“Surely, a man who is understanding life does not want
beliefs. A man who loves, has no beliefs, he loves.
It is the man who is
consumed by the intellect who has beliefs, because intellect is always seeking
security, protection; it is always avoiding danger, and therefore it builds
ideas, beliefs, ideals, behind which it can take shelter.
What would happen if
you dealt with violence directly, now?
You would be a danger to society; and
because the mind foresees the danger, it says`I will achieve the ideal
of nonviolence ten years later´, which is such a fictitious, false
process.
To understand what is, is more important than to create and follow
ideals because ideals are false, and what is is the real.
To understand what is
requires an enormous capacity, a swift and unprejudiced mind. It is because we
don't want to face and understand what is that we invent the many ways of
escape and give them lovely names as the ideal, the belief, God.
Surely, it is
only when I see the false as the false that my mind is capable of perceiving
what is true. A mind that is confused in the false can never find the truth.
Therefore, I must understand what is false in my relationships, in my ideas, in
the things about me, because to perceive the truth requires the understanding
of the false.
Without removing the causes of ignorance, there cannot be enlightenment;
and to seek enlightenment when the mind is unenlightened is utterly empty,
meaningless.
Therefore, I must begin to see the false in my relationships with
ideas, with people, with things.
When the mind sees that which is false, then
that which is true comes into being and then there is ecstasy, there is
happiness."
Jiddu Krishnamurti
"The book of life"
Removing
the causes of
ignorance…
“O que perturba a mente dos homens não são os eventos, mas os
seus julgamentos sobre os eventos.
Por exemplo, a morte não é nada horrível ou
então Sócrates a teria considerado como tal. Não, a única coisa horrível sobre
ela está no julgamento dos homens de que ela é horrível.
E assim, quando
estamos impotentes ou perturbados ou ansiosos, nunca venhamos a colocar a culpa
sobre os outros; mas sim em nós próprios, ou seja, sobre os nossos próprios
julgamentos.
Acusar os outros das nossas desventuras é um sinal de falha de
educação; se acusar a si próprio mostra que a educação daquele indivíduo teve início;
acusar nem a si próprio nem aos demais mostra que a educação do indivíduo está completa.”
Epicteto
“Pode sentar-se na postura correcta com a coluna recta, a
respirar correctamente, fazer `pranayama´ e tudo o resto, nos próximos dez mil
anos, e não estará perto de descobrir o que a verdade é, porque não se compreendeu
a si mesmo, de facto, o modo como pensa, o modo como vive.
Não acabou com o seu
sofrimento, e quer encontrar a iluminação.
Pode fazer todos os tipos de torções
e rotações com o seu corpo e isto parece fascinar as pessoas, pois elas sentem
que isto lhes vai conferir algum poder, algum prestígio.
Ora, todos estes
poderes são como velas ao sol; são como a luz de velas quando o sol está a
brilhar.”
Jiddu Krishnamurti
III
"Chegado
à cidade mais próxima, enterrada nos bosques, Zaratustra encontrou uma grande
multidão na praça pública, porque estava anunciado o espectáculo de um bailarino
de corda.
E
Zaratustra falou assim ao povo:
“Eu
vos anuncio o Super-homem”.
“O homem
é superável. Que fizestes para o superar?
Até
agora todos os seres têm apresentado alguma coisa superior a si mesmos; e vós,
quereis o refluxo desse grande fluxo, preferís tornar ao animal, em vez de
superar o homem?
Que é
o macaco para o homem? Uma irrisão ou uma dolorosa vergonha. Pois é o mesmo que
deve ser o homem para Super-homem: uma irrisão ou uma dolorosa vergonha.
Percorrestes
o caminho que medeia do verme ao homem, e ainda em vós resta muito do verme.
Noutro tempo fostes macaco, e hoje o homem é ainda mais macaco do que todos os
macacos.
Mesmo
o mais sábio de todos vós não passa de uma mistura híbrida de planta e de
fantasma. Acaso vos disse eu que vos torneis planta ou fantasma?
Eu
anuncio-vos o Super-homem!
O
Super-homem é o sentido da terra. Diga a vossa vontade: seja o Super-homem, o
sentido da terra.
Exorto-vos,
meus irmãos, a permanecer fiéis à terra e a não acreditar naqueles que vos
falam de esperanças supra-terrestres.
São
envenenadores, quer o saibam ou não.
São
menosprezadores da vida, moribundos que estão, por sua vez, envenenados, seres
de quem a terra se encontra fatigada; vão-se por uma vez!
Noutros
tempos, blasfemar contra Deus era a maior das blasfémias; mas Deus morreu, e
com ele morreram tais blasfémias.
Agora, o mais espantoso é blasfemar da terra,
e ter em maior conta as entranhas do impenetrável do que o sentido da terra.
Noutros
tempos a alma olhava o corpo com desdém, e então nada havia superior a esse
desdém: queria a alma um corpo fraco, horrível, consumido de fome! Julgava
deste modo libertar-se dele e da terra.
