“You know, actually we have no love, that is a terrible
thing to realize.
Actually we have no love; we have sentiment; we have
emotionality, sensuality, sexuality; we have remembrances of something which we
have thought as love.
But actually, brutally, we have no
love.
Because to have love
means no violence, no fear, no competition, no
ambition.
If you had love
you will never say: `This is my family´. You may have a family and
give them the best you can; but it will not be `your family´ which is
opposed to the world.
If you love, if there is love, there is peace.
If you
loved, you would educate your child not to be a nationalist, not to have only a
technical job and look after his own petty little affairs; you would have no
nationality.
There would be no divisions of religion, if you loved.
But as
these things actually exist, not theoretically, but brutally, in this ugly
world,
it shows that you have no love.
Even the love of a mother for her child
is not love. If the mother really loved her child, do you think the world would
be like this?
She would see that he had the right food, the right education,
that he was sensitive, that he appreciated beauty, that he was not ambitious,
greedy, envious.
So the mother, however much she may think she loves her child,
does not love the child. So we have not that love.”
We have not
that love…
“If you had only one hour to live, what would you do?
Would
you not arrange what is necessary outwardly, your affairs, your will, and so
on?
Would you not call your family and friends together and ask their
forgiveness for the harm that you might have done to them, and forgive them for
whatever harm they might have done to you?
Would you not die completely to the
things of the mind, to desires and to the world?
And if it can be done for an
hour, then it can also be done for the days and years that may remain. Try it
and you will find out.”
"Senhores, eu não tenho esquema das coisas.
Vede de
que maneira absurda pensamos na vida!
A vida é uma coisa viva, uma coisa
dinâmica, activa, não podeis encerrá-la num calabouço. São os intelectuais que
põem a vida num molde, que têm um esquema para sistematizá-la.
Está visto,
pois, que não tenho esquema algum. Vamos agora olhar os factos.
Em primeiro
lugar, temos o facto das nossas relações com os outros, uma esposa, um marido
ou um filho, as relações a que chamamos família. Examinemos o facto que é, e
não o que gostaríamos que fosse.
Qualquer um pode enunciar ideias precipitadas acerca da vida
familiar; mas se podemos olhar, examinar, compreender o que é, então, talvez
sejamos capazes de transformá-la.
Mas se, pura e simplesmente, cobrimos o que
é, com uma colecção de palavras bonitas, responsabilidade, dever, amor, fazemos
coisa sem significação alguma.
O que vamos fazer é examinar aquilo a que chamamos família.
Porque, Senhores, para compreendermos uma coisa, precisamos examinar o que é, e
não cobri-la com frases de som agradável.
Pois bem, o que é isso a que chamamos família?
Trata-se,
obviamente, de uma relação de intimidade, de comunhão.
Ora, na vossa família,
nas vossas relações com a vossa esposa, o vosso marido, há comunhão? Isso é,
por certo, o que se entende por relação, não é verdade?
Relação significa comunhão sem temor, liberdade de mútua
compreensão, de comunhão directa. Relação, obviamente, significa isto: estar em
comunhão com outra pessoa. Vós estais?
Estais em comunhão com a vossa esposa?
Talvez estejais, fisicamente, mas isso não é relação. Vós e a vossa esposa
viveis dos lados opostos de uma muralha de isolamento, não é verdade?
Tendes os
vossos alvos e ambições próprios, e ela os seus.
Viveis atrás da muralha e de vez em quando olhais por cima dela,
a isso chamais estar em relação. Isso é um facto, não?
Podeis ampliá-lo,
suavisá-lo, introduzir uma nova colecção de palavras para o descrever, mas esse
é o facto real, que vós e alguém viveis no isolamento, e chamais relação a essa
vida no isolamento.
Ora, se existem relações reais entre duas pessoas, o que
significa que existe comunhão entre elas, o que isso implica é de
extraordinária significação. Porque então não há isolamento, há amor, e não
responsabilidade ou dever. São as pessoas que vivem isoladas atrás das suas
muralhas que falam de dever e responsabilidade.
