“Consciously or unconsciously we refuse to see the
essentiality of being passively aware because we do not really want to let go
of our problems; for what would we be without them?
We would rather cling to
something we know, however painful, than risk the pursuit of something that may
lead who knows where.
With the problems, at least, we are familiar; but the
thought of pursuing the maker of them, not knowing where it may lead, creates
in us fear and dullness.
The mind would be lost without the worry of problems;
it feeds on problems, whether they are world or kitchen problems, political or
personal, religious or ideological; so our problems make us petty and narrow.
A
mind that is consumed with world problems is as petty as the mind that worries
about the spiritual progress it is making.
Problems burden the mind with fear,
for problems give strength to the self, to the `me´ and the `mine´.
Without problems, without achievements and failures, the self
is not.”
The
world
is the projection
of
ourselves!
“The mere desire to resolve a problem is an escape
from the problem, is it not?
I haven't gone into the problem, I
haven't studied it, explored it, understood it.
I don't know the beauty or the
ugliness or the depth of the problem; my only concern is to resolve it,
put it away.
This urge to resolve a problem without having understood
it is an escape from the problem, and therefore it becomes another problem.
Every escape breeds further problems.”
"Na nossa reunião aqui, há dias, estivemos a falar sobre a
necessidade de liberdade; e com essa palavra `liberdade´ não me referia à
liberdade fragmentária, superficial, em certos níveis da nossa consciência.
Falamos sobre a necessidade de se ser totalmente livre, livre nas raízes da mente, em todas as nossas actividades físicas, psicológicas e
parapsicológicas.
Liberdade supõe total ausência de problemas, não achais?
Porque,
quando a mente é livre, pode observar e agir com perfeita clareza; ela pode ser
o que é, sem consciência de nenhuma tradição.
Para mim, uma vida de problemas,
económicos ou sociais, particulares ou públicos, destrói e perverte a lucidez.
E tem-se necessidade de lucidez.
Necessita-se de uma mente que veja bem claro
cada problema que surge, uma mente capaz de pensar sem confusão, sem
condicionamento, uma mente dotada de afeição, amor, que nada tenha em comum com
emocionalismo ou sentimentalismo.
Para estarmos nesse estado de liberdade, o qual é dificílimo de
compreender e requer muita inquirição, necessitamos de uma mente não
perturbada, uma mente quieta; uma mente que funcione por inteiro, não apenas na
periferia, mas também no centro.
Essa liberdade não é uma abstração, um ideal.
O movimento da mente livre é uma realidade, e os ideais e
abstracções nenhuma relação têm com ele. Essa liberdade ocorre natural e
espontaneamente, sem nenhuma espécie de coerção, de disciplina, de controle ou
persuasão, ao compreendermos integralmente como surgem e findam os problemas.
A
mente com um problema perturbador, e que encontra meios de fugir a esse
problema, continua a ser uma mente inibida, acorrentada, não livre.
Para a mente que não resolve cada problema que surge, em
qualquer nível que seja, físico, psicológico, emocional, não pode haver
liberdade, e por conseguinte, clareza de pensar, de visão, de percebimento.
A maioria dos entes humanos tem problemas. Entendo por
`problema´ a renitente perturbação causada pela inadequada `resposta´ a um
desafio, isto é, pela incapacidade de atendermos às solicitações da vida com
todo o nosso ser; ou pela indiferença que produz uma disposição habitual para
aceitar e suportar os problemas.
Há um problema toda a vez que deixamos de enfrentar e examinar
uma situação até às suas últimas consequências. Não se pode deixar isso para
amanhã ou alguma data futura, pois cada situação, deve ser enfrentada logo que
surge, a cada minuto, a cada hora, a cada dia.
Todo o problema, em qualquer nível que seja, consciente ou
inconscientemente, é um factor que destrói a liberdade. Problema é tudo aquilo
que não compreendemos totalmente.
O problema de qualquer de nós pode ser a dor,
o incómodo físico, a morte de alguém, ou falta de dinheiro; pode ser a
incapacidade de descobrirmos por nós mesmos se Deus é uma realidade ou mera
palavra, sem nenhuma substância.
E há os problemas atinentes às relações,
particulares e públicas, individuais e colectivas.
A não compreensão das relações humanas, no seu todo, gera
problemas; e quase todos nós temos problemas (causadores de doenças
psicossomáticas) a debilitar-nos a mente e o coração.
Com essa carga de
problemas, apelamos para vários meios de fuga; cultivamos o Estado, aceitamos a
autoridade, recorremos a alguém para que resolva os nossos problemas,
atiramo-nos a uma fútil repetição de orações e rituais, entregamo-nos à bebida,
aos prazeres sexuais, ao ódio, à auto-compaixão, etc.
