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terça-feira, 24 de maio de 2016

Essential understanding...






Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender. O sentido da frase é por vezes difícil de atingir.

 Cansamo-nos de pensar para chegar a uma conclusão, porque quanto mais se pensa, mais se analisa, mais se distingue, menos se chega a uma conclusão.


Fernando Pessoa
"Livro do desassossego"





Amidst so much confusion and sorrow it is essential to find creative understanding of ourselves, for without it no relationship is possible. 

Only through right thinking can there be understanding. 

Neither leaders nor a new set of values nor a blueprint can bring about this creative understanding; only through our own right effort can there be right understanding.




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Essential 
understanding...


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Is it not, therefore, an obvious fact that what I am in my relationship to another creates society and that, without radically transforming myself, there can be no transformation of the essential function of society? 




 When we look to a system for the transformation of society, we are merely evading the question, because a system cannot transform man; man always transforms the system, which history shows. 

Until I, in my relationship to you, understand myself I am the cause of chaos, misery, destruction, fear, brutality. 





Understanding myself is not a matter of time; I can understand myself at this very moment.












"No meio de tanta confusão e sofrimento, é essencial encontrar um entendimento criativo de nós mesmos, pois sem ele, nenhum relacionamento é possível. 


Só através do pensar correcto pode haver entendimento. Nem líderes, nem um novo conjunto de valores, nem um projecto pode produzir este entendimento criativo; somente através do nosso próprio esforço correcto pode haver entendimento correcto.


Como é possível então encontrar este entendimento essencial?


De onde começaremos a descobrir o que é real, o que é verdadeiro, em toda essa conflagração (como exemplo a conflagração da segunda guerra mundial), confusão e miséria?

Não é importante descobrirmos por nós mesmos como pensar correctamente sobre a guerra e a paz, sobre a condição económica e social, sobre o nosso relacionamento com os nossos companheiros?


Certamente existe uma diferença entre o pensar correcto e o pensamento correcto e condicionado.


Podemos ser capazes de produzir em nós mesmos pensamento correcto imitativamente, mas tal pensamento, não é o pensar correcto. O pensamento correcto e condicionado é nãocriativo. 

Mas quando soubermos como pensar correctamente por nós mesmos, que é ser vivo, dinâmico, então é possível produzir uma cultura nova e mais feliz.

Gostaria de, durante estas palestras, desenvolver o que me parece ser o processo do pensar correcto, para que cada um de nós seja realmente criativo, e não meramente fechado numa série de ideias e preconceitos.


Como vamos então começar a descobrir por nós mesmos o que é o pensar correcto? Sem o pensar correcto não é possível a felicidade.



Sem o pensar correcto, as nossas acções, o nosso comportamento, os nossos afectos, não têm base. 


O pensar correcto não é para ser descoberto através dos livros, através do assistir a umas poucas palestras, ou por escutar meramente algumas ideias de pessoas sobre o que é o pensar correcto.


O pensar correcto é para ser descoberto por nós mesmos através de nós mesmos. 



O pensar correcto vem com o auto-conhecimento. Sem auto-conhecimento não existe pensar correcto. Sem conhecerse a si mesmo, o que se pensa e o que se sente não pode ser verdadeiro. 

A raiz de todo o entendimento encontrase no entendimento de si mesmo.











Se pode descobrir quais são as causas do seu pensamentosentimento, e a partir desta descoberta, saber como pensarsentir, então existe o começo do entendimento. 


Sem conhecerse a si mesmo, a acumulação de ideias, a aceitação de crenças e teorias não têm base. 


Sem conhecerse a si mesmo, será sempre pego na incerteza, dependendo do humor, das circunstâncias. Sem entenderse a si mesmo completamente, não pode pensar correctamente. Com  certeza isto é óbvio.

Se eu não sei quais são os meus motivos, as minhas intenções, o meu "background" (fundo), os meus pensamentossentimentos particulares, como é que posso concordar ou discordar de outra pessoa?  Como posso avaliar ou estabelecer a minha relação com outra pessoa? 