Um homem que ama, porém, não
fala de responsabilidade, ele ama. Por isso partilha com alguém a sua alegria,
a sua tristeza, o seu dinheiro. São assim as nossas famílias?
Há comunhão directa com a vossa esposa, com os vossos filhos?
Evidentemente não há, senhores.
Por conseguinte, a família não passa de um
pretexto para continuardes o vosso nome e a vossa tradição, para dardes a vós
mesmos o que desejais, sexual ou psicologicamente.
A família, portanto,
torna-se um meio de auto-perpetuação, transmissão do vosso nome. Isso já é uma
espécie de imortalidade, uma espécie de permanência.
A família serve também como meio de satisfação.
Fora de casa,
exploro os outros impiedosamente, no mundo dos negócios, no mundo político ou
social, e em casa procuro ser afectuoso e generoso. Que absurdo!
Ou, o mundo é
insuportável para mim, desejo paz, e refugio-me no lar. Sofro no mundo e tento
achar conforto no lar. Desse modo, sirvo-me das minhas relações como meio de
satisfação, o que significa que não desejo ser perturbado pelas minhas
relações.
Então, Senhores, não é isso o que está a acontecer? Nas nossas
famílias o que há é isolamento, e não comunhão; logo, não há amor.
Amor e sexo
são duas coisas diferentes, de que trataremos noutra ocasião.
Podemos criar, no
nosso isolamento, uma espécie de abnegação, de devoção, de bondade, mas isso
está sempre atrás da muralha, porque temos maior interesse em nós mesmos do que
noutros.
Se tivésseis interesse pelo próximo, se estivésseis em real
comunhão com a vossa esposa, com o vosso marido, e estivésseis, por
conseguinte, aberto para o vosso próximo, o mundo não estaria nesta desgraça.
Eis porque as famílias que vivem em isolamento se tornam um perigo para a
sociedade.
Como, então, quebrar esse isolamento?
Para quebrarmos esse
isolamento, precisamos estar conscientes dele, não devemos dissociar-nos dele,
ou dizer que ele não existe. Ele existe, é um facto evidente.
Tomai nota da
maneira como tratais a vossa esposa, o vosso marido, os vossos filhos, notai a
insensibilidade, a brutalidade, as asserções tradicionais, a falsa educação.
Quereis dizer, Senhores e Senhoras, que se amásseis a vossa
esposa ou o vosso marido teríamos este conflito e esta miséria que vão pelo
mundo?
E por não saberdes amar a vossa esposa, o vosso marido, não sabeis amar
a Deus.
Desejais Deus como mais um meio de isolamento, de segurança.
Deus, afinal de contas, é a segurança final; mas isso não é uma busca de Deus,
é tão somente, um refúgio, uma fuga.
Para achardes Deus, precisais saber amar não a Deus mas os seres
humanos em redor a vós, as árvores, as flores, os pássaros. Só quando souberdes
amá-los, sabereis deveras o que é amar a Deus.
Se não amardes ao próximo, se
não souberdes o que significa estar em perfeita comunhão com alguém, não
estareis em comunhão com a verdade.
Não pensamos no amor, não nos interessa
estar em comunhão com alguém.
Queremos segurança, na família, na propriedade,
ou nas ideias; e a mente que busca segurança, jamais conhecerá o amor.
O amor é
a coisa mais perigosa que existe, pois quando amamos a alguém somos
vulneráveis, estamos abertos; e não queremos estar abertos. Não queremos ser
vulneráveis.
Queremos estar fechados, queremos ter mais conforto dentro de
nós.
Mais uma vez, senhores, produzir uma transformação nas nossas
relações não é um caso de legislação, de compulsão de acordo com Shastras, etc.
Para produzirmos uma transformação radical na vida de relação, cumpre começar
por nós mesmos.
Observai a vós mesmos, como tratais a vossa esposa e os vossos
filhos. A vossa esposa é uma mulher, e tanto basta para servir-vos de capacho!
Não olheis para as senhoras, olhai para vós mesmos.
Senhores, não me parece que
compreendeis o estado catastrófico do mundo no momento presente, pois de
contrário não vos mostraríeis tão despreocupados.