Ó!
Essa mesma alma era uma alma fraca, horrivel e consumida, e para ela era um
deleite a crueldade!
Irmãos
meus, dizei-me: que diz o vosso corpo da vossa alma? Não é a vossa alma,
pobreza, imundície e conformidade lastimosa?
O
homem é um rio turvo. É preciso ser um mar para, sem se toldar, receber um rio
turvo.
Pois
bem; eu vos anuncio o Super-homem; é ele esse mar; nele se pode abismar o vosso
grande menosprezo.
Qual
é a maior coisa que vos pode acontecer? Que chegue a hora do grande menosprezo,
a hora em que vos enfastie a vossa própria felicidade, de igual forma que a
vossa razão e a vossa virtude.
A
hora em que digais: `Que
importa a minha felicidade! É pobreza, imundície e conformidade lastimosa.
A
minha felicidade, porém, deveria justificar a própria existência!`.
A
hora em que digais: `Que
importa a minha razão! Anda atrás do saber como o leão atrás do alimento. A minha
razão é pobreza, imundície e conformidade lastimosa!´.
A
hora em que digais: `Que
importa a minha virtude? Ainda me não enervou. Como estou farto do meu bem e do
meu mal. Tudo isso é pobreza, imundície e conformidade lastimosa!´.
A
hora em que digais: `Que
importa a minha justiça?! Não vejo que eu seja fogo e carvão! O justo, porém, é
fogo e carvão!´.
A
hora em que digais: `Que
importa a minha piedade? Não é a piedade a cruz onde se crava aquele que ama os
homens? Pois a minha piedade é uma crucificação´.
Já
falaste assim? Já gritaste assim? Ah! Não vos ter eu ouvido a falar assim!
Não
são os vossos pecados, é a vossa parcimónia que clama ao céu! A vossa
mesquinhez até no pecado, isso é que clama ao céu!
Onde
está, pois, o raio que vos lamba com a sua língua? Onde está o delírio que é
mister inocular-vos?
Vede;
eu anuncio-vos o Super-homem: `É ele esse raio! É ele esse delírio!´.
Assim
que Zaratustra disse isto, um da multidão exclamou: `Já
ouvimos falar demasiado do que dança na corda; mostrá-no-lo agora´. E
toda a gente se riu de Zaratustra. Mas o dançarino da corda, julgando que tais
palavras eram com ele, pôs-se a trabalhar.
IV
Entretanto,
Zaratustra olhava a multidão, e assombrava-se. Depois falava assim:
`O
homem é corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre um
abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar, perigoso olhar para trás,
perigoso tremer e parar.
O
grande do homem é ele ser uma ponte, e não uma meta; o que se pode amar no
homem é ele ser uma passagem e um acabamento.
Eu só
amo aqueles que sabem viver como que se extinguindo, porque são esses os que
atravessam de um para outro lado.
Amo
os grandes desdenhosos, porque são os grandes adoradores, as setas do desejo
ansiosas pela outra margem.
Amo
os que não procuram por detrás das estrelas uma razão para morrer e oferecer-se
em sacrifício, mas se sacrificam pela terra, para que a terra pertença um dia
ao Super-homem.
Amo o
que vive para conhecer, e que quer conhecer, para que um dia viva o
Super-homem, porque assim quer o seu acabamento.
Amo o
que trabalha e inventa, a fim de exigir uma morada ao Super-homem e preparar
para ele a terra, os animais e as plantas, porque assim quer o seu acabamento.
Amo o
que ama a sua virtude, porque a virtude é vontade de extinção e uma seta do
desejo.
Amo o
que não reserva para si uma gota do seu espírito, mas que quer ser inteiramente
o espírito da sua virtude, porque assim atravessa a ponte como espírito.
Amo o
que faz da sua virtude a sua tendência e o seu destino, pois assim, por sua
virtude, quererá viver ainda e deixar de viver.
Amo o
que não quer ter demasiadas virtudes. Uma virtude é mais virtude do que duas,
porque é mais um nó a que se aferra o destino.
Amo o
que prodigaliza a sua alma, o que não quer receber agradecimentos nem restitui,
porque dá sempre e se não quer preservar.
Amo o
que se envergonha de ver cair o dado a seu favor e que pergunta ao ver tal: `Serei
um jogador fraudulento?´, porque quer submergir-se.
Amo o
que solta palavras de ouro perante as suas obras e cumpre sempre com usura o
que promete, porque quer perecer.
Amo o
que justifica os vindouros e redime os passados, porque quer que o combatam os
presentes.
Amo o
que castiga o seu Deus, porque ama o seu Deus, pois a cólera do seu Deus o
confundirá.
Amo
aquele cuja alma é profunda, mesmo na ferida, e ao que pode aniquilar um leve
acidente, porque assim de bom grado passará a ponte.
Amo
aquele cuja alma transborda, a ponto de se esquecer de si mesmo e quanto esteja
nele, porque assim todas as coisas se farão para sua ruína.