Temos cultivado muito zelosamente todo um sistema de fugas,
racionais ou irracionais, nervosas ou intelectuais, o qual nos permite aceitar,
e por conseguinte, suportar todos os problemas humanos que surgem. Mas tais problemas produzem,
inevitavelmente, confusão e a mente nunca se torna livre.
Agora, não sei se tendes o mesmo modo de sentir que eu tenho em
relação à necessidade, não necessidade fragmentária, necessidade de um dia em
que nos vemos subitamente obrigados a enfrentar uma certa situação, porém a
necessidade absoluta (desde que começamos a reflectir nessas coisas, até ao fim
da vida) de não se ter problema algum.
Provavelmente não percebeis quanto é
urgente essa necessidade.
Mas, se pudermos ver com toda a clareza,
concretamente, não abstractamente, que a necessidade de se estar livre de
problemas é tão grande quanto a de alimento e ar puro, então, com essa
percepção agimos, tanto psicologicamente, como nas ocupações da vida diária;
essa percepção estará sempre presente em tudo o que fizermos, pensarmos e sentirmos.
Assim, a libertação dos problemas é a questão principal, pelo
menos para esta manhã. Pode ser que tornemos a considerá-la de maneira
diferente amanhã, mas isso não importa. O importante é perceber que a mente em
que há conflito é uma mente destrutiva, porque está sempre a deteriorar-se.
A
deterioração não depende de nenhuma idade: manifesta-se quando a mente está
envolvida em conflito e tem muitos problemas não solucionados.
O conflito é o núcleo da deterioração e da decadência. Não sei
se percebeis a verdade dessa asserção.
Se a percebeis, então o problema é de
como resolver o conflito.
Mas, primeiramente, é necessário a pessoa perceber
por si própria que a mente que tem qualquer espécie de problema, em qualquer
nível e de qualquer duração que seja, é incapaz de pensar com clareza, de ver
as coisas como são, brutalmente, impiedosamente, sem sentimentalismos nem
auto-compaixão.
Ora, em geral costumamos fugir logo que surge um problema, e
achamos dificílimo `ficar com o problema´ e observá-lo, sem interpretar,
condenar ou comparar, sem tentar alterá-lo ou fazer alguma coisa em relação a
ele.
Isso requer plena atenção; mas para a maioria de nós nenhum problema é tão
sério que mereça toda a nossa atenção, isso porque levamos uma vida superficial, e em regra nos satisfazemos com soluções fáceis e respostas prontas.
Queremos esquecer o problema, afastá-lo de nós e ir vivendo com
outra coisa qualquer. Só quando o problema nos atinge intimamente, como em caso
de morte ou de absoluta falta de dinheiro, ou quando nos vemos abandonado pelo
nosso marido ou nossa mulher, só então o problema pode tornar-se crítico.
Mas, nunca permitimos a nenhum problema produzir uma crise real
na nossa vida; temos sempre a habilidade de varrê-lo com explicações, com
palavras, com vários meios de defesa de que nos servimos.
Já sabemos o que significa um problema. É uma situação que não
quisemos examinar até às suas últimas consequências e compreender
completamente; por conseguinte, o caso não foi liquidado e fica a repetir-se
indefinidamente.
Para compreender um problema, precisamos compreender as
contradições, as contradições extremas e também as contradições triviais de
cada dia, do nosso próprio ser.
Pensamos de um modo e agimos de outro; dizemos
uma coisa e sentimos coisa bem diferente.
Há conflito entre o respeito e o desrespeito, a rudeza e a
polidez. De um lado, o sentimento de arrogância, de orgulho, de outro lado
fazemos exibição de humildade.
Conheceis as numerosas contradições, tanto
conscientes como ocultas. Ora, como surgem essas contradições?
Como já tenho dito repetidas vezes, peço-vos que não escutem apenas
o que o orador diz, mas também o vosso próprio pensamento; que observeis a
maneira como se operam as vossas próprias reacções, e estejais cientes da vossa
reacção ao ser formulada aquela pergunta (como surgem as contradições?), a fim
de vos familiarizardes com vós mesmos.
Quando temos um problema, quase sempre desejamos saber de que
maneira resolvê-lo, o que fazer a respeito dele, como transcendê-lo, como nos
livrarmos dele, ou qual é a sua solução. Nada disso nos interessa aqui.
Eu
quero saber como o problema surge; porque, se posso descobrir a raiz de um
problema, se posso compreendê-lo de princípio a fim, terei então encontrado a
solução de todos os problemas.
Se posso olhar completamente um só problema,
serei então capaz de compreender qualquer problema que se apresente no futuro.
Assim, como surge um problema, um problema psicológico?
Consideremos isso em primeiro lugar, uma vez que os problemas
psicológicos pervertem todas as actividades da vida.
Só quando a mente
compreende e resolve um problema psicológico logo que surge, e não transporta o
`registo´ desse problema para a próxima hora ou dia seguinte, é só então que
ela será capaz de enfrentar o próximo `caso´ com renovado vigor, com clareza.