Estamos à beira de um precipício, moral, social e espiritual.
Não vedes que a casa está a arder, e vós morais nela.
Se soubésseis que a casa
está em chamas, se soubésseis que estais na beira do abismo, trataríeis de
agir.
Mas, por desventura, estais em comodidade, tendes medo, tendes
conforto, estais embotados, moles, quereis satisfação imediata.
Deixais as
coisas ao sabor da corrente, e eis que se aproxima a catástrofe mundial. Não se
trata de simples ameaça, é uma realidade. Na Europa, a guerra está em marcha,
guerra, guerra, guerra, desintegração, insegurança. Afinal de contas, tudo o
que atinge aos outros atinge a vós mesmos.
Sois responsáveis pelos outros, não
podeis fechar os olhos e dizer `estou bem seguro aqui em Bangalore´. Esta é
evidentemente uma ideia muito míope e muito tola.
Vemos, pois, que a família torna-se um perigo quando há
isolamento entre marido e mulher, entre pais e filhos, porque em tal caso a
família induz ao isolamento geral;
mas, quando são derrubadas as muralhas de
isolamento, na família, estais em comunhão, não só com a vossa esposa e vossos
filhos, mas também com o vosso próximo.
Aí, a família já não é uma coisa
fechada, limitada, já não é um refúgio. O problema, portanto, não é de outra
pessoa, mas nosso."
"A guerra é uma projecção espectacular e sangrenta da
nossa vida de cada dia, não é certo?
A guerra é simples expressão exterior do
nosso estado interior, uma ampliação da nossa acção diária. Ela é mais
espectacular, mais sangrenta, mais destrutiva, mas é o resultado colectivo das
nossas actividades individuais.
Assim sendo, vós e eu somos responsáveis pela guerra, e o que
fazer para impedi-la?
Sem dúvida a guerra que nos ameaça não pode ser impedida
por vós e por mim, porque já está em marcha; já começou, embora, por enquanto,
principalmente no nível psicológico.
Já se iniciou no mundo das ideias, mesmo
que falte ainda algum tempo para sermos destruídos fisicamente. Visto que já
está em movimento, não podemos mais detê-la, as questões são numerosas demais,
grandes demais e já foram comprometidas.
Todavia, vós e eu, ao perceber que a casa está a arder, podemos
sair dela e construir noutro lugar com material diferente, não combustível, que
não produza novas guerras. É tudo quanto podemos fazer.
Podemos, vós e eu, ver
o que gera as guerras, e se temos interesse em pôr termo a elas, começaremos a
transformar a nós mesmos, que somos as causas da guerra.
Mas o que é que causa a guerra, religiosa, política, ou
económica?
Evidentemente, a crença, a crença no nacionalismo, numa
ideologia, ou num determinado dogma.
Se em vez de crença tivéssemos boa
vontade, amor e consideração pelo próximo, não haveria guerras.
Nutrimo-nos,
porém, de crenças, ideias e dogmas, e por isso geramos o descontentamento.
Sem
dúvida, a crise actual é de natureza excepcional, e nós, como entes humanos,
devemos ou não continuar pelo caminho do conflito e das guerras constantes, que
são o resultado das nossas acções de cada dia, ou compreender as causas da
guerra e afastar- nos delas.
Evidentemente, o que causa a guerra é o desejo de poder, de
posição, prestígio, dinheiro, e também a enfermidade chamada nacionalismo, o
culto de uma bandeira, e a doença da religião organizada, o culto de um dogma.
Essas coisas são as causas da guerra; e se vós, como indivíduo, pertenceis a
qualquer religião organizada, se tendes ambição de poder, se sois invejoso, não
podeis deixar de criar uma sociedade que resultará em destruição.
Mais uma vez, portanto, tudo depende de vós e não dos chefes,
nem de Stalin, nem de Churchill, nem de ninguém mais.
Tudo depende de vós e de
mim, mas parece que não o percebemos. Se alguma vez sentíssemos deveras a
responsabilidade das nossas próprias acções, como podíamos acabar rapidamente
com todas estas guerras, toda esta aterradora miséria! Mas somos indiferentes.