Como posso descobrir qualquer coisa da vida se não conheço a mim mesmo? E conhecer a mim mesmo, é uma tarefa enorme, que requer observação constante, uma vigilância meditativa.


Esta é a nossa primeira tarefa, mesmo antes do problema da guerra e da paz, dos conflitos económicos e sociais, da morte e da imortalidade. 


Estas questões vão surgir, elas hão-de surgir, mas na descoberta de nós mesmos, no entendimento de nós mesmos, estas questões serão respondidas correctamente.



Assim, aqueles que são realmente sérios nestas questões devem começar por eles mesmos, a fim de entender o mundo do qual são uma parte. Sem entenderse a si mesmo, não pode entender o todo.


O auto-conhecimento é o começo da sabedoria. É cultivado pela busca individual de si mesmo. Não estou a colocar o indivíduo em oposição à massa (ao colectivo). Eles não são antíteses. 

O indivíduo, é a massa, é o resultado da massa. Em nós, como vai descobrir se entrar nisto profundamente, encontra-se a multiplicidade e o particular.

É como um córrego que está constantemente a fluir, a deixar pequenos redemoinhos, e a estes redemoinhos chamamos de individualidade, mas eles são o resultado desse constante fluxo de água. 


Os seus pensamentos-sentimentos, aquelas actividades mentaisemocionais, não são o resultado do passado, do que chamamos a multiplicidade?



Não tem pensamentos-sentimentos similares aos do seu vizinho? Assim, quando falo de indivíduo, não o estou a colocar em oposição à massa, ao colectivo. 



Pelo contrário, quero remover este antagonismo. Este antagonismo que coloca em oposição a massa e a si, indivíduo, cria confusão e conflito, crueldade e miséria.



Mas se pudermos entender como o indivíduo, é parte do todo, não apenas misticamente, mas realmente, então nos libertaremos de modo feliz e espontâneo, da maior parte do desejo de competir, de ter sucesso, de iludir, de oprimir, de ser cruel, ou de se tornar um seguidor ou um líder. 

Então veremos o problema da existência de modo diferente. E é importante entender isto profundamente.



Enquanto nos virmos como indivíduos, separados do todo, a competir, obstruir, em oposição, a sacrificar o colectivo pelo particular, ou sacrificar o particular pelo colectivo, todos aqueles problemas que surgem deste conflituante antagonismo não terão solução feliz e duradoura, pois são o resultado do pensarsentir incorrecto.


Agora, quando falo sobre o indivíduo, não o estou a colocar em oposição à massa. O que eu sou? 


Sou um resultado, sou o resultado do passado, de inúmeras camadas do passado, de uma série de causas efeitos.



E como posso estar em oposição ao todo, ao passado, quando sou o resultado daquilo tudo? 



Se eu, que sou a massa (o colectivo), se não entender a mim mesmo, não apenas entender o que está fora da minha pele, objectivamente, mas subjectivamente, dentro da pele, como posso entender outra pessoa, o mundo?



Entender a si mesmo requer desapego amável e tolerante. Se não entender a si mesmo, não entenderá nada mais. Pode ter grandes ideais, crenças e fórmulas, mas elas não terão realidade.


Serão enganos. Assim, deve conhecerse a si mesmo para entender o presente, e através do presente, o passado. 

Do presente conhecido, as camadas escondidas do passado são descobertas, e esta descoberta é libertadora e criativa. 


Entender a nós mesmos requer um estudo objectivo, amável, desapaixonado de nós próprios, nós próprios sendo o organismo como um todo, o nosso corpo, os nossos sentimentos, os nossos pensamentos. 
Estes não estão separados, mas interligados.


E só quando entendemos o organismo como um todo é que podemos ir além, e podemos descobrir coisas mais adiante, maiores, mais vastas. Mas sem este entendimento primário, sem colocar o alicerce correcto para o pensar correcto, não podemos prosseguir para alturas maiores.

Tornase essencial produzir em cada um de nós a capacidade de descobrir o que é verdadeiro, pois o que é descoberto é libertador, criativo. Pois o que é descoberto é verdadeiro. 


