânsias, a
cuidar mil coisas. E o que há-de ser? `Tenha, paciência, isto não anda sem a
mola real...´.
Até que chega o dia da audiência. Aí, então, é como
quem quer livrar um filho. Presente a este, presente àquele, tia Preciosa, pelo
amor de Deus, diga a verdade e beba mais uma pinga. E para nada, afinal de
contas, porque o outro advogado, que é um bandalho da mesma raça, embrulha tudo. `Ora explique-me lá isso bem explicado! Não minta...`. A gente, quando se senta
naquelas cadeiras, fica logo como há-de ir. Fazem-nos falar, apertam, apertam,
e quem é que não cai? Tiram de nós o que eles querem. `Diga. Diga! Ora assim,
sim! Vê como é tudo ao contrário do que pensava?!´. Só visto! Ao fim, sai uma
sentença que não é carne nem peixe, uma pessoa fica borrada, empenhada até às
orelhas, e a dever favores até às pedras da rua.
Mas o Leonardo queria lá saber! O tribunal, para ele,
era como a igreja para as beatas. Tivesse razão ou não tivesse. Sentiam-lhe
dinheiro no bolso, claro, venha a nós... Todos mais a mim, mais a mim. E o
lorpa a cuidar que lhe davam tantos améns por causa dos seus belos predicados!
Com que biscas! Mas, como quem o tem é que o troca, ora viva o nosso amigo, o
que é que o traz por cá, às suas ordens, mande! E o filho de quem o pariu, de
costas quentes, trazia o povo numa apertadinha.
- Ou esbarrondas a parede, ou ainda hoje te vou fazer
a cama!
- Farto seja você de tribunais nas profundas dos
infernos! Não tem olhos nessa cara? Não vê que isto é meu, seu ladrão?!
A coitada da Maria Ambrósia, de raiva, até espumava, e
o caso não era para menos. Ter a gente uma coisa sua, e de repente aparecer-nos
um larinhoto e levá-la de mão beijada!
- Lembre-se ao menos destas crianças, que ficam
desgraçadas...
Qual o quê! Sentimentos não eram com ele.
- Sejam então muito boas testemunhas... E pronto,
começava o calvário. Coisas de fazer tremer a passarinha. Numa ocasião
processou o Garrido só porque lhe atravessava uma leira quando ia namorar! O
pai da Belmira não queria o casamento. Aqui-del-rei que matava o rapaz se o
encontrasse a desencaminhar-lhe a filha. Que remédio tinha o coitado senão
cortar-lhe as voltas e fazer-lhe o ninho atrás da orelha! Ia ao redor da casa,
metia-se no meio do milhão, e era um regalo. Pois o badana do Leonardo deu com
aquele arranjo em pantanas, e por um triz que não metia o pobre do desgraçado
na cadeia.
- Ó homem do Senhor, tu parece que não tiveste vinte
anos! - clamava o Pinto, indignado, a lembrar-se com saudades dos tempos da
mocidade.
- Quem quer cainça, vai para os baldios. Naquilo que é
meu, não!
- Estragou-te alguma coisa, porventura?
- Não quero cá saber. Sevandejava-me a propriedade, e
não é pouco! Fica o aviso feito: a mim, quem me pisar o risco, vai malhar com
os ossos no chilindró.
Um castanheiro à borda da extrema, que pingasse para o
lado dele, era uma carga de trabalhos. Mais valia atirá-lo abaixo. Os marcos,
então, andavam sempre numa fona!
Nem já ninguém queria terras ao pé das dele. Os donos
punham-nas à venda, os compradores chegavam-se, mas desistiam.
- É um bom bocado, realmente, dá aqui um rico milhão,
e não se pode dizer que seja caro. O pior é a má vizinhança... Não. Meter-se a
gente em trabalhos escusadamente!
Foi por Deus o Abrunhosa ir ao Brasil, ganhar por lá
bem contos, aprender como as bandalheiras se fazem, e vir pôr termo àquilo. De
contrário, quem havia de viver em Celeirós com um justiceiro assim?
O Abrunhosa, apenas regressou do Rio - todo lorde -,
pôs-se a arejar as notas. Comprou o Tapado, limpou a mina do Reguengo, e queria
aumentar a casa. Bem tolo não empregar tanto dinheiro em fragas que lhe
rendessem mais! Mas lá diz o ditado: pobre pássaro que nasce em ruim ninho.
Segue-se que era amigo da sua terra, e a ele se sabe, tinha empenho em fazer as
coisas a gosto dele. Abrir uma varanda do lado do sol, altear a cozinha,
ajeirar um quarto de banho, arranjar comodidades. Mas logo por sorte quem havia
de ter um palheiro em frente? O Leonardo. Os pedreiros a darem começo à obra, e
o Leonardo rente com duas testemunhas.
- Embarga, tio Leonardo?
- Embargo.
- Muito bem. Ide-vos então, rapazes. E descansai. Quem
paga é aqui o nosso milionário...