Amo o
que tem o espírito e o coração livres, porque assim a sua cabeça apenas serve
de entranhas ao seu coração, mas o seu coração, o leva a sucumbir.
Amo todos
os que são como gotas pesadas que caem uma a uma da sombria nuvem suspensa
sobre os homens, anunciam o relâmpago próximo e desaparecem como anunciadores.
Vede:
eu sou um anúncio do raio e uma pesada gota procedente da nuvem; mas este raio
chama-se o Super-homem´.
V
Pronunciadas
estas palavras, Zaratustra tornou a olhar o povo, e calou-se. `Riem-se
—
disse o seu coração. — Não
me compreendem; a minha boca não é a boca que estes ouvidos necessitam.
Terei
que principiar por lhes destruir os ouvidos para que aprendam a ouvir com os
olhos? Terei que atroar à maneira de timbales ou de pregadores de Quaresma? Ou
só acreditarão nos gagos?
De
qualquer coisa se sentem orgulhosos. Como se chama então, isso de que estão
orgulhosos? Chama-se civilização: é o que se distingue dos cabreiros.
Isto,
porém, não gostam eles de ouvir, porque os ofende a palavra `desdém´.
Falar-lhes-ei,
portanto, ao orgulho.
Falar-lhes-ei
do mais desprezível que existe, do último homem.
E
Zaratustra falava assim ao povo:
`É
tempo que o homem tenha um objectivo.
É
tempo que o homem cultive o germe da sua mais elevada esperança.
O seu
solo é ainda bastante rico, mas será pobre, e nele já não poderá medrar nenhuma
árvore alta.
Ai!
aproxima-se o tempo em que o homem já não lançará sobre o homem a seta do
seu ardente desejo e em que as cordas do seu arco já não poderão vibrar.
Eu
vo-lo digo: é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela
cintilante.
Eu
vo-lo digo: tendes ainda um caos dentro de vós outros.
Ai!
Aproxima-se o tempo em que o homem já não dará a luz às estrelas; aproxima-se o
tempo do mais desprezível dos homens, do que já se não pode desprezar a si
mesmo.
Olhai!
Eu vos mostro o último homem.
Que
vem a ser isso de amor, de criação, de ardente desejo, de estrela? —
pergunta o último homem, revirando os olhos.
A
terra tornar-se-á então mais pequena, e sobre ela andará aos pulos o último
homem, que tudo apouca. A sua raça é indestrutível como a da pulga; o último
homem é o que vive mais tempo.
`Descobrimos
a felicidade´ —
dizem os últimos homens, e piscam os olhos.
Abandonaram
as comarcas onde a vida era rigorosa, porque uma pessoa necessita calor. Ainda
se quer ao vizinho e se roçam pelo outro, porque uma pessoa necessita calor.
Enfraquecer
e desconfiar parece-lhes pecaminoso; anda-se com cautela. Insensato aquele que
ainda tropeça com as pedras e com os homens!
Algum
veneno uma vez por outra, é coisa que proporciona agradáveis sonhos. E muitos
venenos no fim para morrer agradavelmente.
Trabalha-se
ainda porque o trabalho é uma distração; mas faz-se de modo que a distração não
debilite.
Já
uma pessoa se não torna nem pobre nem rica; são duas coisas demasiado difíceis.
Quem quererá ainda governar? Quem quererá ainda obedecer? São duas coisas
demasiado custosas.
Nenhum
pastor, e só um rebanho! Todos querem o mesmo, todos são iguais: o que pensa de
outro modo vai por seu pé para o manicómio.
`Noutro
tempo toda a gente era doida´ —
dizem os perspicazes, e reviram os olhos.
É-se
prudente, e está-se a par do que acontece: desta maneira pode-se zombar sem
cessar. Questiona-se ainda, mas logo se fazem as pazes; o contrário altera a
digestão.
Não
falta um pouco de prazer para o dia e um pouco de prazer para a noite; mas
respeita-se a saúde.
`Descobrimos
a felicidade´ —
dizem os últimos homens — e
reviram os olhos´.
Aqui acabou o primeiro discurso de Zaratustra, — que também se chama preâmbulo — porque neste ponto foi interrompido pelos gritos e pelo alvoroço da multidão. `Dá-nos esse último homem, Zaratustra — exclamaram — torna-nos semelhantes a esses últimos homens! perdoar-te-emos o Super-homem`.
E
todo o povo era alegria. Zaratustra entristeceu e disse consigo:
`Não
me compreendem; não. Não é da minha boca que estes ouvidos necessitam.
Vivi
demais nas montanhas, escutei demais os arroios e as árvores, e agora falo-lhes
como um pastor.
A minha alma é sossegada e luminosa como o monte pela manhã; mas eles julgam que sou um frio e astuto chocarreiro.
Ei-los
olhando-me e rindo-se, e enquanto se riem, continuam a odiar-me. Há gelo nos
seus risos´."
Friedrich Nietzsche
"Assim falou Zaratustra"
t.
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