Tomamos três refeições por dia, temos os nossos empregos, temos os nossos depósitos bancários, pequenos ou grandes, e dizemos: `pelo amor de Deus, não venham perturbar-nos, deixem-nos em paz´.
Quanto mais altamente situados estamos, tanto mais desejamos
segurança, permanência, tranquilidade, tanto mais desejamos ficar em sossego e
manter as coisas como estão; contudo, elas não podem ser mantidas como estão,
pois não há nada a manter.
Tudo está a desintegrar-se. Não queremos olhar de frente essas coisas, não queremos olhar de frente o facto de que vós e eu sermos responsáveis pelas guerras.
Vós e eu, podemos falar de paz, realizar conferências, sentar-nos ao redor de uma mesa e travar discussões; todavia, interiormente, psicologicamente, desejamos poder, posição, somos impulsionados pela avidez.
Intrigamos, somos nacionalistas, estamos ligados por crenças, por dogmas, pelos quais estamos prontos a morrer e a destruir-nos mutuamente.
Pensais que tais homens, que somos vós e eu, podem ter paz no mundo?
Para termos paz, precisamos ser pacíficos; e viver pacificamente
significa viver sem criar antagonismo.
A paz não é um ideal. Para mim, um ideal
não passa de uma fuga, uma evasão do que é, assunto de que trataremos noutra
palestra.
Para termos paz cumpre amar, começar não a viver uma vida ideal, mas a perceber as coisas como são e actuar sobre elas e transformá-las.
Enquanto cada um de nós andar em busca da segurança psicológica,
será destruída a segurança fisiológica, que nos é necessária, alimento, roupa e
morada.
Buscamos a segurança psicológica, que não existe; e buscamo-la, se possível, pelo poder, pela posição, pelos títulos, nomes, factores destrutivos da segurança física. Isso é um facto óbvio, para quem quiser ver.
Buscamos a segurança psicológica, que não existe; e buscamo-la, se possível, pelo poder, pela posição, pelos títulos, nomes, factores destrutivos da segurança física. Isso é um facto óbvio, para quem quiser ver.
Nessas condições, para se implantar a paz no mundo, acabar com todas as guerras, torna-se necessária uma revolução no indivíduo, em vós e em mim.
A revolução económica, sem esta revolução interior, é destituída de significação, porque a fome é o resultado do desajuste das condições económicas produzidas pelos nossos estados psicológicos, avidez, inveja, malevolência, desejo de posse.
Discutiremos a paz, projectaremos leis, criaremos novas ligas, as Nações Unidas, etc. etc.; mas não ganharemos a paz, porque não renunciaremos a nossa posição, a nossa autoridade, o nosso dinheiro, as nossas propriedades, a nossa vida estúpida.
Não adianta contar com os outros, pois não podem trazer-nos a paz.
Nenhum chefe nos dará a paz, nenhum governo, nenhum exército,
nenhum país.
O que produzirá a paz é a transformação interior, que conduz à acção exterior.
A transformação interior não significa isolamento, não significa retraimento da acção exterior.
Pelo contrário, só pode haver acção correcta quando há pensar correcto, e não há pensar correcto sem auto-conhecimento.
Se não conheceis a vós mesmos, não há paz.
Alguns de vós sacudirão a cabeça e dirão:
`de acordo´, para
depois saírem daqui e fazerem exactamente as mesmas coisas que fazem há dez ou
vinte anos.
O vosso acordo é meramente verbal, sem significação, porque as misérias e as guerras do mundo não vão terminar por causa do vosso fortuito assentimento.
Só acabarão quando compreenderdes o perigo, quando compreenderdes a vossa responsabilidade, quando não passardes a outro esse encargo.
Se perceberdes de facto o sofrimento, se perceberdes a importância da acção imediata, se não adiardes, então transformareis a vós mesmos;
e a paz só virá quando fordes pacíficos, e quando viverdes em paz com o vosso próximo."
Jiddu Krishnamurti
"Novo acesso à vida"
t.
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