- Não sou milionário, mas ainda tenho o suficiente
para me bater com qualquer.
- Ora essa! Que dúvida! Com quem ele se foi meter!
Isto de mijar no mar tem o seu quê!
A arrotar postas de pescada, o Leonardo logo no outro
dia que tinha o melhor advogado da comarca, e que ganhava, desse por onde
desse.
O Abrunhosa, muito calado, que no fim se veria.
De bico amarelo! Pela mansa, manobrou as coisas de tal
maneira, que comprou testemunhas, comprou advogados, comprou juizes, comprou
tudo. Mas a sério! Nada de conversa fiada. Todos ali comprometidos e firmes. E
sem o Leonardo sonhar sequer! Na audiência, quando contava com um
p-a-pá-Santa-Justa a seu favor, sai-lhe a coisa furada. O Felizardo, o Único
que verdadeiramente podia fazer prova, por ser a pessoa mais velha da terra,
que não sabia, que ao certo, ao certo, não podia afirmar. A Bernarda, que
também ao cabo e ao resto não conhecia a questão. E o Freitas, esse então disse
redondamente que quem tinha razão era o Abrunhosa.
O Leonardo parecia um bicho, a bufar. Era vê-lo pelo
corredor a cabo, para cá, para lá, sem parança, como um lobo num fojo. Dantes,
naquelas ocasiões, espanejava-se todo, de mãos atrás das costas, como se
estivesse em sua casa. Agora, com o rabo entalado, gemia. Traidores! Mas que os
metia a todos na cadeia! Se metia! Com quem cuidavam eles que estavam a
brincar? De resto, a procissão ia ainda no adro. Não cantasse lá o sr.
Abrunhosa vitória antes do fim da festa! Então o Dr. Vaz não valia nada?
Deixassem-no falar, e veriam. Esperassem-lhe pela resposta.
E aqui é que foi a bomba. O Dr. Vaz tinha a língua
vendida como os outros. Nas alegações, que sim, que não, que torna, que deixa,
e, para encurtar razões, que pedia justiça. Claro, os Juizes fizeram-lhe a
vontade. Deram direito ao Abrunhosa.
O Leonardo, ainda a sentença estava no meio, que
apelava. Havia de ir até ao cabo do mundo.
Farroncas tem a minha Joana, mas obras... Ali era
meter a viola no saco e nem tugir nem mugir. Pois se até um cego via que o
vento mudara de feição! Voga bem. Quando o demónio atenta uma pessoa...
O Abrunhosa, ao saber que a questão continuava,
riu-se. Era de força, o tio Leonardo! Mas com valentões assim é que ele gostava
de se divertir. Para o brasileiro aquilo até o distraía. Quem não tem que
fazer, faz colheres.
No Porto, o Leonardo ganhou. Santo Deus! Só lhe faltou
deitar foguetes. Um lorpa, que não via que era tudo combinação. Porque em
Lisboa, foi de caixão à cova.
A gente não se deve rir do mal de ninguém. Mas, quando
as coisas passam as marcas, é humano gostar de ver o nariz achatado a certos
figurões.
- Então, tio Leonardo, sempre ganhou a questão? A
modos que vi hoje os pedreiros outra vez na obra do Abrunhosa...
O Campeã era dos que em tempos fora também cosido e
mal pago pelo Leonardo. E gozava a desgraça do facínora sem dó nem piedade...
- Perdi esta, mas posso ganhar outras, que tem lá isso
?
Coitado! Teve quase sempre que ir adiante. E, nisto de
tribunais, quem vai à frente é que geme. Depois, com advogados do Porto e de
Lisboa não se brinca. Comem muito. Não há quem os vede. Aquilo não é gente de
duzentos ou trezentos mil réis. É logo às boladas de vinte ou trinta contos! -
Segue-se que quando o Leonardo se viu livre da
enrascada, tinha tudo em pantanas. Hoje um lameiro, amanhã uma mata...
- Desgraçadinho. Pobre como Job.
- Mas foi um descanso. Todos lhe podiam arregalar os
olhos quando metia a mão no alheio, e cantar-lhas.
- Olhe que agora a justiça são duas lombeiradas com um
estadulho! Ponha aí o que não é seu, se quer os ossos inteiros.
Lá fazia das tripas coração, pois que remédio! Mas tão
danado, tão viciado na chicanice, que a ver-se naquela miséria em que os
tribunais o tinham posto, não suspirava por outra coisa. Nos dias de feira da
Vila, já velho e atoleimado, sentava-se na soleira da porta a ver passar o
povo. Como toda a gente lhe conhecia o fraco, puxavam-lhe pela língua.
- Quer vir, tio Leonardo?
- Não tenho pernas. Se não, bem gostava! Está um dia
bendito.
- Bom para semear batatas...
- Quais batatas! Bom mas é para ir pôr uma demanda.
Com um sol destes, eram favas contadas..."
Miguel Torga
"Contos da montanha"
t.
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