A nossa vida é uma série de desafios e respostas, e devemos
ser capazes de enfrentar cada desafio de maneira completa, porque de contrário,
cada momento nos trará novos problemas.
Compreendeis? Todo o meu interesse é ser livre, não ter
problema, a respeito de Deus, do sexo, do que quer que seja.
Se Deus se tornou
para mim um problema, então não devo procurá-lo; porque, para descobrir se há
Deus, um ser supremo e imensurável, deve a minha mente estar muito clara,
purificada, livre, não quebrantada por nenhum problema.
Eis porque eu disse logo de início que a liberdade é necessária.
Dizem-me que mesmo Karl Marx, o deus dos comunistas, escreveu
que os entes humanos têm direito à liberdade.
Para mim, a liberdade é
indispensável, liberdade no começo, liberdade no meio, liberdade no fim, e não existe
essa liberdade quando `transporto´ um problema de um dia para o outro.
Isso
significa que, não só tenho de descobrir como surge um problema, mas também,
como eliminá-lo, de modo que o problema não mais se repita, não seja
transferido para mais tarde, e não se sinta nenhuma necessidade de `amanhã´
reflectir sobre ele e resolvê-lo.
Se `transporto´ o problema para o dia seguinte, estou a
contribuir para que ele se enraíze; e depois, a extirpação desse problema se
torna mais um problema.
Por conseguinte, tenho de `operar´ pronta e
radicalmente, para a completa e definitiva extinção do problema.
Estais a ver, pois, quais são os dois pontos que temos de
examinar; descobrir como surge o problema (problema relativo à esposa, aos
filhos, problema de falta de dinheiro, ou o problema de Deus, qualquer
problema) e também, como poderemos extirpá-lo imediatamente.
O que estou a dizer não é ilógico. Demonstrei-vos logicamente,
racionalmente, a necessidade de se pôr fim ao problema e de nunca
`transportá-lo´ para o dia seguinte."
Jiddu Krishnamurti
"A mente sem medo"
“The world is
not something separate from you and me; the world, society, is the relationship
that we establish or seek to establish between each other.
So you and I are the
problem, and not the world, because the world is the projection of ourselves,
and to understand the world we must understand ourselves.
That world is not
separate from us; we are the world, and our problems are the world's problems.”
PERGUNTA: Não compreendo porque
dizeis que o dinheiro não representa problema.
J. KRISHNAMURTI: Para muitos, ele
constitui um problema.
Eu nunca disse o contrário.
Notai, por favor, que eu
disse que um problema é toda a coisa que não compreendemos completamente, quer
relacionada com dinheiro, quer com o sexo, Deus, as relações com a nossa esposa
ou com alguém que nos odeia, não importa qual seja a coisa.
Se tenho uma
doença ou muito pouco dinheiro, isso se torna um problema psicológico. Ou pode
ser o sexo que se torne um problema. Estamos a investigar como surgem os
problemas psicológicos, e não como proceder em relação a um dado problema em
particular. Entendeis? Santo Deus! Isto é tão simples.
No Oriente, há pessoas que abandonam
o mundo e peregrinam de aldeia em aldeia a esmolar. Os brâmanes da Índia
estabeleceram, durante séculos, o costume de respeitar, de nutrir e vestir o
homem que abandona o mundo.
Para esse homem, evidentemente, o dinheiro não
constitui problema nenhum; mas não estou a advogar esse costume aqui!
Estou,
simplesmente, a apontar que a maioria de nós tem problemas psicológicos. Não
tendes problemas, não só de dinheiro, mas também de sexo, Deus e das vossas
relações?
Não tendes preocupações sobre se sois
amado ou não sois amado?
Se tenho muito pouco dinheiro e desejo mais, isso
naturalmente se torna um problema. Tenho preocupações e ansiedades a esse
respeito; ou me torno invejoso, porque vós tendes mais dinheiro do que eu. Tudo
isso perverte a percepção, e são estes os problemas que ora consideramos.
Estamos interessados em descobrir
como surge um problema dessa natureza. Acho que tornei suficientemente claro
este ponto; ou desejais aprofundá-lo mais?
Ora, por certo, um problema surge
quando há em mim uma contradição. Se não há contradição em nenhum nível, não há
problema algum.
Se não tenho dinheiro, irei trabalhar, esmolar, pedi-lo
emprestado. Farei qualquer coisa, e isso não me será difícil.
PERGUNTA: Mas, o que acontece quando
nada se pode jazer?
J. KRISHNAMURTI: Quereis dizer que
não podeis fazer nada? Se possuís alguma técnica ou conhecimento especializado,
podeis tornar-vos isto ou aquilo.
Se sois incapaz de qualquer coisa, podeis
cavar a terra.
Jiddu Krishnamurti
"A mente sem medo"
t.
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