Ou seja, se meramente nos conformarmos a um padrão do que deveríamos ser, ou ceder a um anseio, isso produz certos resultados conflituantes, confusos.


Mas no processo do nosso estudo de nós mesmos, estamos numa viagem de auto-descoberta, o que traz alegria. 


Existe uma certeza no pensarsentir negativo em vez do pensar sentir positivo. De uma maneira positiva supomos o que somos, ou cultivamos positivamente as nossas ideias em relação a outras pessoas, ou em relação às nossas próprias formulações. 


E, portanto,  dependemos de autoridade, de circunstâncias, esperando com isto estabelecer uma série de ideias e acções positivas.

Ao passo que se examina, verá que existe concordância na negação; existe certeza no pensar negativo, que é a mais alta forma de pensar. Uma vez que descobre a negação verdadeira e a concordância na negação, então pode construir mais adiante no positivo.


A descoberta que reside no auto-conhecimento é árdua, pois o começo e o fim estão em nós. 

Buscar felicidade, amor, esperança fora de nós leva à ilusão, ao sofrimento; encontrar felicidade, paz, alegria dentro de nós, requer auto-conhecimento.



Somos escravos das pressões imediatas e exigências do mundo, e somos desviados por tudo isso e dissipamos as nossas energias em tudo isso, e assim temos pouco tempo para estudar a nós mesmos. 



Estarmos profundamente cientes dos nossos motivos, dos nossos desejos de alcançar, de viraser, exige constante atenção interna.



Sem o entendimento de nós mesmos, mecanismos superficiais de reforma social e económica, mesmo que necessários e benéficos, não irão produzir unidade no mundo, mas somente maior confusão e miséria.



Muitos de nós pensamos que a reforma económica de uma ou outra forma vai trazer paz ao mundo; ou que a reforma social, ou uma religião especializada a conquistar todas as outras vai trazer felicidade ao homem.


Acredito que haja algo como oitocentas ou mais seitas religiosas neste país (EUA), cada uma a competir, a fazerem proselitismo. Pensam que uma religião competitiva vai trazer paz, unidade e felicidade à humanidade? 

Pensam que qualquer religião especializada seja o Hinduísmo, o Budismo ou o Cristianismo, vai trazer paz? Ou devemos colocar de lado todas as religiões especializadas e descobrir a realidade por nós mesmos?




Quando vemos o mundo explodido por bombas e sentimos os horrores que acontecem nele; quando o mundo está fragmentado por religiões, nacionalidades, raças e ideologias separadas, qual é a resposta a tudo isso?



Não podemos apenas continuar a viver uma vida curta e morrer, e esperar que algum bem, advenha disso. 

Nós não podemos deixar isso para os outros, trazer felicidade e paz à humanidade, pois a humanidade é nós mesmos, cada um de nós. Aonde se encontra a solução, senão em nós mesmos?











Descobrir a resposta real requer profundo pensamento-sentimento e poucos de nós estão dispostos a resolver essa miséria. Se cada um de nós considerar esse problema como que a jorrar de dentro, e não ser meramente conduzido nessa confusão e miséria pavorosa, então iremos encontrar uma resposta simples e directa.


No estudo, e assim, no entendimento de nós mesmos, virá claridade e ordem. E só pode haver claridade no auto-conhecimento, que nutre o pensar correcto. 



O pensar correcto vem antes da acção correcta. 

Se nos tornarmos conscientes de nós mesmos e assim cultivarmos o auto-conhecimento de onde jorra o pensar correcto, então criaremos um espelho em nós que reflectirá, sem distorções, todos os nossos pensamentossentimentos.



Estar assim auto-conscientes é extremamente difícil, já que as nossas mentes estão acostumadas a divagar e a estar distraídas. As suas divagações, as suas distorções são do seu próprio interesse, as suas próprias criações.



No entendimento disto, e não meramente colocar isto de lado, vem o auto-conhecimento e o pensar correcto. 

É apenas por inclusão e não por exclusão, não por aprovação ou condenação ou comparação, que vem o entendimento."




Jiddu Krishnamurti
"O indivíduo e a sociedade"













t.































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